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domingo, outubro 10, 2021

Se depender do governo, o futuro modelo ambiental brasileiro será a desertificação

Publicado em 10 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet

Cidades de SP e do MS registram novas tempestades de areia; veja vídeos |  CNN Brasil

Tempestades de areia estão ficando cada vez mais frequentes

Flávio Tavares
Estadão

Em tempos idos, nosso país se chamou Vera Cruz e Terra de Santa Cruz e passou à denominação atual porque aqui crescia o soberbo pau-brasil. O vermelho que tingia tecidos tinha cor de brasa, ou brasil, portanto. No idioma português daqueles séculos 16 e 17, “brasileiro” designava o comerciante de pau-brasil. O gentilício de quem aqui nascia era “brasiliense”.

Esse lucrativo negócio devastou nossa costa e transformou o Nordeste num árido deserto, em que a única medida para tudo era a cobiça.

FUGA AO INTERIOR – Os grupos que habitavam a floresta foram empurrados para o interior do território como se fugissem do horror, tal qual no Afeganistão fogem, hoje, do taleban. Na época, a “boa floresta” era a floresta derrubada. O pau-brasil tingia tecidos e as demais árvores serviam de lenha.

Naqueles tempos, esta regra expressava uma aparente “normalidade” que o lento passar dos anos demonstrou ser perniciosa.

E, hoje, aquele território outrora exuberante em cobertura florestal tornou-se terra calcinada em que as populações rurais cozinham e bebem água vinda de longe em caminhões-tanque. Os retirantes do Nordeste que se dirigem a São Paulo e ao Sul mostram uma migração forçada pela nova geografia paupérrima da região, lá implantada pela cobiça humana.

QUESTÃO DE FINALIDADE – A prática de derrubar bosques e florestas a esmo, no entanto, continua. Ou até se expandiu na era atual, mesmo que saibamos das consequências terríveis que ocasiona. Mudou apenas o pretexto, invocado como “finalidade”.

Hoje, a indústria têxtil usa a química para colorir e já prescinde do pau-brasil para obter a vermelhidão da brasa. No entanto, seguimos derrubando florestas na região amazônica, no Pantanal mato-grossense, na Mata Atlântica ou onde mais for, sem falar nas árvores das cidades.

A devastação cresce e mostra malefícios ainda mais brutais e mais daninhos do que os de séculos atrás. O garimpo de ouro, por exemplo, contamina os rios da Amazônia com mercúrio, numa devastação mais brutal e perversa que a da época do pau-brasil, pois afeta diretamente a saúde das populações autóctones.

TEMOS CONHECIMENTO – O pretexto ou alegação de agora é outro, mas, em verdade, é pior e mais daninho, até, pois hoje temos conhecimento e consciência científica dos danos que ocasiona. No Pantanal, região única no planeta com alagamento perene, chega-se ao absurdo de propor transformar a área numa sucessão de campos de capim rente ao chão para criação de gado e, desta forma, “evitar” ou “impedir a propagação” de incêndios, como os dos últimos tempos…

Não se trata de proposta ao acaso, feita por adventícios ou inocentes meninos imberbes, mas algo apresentado como “solução” pelos que nos governam.

Nossos governantes vêm desconhecendo a crise do clima, tratando-a com palavras rebuscadas, mas sem conteúdo concreto.

SONS AO VENTO – O discurso de Jair Bolsonaro na recente assembleia-geral da ONU mostrou como o presidente toma o meio ambiente unicamente como propaganda exibicionista, em que as palavras são apenas sons ao vento e jamais compõem ações efetivas de governo.

Neste quadro desolador, o governo central já não orienta a população nem indica ou propõe alternativas e caminhos. A gravidade da crise climática, porém, é tão profunda e ampla que o próprio aglomerado empresarial clama, agora, por soluções e propõe medidas.

Assim ocorreu dias atrás, quando presidentes de 107 grandes empresas nacionais e estrangeiras e dirigentes de dez entidades setoriais assinaram carta aberta propondo um maior protagonismo do Brasil nas negociações em defesa do clima.

INDICAMOS O CAMINHO – Ainda que a preocupação desses grandes empresários seja mais econômica do que ambiental, significa que o tratamento das mudanças climáticas deve se aprofundar e se acelerar. É como se o grande empresariado dissesse “já que o governo federal nada vê, nós indicamos o caminho”.

De fato, é um grito de reprimenda contra o governo Bolsonaro por continuar ignorando as mudanças climáticas, sem entendê-las como a mais brutal ameaça à normalidade da vida no planeta. Chamado de Empresários pelo clima, o documento busca fixar a posição do Brasil na próxima conferência da ONU sobre o clima, em novembro, em Glasgow, na Escócia.

A ciência alerta e adverte sobre o perigo das mudanças do clima. A continuar no ritmo atual, não serão só as geleiras do Ártico e da Antártida que vão derreter, elevando o nível dos mares. Faltarão alimentos, que se desenvolvem regulados pelo clima. O planeta tornar-se-á raquítico e, com ele, cada um de nós.

BUSCA DO LUCRO – A cegueira humana, porém, não percebe o óbvio e corre enlouquecida em busca do lucro monetário, num capitalismo predatório em que a cobiça é o único fim, como nos séculos seguintes à chegada de Pedro Álvares Cabral.

Ou vivemos hoje numa nova Macunaíma? Já em 1928, Mário de Andrade observou que “o brasileiro não tem caráter por não possuir civilização própria nem consciência tradicional”.

Só assim se explica que o deserto seja nosso modelo.

TERCEIRA FUNÇÃO DA CÂMARA DE VEREADORES: FISCALIZAR

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Diz os entendidos no assunto que, "  papagaio velho não aprende a falar"; porém vou insistir no que o vereador Neguinho de Lié vem repetindo em  toda sessão da Câmara  de Vereadores de Jeremoabo: " «água mole em pedra dura tanto bate até que fura», na esperança que os nobres edis entendam que ser vereador não  é ser prevaricador, omisso ou capacho de prefeito.
É partindo dessa premissa, que estou iniciando uma publicação de uma serie de vídeos e matérias educativas e instrutivas, na esperança que algum dia os vereadores aprendam a respeitar e honrar com dignidade o voto recebido pelo eleitor, verdadeira procuração assinada em branco.
" Vereador que não fiscaliza e denuncia é como médico que não salva vidas. Legislador Municipal que não fiscaliza. OREVARICA! E pode, sim perder mandato,"
                                (...)

Mas é importante você saber, caro leitor, bem como toda a população, que é ordem constitucional a ampla fiscalização por vereadores, sob pena de contravenção por omissão. Os vereadores podem sim responder por prevaricação e/ou improbidade administrativa. Segundo o Código Penal, Art. 319, prevaricar é “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal“, podendo dar pena de detenção, de três meses a um ano, e multa. Mas, enquanto nada é feito contra os vereadores que abrem mão do seu papel, por razões “desconhecidas”, o povo é que deve fazer justiça, não reelegendo vereador que não cuida do nosso SUADO e SOFRIDO dinheiro, que não faz o que o cargo exige obrigatoriamente. Se você não faz o que tem que fazer no seu trabalho, é “olho na rua”. Né? Pois vereador que não fiscaliza é como médico que não salva vida… advogado que não busca justiça… professor que não sabe ensinar…  (Maximilian Santos). - https://jblitoral.com.br/.
Alerto aos vereadores da oposição, que não embarque nessa canoa furada intitulada omissão e prevaricação, porque qualquer dia com certeza a casa irá cair.


O papel do Vereador | Fiscalizar

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Em Jeremoabo não tem disso não.
O vereador em Jeremoabo desconhece a sua função, de fiscalizar e denunciar, por enquanto só aprendeu a parabenizar as improbidades.
Quem falar em CPI está comentando um pecado mortal.
Não é possível que o povo diante de tanta decepção, algum dia não aprenda a escolher seus representantes.

Como fiscalizar o prefeito e o vereador?

Guardiania e demagogia, armadilhas letais contra a ética republicana

 




Por Paulo Fábio Dantas Neto* (foto)

“A moral é o cerne da pátria, a corrupção, o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos, que a pretexto de salvá-la, a tiranizam.  NÃO ROUBAR E NÃO DEIXAR ROUBAR! POR NA CADEIA QUEM ROUBE: EIS O PRIMEIRO MANDAMENTO DA MORAL PÚBLICA!” (Ulisses Guimarães – discurso na sessão de promulgação da Constituição, em 05.10.1988)

Quem tem hoje mais de 45 anos de idade e desde muito cedo se interessou pelo Brasil e pela política brasileira certamente entenderá por que a semana que transcorre entre os dias 5 e 12 de outubro é politicamente significativa, não importa em que ano estejamos. Ela começa com a data comemorativa de nossa maior conquista contemporânea (a Constituição de 1988) e conclui-se combinando a data da padroeira do Brasil com a da morte de Ulisses Guimarães, o líder político promulgador da mesma Carta, morte ocorrida em 1992, num acidente aéreo, ao sobrevoar a Serra da Mantiqueira, em feriado fatal. Entre os dois eventos, somente quatro anos, durante os quais a figura central da vida política brasileira nas duas décadas anteriores transitou do esplendor da consagração política e cívica ao amargor do ostracismo eleitoral. Ao falecer já não presidia seu partido, nem a Câmara dos Deputados. Um horizonte radioso perdera-se em densa nuvem, mas Ulisses foi dos raros que saíram da vida para entrar na História sem que para sabermos disso precisemos consultar livros. Seu corpo não foi encontrado. Sua memória virou vento a soprar, da altura da Mantiqueira, lições aos nossos ouvidos. Se cinquentões hoje podem acessá-la desse modo, que escrevam sobre ela aos mais jovens, carentes da sua partitura.

Neste 2021 atribulado houve quem cuidasse de lembrar dessas coisas. Do brado retumbante do Dr. Ulisses no seu maior outubro e do humor vívido do seu brando outono. Chegara-me, por amigos, o célebre discurso da promulgação da Constituição e uma gravação da entrevista que concedeu ao Roda Viva, alguns meses antes de nos deixar.

Na entrevista, as tiradas coloquiais são impagáveis e educam tanto quanto lições de lógica e sensibilidade políticas, cuja falta hoje é tanta, que virou um lugar comum apontá-la. O que mais impressiona, no entanto, é ver, com o passar do tempo, sua figura ficar cada vez maior e as pelejas do controverso varejo político, no qual não regateava em mergulhar, se diluírem na constatação principal: foi político com senso de medidas e proporções adequado para ser imprescindível na atitude de assumir sempre uma intransferível responsabilidade pelos atos (seus e de quem liderou) e pelas consequências que geravam.  Impermeável à perfeição, jamais fomentou nos correligionários, ou mesmo no povo, identidades consigo. Consciente de sua luminosa maleabilidade (que lhe levou, uma vez, a confidenciar ao país só agir sob pressão, em contraste com a firmeza férrea do gal. Geisel), nunca desejou subir aos céus porque já sabia voar com os pés no chão. No barro da política se sentia em casa enquanto as nuvens lhe eram estranhas. Prudentemente, viveu longe delas e, de fato, como a confirmar uma intuição sua, foi entre elas que encontrou a morte.

Como se pode ler na epígrafe dessa coluna, no discurso de 5 de outubro de 1988 o pragmático de retórica arrebatadora discorreu sobre ética republicana. Nada que parecesse dissertação doutrinária ou senha para cruzadas evangelizadoras. O combate à corrupção é parte da missão da política, não uma devassa policial contra ela. A motivação do combate era a defesa da república concreta, não de um ideal abstrato de justiça. Compromisso ditado por um senso de Estado, compartilhado por detentores de um saber prático, adquirido no exercício da política, não por uma filosofia moral, muitas vezes usada como biombo pelo espírito de facção, que reivindica para si o patrocínio da moralidade e para o adversário, a desmoralização. A motivação econômica é força com potencial corrosivo da república, seja numa política oligárquica, ou numa ordem democrática.  Mas só com uma democracia acoplada a uma república é possível - na impossibilidade e na inconveniência de simplesmente proibir essas motivações - formar juízo político e social de rejeição a ações de corruptores e corrompidos, juízo legitimador de instituições que as controlem e punam, dispensando o protagonismo antipolítico de demagogos ou de guardiães.

O ceticismo que se vê hoje quanto à possibilidade da política democrática se autoconter não estava ausente naquele momento solene de promulgação da Carta. Naquele outubro, já não predominava no ambiente social a atitude de expectativa otimista que cercou a eleição do Congresso Constituinte. Já então se manifestava frustração e impaciência em relação à política como ela é. A eleição de Fernando Collor, um ano depois, foi sintoma desse sentimento popular, enquanto seu impedimento, daí a quatro anos, foi prova de sucesso da arquitetura institucional e da capacidade da nova ordem renovar, nos cidadãos, as expectativas perdidas. Desse fôlego vivemos até que um moralismo devastador, voluntarista e personalista - que aos poucos foi revelando seu viés de direita – sucedeu ao empoderamento institucional do ministério público por uma ética judicialista de esquerda, que armara a instituição para uma guerra sem quartel contra a política “dos políticos”. Nesse sentido, o procurador Deltan Dallagnol cede o pioneirismo ao seu colega de linhagem Luís Francisco de Souza. É dessa sequência de gestos com resultados nem sempre previstos que resultou a luta contra a corrupção como um dogma acobertador de oportunismos vários, que foram tomando o lugar da ética republicana como saber prático.

Foi preciso uma tragédia sanitária e social, associada ao espectro de recaída em ditadura para que a lógica da política prudencial começasse a ser solicitada novamente. É parte do que temos visto de 2019 para cá. A consciência do risco de perda do essencial fez o eleitor, diante da urna, em 2020, tirar da pauta a faxina e procurar a experiência política para tocar o barco. É verdade que faltam Ulisses, mas políticos, mesmo malformados, costumam tocar de ouvido, o que faz possível uma escuta produtiva do eco do vento da Mantiqueira.

Hoje todo mundo quer ser moderado e visitar o centro, de preferência para ali fincar estacas como se fossem patentes. Mas o páthos faxineiro apenas hiberna e conserva, em tese, alguma conexão eleitoral.  Tal qual um ioiô, o ex-juiz Sergio Moro se faz de novo comentar como virtual alternativa eleitoral. Se confirmada a hipótese, será, como sempre, fator de desagregação, pelo estímulo que a simples menção ao seu nome oferece, tanto ao corporativismo do ambiente político quanto ao espírito de facção.  Se esse espírito não se dissipar, mas se acomodar no Podemos a nostalgia lava-jatista ficará mais ou menos do tamanho da candidatura Álvaro Dias em 2018. Se se expandir até o campo de uma candidatura virtualmente dissidente do governador João Dória, caso ele seja derrotado nas prévias tucanas, ainda assim será um páthos murado. Sem contar o Centrão - cuja incompatibilidade com a guardiania moralista é constitutiva - a barragem de contenção é um retângulo partidário formado pelo próprio PSDB, o MDB, o PSD e o novo União Brasil. Nos quatro cantos desse esboço de frente mora a política para a qual Moro é uma ameaça.

A eventual infiltração da pauta anticorrupção - na versão antipolítica que assumiu com a Lava-Jato - na corrente sanguínea do novo partido da centro-direita teria efeitos abortivos. A banda DEM do novo partido parece estar previamente vacinada, mas a banda PSL não. O deputado Junior Bozella (SP) toca trombeta de bando anunciador e dificilmente faria isso sem alguma cobertura, ou ao menos complacência, de Luciano Bivar. Trata-se de um risco de instabilidade no papel agregador que a nova agremiação parece vocacionada a ter. 

É possível que novos lances de política júnior circulem em redes sociais e colunas de jornal. Em análises sobre o União Brasil convém separar o único fato completamente consumado até aqui (a própria fusão), de semi-fatos em curso (como a reaproximação de Rodrigo Maia, costurada pelo ex-ministro Mandetta e, na mão inversa, a possível migração do presidente do Senado para o PSD) e de factóides, como a notícia de que “líderes” do novo partido (até aqui só Bozella é nomeado) estariam convidando Moro a se integrar, para ser candidato a Presidente da República. Coisas estranhas têm ocorrido na política brasileira, mas cabe duvidar se ao ponto de se cogitar que políticos profissionais ponham sua galinha de ovos de ouro, recheada de fundo partidário, a chocar ovos de serpente. O contágio do fator Sergio Moro – por mais desgastado que esteja o seu potencial eleitoral -tem implicações perversas não só sobre o União Brasil, mas sobre todo o campo político da centro-direita e do centro, por contradizer, em termos, ideias de pacificação e conciliação que têm sido a marca de discursos partidários e da maioria dos políticos, nesse campo.

Do outro lado do espectro político, a vacinação contra a ética da faxina anda desatualizada. Por ali, nada de guardiania, mas a demagogia se sente em casa. Passada a tempestade de Curitiba e devolvidos os direitos políticos de Lula, a continuidade dos processos contra ele não é problema urgente para a esquerda que aderiu ao apelo de sua popularidade. Por isso, solta-se travas, baixa-se a guarda que cuida de telhados de vidro e, assim, o tema da corrupção vai ganhando espaço no discurso contra Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Basta reparar nos vídeos e memes em redes próximas ao PT, assim como na transmissão de discursos de parlamentares esquerdistas pela Voz do Brasil para ver que o tema, inflado pelo caso das offshores, já ocupa, sem meias medidas, lugar de destaque na propaganda oposicionista de esquerda, logo abaixo do custo de vida e correlatos. Retira-se do armário o velho traje de udenista de esquerda para fazer o discurso girar até os anos de 1980 e 1990, do PT de antes do governo e do mensalão. Se na direita a tentação é fazer de Moro parte de uma campanha para reacender o antipetismo moralista, na esquerda a tentação começa a ser mimetizar o páthos. Estão sendo rápidos no gatilho para sacarem o lema “faxina sim, mas a nossa, que é popular. A delles não!”

Volto, para encerrar, à entrevista bem-humorada do outonal Dr. Ulisses. Ela provavelmente nada diz a Bolsonaro, posto que as razões da política não lhe importam. Mas deixa um recado explicito, típico de político de pólis, aos dois ramos da oposição: “a temeridade é o defeito da coragem”.   

*Cientista político e professor da UFBa

Você está protegido contra a covid-19? Anticorpos no sangue agora poderão dizer.




Não existia até aqui uma maneira de medir o grau de proteção diretamente no sangue de um indivíduo, ou acompanhar a evolução do seu grau de proteção. Novidade pode trazer informação. 

Por biólogo Fernando Reinach (foto)

Até agora você podia assumir que estava parcialmente protegido contra as formas sintomáticas da covid-19, caso você tivesse completado sua imunização com duas doses nas últimas duas semanas. Suas chances de ter a doença também é mais baixa se você já foi infectado pelo Sars-CoV-2 e apresentado a doença no passado. Mas não existia uma maneira de medir o grau de proteção diretamente no sangue de um indivíduo, ou acompanhar a evolução do seu grau de proteção. A novidade é que agora foi demonstrado que a quantidade de alguns anticorpos no sangue está diretamente correlacionada ao nível de proteção da pessoa.

De maneira simplificada, existem três tipos de exames que medem a quantidade e o tipo de anticorpo presente no sangue. O primeiro mede a quantidade de anticorpos contra a proteína N (núcleoproteina). Esses anticorpos aparecem em todas as pessoas que foram infectadas pelo vírus, mas não nas que foram vacinadas. E a razão principal é que a proteína N não faz parte da composição de grande parte das vacinas e, portanto, somente vacinados não apresentam esses anticorpos no sangue. Na cidade de São Paulo, usando esse método foi possível determinar que 42% dos adultos já haviam sido infectados no início de maio de 2021 (https://www.monitoramentocovid19.org/)

O segundo tipo de exame detecta anticorpos contra a espícula do vírus (os chifrinhos). Esses anticorpos aparecem em pessoas infectadas e nas que foram vacinadas. Isso ocorre porque todas as vacinas têm em sua composição a espícula ou parte dela.

O terceiro tipo de exame detecta os anticorpos neutralizantes – que aparecem nas pessoas infectadas e nas vacinadas. Eles impedem que o vírus penetre nas células humanas. Já se imaginava que a quantidade de anticorpos neutralizantes no sangue de uma pessoa deveria estar correlacionada ao nível de proteção, mas isso não havia ainda sido comprovado.

Em um novo estudo, cientistas ingleses identificaram 4.372 pessoas que haviam sido vacinadas com as duas doses da AstraZeneca 28 dias antes do início do estudo e que não haviam sido infectadas pelo coronavírus. Em cada uma delas a quantidade de anticorpos neutralizantes e de anticorpos contra a espícula foi medida no dia inicial do estudo. Essa medida permitiu saber exatamente a quantidade de anticorpos de cada tipo que a pessoa tinha produzido em função de ter sido vacinada. Seguidas durante 88 dias, 1.404 pessoas contraíram o vírus, mas não apresentaram sintomas – e 171 contraíram e apresentaram sintomas. Ou seja, só 4% das pessoas vacinadas apresentaram a forma sintomática da doença nesse período, mas quase 36% contraíram o vírus.

Como os cientistas tinham os dados sobre a quantidade de anticorpos presentes no sangue de cada uma dessas pessoas, foi possível relacionar essa quantidade de anticorpos com a chance de ser infectado e a gravidade da doença. Os resultados são absolutamente claros: quanto maior a quantidade de anticorpos neutralizantes e de anticorpos contra a espícula, menor a chance de a pessoa apresentar sintomas. Por exemplo: pessoas que têm 22 unidades de anticorpos neutralizantes têm uma chance 60% menor de contrair infecções sintomáticas quando comparadas com as que não possuem esses anticorpos. Já as que têm 938 unidades têm uma chance 90% menor.

Essa correlação é valida para todos os anticorpos contra a espícula do vírus ou de parte da espícula e para as infecções sintomáticas. Mas não para as assintomáticas. Estudo da Moderna deu resultados iguais. Esse resultado permite saber se nossa proteção, a cada momento, é alta, baixa, ou está caindo.

Em São Paulo, o grupo de cientistas do qual participo acabou de medir a presença de anticorpos neutralizantes na população de adultos. Com essa medida será possível estimar não somente a fração dos paulistanos já infectados, mas a quantidade dos parcialmente protegidos e seu nível de proteção. Os resultados estão sendo analisados e provavelmente serão divulgados nas próximas semanas. Posso adiantar que são animadores.

O Estado de São Paulo

Trem da alegria embarca no Tribunal de Contas da União




Por Vicente Nunes (foto)

O Tribunal de Contas da União (TCU), que serve de referência para as boas práticas no serviço público, deu um péssimo exemplo ao arrombar a porta para um trem da alegria de seus funcionários. O órgão autorizou que servidores da área administrativa — como nutricionistas, psicólogos, médicos, bibliotecários, enfermeiros, analistas de sistemas, programadores — passem a ter o mesmo tratamento das carreiras de Estado, hoje restrito aos auditores de controle externo.

Com isso, cerca de 200 profissionais que nada têm a ver com as atividades fins do TCU poderão participar de auditorias, fiscalizar órgãos e autarquias federais e empresas estatais. Terão poder, inclusive, para supervisionar os auditores nas fiscalizações e arquivar representações que propõem investigações. Esses mesmos servidores poderão, ainda, exercer cargos de diretoria nas unidades técnicas finalísticas do órgão de instrução e fiscalização, que reúne atividades finalísticas de supervisão de todas as fases de fiscalização (planejamento, coordenação e execução).

Segundo auditores do TCU, a Resolução nº 332, de 6 de outubro de 2021, na prática, retira daqueles que são alvos do Tribunal o direito de serem fiscalizados e terem seus processos instruídos por agentes legalmente aptos ao exercício das atividades de fiscalização e instrução processual, cujo resultado afeta direitos subjetivos dos jurisdicionados, questão já reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Justiça Federal.

As decisões do TCU vão além: o órgão abriu a possibilidade de os gabinetes de ministros terem um servidor de fora do quadro próprio de pessoal exigido desde a Constituição de 1946, mesmo que oriundo de um ministério, de uma autarquia ou de estatal alvo de fiscalização. Isso significa dizer, por exemplo, que um funcionário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou da Petrobras pode ser requisitado para atuar no TCU, em flagrante conflito de interesse. A resolução segue na contramão do requerimento aprovado pela CPI da Covid, que recomendou ao TCU requisitar todos os auditores cedidos aos órgãos fiscalizados, de forma a prevenir conflito de interesses.

O problema da resolução é que essa pessoa terá acesso a processo bilionários de interesse do governo referentes a órgão, à empresa ou à autarquia de origem, que ficará responsável para o pagamento do salário durante todo período da cessão ao Tribunal. Mais adiante, voltará para o posto original carregado de informações privilegiadas. Isso se, enquanto estiver no TCU, não interferir em favor do órgão ou entidade que o cedeu. Afinal, é para lá que voltará quando não mais servir ao Tribunal.

A reação contrária à Resolução nº 332, do TCU, é enorme entre os auditores. Tanto que a Associação Nacional dos Auditores de Controle Externo dos Tribunais de Contas do Brasil (ANTC) convocou reunião extraordinária para 11 de outubro a fim de definir as ações a serem adotadas contra o Tribunal.

Já está certo que o Congresso Nacional e o Judiciário devem ser acionados. Para a entidade, as decisões do TCU fragilizam os 33 Tribunais de Contas do Brasil, ao dar um mau exemplo.

Correio Braziliense

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Ministros do TCU dizem que auditores querem “reserva de mercado”

Por Vicente Nunes
A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de reformular seu quadro de servidores provocou reações contrárias de auditores de controle externo, que temem prejuízos ao processo de fiscalização do dinheiro público. Para ministros, no entanto, as queixas não passam de pessoas que querem manter “reserva de mercado” dentro do órgão.

Os ministros alegam que, com o teto de gastos, o TCU não está conseguindo repôr as vagas abertas por aposentadorias — somente com a reforma da Previdência, foram mais de 100. Portanto, o jeito foi reformular a estrutura de cargos e equiparar, em termos de funções, quase 200 pessoas que atuam na área administrativa, mas têm ótima formação.

O comando do TCU diz que os servidores administrativos têm os mesmos salários dos auditores de controle externo, fizeram concursos tão difíceis quanto os que criticam a equipação de funções e podem executar trabalhos de fiscalização desde que preparados para isso. Não por acaso, haverá processos seletivos internos nos setores que demandam pessoal.

Segundo os ministros, das vagas abertas com as aposentadorias de auditores de controle externo, foi autorizado concurso para o preenchimento de apenas 14 postos. Portanto, para não interromper os trabalhos de fiscalização, foi aprovada a Resolução nº 332, de 6 de outubro de 2021, da equiparação de pessoal.

Em notas, associações de auditores afirmam que não há como médicos, nutricionistas, bibliotecários, enfermeiros e analistas de sistemas atuarem na fiscalização de ministérios, autarquias federais e estatais. E prometem recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a decisão do TCU.

Correio Braziliense

Bolsonaro ganha tempo




Por Marco Antonio Villa (foto)

O presidente sabe que não tem nenhuma chance de se reeleger. A cada dia fica mais claro seu isolamento político. O Sete de Setembro foi seu dobre de finados

Quando Fiori Gigliotti, sempre no segundo tempo — e já próximo do final do jogo —, dizia, com sua voz inconfundível: “O tempo passa torcida brasileira!”, uma angústia tomava conta do torcedor que estava ouvindo seu time ser derrotado. O “passa” era alongado, significando que o fim da partida estava chegando e a derrota se avizinhava. Este é o sentimento em relação ao atual momento político brasileiro. O tempo passa e Jair Bolsonaro ganha uma sobrevida. Quer, a todo custo, chegar a 2022 no cargo de presidente da República. Sabe que aí ganhará uma espécie de salvo-conduto — faça o que fizer — para as eleições de outubro. E sua permanência no cargo, associada à sua candidatura à reeleição, vai transformar o processo eleitoral em um cenário de guerra, de guerra civil. Essa é a sua estratégia: chegar a 2022 e impedir que o País possa encontrar nas eleições um caminho democrático e civilizatório para enfrentar na terceira década do século XXI os graves problemas nacionais.

Jair Bolsonaro sabe que não tem nenhuma chance de se reeleger. A cada dia fica mais claro seu isolamento político. O Sete de Setembro foi seu dobre de finados. Lá ficou patente que conta com o apoio de apenas um grupo de fanáticos, extremistas, nazifascistas, e que isto não basta para que possa ser reconduzido à Presidência da República. As ameaças golpistas também não impactam mais o cenário político. Depois de tanto falar, propagar aos quatro ventos que iria confrontar os outros Poderes, especialmente o STF, que as Forças Armadas estavam a serviço do seu projeto golpista, teve de se sujeitar a assinar um pífio documento, intitulado Declaração à Nação, que desagradou seus mais fiéis seguidores. Se o recuo permitiu ganhar tempo, por outro lado demonstrou que a virulência verbal não se coadunou com a ação política.

Nada indica que a relativa timidez discursiva de Bolsonaro deva permanecer. Tudo depende de variáveis que ele não tem controle. O relatório da CPI da Pandemia pode elevar a temperatura política — e, neste caso, teremos um final de mês bastante agitado. A piora progressiva dos indicadores econômicos deve aumentar a impopularidade presidencial e novos acessos autoritários vão estar presentes nos discursos de Bolsonaro. Além das investigações sobre ações criminosas da família, principalmente no Rio de Janeiro. As manifestações de 15 de novembro poderão servir como termômetro do que o País poderá aguardar até o final do ano. Mas cada dia que Bolsonaro se mantém no poder, quem perde é o Brasil.

Revista IstoÉ

Perdoa-me por me traíres

 



Por Carlos Brickmann (foto)

Na época do controle de preços, o então presidente Médici foi informado de que sua equipe econômica iria tornar a carne mais cara. Suspendeu a decisão por alguns dias, vendeu seus poucos bois e só então liberou o aumento. Até ele, ditador com poderes absolutos, sabia que se apenas deixasse a carne subir, muitos pensariam que seu objetivo fosse lucrar com a decisão, o que afetaria a credibilidade do governo. O hoje ministro Paulo Guedes não aprendeu a lição: não se pode ficar dos dois lados do balcão. Não se discute sua seriedade, mas isso não se faz: qualquer medida do Governo afeta, para cima ou para baixo, os US$ 9,5 milhões que ele mantém no Exterior. É difícil convencer quem paga impostos escorchantes de que o ministro, ao tomar decisões, não se preocupe com o destino de seu dinheiro. É uma preocupação que ele tem – tanto que sua empresa off-shore é legal, constituída não para ocultar dinheiro, mas para poupar impostos e colocar seu patrimônio a salvo das flutuações da política econômica brasileira.

Mas não acredite que o Centrão, base do Governo Bolsonaro, esteja triste por essa mancada do antigo superministro. Nada disso: vai fingir que está indignado, pressionará o ministro, mas na verdade ficou feliz. O declínio de Paulo Guedes abre a chance de conseguir mais cargos e verbas. E, se isso for ruim para o prestígio de Bolsonaro, ótimo: o apoio do Centrão será ainda mais essencial para o presidente.

 E, portanto, custará mais caro.

O tempo passa

Na campanha eleitoral que levou Juscelino Kubitschek à Presidência, a TV Tupi tinha um programa humorístico, O Hotel da Sucessão. O programa acompanhava as mudanças de posição dos candidatos aos diversos cargos e usava um bordão clássico: Entrou em ação um objeto misterioso. Maços de dinheiro trocavam de mãos e as opiniões mudavam magicamente.

Tempos ingênuos: hoje, o objeto misterioso continua funcionando, em malas, cuecas, até mesmo nos círculos mais íntimos da política, mas há também orçamentos ocultos, estatais, cargos, rachadinhas, viagens inúteis ao Exterior com boas diárias, bebidas premiadas, picanhas de R$ 1.700,00 o quilo, vinhos cheios de medalhas. A política se sofisticou, a ponto de levar os apoiadores de uma facção a festejar seus erros. Quem disse que é só acertando que se ganha?

Frito é melhor

É por isso que a convocação de Guedes para depor na Câmara, por 310 votos a 142, não deve ser encarada como prenúncio da queda do ministro. Se ele cair, talvez seja substituído por alguém mais firme. OK, Guedes diz que leu Keynes três vezes no original, o que indica apenas que ele sabe falar bem o inglês do Reino Unido. Mas enfrentar as feras do Congresso, especialistas em caçar as melhores e mais nutritivas presas de Brasília, é outra coisa. Para os profissionais, Guedes é um ministro nutella, que em comum com Posto Ipiranga só tem a loja de conveniência.

Engoliu todas as exigências, fossem do Centrão ou de Bolsonaro, aceitou todos os jabutis que foram pendurados em emendas e, ao contrário de Moro, não reagiu. A única vez em que ficou irritado de verdade foi no início da pandemia, quando o hotel em que morava, em Brasília, parou de servir suco de laranja. Aí foi para sua casa no Rio e só voltou a Brasília quando lhe prometeram o suquinho espremido na hora.

Vai subindo...

A Petrobras aumentou de novo o gás de cozinha: agora o botijão sai da refinaria a R$ 50,15. Aí entram os impostos, os custos, a distribuição, o lucro da distribuidora, as despesas e o lucro das lojas, e quem não puder pagar que cozinhe com lenha. A gasolina também sobe, no mesmo percentual: 7,2%. O diesel, que subiu na semana passada, continua com o mesmo preço. Mas, como já subiu, contribui para elevar o custo do transporte do gás.

Agora só falta a propaganda do Governo anunciar que comida crua é que faz bem.

 ...e subindo

O presidente Bolsonaro já se previne: diz que no ano que vem haverá mais problemas na produção de alimentos, já que os fertilizantes (importados, na maior parte da China) estarão em falta no mundo. Anunciando altas que talvez ocorram no ano que vem, a consequência é que as altas começarão mais cedo, todos se prevenindo contra problemas futuros. Não seria o caso de, imediatamente, iniciar a pesquisa de novos fornecedores? Quando os chineses faziam pouco comércio, de onde vinham os fertilizantes? Desapareceu a rocha fosfática que o Brasil comprava de países africanos?

Calma (por enquanto)

Não se assuste com a notícia de que submarinos nucleares americanos estão circulando perto da China. Estão mesmo, e faz tempo. Também os voos de aviões de combate chineses até as proximidades de Taiwan são apenas de teste (por enquanto). Pode ocorrer um incidente; mas confronto, mesmo, só depois de os chineses se sentirem seguros para tentar a conquista de Taiwan.

É coisa para mais alguns anos, se não houver negociações até lá.

Brickmann.com.br

Uma viagem aos Brasis da vida real




Nossa diversidade rima com desigualdade e com problemas que nunca são resolvidos

Por João Gabriel de Lima (foto)

O diretor de teatro Jé Oliveira mora em São Paulo, tem 37 anos e ensaia a peça Gota D’Água, de Chico Buarque, com um grupo de atores negros. O nome artístico do poeta João Fialho Cordeiro da Silva, de 57 anos, é Miró da Muribeca. Em versos satíricos, ele descreve o cotidiano da cidade onde vive, Recife, enquanto declama versos de seu poeta favorito, o mineiro Carlos Drummond de Andrade. Maria dos Santos tem 79 anos, vive na Bahia e descende de um sobrevivente da Guerra de Canudos. Ela se lembra de quando o escritor peruano Mario Vargas Llosa entrevistou seu pai para o épico A Guerra do Fim do Mundo. 

Jé, Miró e Maria são personagens de um livro que mostra, como poucos, o Brasil da vida real: Viagem ao País do Futuro, da jornalista portuguesa Isabel Lucas. O Brasil não cabe numa única viagem, e a autora cruzou o Atlântico várias vezes para retratar os diversos países dentro de nosso país. Nesta semana, ela vai falar sobre sua obra no Folio, um equivalente português da Festa Literária de Paraty, numa mesa sobre o Brasil (da qual também participarei). Isabel Lucas é a entrevistada do minipodcast da semana.

Para navegar os diversos Brasis, a autora não recorreu a cartas tradicionais. Seus mapas saíram da literatura brasileira. O livro começa com a visita à terra descrita em Os Sertões, a obra-prima que Euclides da Cunha desentranhou de uma série de reportagens para o Estadão. “Parti dos livros, pois o Brasil está representado na obra de vários grandes autores”, diz Isabel Lucas. Viagem ao País do Futuro se alimenta do diálogo – e do choque – entre a realidade e obras literárias.

A autora se impressionou com a São Paulo multicultural onde o diretor teatral Jé Oliveira se move – uma cidade que “é como o mundo todo”, tal qual no verso de Caetano Veloso, com imigrantes de 196 países. Isabel Lucas também notou as dificuldades dos paulistanos em sair de suas “conchas sociais”, para usar a expressão de Lygia Fagundes Telles em As Meninas – o romance que guia seus passos por São Paulo. 

Viagem ao País do Futuro tem um quê de otimista e muito de perturbador. Sai-se da leitura impressionado com a diversidade cultural do País, e também com a quantidade de boa literatura produzida no afã de retratá-la. O que há de perturbador é que nossa diversidade rima, na maior parte do tempo, com desigualdade – e também com problemas persistentes que nunca são resolvidos.

Ao longo dos anos, mergulhos na realidade nacional não renderam apenas boas reportagens e romances, mas também ciência. A academia brasileira se debruça com afinco sobre os problemas brasileiros. Temos um debate rico e estatísticas confiáveis em quase todas as áreas. Baseadas nelas, criamos políticas públicas que, a partir da redemocratização, melhoraram o País. Infelizmente, nos últimos governos, perdemos o rumo. O debate das próximas eleições será central para que o recuperemos. 

A neta de Maria dos Santos, Andreia, de 38 anos, estudou administração de empresas. Não conseguiu emprego em sua área e vive de comprar e revender mercadorias em sua cidade. “Nadei, nadei, para morrer na praia”, diz. “Mas meus filhos todos estudam. O mais velho, por exemplo, quer fazer advocacia.”

Pelas páginas de Viagem ao País do Futuro desfilam atores e testemunhas de um Brasil criativo e vibrante, e que vinha melhorando. Não o suficiente, no entanto, para evitar que muitos brasileiros ainda morram na praia.

O Estado de São Paulo

A palavra é ‘nazista’, mesmo

 



O depoimento de Tadeu Andrade na CPI sobre a Prevent Senior é de arrepiar

Por Ricardo Rangel (foto)

Em seu depoimento na CPI, o advogado Tadeu Andrade narrou seu calvário nas mãos da Prevent Senior. Depois de submetê-lo a um tratamento experimental, e perigoso, sem autorização, a empresa decidiu retirá-lo da UTI e deixá-lo morrer.

Tadeu Andrade teve sorte: a resistência firme de sua filha, assim como o médico que sua família teve condições de contratar, salvaram sua vida. Outros pacientes, com certeza, não tiveram a mesma sorte e acabaram no cemitério.

O depoimento de Andrade está em linha com o relato dos médicos George Joppert, Andressa Joppert e Walter Correa e da advogada Bruna Morato, que contou que a expressão “alta também é óbito” era corriqueira na Prevent Senior.

O que se depreende dos depoimentos é que a Prevent Senior, com o objetivo de cortar custos, dar credibilidade a medicamentos ineficazes e adular o presidente da República, se arrogou o direito de tratar seres humanos como cobaias e de decidir quem deve viver ou morrer.

Muitos protestam contra o uso das palavras “nazismo” e “nazista” (que vem se tornando comum), pois não é possível comparar o que ocorre no Brasil com o holocausto — o que, claro, é verdade.

Mas o nazismo não surgiu com o extermínio deliberado de milhões de pessoas. Ele surgiu uma década antes, quando a ideia de que certas pessoas — idosos doentes, por exemplo — são dispensáveis, não vão fazer faltar, podem morrer, começou a ser vista como aceitável.

O nazismo surgiu em lugares como os hospitais da Prevent Senior.

Revista Veja

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