Carlos Newton
Na gestão do chanceler Ernesto Araújo, o Ministério das Relações Exteriores vive uma fase de altíssima irresponsabilidade, com o Brasil voluntariamente se transformando em país-satélite dos Estados Unidos, sem que haja qualquer consequência benéfica, conforme já ficou claro nas posições do presidente americano Donald Trump.
Ao invés de dar reciprocidade e apoiar interesses do Brasil, que tenta se filiar à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Trump fez exatamente o contrário, preferindo recomendar o ingresso da Argentina e da Romênia. Além disso, costuma ameaçar com sobretaxas as exportações brasileiras, sem dar qualquer satisfação a Bolsonaro.
NOTA DO ITAMARATY – Sobre o ataque que matou o general iraniano Qassim Suleimani, o Itamaraty emitiu uma nota oficial que exibe despudoradamente a submissão do governo brasileiro aos Estados Unidos.
“Ao tomar conhecimento das ações conduzidas pelos EUA nos últimos dias no Iraque, o governo brasileiro manifesta seu apoio à luta contra o flagelo do terrorismo e reitera que essa luta requer a cooperação de toda a comunidade internacional sem que se busque qualquer justificativa ou relativização para o terrorismo”, afirmou o Itamaraty nesta sexta-feira, classificando o Irã como uma de sedes do terrorismo islâmico, sem lembrar que se trata de um país amigo, parceiro comercial do Brasil.
O presidente Jair Bolsonaro também criticou abertamente o Irã, ao destacar que “países que dão cobertura a terroristas ficam cada vez mais para trás”.
BOLSONARO CONFIRMA – Sem entender que a melhor política externa é defender os interesses do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se precipitou e deu inacreditáveis declarações contra o Irã, chegando a afirmar que o general iraniano Qassim Suleimani foi responsável pelo atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), que deixou 85 mortos em 1994.
“Do que levantamos até agora da vida pregressa dessa autoridade iraniana que perdeu a vida no dia de ontem, segundo informações aqui, pessoa que estaria envolvida em ataques à entidade judia que existia na Argentina”, disse sobre a carreira militar de Suleimani, considerado o maior herói do Irã, na atualidade.
MAIS BOBAGENS… – Bolsonaro falou bobagens, porque jamais ficou provado que o Irã tivesse sido responsável pelo atentado, porque naquela época o governo de Teerã estava negociando com a Argentina o prosseguimento de importantes acordos de cooperação nuclear. Em função do atentado, houve pressão dos Estados Unidos e os acordos foram cancelados.
Em entrevista à Rede Bandeirantes, Bolsonaro defendeu o presidente americano, Donald Trump. “Acho que o Trump não está fazendo campanha política em cima disso, não. Quando o Bin Laden deixou de existir se aventou essa possibilidade, mas o americano tem uma linha muito séria no tocante ao combate ao terrorismo”, disse, infantilmente.
SURGE UMA PERGUNTA – A quem interessa esse tipo de posicionamento oficial do governo brasileiro? Na verdade, não interessa a ninguém, porque abala as relações brasileiras com o Irã e outros países árabes que importam produtos brasileiros. Aliás, essa atitude do governo brasileiro – bajuladora, vergonhosa e servil – não interessa nem mesmo aos Estados Unidos, pois Trump está pouco ligando para o Brasil, o objetivo dele é agradar aos eleitores norte-americanos e ponto final.
O pior de tudo, conforme o vice-presidente Hamilton Aragão alertou quando Bolsonaro e o Itamaraty passaram a prestigiar Israel e hostilizar os palestinos, é que essa política diplomática irresponsável ameaça incluir o Brasil no roteiro do terrorismo islâmico, uma possibilidade que jamais existiu de fato, em função da tradição de não-alinhamento do Itamaraty, desde a independência do país.
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P.S. – Como se vê, ao invés de calçar as luvas da diplomacia, Bolsonaro prefere as ferraduras da cavalaria. É uma rima rica, mas nunca será uma solução proveitosa. (C.N.)
P.S. – Como se vê, ao invés de calçar as luvas da diplomacia, Bolsonaro prefere as ferraduras da cavalaria. É uma rima rica, mas nunca será uma solução proveitosa. (C.N.)