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domingo, dezembro 26, 2010

Faltam 5 dias para Dona Dilma chegar de fato ao Planalto. De direito já está lá. É preciso apenas cumprir a transição, em todos os países, depois da eleição, sempre dois presidentes.

Helio Fernandes

Essa rotina intermitente, normalíssima de esperar o tempo passar, mas tão lentamente que provoca muita angústia, vai terminando. Mas falta cumprir o “constitucional”, embora o presidente que sai, esteja fazendo hora extra no exibicionismo, e deixando rolar lágrimas e saudades pelo futuro que não desvendou nem conquistou, mas faz questão de esclarecer: “Posso voltar”.

Todos podem voltar ou até irem, como ensinou o poeta, que desvendou para todos o caminho da libertação e da possível felicidade: “Vou embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei, tenho a mulher que eu quero, na cama que escolherei”.

Só que a Pasárgada de Lula é aqui mesmo, tudo aquilo que o poeta imaginou, se acumula num só personagem, o próprio Lula. Ele é o Rei, sabe de emoção própria qual é a “mulher” que deseja, e a “cama” já escolheu faz muito tempo, tudo sintetizado, sumarizado e divulgado, na esperança da volta.

O Planalto sem data é a fixação de Lula, está tão absorvido pela saída, que atravessa e atropela o caminho da mulher que quer entrar, foi designada por ele mesmo.

Nenhum presidente entrega o Poder com satisfação. Mas outra verdade, é que raramente um presidente, antes de sair já anuncia a preocupação de voltar. Lula decretou e acrescentou até um tom emocional, declarando: “Vou andar pelas ruas, sou povo, sempre estarei com o povo”. Eis uma frase que não precisa nem de interpretação, basta perguntar: “Até quando Lula pretende andar pelas ruas?”

Se alguém puder responder, terá a chave para decifrar o clima que começa no primeiro dia de 2011, e nem Lula percebe ou pode explicar até ONDE ou até QUANDO poderá se alongar.

E Dona Dilma? Intrépida, altiva e altaneira, “cumpre a parte que lhe cabe nesse latifúndio”. Como se vê, pode haver tumulto, angústia e ansiedade em volta dela, mas a percepção dos grandes poetas ameniza e emociona sua caminhada, que demora apenas mais 6 dias.

Nenhuma contrariedade nessa escolha do ministério-paulistério-mistério. Surpreendentemente chegou aos 37, apenas a repetição de um número? A certeza de que precisa mesmo de 37? Ou querendo mostrar que vai inovar muito mas não pelos caminhos tido como tradicionais? Para ela, até agora, nenhum problema que atingisse sua tranqüilidade, serenidade ou até exigindo hostilidade. E olhem que momentos e oportunidades não faltaram.

Enfrentou tudo aparentemente concordando totalmente, mas na verdade impondo, direta ou indiretamente, o que pretendia. E sua presença foi marcante precisamente com governadores, que em muitas fases históricas dominaram ou tumultuaram a República. E agora, pelo menos cinco deles tentaram influenciá-la.

Dois desses, satisfeitos, não exigiram nada, mas foram totalmente recompensados. Jaques Wagner, do seu partido, obteve tudo, só foi a Brasília uma vez. Até o PP, para manter o Ministério das Cidades, indicou um nome da Bahia, mas precisou do aval do governador.

O outro, Eduardo Campos, também reeeleito com verdadeira consagração, recebeu tudo o que pretendia, sem intimidação ou provocação, mas mostrando o que pode representar. E o governador de Pernambuco (do PSB) ainda se deu ao luxo de VETAR Ciro Gomes para vários cargos, deu por terminada sua atuação, assim: “Ciro Gomes ATIROU para todos os lados”. E por enquanto ficou sem nada.

Tarso Genro, governador eleito do Rio Grande do Sul, ministro com ela e como ela, reivindicou muito (um direito representativo dele) mas recebeu pouco. Os que podem ter cacife para 2014 dentro do PT, precisam ser vigiados, embora não hostilizados.

Eduardo Braga, também reeeleito, cheio de planos, queria o Ministério do Meio Ambiente. (Anunciei um ano antes, quando deixou o governo do Amazonas, com uma senatoria certa esperando).

O Meio Ambiente era do Carlos Minc, que quando se desincompatibilizou, deixou a competente Isabela Teixeira, preferiu que ela continuasse. Braga, ficou “amuado”, que palavra, Dona Dilma fingiu que não percebeu, ele ficou sem nada.

***

PS – Não surpreendentemente, o maior perdedor, evitadíssimo, foi o governador do Estado do Rio. Medíocre, vil e ignaro (royalties para o grande jornalista J. E. de Macedo Soares), tentou invadir o espaço da própria Dilma, saiu abalado e rastejando, nenhuma novidade.

PS2 – Se estivéssemos não na época de Natal e sim na Páscoa, cabralzinho seria o Judas deste sábado. Mas foi ridicularizado, humilhado e vilipendiado (merece as palavras), ao pretender implantar um ministro pela intimidação.

PS3 – E Dona Dilma (como eu havia confidenciado), não esqueceu o episódio, vergonhoso (para ele) e que se transformou politicamente em desastroso. Dona Dilma, como contei, nem atendeu mais os telefonemas dele. E nomeou um ministro do Estado do Rio, sem a menor ligação com cabralzinho. (Foi Luiz Sergio).

PS4 – O deputado do PT, não lembrado para nada, acabou Ministro das Relações Institucionais, embora o PT do Estado do Rio seja muito menor do que o PMDB.

PS5 – Desde 1998, quando Vladimir Palmeira ia ser governador, Dirceu e Lula, ainda sem terem chegado ao Poder, fizeram intervenção no Rio, com medo do prestígio do futuro governador. No Rio o PT acabou ali.

PS6 – Como ficou a ver navios, cabralzinho podia ter preenchido o Ministério dos Portos. Nem isso conseguiu. Mas promete se vingar. Ha!Ha!Ha!

Helio Fernandes/Tribuna da Imprensa

Do jeito que está não vai dar


Há uma questão que não foi considerada pelo governo Lula, muito menos por seus antecessores mais recentes, agora transformada num nó que Dilma Rousseff precisará desatar, espera-se que jamais como Alexandre. Usar a espada poderia ter conseqüências ainda mais desastrosas, mas é preciso enfrentar a questão do crescimento desmedido da indústria automobilística. Quantos milhões de veículos são produzidos todos os anos, indo pequena parte para a exportação e incorporando-se a grande massa à frota nacional?

As estatísticas variam, mas não erra quem supuser quatro milhões de carros postos em nossas estradas a cada doze meses. E vem mais por aí, com fábricas antigas duplicando a produção e novas instalando-se por todo o território nacional. Maravilha em termos de criação de empregos, ainda que nem tanto assim, mas pesadelo para o poder público.

O rodoviarismo implantado por Juscelino Kubitschek e superdimensionado nos governos militares e seguintes tornou-se o maior sumidouro de recursos oficiais dos últimos cinqüenta anos. E não adianta nada. Quanto mais se gasta nas cidades e no interior com a ampliação e implantação de estradas, túneis, viadutos e anéis rodoviários, mais cresce a evidência de serem insuficientes.

Por mais irônico que pareça, o caos foi criado nos anos recentes de desenvolvimento econômico, aliados a uma publicidade exagerada por parte das montadoras. Reunidos credito fácil e estímulo ao cidadão comum para adquirir ou trocar de carro, o resultado está sendo a impossibilidade de continuarem as coisas como vão.

Em cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e muitas outras, já não se anda. Muito menos se estaciona. Quantas horas perde o motorista para deslocar-se de um bairro a outro? Que danos podem ser calculados, menos em força de trabalho, até, mais nas estruturas psicológicas de quem fica parte do dia preso em engarrafamentos monumentais?

Sem esquecer, vale repetir, as obras que fazem a alegria das empreiteiras e a desgraça do tesouro nacional, consumindo recursos imprescindíveis à educação, à saúde pública e à segurança.

Algo precisa ser feito. Uma política de médio e longo prazo capaz de afastar a sombra do imponderável. Dirão os simplistas estar a solução em investimentos maciços nos transportes públicos, da recuperação da ainda destroçada malha ferroviária aos metrôs e corredores exclusivos para ônibus. Essa alternativa até preservaria boa parte dos empregos, além do que, parte da indústria automobilística poderia reciclar-se, adaptando-se para produzir ônibus, vagões e similares.�

Simples mas complicado, se for possível a contradição. Porque tão difícil quanto implantar essa mudança radical será alterar os costumes. Afinal, por que penalizar logo agora o esforçado cidadão que conseguiu economizar ou está disposto a enfrentar prestações a perder de vista para adquirir o seu carrinho?

Uma evidência, no entanto, prevalece: do jeito que está não vai dar. Dona Dilma que dê tratos à bola. Sem esquecer de uma ironia da História. O pai dessa febre rodoviarista foi nada mais nada menos do que Adolf Hitler. No auge do sucesso da invasão da União Soviética, o tresloucado líder previu que cada cidadão alemão teria a chance de visitar os territórios ocupados com o seu volkswagen, porque no futuro as estradas seriam mais importantes para o transporte de passageiros do que as ferrovias.

“Somente viajando por rodovias seria possível conhecer os países” – disse num devaneio hoje tornado catastrófico. Quem conta o episódio é o autor da mais nova biografia de Hitler, Ian Kershaw, um livro imperdível.

Fonte: Tribuna da Imprensa

Na Bahia 1.185 farmácias estão na clandestinidade

Raul Spinassé/Agência A TARDE
Consumidor corre risco de comprar medicamentos mal armazenados ou produtos fora do prazo de validade
Tássia Correia l A TARDE

Pelo menos 22% das farmácias em funcionamento na Bahia são clandestinas. Diante deste dado, profissionais de saúde alertam: com a mercantilização cada vez mais intensa do setor, consumidores precisam redobrar os cuidados e a atenção, mesmo nos estabelecimentos regulares.

O levantamento do Conselho Regional de Farmácia da Bahia (CRF-BA) apontou que são 4.184 estabelecimentos devidamente registrados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contra 1.185 funcionando na clandestinidade.

A regularização envolve registro no conselho, autorização da vigilância sanitária para funcionamento, além de contratação de um farmacêutico responsável pelo estabelecimento. O descumprimento das exigências leva à média de 12 processos éticos julgados no CRF-BA por mês.

A maioria dos processos diz respeito à ausência de profissionais farmacêuticos nas lojas, que devem estar presentes durante todo o horário comercial. “Muitos não têm interesse em ter um farmacêutico o tempo todo porque uma das funções é justamente evitar que o comércio se sobreponha à saúde”, explica o presidente do CRF-BA, Altamiro José dos Santos.

Risco - A empresária Zenaide Souza, 47 anos, conta que já precisou de orientações de um farmacêutico e não encontrou o profissional. “Procurei pelo farmacêutico e ele não estava. Na dúvida, acabei tomando o medicamento mesmo assim”, relatou.

A falta do registro legal expõe consumidores a riscos que vão desde medicamentos mal armazenados a vendas de produtos fora do prazo de validade. “No interior do Estado e em farmácias menores a situação é mais grave. Já encontramos medicamentos que deviam estar refrigerados recebendo o calor do sol por todo o dia e sendo vendidos. Nosso procedimento é denunciar aos ministérios públicos e às vigilâncias sanitárias dos municípios, mas a fiscalização não dá conta”, admite o presidente do CRF-BA.

Clientes que verificarem irregularidades também podem registrar a denúncia nos órgãos competentes. Segundo avaliação de Santos, o número de farmácias na irregularidade é resultado de fragilidades na legislação e da mercantilização do setor de medicamentos. “Nada é exigido para abrir uma farmácia. Não estamos falando de um estabelecimento comercial, mas sim de saúde”, disse.

Em abril deste ano, uma farmácia de manipulação em Salvador foi denunciada e interditada por pagar porcentagens das vendas a médicos que a indicavam.

Leia reportagem completa na edição impressa do Jornal A Tarde deste domingo,

Diretor do TCM contrata empresa do filho

Rejane Carneiro/Agência A TARDE
Tribunal de Contas dos Municípios pagou empresa de filho de diretor do órgão
Aguirre Peixoto l A TARDE

A empresa Stylo’s Persianas, de propriedade do filho de um diretor do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), faturou R$ 26 mil em contratos com o próprio Tribunal desde 2002 e recebeu mais R$ 122 mil em pagamentos de outros órgãos do governo baiano no período.

A Stylo’s pertence ao filho de Francisco Ramos de Carvalho, que é diretor administrativo e de transportes do TCM – órgão cuja missão é fiscalizar a moralidade na administração pública. A empresa está registrada no nome de Cláudio Eduardo Ribeiro de Carvalho e sua sede fica na mesma residência de Francisco, só que no andar de cima. O diretor é funcionário de carreira do Estado, mas foi colocado à disposição do TCM.

Juristas ouvidos pela reportagem sob a condição de anonimato avaliaram que o caso pode violar os princípios da moralidade e da impessoalidade na administração pública. O Código de Ética do Servidor Público (Decreto 1.171 de 1994) veda ao servidor “o uso do cargo ou função, facilidades, amizades, tempo, posição e influências, para obter qualquer favorecimento, para si ou para outrem”. Os juristas ressaltam, entretanto, que seria necessária uma análise mais minuciosa do caso para uma conclusão.

Os maiores pagamentos à empresa vieram da Secretaria de Governo do Estado da Bahia, no valor de R$ 27 mil. Depois estão os R$ 26 mil do TCM e também faturas de
R$ 20 mil contratadas pelo Departamento de Ciências Exatas da Universidade do Estado da Bahia (Uneb). Os dados constam do Sistema de Informações Contábeis e Financeiras (Sicof).

Contratos negados - Tanto Francisco Ramos de Carvalho como seu filho Cláudio dizem que não existem contratos da Stylo’s com o TCM. Cláudio afirmou que fez serviços somente para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) – que fica no mesmo prédio do TCM. Ele diz que não há influência de seu pai para a realização dos serviços em outros órgãos.

O presidente do TCM, conselheiro Francisco de Souza Andrade Netto, foi procurado pela reportagem, mas a assessoria de imprensa do orgão informou que em razão do recesso de fim de ano o conselheiro não foi localizado para comentar o caso.

O governo baiano, por meio da assessoria, afirmou que não há problemas na contratação de serviços da empresa pelos órgãos do Estado. A explicação é que o TCM não é órgão do Executivo e, por isso, não haveria impedimento de uma empresa pertencente ao filho de um diretor do TCM contratar com o Executivo.'

Leia reportagem completa na edição impressa do Jornal A Tarde deste domingo,

Mantida condenação de ex-prefeito gaúcho por desvio de recursos de hospital

O ex-prefeito de Bento Gonçalves (RS) Fortunato Janir Rizzardo segue condenado a cinco anos, um mês e quinze dias de reclusão, em regime semiaberto. A decisão é da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que negou recurso do político. Rizzardo foi condenado por desvio estimado em R$ 2,9 milhões, em valores de 2004. As verbas federais deveriam ter sido aplicadas na construção de um hospital psiquiátrico na cidade, em 1990.

O governo federal havia repassado ao município US$ 1,6 milhão, em janeiro de 1990, referente à primeira parcela de convênio firmado para a obra. A Construtora Lix da Cunha S/A, vencedora da licitação, subcontratou a terraplenagem pelo equivalente a US$ 163 mil.

Mas a prefeitura municipal transferiu, antes mesmo da realização desse serviço, o valor integral à construtora, usando planilhas de medição e atestados falsos. O hospital nunca foi construído. Segundo a denúncia, o prefeito e o vice tinham total ciência de que não havia contraprestação pelos pagamentos realizados.

Prescrição

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) fixou a pena de Rizzardo em cinco anos, um mês e quinze dias de reclusão, em regime inicial semiaberto. Isso porque afastou outra penalidade, correspondente a três anos, dez meses e quinze dias, em razão da prescrição da primeira liberação de verbas. Mesmo assim, restou o desvio estimado, em 2004, em R$ 2,9 milhões.

A pena ficou acima da mínima prevista em lei. A Justiça Federal gaúcha entendeu serem desfavoráveis a culpabilidade do réu (responsável pela licitação fraudulenta e pelo plano de desvio), os antecedentes, a motivação (lucro fácil, omissão nas declarações oficiais e provável envio ao exterior), as circunstâncias (preparo, inclusive com gozo de férias no momento da abertura da licitação) e as consequências, classificadas como gravíssimas (desvio total de R$ 4,7 milhões, calculados em 2004, e privação da cidade do único hospital público de que passaria a dispor).

Denúncia

Para a defesa, a denúncia seria genérica e não indicaria as condutas atribuídas ao ex-prefeito. A pena fixada também seria exagerada e não fundamentada. Mas a ministra Laurita Vaz considerou suficiente a fundamentação. O crime prevê pena entre 2 e 12 anos de reclusão, e no caso estaria comprovada a especial reprovação social da conduta do ex-prefeito.

A relatora considerou também que a denúncia permitiu aos acusados ter claro conhecimento das ações ilícitas atribuídas a eles, garantindo a ampla defesa e o contraditório.

Superior Tribunal de Justiça - O Tribunal da Cidadania

sábado, dezembro 25, 2010

Negromonte pagou voos com verba indenizatória

Parte dos nomes que ocuparão ministérios no governo de Dilma Rousseff (PT) têm alguma mácula no currículo. Escolhido para o Ministério das Cidades, o deputado Mário Negromonte utilizou os serviços da empresa de táxi aéreo Aero Star em 2010, pagando os deslocamentos com verba indenizatória da Câmara. Ele pagou R$ 151,2 mil até novembro. A mesma empresa também aparece na prestação de contas do parlamentar ao TSE como prestadora dos mesmos serviços, pelos quais recebeu R$ 64,5 mil entre agosto e setembro. Por meio de sua assessoria, Negromonte disse que não vê irregularidades no fato de a mesma empresa receber recursos da Câmara e de sua campanha. Já a deputada Maria do Rosário, que ocupará a Secretaria Especial de Direitos Humanos, usou na campanha os serviços da gráfica V&C, que, durante o ano, recebeu da Câmara (verba indenizatória) R$ 68,4 mil para divulgação da atividade parlamentar. Pelos serviços prestados à campanha da deputada, a gráfica recebeu R$ 241 mil, segundo os documentos enviados à Justiça Eleitoral. (A Tarde)/Política Livre

Maio: Ficha Limpa avança, e STF condena parlamentar

Após forte pressão popular, Câmara e Senado proíbem candidatura de políticos com condenação em órgão colegiado. De maneira inédita, Supremo condena dois parlamentares. Veja outros destaques do mês

Edson Sardinha

Foi preciso fazer muita força: manifestar nas ruas, lavar a rampa do Congresso, criar até um hino para defender a causa e, principalmente, aumentar a pressão sobre os 594 parlamentares. Mas o esforço rendia frutos. O projeto Ficha Limpa vencia todas as resistências na Câmara e no Senado em maio para se transformar em lei no começo de junho.

Maio também foi marcado por outras duas importantes viradas. Pela primeira vez, a ex-ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT, aparecia à frente do tucano José Serra nas pesquisas de intenção de voto, abrindo caminho para sua eleição à Presidência em outubro. Também de maneira inédita, o Supremo Tribunal Federal (STF) condenava naquele mês um parlamentar. E, para a surpresa geral, considerava culpados dois deputados no intervalo de apenas uma semana.

Sob outro tipo de pressão, dessa vez dos aposentados, os parlamentares também aprovavam em maio o reajuste de 7,72% para as aposentadorias e punham fim ao chamado fator previdenciário (cálculo redutor dos rendimentos da classe dos aposentados e pensionistas). Enquanto isso, as negociações para a votação do piso salarial nacional para policiais e bombeiros militares voltavam à estaca zero.

Eleições 2010

Com a proximidade do início do período eleitoral, os pré-candidatos também movimentavam o tabuleiro presidencial. O PMDB oficializava a indicação do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), como vice da chapa de Dilma. A senadora Marina Silva (PV) confirmava o empresário Guilherme Leal (PV), da Natura, como seu companheiro de campanha.

Grande fato das eleições de 2010, a aprovação da Ficha Limpa em maio deixou no ar algumas dúvidas até hoje não totalmente dirimidas sobre sua aplicação. A principal delas é sobre a validade da lei já neste ano, como já mostrava o Congresso em Foco.

Um dos políticos mais conhecidos que viriam a ser atingidos pela Ficha Limpa, o deputado Jader Barbalho (PMDB-PA) era retratado naquele mês como “o rei do Valle de los Caídos”, em reportagem do Congresso em Foco. O título fazia referência ao apelidado dado pelos deputados ao local onde o peemedebista costumava se sentar.

A matéria mostrava que, mesmo sumido do plenário e das comissões, Jader continuava um político poderoso, que controlava um orçamento público de R$ 7 bilhões por meio de aliados. Candidato ao Senado, ele acabou barrado pela Ficha Limpa.

Dupla condenação

O dia 13 de maio de 2010 entrou para a história como a data em que, de maneira inédita, o Supremo Tribunal Federal condenou um parlamentar. O deputado Zé Gerardo (PMDB-CE) foi condenado por crime de responsabilidade a prestar serviços à comunidade por dois anos e dois meses e a pagar 50 salários mínimos (cerca de R$ 25,5 mil) de multa.

De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público Federal (MPF), Zé Gerardo, quando administrava a prefeitura de Caucaia (CE), entre 1997 a 2000, recebeu R$ 500 mil, em recursos públicos federais, para a construção de um açude na cidade. A verba foi liberada por meio de um convênio com o Ministério do Meio Ambiente. Porém, segundo o MPF, o dinheiro foi usado para a construção de passagens molhadas, espécie de ponte erguidas com pedras em áreas alagadas. Candidato à reeleição, Zé Gerardo acabaria barrado pela Lei da Ficha Limpa.

No dia 20 de maio, o STF voltou a surpreender ao condenar o deputado Cássio Taniguchi (DEM-PR) também por crime de responsabilidade. No entanto, como os ministros declararam o caso prescrito, ele não precisou cumprir os seis meses de prisão a que foi sentenciado por mau uso do dinheiro público. O Ministério Público Federal acusou o parlamentar de autorizar o pagamento de R$ 4,9 milhões em precatórios de desapropriação de imóveis não incluídos no orçamento da prefeitura de Curitiba.

O Congresso em Foco revelava, ainda, novos detalhes do escândalo que derrubou o ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda. Responsável pelo acordo de delação premiada do ex-secretário Durval Barbosa, a promotora Alessandra Queiroga contou, em entrevista exclusiva ao site, bastidores de todo o processo que resultou na renúncia e na prisão do ex-governador.

Leia algumas das principais matérias de maio:

Ficha Limpa:

Ficha limpa: uma decisão que ficou sub judice

Paulo Maluf já está na mira do ficha limpa

Senado aprova projeto ficha limpa

Quem tentou desfigurar o ficha limpa

Veja a lista dos deputados favoráveis ao ficha limpa

Eles estavam lá, mas não votaram o ficha limpa

Quem aprovou o ficha limpa: veja como os deputados votaram

Após tentativa de adiamento, deputados aprovam Ficha Limpa

Manifestantes lavam rampa do Congresso pelo "Ficha Limpa"

Cante o Hino do Ficha Limpa

Quer limpar o Congresso? O dia é hoje

Manifestações em prol da ficha limpa marcam fim de semana

Márlon Reis: “ficha limpa já mudou a política”

Mensalão do Arruda:

Esquema de Durval começou no governo Roriz

Durval resolveu não cair sozinho

Exclusivo: promotora da Operação Pandora fala

Quem vazou a operação para Arruda?

Bandarra e Arruda tinham relações “inapropriadas”

Pedida a cassação de Eurides, a deputada da bolsa

Aposentados:

Senado aprova reajuste de 7,72% para aposentados

Câmara derruba fator previdenciário, em primeira votação

Câmara rejeita reajuste de 8,77% a aposentados

Deputados condenados:

Supremo condena deputado por crime de responsabilidade

Cassio Taniguchi é condenado pelo STF

Eleições 2010:

Executiva do PMDB confirma Temer como vice de Dilma

Dilma já previa ultrapassagem sobre Serra

Presidente da Natura será o vice de Marina Silva

Dilma ultrapassou Serra, aponta Vox Populi

Jader: o rei do ‘Valle de los Caídos’

Vale a pena ler de novo:

Gilberto Carvalho ajudou líbio acusado de fraude

Projeto adverte: 'Essa mulher foi retocada'

O piloto é particular, o dinheiro é público

Ministério Público investiga Mares Guia

COB tenta impedir até propaganda de supermercado

Plano premia servidor por requisito exigido em concurso

Ricardo Teixeira bate boca com deputado

Câmara aprova MP de plano de carreira de servidores

Efraim é denunciado por contratação de funcionários fantasmas

Câmara manda processar deputado Paulo Roberto

João Carlos Martins, o maestro da felicidade

Negociação sobre PEC 300 volta à estaca zero

Leia tudo sobre a retrospectiva de 2010

Fonte: Congressoemfoco

Jornais: as mil e uma utilidades da verba indenizatória da Câmara

O GLOBO

Verba indenizatória da Câmara tem mil e uma utilidades
Escolhidos para o Ministério de Dilma Rousseff, os deputados federais Mario Negromonte (PP-BA), Pedro Novais (PMDB-MA), Maria do Rosário (PT-RS) e Iriny Lopes (PT-ES) têm em comum mais do que o mandato parlamentar. Todos utilizaram a verba indenizatória da Câmara dos Deputados, ao longo de 2010, para pagar pelos serviços de empresas que também trabalharam nas suas campanhas pela reeleição.

A deputada Iriny Lopes, futura ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, usou os serviços da gráfica Quatro Irmãos em sua campanha, para impressão de material de divulgação. Segundo a prestação de contas apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a empresa recebeu, em outubro, R$ 25 mil por esses serviços. Só que, ao longo do ano, a mesma gráfica recebeu R$ 80 mil da verba indenizatória da deputada, por serviços de divulgação da atividade parlamentar.

Já a empresa Logic Processamento de Dados recebeu, em julho, R$ 5.970 para pré-instalação física do comitê de campanha de Iriny, segundo a prestação de contas apresentada ao TSE. Ao longo de 2010, a mesma empresa recebeu R$ 13.392 da verba indenizatória da Câmara, por supostamente ter prestado serviços de manutenção no gabinete da parlamentar. Procurada pelo GLOBO, a deputada não retornou as ligações.

A deputada Maria do Rosário, que ocupará a Secretaria Especial de Direitos Humanos, usou na campanha os serviços da gráfica V&C, que, durante o ano, recebeu da Câmara, como parte da verba indenizatória, R$ 68.411 para divulgação da atividade parlamentar. Pelos serviços prestados à campanha da deputada, a gráfica recebeu R$ 241 mil, segundo os documentos enviados à Justiça eleitoral. Maria do Rosário também não respondeu às ligações dos repórteres.

Escolhido para o Ministério das Cidades, o deputado Mário Negromonte utilizou fartamente os serviços da empresa de táxi aéreo Aero Star em 2010, pagando os deslocamentos com a verba indenizatória da Câmara.
Pelos documentos, ele pagou um total de R$ 151.200 até novembro. A mesma empresa também aparece na prestação de contas do parlamentar ao TSE como prestadora dos mesmos serviços, pelos quais recebeu R$ 64.500 entre agosto e setembro. Por meio de sua assessoria, Negromonte disse que não vê irregularidades no fato de a mesma empresa receber recursos da Câmara e de sua campanha. — Os serviços foram prestados e as contas foram aprovadas pelo TSE e pela Câmara, dentro da legislação em vigor — afirmou.

Já o deputado Pedro Novais, futuro ministro do Turismo — que ganhou destaque esta semana por ter incluído na prestação de contas da Câmara despesas em um motel em São Luís do Maranhão — contratou a empresa Dalcar Service durante sua campanha à reeleição por R$ 17 mil. Com a verba indenizatória, pagou à mesma empresa R$ 64.800 durante o ano de 2010.

Preços voltarão a recuar no país, diz Mantega
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu [ontem] que o aumento da inflação que o país vive é localizado, especialmente em commodities e alimentos. Por isso, acredita que a variação dos preços tende a arrefecer brevemente. Pelas projeções do mercado, o IPCA este ano deve ficar em 5,88% e, no próximo, em 5,29%. O centro da meta oficial de inflação é de 4,5% nos dois anos, com margem de tolerância de dois pontos para mais ou para menos.

- É uma elevação muito bem detectada, bem identificada, não é uma inflação estrutural da economia. Significa que ela recuará tão logo as commodities ou preços dos alimentos também recuem - afirmou Mantega ao chegar ontem no ministério.

As declarações do ministro, que continuará à frente da pasta no governo da presidente eleita Dilma Rousseff, vieram um dia depois de o Banco Central (BC) ter escancarado sua preocupação com a trajetória de inflação, que é de alta, e dado todos os sinais de que elevará a taxa básica de juros do país em janeiro. Hoje, a Selic está em 10,75% ao ano.

Pensando em 2014, Lula critica Aécio
A eleição presidencial de 2014 já é uma ideia fixa na cabeça do presidente Lula. A uma semana de deixar o cargo, o presidente voltou ao tema e até antecipou como acha que será a disputa daqui a quatro anos. Para Lula, a oposição já escolheu o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) como seu candidato. — Aécio se comporta como se já tivesse sido eleito em 2014. Mas, se Dilma fizer um bom governo, como nós esperamos, ela terá todo o direito de ser reeleita — disse o presidente, segundo relato de um dos participantes, anteontem à noite, do jantar de despedida com os ministros de seu governo, no Palácio da Alvorada.

Lula também fez um reconhecimento público de que o trabalho dos ministros ajudou a eleger Dilma Rousseff. Disse que estava feliz por sair do governo com boa aprovação, e agradeceu pelo resultado do trabalho de todos. — O presidente Lula pediu aos presentes que, independentemente da posição na qual estejam, ajudem a continuar essa trilha — relatou o chanceler Celso Amorim.

Convidada especial, Dilma Rousseff fez um rápido discurso, agradecendo à primeira-dama, dona Marisa, que organizou o encontro. E aproveitou para, em nome de todos os ministros, agradecer a Lula por ter participado de seu governo. Elegante, Dilma vestia uma calça preta e um terninho cobre. Entre as cerca de cem pessoas presentes estavam presentes quase todos os ministros do primeiro e do segundo mandato de Lula, entre eles o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, pivô do escândalo do mensalão. A ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que esteve no centro do maior escândalo político da campanha eleitoral, não apareceu.

Lula: é preciso rezar para Dilma ter saúde e governar
Ao lançar cinco ordens de serviço e inaugurar um trecho inacabado da Ferrovia Norte Sul, em Goiás, na tarde desta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu apoio a sua sucessora e orações para que a presidente eleita, Dilma Rousseff, possa ter saúde e governar bem: - Temos que fazer nossa reza para para que a Dilma tenha saúde e faça mais e melhor do que a gente fez - pediu Lula, dizendo que ela pode "acelerar um pouquinho" o ritmo do atual governo.

Mesmo depois de fechado o ministério Dilma, com uma forte presença de sua equipe, Lula voltou a dar pitaco na formação da futura equipe. Ele disse esperar que o atual ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, seja mantido na equipe do futuro ministro já "escolhido" por Dilma , o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM).

Em seu discurso durante o evento, que começou com duas horas de atraso, o presidente Lula disse que nunca antes na história desse país o governo investiu tanto em infraestrutura. E agora, sem precisar pagar propina para liberar os recursos.

Último pronunciamento de Lula à Nação
Em tom emocional, o presidente Lula abusou do ufanismo no último pronunciamento à nação, ontem à noite, quando se despediu da população brasileira, a uma semana de passar o cargo para Dilma Rousseff. Num balanço do governo, ele listou programas e obras. Pediu apoio da população a Dilma e disse ser simbólica a transmissão da faixa do primeiro operário para a primeira mulher presidente brasileira. — Saio do governo para viver a vida das ruas. Homem do povo que sempre fui, serei mais povo do que nunca, sem renegar o meu destino e jamais fugir à luta — afirmou Lula.

Criticou os antecessores, afirmando ter livrado o Brasil da maldição elitista. — Se governamos bem, foi principalmente porque conseguimos nos livrar da maldição elitista que fazia com que dirigentes políticos deste país governassem apenas para um terço da população e se esquecessem da maioria do seu povo, que parecia condenada à miséria e ao abandono eternos. Mostramos que é possível e necessário governar para todos — disse.

Em tom emocional, Lula pediu que não perguntem sobre seu futuro, mas sobre o futuro do Brasil, porque a população brasileira lhe deu "um grande presente". E apela para que os brasileiros acreditem no futuro do país, pois há "motivos de sobra para isso". Lula coloca-se como exemplo a ser seguido.

Aeroviários derrubam liminar da Justiça Federal
O Sindicato Nacional dos Aeroviários conseguiu derrubar, no fim da noite de [ontem], a liminar da Justiça Federal do Distrito Federal que proibia a paralisação até dia 10 de janeiro e impunha uma multa de R$ 3 milhões em caso de descumprimento. - Quando soubemos da decição da Justiça, mudamos nossa estratégia. Entramos na Justiça por volta das 16h e conseguimos paralisar 162 pessoas que trabalhavam na pista do Galeão - disse Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional dos Aeroviários.

A decisão da Justiça Federal não anula a do Tribunal Superior do Trabalho, que mantém a proibição da greve até 2 de janeiro e a determinação de que ao menos 80% do efetivo das empresas devem comparecer aos aeroportos no período das festas de fim de ano. Selma afirmou ainda que entre 24 e 26 de dezembro, os sindicalistas darão uma trégua aos passageiros e que as negociações com o sindicato patronal serão retomadas na segunda-feira.

‘Parcerias obscuras’ no Judiciário do Rio
Ex-presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e ex-corregedor-geral de Justiça do Rio, o desembargador afastado Roberto Wider manteve "parcerias obscuras" com o lobista Eduardo Raschkovsky, acusado de oferecer blindagem a políticos e empresários réus em processos judiciais, em troca de vantagens financeiras. Esta é a conclusão da CPI da Venda de Sentenças da Assembleia Legislativa do Rio, que durante um ano investigou as ações do lobista no Judiciário fluminense.

O relatório final, produzido pelo deputado André Corrêa (PPS-RJ), enumera situações que "deixam patente a influência" de Raschkovsky sobre as decisões tomadas pelo desembargador. Uma delas foi a nomeação de dois advogados do escritório do lobista para ocupar, respectivamente, a titularidade dos cartórios do 11º Ofício de Notas da capital e do 6º Ofício da Justiça de São Gonçalo, no Grande Rio. — Evidenciamos que as relações entre os dois não eram nada republicanas — disse Corrêa.

Embora não encontrados para comentar a conclusão da CPI, os desembargadores Roberto Wider e Alberto Motta Moraes e o lobista Eduardo Raschkovsky já falaram sobre as acusações durante a série de reportagens sobre o tema. Os três negaram a existência de tráfico de influência e venda de sentenças a políticos e empresários.

O ESTADO DE S. PAULO

Projeto para repatriar até US$ 100 bi anistiará corruptos
Juízes federais que atuam em processos sobre crimes financeiros e desvios de recursos da União alertam para "efeitos nocivos" do projeto Cidadania Fiscal (354/09), que avança no Senado e contempla com anistia tributária e penal contribuintes brasileiros que repatriarem valores mantidos no exterior e não declarados à Receita. O governo estima em US$ 100 bilhões a fortuna que circula fora do País.

"O projeto é uma vergonha", classifica o juiz Sérgio Moro, titular da 2.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, especializada em processos contra réus por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e fraudes. "Embora a anistia seja destinada a crimes fiscais, de descaminho e financeiros, incluindo a evasão de divisas, na prática vai favorecer todo tipo de criminoso." Na avaliação de Moro, o projeto poderá contemplar fraudadores do Tesouro e políticos que remeteram recursos públicos para paraísos fiscais.

"Um corrupto não vai internar o dinheiro no País declarando ser ele produto de corrupção. Vai ser muito difícil investigar e discriminar a origem desse dinheiro." O projeto concede extinção da punibilidade dos respectivos crimes contra a ordem tributária e crimes contra a administração pública também relacionados com a retificação da declaração. Com relação aos bens e direitos declarados, serão mantidas a extinção da punibilidade ou a anistia penal ainda que a autoridade fiscal verifique que o patrimônio do contribuinte no exterior não tenha sido declarado na sua integralidade.

Os magistrados assinalam que o projeto não exige que seja comprovada a origem do dinheiro nem que se esclareça como ele foi parar no exterior. "O ideal seria a comunicação a uma instituição confiável, como o Ministério Público ou a Polícia Federal, para verificação da possível origem e natureza criminosa dos valores, especificamente se provenientes de outros crimes que não os abrangidos na anistia", sugere Moro.

Ao tratar da anistia, o projeto é taxativo. "Torna-se absolutamente imperioso dar ao contribuinte a segurança jurídica de que sua adesão afasta, inequivocamente, a aplicação de penalidades, principais ou acessórias de natureza tributária e, particularmente, de caráter penal."

O projeto é de autoria do senador Delcídio Amaral (PT-MS). "Só faz crítica quem não leu o projeto", ele rebate. "Esse dinheiro trazido de volta poderá ser investido em infraestrutura, habitação, agronegócio, ciência e tecnologia." O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), relator na Comissão de Assuntos Econômicos, recomendou a aprovação e deu vista coletiva.

Especialistas avaliam que medida é imprescindível
"A anistia é imprescindível", avalia o criminalista Sérgio Rosenthal, especialista na defesa de acusados por crimes financeiros. "Muita gente, em décadas passadas, enviou valores para o exterior para se proteger da instabilidade financeira, da inflação, da desvalorização da nossa moeda, da instabilidade do sistema financeiro. Razões totalmente justificáveis." Rosenthal destaca que a legislação já permite que autores de crimes fiscais retornem à legalidade declarando à Receita Federal valores não recolhidos. "Muitos cidadãos brasileiros que jamais praticaram qualquer crime são detentores de valores no exterior", diz ele. " A origem do valor não é criminosa. Não se pode esquecer os recursos de imigrantes que chegaram ao Brasil após a guerra e que jamais declararam esse dinheiro."

Ainda de acordo com Rosenthal, muita gente possui valores lá fora sem que isso queira dizer que sejam traficantes ou corruptos. O advogado anota que a legislação, quando trata de delitos fiscais, permite o retorno do contribuinte à legalidade mediante o pagamento dos impostos. "Isso não é possível em relação aos crimes financeiros, como a manutenção de depósitos não declarados no exterior", explica. "Um cidadão que possua valores não declarados no exterior está impedido de fazer a repatriação por meios lícitos." Rosenthal argumenta que, se não houver anistia, "não há nada que se possa fazer para regularizar a situação". "Se o contribuinte passar a declarar estará confessando que não declarou e responderá às penas do artigo 22 parágrafo único da Lei 7492/86."

O advogado Antônio Sérgio Pitombo lembra que o projeto segue modelos europeus. "Eu sou contra, por princípio, o pagamento como causa extintiva da punibilidade. Ou o fato é grave e deve ser tratado como infração penal, ou se deveria abolir tal fato como crime do direito brasileiro", defende. "Eu aboliria o crime de evasão de divisas, o qual não faz mais sentido jurídico nem econômico."

Franklin: imprensa age por interesses políticos
Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, o jornalista Franklin Martins acusou a imprensa de agir movida por "interesses políticos", de atuar em dobradinha com a oposição, de ter perdido em determinado período "a noção do que é certo e do que é errado" e de ter feito um "jornalismo da pior qualidade". As declarações foram dadas em entrevista ao site Congresso em Foco. A poucos dias de deixar o cargo, Franklin criticou ainda o comportamento da imprensa, sobretudo do que ele chama de "jornalões", com relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Confira os vídeos da entrevista exclusiva concedida pelo secretário de Comunicação da Presidência da República a este site:

A mídia na visão de Franklin Martins

O secretário chamou de "ataques da imprensa" as denúncias de corrupção noticiadas nos oito anos de mandato do presidente Lula. Segundo ele, o noticiário foi movido "pela má vontade com governo, desproporcional aos erros do governo". Na análise que fez da imprensa, situando-se, como disse, "do lado de lá do balcão", ele acusou os jornais de boicotar números sobre a aprovação do governo Lula. "O governo terminou com aprovação de 80%. Lula, 87%. E os jornais estão vendendo menos do que vendiam antes", afirmou.

Lula volta a atacar DEM em entrevista
Em uma das suas ultimas entrevistas antes de entregar o mandato a sua sucessora, Dilma Rousseff, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a dizer que pretende "estudar" o mensalão para "entender o que realmente aconteceu" e comparou o escândalo ao caso da Escola Base, ocorrido na década de 90, quando donos de uma escola foram injustamente" acusados de molestar sexualmente crianças. Concedida por e-mail ao site "Porradão de 20", do fundador da Central Única de Favelas (Cufa), Celso de Athayde, a entrevista serviu para Lula criticar uma vez o Democratas. A Athayde, o presidente afirmou que o partido tem "a ditadura no seu DNA" e, em 2005 – ano do mensalão – tentou ganhar a eleição no "tapetão". "É sempre assim: partido que não tem apoio do eleitorado, apela. Um de seus dirigentes chegou a dizer que iria se ver livre dessa ‘raça do PT’ por pelo menos 30 anos", afirmou o presidente.

Ao ser perguntado se ainda acreditava que o DEM precisava ser "extirpado da política brasileira", como dissera em setembro, durante um comício em Santa Catarina, o presidente fez uma mea-culpa e reconheceu que foi um momenta de "arroubo, de exaltação" que não deveria ter acontecido, apesar de garantir que se referia "às urnas, dentro do jogo democrático". "O partido deve continuar concorrendo, desde que se limite a disputa dentro das regras da democracia, esquecendo o seu passado ditatorial, se é que seus dirigentes vão conseguir", afirmou.

Lula ainda ironizou as trocas de nome já feitas pelo DEM, que começou como Arena, já foi PDS e PFL, antes de adotar o nome atual. "Seus dirigentes já devem estar pensando em novo nome, porque o DEM também já não engana mais ninguém", disse. Arena e PDS sustentaram o regime militar, mas abrigaram um aliado atual de primeira hora de Lula, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Athayde perguntou a Lula sobre o mensalão, citando justamente o esquema de compra de deputados organizado no Distrito Federal pelo ex-governador José Roberto Arruda, que ficou conhecido como "mensalão do DEM". Se um existiu", disse o produtor cultural, isso não é uma prática comum a todos os partidos políticos?” Na sua resposta, a presidente Lula garantiu que "vai estudar o caso até entender o que realmente aconteceu", dizendo que "essa é mais uma história mal explicada".

Pacote do governo já eleva taxa de juros de empréstimo
As medidas anunciadas no início do mês para conter o ritmo do crédito começam a surtir efeito. Dados preliminares divulgados ontem pelo Banco Central mostram que instituições financeiras já pagam mais para conseguir dinheiro junto aos investidores. Nos nove primeiros dias de dezembro, o custo dessa captação subiu para 11,6% ao ano, o maior patamar desde janeiro de 2009 – ainda no auge da crise. Bancos também começam a elevar a margem cobrada nos financiamentos, o chamado spread. O resultado é que o juro, que havia caído para o menor patamar da série em novembro, começa a subir.

Anunciadas em 3 de dezembro, as medidas do BC agem em pelo menos três frentes no crédito. Na primeira, com a retirada de R$ 61 bilhões de circulação por meio de depósitos compulsórios – dinheiro dos bancos que fica retido no BC – o custo de captação de recursos aumentou para os bancos. Isso acontece porque a oferta da moeda diminui e, diante disso, quem tem dinheiro passa a cobrar mais.

Outro reflexo acontece pelo spread bancário – que é a diferença entre a taxa de captação paga pelo banco e o juro cobrado no empréstimo. Por essa via, começa a ser notado o efeito da exigência de capital feita aos bancos, especialmente para operações de longo prazo. "A necessidade de maior capital para operar no crédito se reflete no spread porque eleva as despesas da operação", explica o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ao comentar que a nova regra exige que bancos reservem mais capital para essas operações. Isso aumenta o custo, já que agora o banco precisa reservar mais dinheiro para emprestar o mesmo volume. Esse aumento de custo do banco é repassado aos clientes por meio de uma alta no spread. Os dados do BC, porém, não permitem avaliar se a margem maior vai engordar os lucros dos bancos ou será usada integralmente para cobrir o encarecimento do empréstimo para o banco.

Às lágrimas com catadores
O presidente Lula chorou ontem durante a festa de Natal com 2.200 catadores de papel em São Paulo - tradição que mantém desde o início de seu primeiro governo e que pretende seguir em 2011, no governo de sua sucessora Dilma Rousseff (PT). Ele se emocionou quando duas mulheres que vivem da coleta de material reciclável o agradeceram. "O coração da população de rua está repleto de gratidão ao senhor", declamou Maria Lúcia Santos Pereira, do Movimento Nacional dos Catadores de Rua.

A Dilma - chamada em música de "mulher guerreira", e ela respondeu dançando no palco -, o pessoal da rua pediu que dê continuidade ao programa de Lula. "Advogue essa causa, não nos deixe esquecidos", clamou Matilde Ramos da Silva, catadora no município de Ourinhos (SP). "Contem comigo", prometeu a presidente eleita.

Ela afirmou que "não vai descansar" enquanto não tirar os catadores dos lixões. Disse que se empenhará para o reconhecimento da profissão, para a organização de cooperativas e para que todos tenham renda suficiente para darem vida digna a seus filhos. Não eram só brasileiros na festa. Catadores peruanos, colombianos, argentinos e de outros países foram ao encontro na Vila Guilherme, zona norte da capital.

Cardozo leva a Dilma lista tríplice para PF
O futuro ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, entregou à presidente eleita Dilma Rousseff uma lista tríplice com os nomes dos mais cotados para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal, em substituição ao delegado Luiz Fernando Corrêa. A decisão, porém, ficou para depois do Natal. A Polícia Federal é uma das instituições mais sensíveis da máquina federal e terá papel central no plano nacional de segurança pública do novo governo.

Cardozo filtrou os nomes após uma semana de sondagens à própria PF, ao Ministério da Justiça - ao qual o órgão é vinculado - e aos ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e Tarso Genro. As consultas incluíram também as corporações que integram a carreira do órgão, como a Associação dos Delegados Federais (ADPF) e a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). Incluíram ainda entrevistas individuais com os seis candidatos mais cotados para ocupar a vaga de Corrêa.

Foram entrevistados os delegados Ildo Gasparetto (superintendente no Rio Grande do Sul), Leandro Coimbra (superintendente em São Paulo), Roberto Troncon Filho (diretor de Combate ao Crime Organizado), Geraldo José de Araújo (secretário de Segurança do Pará), Valdinho Jacinto Caetano (corregedor-geral) e Luiz Pontel de Souza (diretor executivo, designado pela PF para substituir Paulo Lacerda como adido policial em Portugal).

Governo quer reforma verde para Esplanada
O governo federal abriu edital para apresentação de projetos para transformar a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em uma avenida de blocos sustentáveis. No Diário Oficial nesta semana, está prevista a prorrogação para 2 de fevereiro da entrega de projetos para construção de prédio anexo e restauração do Bloco K, que abriga o Ministério do Planejamento. O bloco K será o piloto para a reforma geral.

De acordo com Paulo Safady Simão, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), o objetivo é "trazer os 16 prédios para a modernidade". Os arquitetos poderão sugerir sistemas de reúso de água, melhoria da eficiência energética e uso de energia solar.

FOLHA DE S.PAULO

Em despedida, Lula infla dados do governo na TV
No seu último e mais longo pronunciamento em rede nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se despediu dos brasileiros elencando uma série de dados inflados sobre a sua gestão. O discurso, de 11 minutos, foi ao ar ontem às 20h. Nele, o petista afirma que o salário mínimo no seu governo teve ganho real de 67%, cifra mais modesta do que os 74% citados pela presidente eleita Dilma Rousseff durante a campanha para o Planalto, mas também enganosa. De 2003 a 2010, o mínimo teve oito reajustes, que ao todo chegaram a 53,5% acima da inflação acumulada. Na campanha de 2002, Lula havia prometido duplicar o poder de compra do mínimo em quatro anos.

Ao falar sobre educação, o presidente também citou dados distorcidos sobre o Orçamento, afirmando que o gasto na área triplicou. Para chegar a esse resultado, o presidente ignorou a inflação acumulada no período. O presidente também repetiu discurso propalado pelo Ministério da Educação segundo o qual foram criadas 14 universidades federais em seu governo. Dessas, apenas cinco são de fato novas. As demais são resultado de ampliação, fusão ou desmembramento de instituições de ensino que já existiam.

Ao falar sobre pobreza, o presidente disse ter promovido "a maior ascensão social de todos os tempos". Não há estatísticas que compreendam períodos mais remotos, mas estudo de Sonia Rocha publicado em 2000 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) calculou que a proporção de pobres na década de 1970 caiu praticamente à metade, de 68,3% para 35,3%. Com outra metodologia, o pesquisador Marcelo Néri, da FGV, estimou a queda da participação das classes D e E na população de 55% em 2003 para 39% em 2009.

Presidente compara mensalão a caso Escola Base
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o escândalo do mensalão, responsável pela maior crise de seus oito anos de governo, ao caso Escola Base, quando, na década de 90, donos de uma escola paulista foram acusados injustamente de abuso sexual contra crianças. Em entrevista ao site do produtor Celso Athayde, Lula sugeriu inocência dos acusados. O Supremo Tribunal Federal aceitou denúncia contra 40 réus acusados de envolvimento no escândalo.

"Comparo também com o caso da Escola Base, em que os donos foram acusados de molestar sexualmente as crianças. Eram absolutamente inocentes, mas começaram a ser bombardeados e a ser conhecidos como "os monstros da Escola Base"." O presidente questionou o fato de que o processo contra os acusados continuou mesmo sem apresentação de provas pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ).

"O que mais me intriga é que o deputado que fez a acusação [do mensalão] foi cassado porque não apresentou prova. Mesmo assim, o processo contra os acusados continuou", disse. Na noite de quarta, no último jantar com seus ministros e ex-ministros, Lula pediu que os aliados não "subestimem" a oposição.

Alencar melhora, mas continua na UTI
No "momento mais difícil" de sua luta contra o câncer, o vice-presidente, José Alencar, 79, apresentou melhora em seu quadro de hemorragia digestiva grave. Segundo boletim divulgado pelo Hospital Sírio-Libanês, houve "redução importante do sangramento".

No entanto ele permanece na UTI para continuar o tratamento médico. Embora controlada, a hemorragia interna não havia sido completamente estancada. Internado às pressas em São Paulo na quarta-feira, Alencar recebeu ontem a visita de seu filho Josué, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da presidente eleita, Dilma Rousseff e do ex-ministro José Graziano da Silva. Para eles, segundo a assessoria da Presidência, Alencar afirmou que espera estar na posse de Dilma e torce para que os médicos o liberem para "tomar um golinho". A presidente eleita respondeu: "Estou te esperando lá".

Alencar aproveitou a visita de Dilma para elogiar o ministério escolhido pela presidente eleita. Em particular, disse ter gostado das nomeações de Guido Mantega para a Fazenda e de Alexandre Tombini para o Banco Central no novo governo. Bem-humorado, apesar do quadro clínico complicado, Alencar encerrou a conversa com Dilma dizendo que "ainda vai dançar um xaxado", sempre segundo o relato da Presidência.

Governador de PE lidera ranking; lanterna é do DF
Reeleito com o maior percentual de votos válidos (82,84%) nas eleições, o pernambucano Eduardo Campos (PSB) é o governador mais bem avaliado do país, aponta pesquisa Datafolha realizada em oito Estados e no Distrito Federal. Segundo o instituto, a nota média atribuída a Campos foi 8,4. É a maior nota obtida por ele desde novembro de 2007. Na rodada anterior, em julho, ele marcou 7,7. O pernambucano também alcançou a maior taxa de aprovação (ótimo e bom), com 80%. Em julho, esse índice era de 62%.

O ranking usa como critério a nota média do governador em escala de zero a dez. O critério de desempate é o índice de popularidade, que avalia percentuais de aprovação e reprovação. Em segundo lugar na lista aparece outro governador reeleito, no primeiro turno, pelo PSB, o cearense Cid Gomes. Ele conquistou 61,27% dos votos nas eleições. Gomes teve nota média de 7,6 e aprovação de 65%. O terceiro colocado é o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), também reeleito. Ele teve nota 7,3 e aprovação de 60% dos baianos.

Sucessor de Aécio Neves (PSDB) em Minas Gerais, o tucano Antonio Anastasia inicia novo mandato com nota 7,1 – era 6,2. Sérgio Cabral (PMDB), no Rio de Janeiro, teve nota 6,8. Antes de iniciar a campanha para renovar o mandato, marcava 6,3. A pesquisa foi feita de 17 a 19 de novembro, com 11.281 eleitores, em 421 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Investigado, Anchieta Jr. emprega filho de delegado da PF
Responsável pelas investigações dos supostos crimes eleitorais cometidos pela campanha do governador reeleito José de Anchieta Jr. (PSDB), o superintendente da Polícia Federal em Roraima, Herbert Gasparini, tem um filho em cargo de confiança em órgão do governo. Marcos Eduardo Gasparini de Magalhães, ainda estudante de direito, foi nomeado em março deste ano chefe da seção de análise de benefícios do Iper (Instituto de Previdência de Roraima).

Segundo o governo, pelo cargo comissionado o estudante recebe cerca de R$ 800. Para assumi-lo, de acordo com o governo, não é preciso concurso nem formação acadêmica, e sim "capacidade" de trabalho. Marcos Eduardo, também de acordo com o governo, já pediu sua exoneração, pois irá se mudar de Boa Vista. Procurado, o superintendente preferiu não se pronunciar. A assessoria da PF no Estado, no entanto, disse que o estudante conseguiu a indicação por mérito próprio, e não com sua ajuda.

Governo nega favorecimento em nomeação
Procurados, Herbert Gasparini e Alexandre Ramagem não se pronunciaram. O governo de Roraima, por meio de sua assessoria, disse não haver qualquer ligação entre eles e a gestão de José de Anchieta Jr. (PSDB). A Folha encaminhou e-mails com perguntas para os dois delegados da Polícia Federal, dentre elas se a nomeação do filho de Gasparini e o erro do Estado em favor da mulher de Ramagem poderiam configurar conflito de interesses, visto que eles têm a função de fiscalizar os supostos crimes eleitorais do governador Anchieta - que ele nega ter cometido.

Mas, de acordo com a chefia de gabinete dos dois, nenhum deles iria comentar as situações. Segundo a assessoria da PF em Roraima, elas tratam de aspectos das vidas particulares dos delegados. A assessoria do governo disse que a indicação do filho de Gasparini não teve nenhuma influência do governador e que "não há nexo" entre os fatos relatados pela reportagem e a atuação da PF.

Soube de dispensa por jornal, diz secretário
Mauro Ricardo Costa, 48, deixa a Secretaria da Fazenda de São Paulo exaltando números positivos. Mas com lembranças negativas sobre a forma como foi dispensado pelo futuro governador, Geraldo Alckmin. "Fiquei sabendo pela Folha. Depois recebi telefonema de Calabi [Andrea Calabi, que assumirá a pasta] e de Alckmin. Muitos outros [secretários dispensados pelo tucano] nem isso tiveram."

Com a perspectiva de encerrar o ano com um crescimento real de 35,15% da arrecadação em relação a 2006, Costa recorre à comparação do ex-governador Claudio Lembo. Mas inverte: "Lembo dizia que lhe prometeram uma Ferrari, mas recebeu um fusquinha [risos]. Vamos entregar uma Ferrari para Geraldo Alckmin". A partir de janeiro, ele assume a Secretaria das Finanças da prefeitura paulistana.

Itamaraty aconselhou EUA para facilitar volta de Sea
Telegrama do consulado dos EUA no Rio para o Departamento de Estado em 9/11/ 2009 afirma que o então conselheiro da embaixada brasileira em Washington, Alexandre Ghisleni, sugeriu que congressistas americanos evitassem "discursos inflamados" sobre o caso Sean Goldman em audiência no Congresso americano.

De acordo com o telegrama, revelado pela ONG WikiLeaks (www.wikileaks.ch), isso poderia "exercer uma influência potencialmente negativa" no julgamento do caso, que ocorreria dias depois da audiência. A Folha é um dos sete veículos de imprensa que têm acesso antecipado ao material. Em 17/12/2009 o Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou que Sean fosse entregue ao Consulado dos EUA no Rio para retornar com o pai, David Goldman, ao país onde nasceu.

Segundo o documento do consulado americano, a sugestão do diplomata brasileiro foi feita ao então subsecretário de Estado americano para o hemisfério ocidental, Thomas Shannon. Hoje embaixador dos EUA no Brasil, Shannon pedira a Ghisleni, atualmente servindo na embaixada brasileira em Havana, que o Itamaraty ajudasse a garantir o retorno de Sean. Tanto a Embaixada dos EUA em Brasília como a assessoria de imprensa do Itamaraty informaram que não comentariam os telegramas.

Setor aéreo agora ameaça greve em janeiro
Pressionados pela Justiça e pelo governo, os pilotos e funcionários do setor aéreo suspenderam a greve marcada para ontem em todo o país. O impasse, porém, continua: a categoria agora ameaça parar em janeiro. Embora não tenha havido greve, protestos da categoria ocorreram nos aeroportos de Guarulhos, Salvador e Brasília, mas sem grandes transtornos aos passageiros.

O sindicato dos aeroviários do Rio chegou a anunciar uma paralisação à tarde de 20% da categoria, que não surtiu efeito. A média de atrasos de voos no país foi de 38% até as 19h -no mês, esse índice é de cerca de 20%. Os sindicatos suspenderam a greve após o Tribunal Superior do Trabalho determinar que 80% do efetivo trabalhasse ontem sob ameaça de multa de R$ 100 mil. Horas antes, o presidente Lula também tinha apelado para que a greve não fosse realizada na véspera do Natal.

Com medo, passageiros chegaram mais cedo aos aeroportos. "Apesar do meu voo ter atrasado uma hora, fiquei aliviada. Estava esperando atraso ainda maior", disse a jornalista Juliana Alcântara, 25, que chegou ao Galeão (RJ) três horas antes -duas a mais que o necessário- de seu voo para Porto Alegre. Uma negociação na madrugada foi determinante para suspender a greve. Por volta das 5h, o Snea (sindicato das empresas aéreas) definiu nova proposta de aumento, de 8% – a oferta anterior havia sido de 6,5%.

Venezuela aprova "educação socialista"
Em mais uma longa sessão, a Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria chavista, aprovou na madrugada de ontem nova lei de universidades que estabelece que a educação superior deve "contribuir para a construção do modelo socialista". É o mais novo item aprovado a toque de caixa pelo Parlamento. Na nova legislatura, que assume em 5 de janeiro, os apoiadores do presidente Hugo Chávez não serão mais maioria qualificada.

Em 15 dias, foram aprovadas dez leis em setores tão diversos como telecomunicações e finanças. São medidas que, em suma, aumentam o poder nas mãos de Chávez, pressa que a oposição classificou de "pacotaço de Natal". A lei aprovada na madrugada é rejeitada pelas maiores organizações estudantis e por reitores das principais universidades. Eles alegam que o texto elimina a autonomia do ensino superior garantida na Constituição.

CORREIO BRAZILIENSE

Com a bênção dos fornecedores da Casa
Um grupo de 33 deputados federais fez campanha com a ajuda de empresas que recebem dinheiro da própria Câmara. As doações somam R$ 1,4 milhão (veja quadro) e patrocinaram uma bancada sem coloração partidária, que chegou ao fim das eleições em pé de gratidão com as contratadas. O levantamento, feito pela reportagem, cruzou as prestações de contas declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a relação de fornecedores de materiais e serviços à Casa nos últimos anos, de acordo com o Portal da Transparência do Legislativo.

Os agraciados integram várias legendas, a maioria governista. Mas foi um tucano quem recebeu mais. Eleito com 1.588.403 votos, Paulo Bauer (PSDB-SC) deixa a Câmara e passa a ocupar uma cadeira de Santa Catarina no Senado. Ele obteve R$ 200 mil da Santa Rita Comércio. Apenas entre 2008 e 2009, a empresa, que bancou também outros dois candidatos, recebeu R$ 94.542,92 da Casa, vendendo aparelhos de ar condicionado, refrigeradores e bombas de águas pluviais. De acordo com o site do Legislativo, as aquisições foram feitas por meio de pregão.

Em segundo lugar na lista aparece Onyx Lorenzoni (PT-RS), reeleito deputado federal pelo Rio Grande do Sul, com 84.696 votos. Ele recebeu R$ 150 mil da Forjas Taurus S/A, que, sem licitação, vendeu armas de fogo à Câmara por R$ 73.590. José Mentor (PT-SP) surge como o terceiro que mais recebeu doação das fornecedoras. Reeleito por São Paulo com 139.691 votos, ele obteve R$ 133.075,10 da Gráfica e Editora Brasil Ltda, que já imprimiu cartazes para a Casa. O valor doado pela empresa corresponde a 5,2% da receita do candidato (R$ 2.531.677,61).

Mentor não foi o único beneficiado pela doação da Gráfica e Editora Brasil. A empresa foi a que mais desembolsou, entre as fornecedoras catalogadas pelo site da Câmara, a deputados federais. Ela doou R$ 332.568,31 a nove parlamentares. De acordo com as prestações de conta de todos os agraciados, o valor recebido pela gráfica é “estimado”, o que significa que a empresa doou material de campanha aos concorrentes, como santinhos e panfletos. Depois de Mentor, Carlos Abicalil (PT-MT), candidato mato-grossense derrotado ao Senado, foi o que mais recebeu da empresa: R$ 75.793.

Entre os candidatos beneficiados pelas empresas, a maioria tentou continuar na Câmara: 25 concorreram a deputado federal; um, a governador; um, a vice-governador; um, a vice-presidente; e cinco, a senador. Celso Russomano (PP-SP) foi o único que pleiteou a vaga de governador. Terceiro colocado em São Paulo, foi financiado pela Colorcril Autoadesivos Paraná Ltda, recebendo R$ 77.688,31, também como valor “estimado”. A empresa forneceu etiquetas adesivas para impressoras, tendo recebido cerca de R$ 30 mil este ano.

Brecha para driblar as licitações
Presidente da Câmara dos Deputados pelo menos até fevereiro, o deputado federal Marco Maia (PT-RS) pretende aprovar um projeto que abre brecha para que a Casa contrate serviços e empresas com valores até 30% superiores aos praticados no mercado. O projeto de Resolução da Câmara nº 238/2010 foi apresentado pelo deputado à Mesa Diretora na semana passada e terá de passar oficialmente por pelo menos duas comissões antes de ser votado em plenário. Como se trata de uma regra interna do parlamento, pode receber os pareceres dos colegiados em plenário e ter tramitação relâmpago, além de dispensar a análise pelos senadores ou pela Presidência da República.

Um dia antes de o futuro vice-presidente, Michel Temer (PMDB-SP), renunciar oficialmente à Presidência da Câmara, Maia aproveitou a interinidade para assinar o projeto reivindicado pela Diretoria-Geral da Câmara. O texto, de 15 de dezembro, dispõe sobre a contratação de serviços pela Casa e abre caminho para contratações acima do valor de mercado. “O número de postos de trabalho e os salários de cada atividade poderão, mediante justificativa, ser fixados em até 30% acima dos valores médios praticados pelo mercado”, diz o texto.

De acordo com o deputado Marco Maia, nome mais forte para assumir a Câmara até o fim de 2012, a medida é justificada por uma necessidade da Casa em contratar serviços especializados — que não poderiam ser licitados por valores convencionais. Para parlamentares da oposição e do PT, no entanto, a medida é ilegal e fere a Lei de Licitações. Esses deputados defendem que o Legislativo especifique nos editais os parâmetros exigidos para os serviços “diferenciados” e não remunerá-los com valores 30% superiores aos praticados normalmente. “Não se pode aprovar um projeto como esse às vésperas do fim da Legislatura. Ele é imoral”, reclama um deputado do PT paulista.

Carinho e promessas
O vice-presidente da República, José Alencar, apresentou melhora no quadro médico ontem. Não está mais sedado e também respira sem a ajuda de aparelhos. Ainda assim, ele segue internado na UTI do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para tratamento de uma hemorragia digestiva causada pelo crescimento de um tumor no intestino delgado.

Alencar acordou bem cedo, consciente, e pediu para assistir à televisão. Leu jornais e despachou documentos de sua empresa com parentes. No fim da manhã, recebeu a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente eleita, Dilma Rousseff. Os dois conversaram por 40 minutos. Lula elogiou a força com que o político e empresário vem lutando contra o câncer e a resistência a tantas cirurgias. Foram 17 até agora. Durante o encontro, Lula lamentou a ausência do companheiro, em Brasília, na quarta-feira, quando sancionou com alguns vetos o projeto de lei que trata da exploração de petróleo na camada pré-sal. “Foi uma pena você não estar em Brasília nesse momento importante”, disse Lula a Alencar.

No dia em que a sanção foi assinada, Alencar enfrentou a cirurgia mais delicada desde que iniciou o tratamento contra o câncer, há 10 anos. Os médicos tentaram conter uma hemorragia durante três horas de procedimento cirúrgico e resolveram interromper a operação porque o organismo de Alencar não resistia mais à intervenção.

Na visita de ontem, Dilma se comoveu e ficou bastante emocionada quando Alencar se mostrou confiante em estar na cerimônia de posse, em 1° de janeiro. “Espero estar lá e também que os médicos me liberem para tomar um golinho”, brincou Alencar. Dilma disse que o espera em Brasília. Em seguida, Alencar elogiou as escolhas que a presidente eleita fez para compor o ministério e ressaltou que foi acertada a decisão de manter Guido Mantega na Fazenda e optar por Alexandre Tombini para o Banco Central.

Mantega ignora alerta do BC
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, preferiu ignorar o alerta dado pelo Banco Central (BC) num cenário nada animador descrito no relatório trimestral de inflação. Para ele, a consistente alta nos preços, que tem ceifado o orçamento dos consumidores nos últimos meses, é resultado apenas de um choque pontual em alguns produtos. “Temos uma elevação em commodities (itens básicos com cotação internacional, como minérios) e principalmente em alimentos. É uma alta muito bem detectada, muito bem identificada. Não é uma inflação estrutural da economia. Isso significa que ela recuará tão logo os preços das commodities e dos alimentos recuem”, avaliou.

Contrário ao otimismo do ministro, o diagnóstico do BC aponta inflação disseminada pelos outros segmentos. Além do reflexo das commodities, há sinais de que a indústria tem enfrentado dificuldades em produzir em quantidade suficiente para atender a demanda, movimento que nada tem a ver com choques pontuais e sim com o aumento de renda e de crédito.

Para o BC, que defende a necessidade de ajuste imediato na taxa básica de juros (Selic), a situação não poderia ser mais preocupante. A autoridade monetária identificou ainda, segundo o relatório, persistência inflacionária no setor de serviços, além do avanço nas medidas do núcleo da inflação (cálculos feitos para expurgar os efeitos de itens cujos valores oscilam muito).

Mantega voltou a afirmar ontem que o governo está realmente disposto a pisar no freio dos gastos e a equilibrar as contas a partir do início de 2011. Para ele, o primeiro ano de gestão de Dilma Rousseff como presidente da República será de continuidade, mas com maior controle fiscal. “Vai ser um ano de continuidade do que estamos fazendo em 2010 e vai ser um ano de ajuste da economia, mas com crescimento forte”, afirmou.

Salários sobem até 354%
A dificuldade em contratar profissionais para oferecer atendimento à saúde de índios em áreas remotas do país levou o governo federal a aumentar em até 354% o salário dos aprovados no último concurso da Fundação Nacional de Saúde (Funasa). Para alguns cargos de nível superior, dependendo da localidade de lotação, o vencimento previsto de R$ 2.643,28 saltou para R$ 12 mil. As mudanças foram publicadas por meio de decreto no Diário Oficial da União de ontem. A seleção previa 802 vagas, mas apenas 453 aprovados ficaram interessados em preencher os cargos. Eles devem começar a ser nomeados na semana que vem, já com os salários reajustados.

O certame para as oportunidades de servidor temporário foi realizado em março deste ano. A demora para convocar concursados, porém, deve-se à migração na responsabilidade pela saúde dos índios, da Funasa para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). “A partir do momento em que o ministério assumiu o comando, foi preciso criar uma tabela comum que desse condições para os aprovados trabalharem nas aldeias.

Propusemos a alteração da Lei n° 8.745/1993, que autoriza contratação por tempo determinado em algumas condições especiais e conseguimos as mudanças por meio da Lei n° 12.314 de 19 de agosto de 2010”, relata o secretário Antônio Alves.

Num tailleur branco, do tipo guardado
A posse de Dilma Roussef trouxe um novo debate à política brasileira: qual roupa a presidente eleita vai usar no dia primeiro? Muito se especula sobre o design, a cor e o estilo. Dilma, entretanto, já encomendou o modelo. À bordo do Rolls Royce presidencial, a nova presidente do Brasil vai usar um tailleur branco off-white, uma variação da cor que a faz ter uma tonalidade de algo guardado. A peça foi escolhida pela própria Dilma, sem ajuda de um consultor de estilo. Ela optou pelo modelo exclusivo desenhado pela estilista gaúcha Luísa Standlander. O cabelo e a maquiagem serão feitos por Celso Kamura, responsável pela mudança do visual de Dilma no início da campanha. Já os sapatos, provavelmente, serão da loja brasiliense Agiafatto, a preferida da presidente.

O modelo já está quase pronto e faltam apenas ajustes finais. Ontem, depois de desembarcar no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS), a presidente eleita foi direto para o ateliê da estilista, que fica no bairro Moinhos de Vento. No local, fez a prova do vestido e foi atendida com exclusividade pela costureira.

A cor do tailleur foi uma surpresa para quem acompanha o estilo da presidente eleita. As apostas eram que Dilma aparecesse com alguma peça vermelha, simbolizando a cor do PT. “A nova presidente tem que ter em mente que agora ela é uma figura pública e tudo o que ela veste passa uma mensagem”, analisa a consultora de moda e professora da faculdade Santa Marcelina, Andréia Miron. Uma roupa vermelha, por exemplo, poderia sugerir uma segregação: agradar apenas aqueles que votaram nela. Cores neutras poderiam significar uma abertura maior ao diálogo e cumprir da promessa que ela fez no seu discurso de vitória: “Governar para todos os brasileiros”. “O branco é neutro, discreto e elegante. A cor não cria vínculos nem a prende a nada”, argumenta Marcio Banfi, consultor de moda e professor da faculdade Santa Marcelina.

Fonte: Congressoemfoco

Quase 200 mil protestam contra reajuste parlamentar

Fábio Góis

Ao comentar uma das reportagens veiculadas hoje (sexta, 24) pelo Congresso em Foco, o leitor que assina Eduardo lembrou: quase 220 mil brasileiros já assinaram a petição “contra o aumento de salário vergonhoso que os nossos ilustríssimos parlamentares se autoconcederam”. Ele se refere ao reajuste aprovado por Câmara e Senado na semana passada, em tempo recorde, para os próprios parlamentares, bem como para ministros de Estado e presidente e vice-presidente da República. No apagar das luzes em plenário, o projeto de decreto legislativo aprovado aumentou os vencimentos de deputados federais, senadores, presidente e vice-presidente da República e dos ministros de Estado para R$ 26,7 mil, equiparando a remuneração dessas funções à dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Em cinco minutos, Senado ratifica aumento de salário

Deputados aumentam seus salários para R$ 26,7 mil

O número de adesões caminha para o dobro do que foi registrado há menos de uma semana, quando eram 118 mil os cidadãos a rejeitar o reajuste. Às 15h30 desta sexta-feira de Natal, 218.027 pessoas já haviam subscrito o abaixo assinado, organizado pelo site Petição Pública.

O reajuste salarial de 62% autoconcedido pelos parlamentares na quarta-feira passada (15) foi aprovado por uma maioria silenciosa. Apenas oito dos 395 deputados que marcaram presença na sessão que resultou na elevação do salário, que antes era de R$ 16,5 mil, registraram voto contra a proposta. Apenas 11 se dispuseram a usar o microfone para defender o aumento. Com a “brincadeira” com os cofres públicos, cada congressista para a custar praticamente R$ 2 milhões por ano, sem que a vantagem do custo-benefício seja indubitavelmente constatada.

Confira: Parlamentares ficam de bolso cheio e boca calada

Ação e reação

No dia da aprovação do projeto, a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), uma das poucas a protestar contra aumento, lamentou ao Congresso em Foco a postura dos colegas. “É muito frustrante, embora seja uma prática que se repete a cada quatro anos”, disse Luíza Erundina, que defendeu “um reajuste razoável”, com base na inflação, como acontece com os demais trabalhadores. “Isso não justo, não é ético, não é moral.” Momentos antes, em plenário, ela advertia os demais deputados: “escondam seus broches [de identificação]”. Ela se referia à reação da opinião pública em locais como aeroportos.

“Muitos deputados já me confessaram que, em certos momentos que a gente vive na Casa, retiram o bóton porque recebem agressão. Eles [os cidadãos] generalizam. É a instituição que está em cheque”, acrescentou a ex-prefeita de São Paulo pelo PT (1989-1993).

Numa realidade em que o trabalhador comum recebeu cerca de 5% de aumento (o dos parlamentares foi de 62%), com piso salarial que será de R$ 540 em 2011, a revolta da sociedade vinha de diversos setores, como este site mostrou no último dia 21. Naquele dia, o protesto transpunha o plano virtual para a fonte de mais uma indignação, o Congresso.

Confira: Estudantes gritam contra aumento e bispo rejeita prêmio

“Se vc assim como eu, está indignado, assine também, vamos chegar a um milhão de assinaturas e acabar com a festa [...]”, exorta leitor Eduardo, com a grafia dos internautas, a quem esclarecemos que o corte do pronome demonstrativo e do adjetivo do final da frase, feito por questões editoriais, não compromete a eficácia da mensagem.

Proteste! Assine aqui o manifesto virtual

Fonte: Congressoemfoco

Omissão do Senado acirra disputa na polícia legislativa

Desde julho, Primeira Secretaria congela decisão sobre processo que envolve briga de poder e morte de pitbull de vizinho de servidor. Sarney pediu celeridade ao caso, mas nada foi feito até agora

José Cruz/ABr
Heráclito (esq.) deixou para sucessor analisar caso polêmico e que preocupa José Sarney

Fábio Góis

Reportagem publicada pelo Congresso em Foco em 24 de novembro mostrou alguns dos efeitos da combinação entre inépcia institucional e a briga de poder na Polícia do Senado. De um lado, o policial legislativo Rubens de Araújo Lima, que matou o pitbull do vizinho com sua arma particular; de outro, a cúpula administrativa do Senado. A disputa é temperada com acusações cruzadas de assédio moral, perseguição, truculência e abuso de prerrogativas funcionais. E, no extremo, um relatório da Advocacia Geral sobre o caso repousa desde julho na Primeira Secretaria da Casa. Trata-se de um parecer que, resultado de um processo administrativo disciplinar, teria evitado a intensificação de um cenário de denúncias, revanchismo e trocas de ofensa se tivesse sido rapidamente apreciado pela Primeira Secretaria.

Encerrado o ano legislativo na quarta-feira passada (22), nenhuma providência foi tomada pelo primeiro secretário da Casa, Heráclito Fortes (DEM-PI). Como não conseguiu se reeleger em outubro, Heráclito deixou a situação para seu sucessor. Sua assessoria de imprensa afirmou que, para o senador, o próximo primeiro-secretário terá mais tempo para fazer uma análise mais fundamentada.

A disputa na polícia institucional apenas chegou a incomodar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), responsável pela indicação do diretor do órgão. E irritou alguns envolvidos no caso. Em 24 de novembro, quando a reportagem foi veiculada, uma reunião administrativa colocou no gabinete da Presidência o diretor da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, o diretor-geral, Haroldo Tajra, o advogado-geral, Luiz Fernando Bandeira de Mello, e o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI). A partir de então, segundo relatos de pessoas próximas à cúpula administrativa, houve determinação para que o caso fosse concluído sem mais desgastes.

Um ex-diretor do Senado que prefere não se identificar apontou o caráter de “revanchismo” entre os envolvidos no imbróglio. Com 20 anos de serviços prestados à Casa, diz acreditar que uma decisão sobre o caso agora se impõe. “O que aconteceria, nessas situações, é virar a Mesa [renovar os senadores componentes] e engavetar o processo. Mas agora, depois dessa reportagem, a Mesa vai ter de responder. Essa foi uma omissão das piores”.

Disputa de poder na polícia do Senado

Policial do Senado nega expulsão do Corpo de Bombeiros

Cuidado

O ex-diretor diz até acreditar no “caráter persecutório” do episódio, mas fez questão de enfatizar sua neutralidade. Para o servidor, é preciso cuidado para não “jogar o jogo” de quem quer que esteja envolvido na disputa. Ele considera ainda que há excessos de ambos os lados, e que apenas a cúpula administrativa pode estancar um mal-estar que perdura há décadas do departamento de segurança.

Em nota encaminhada à redação, a Presidência do Senado negou a abordagem do assunto na reunião mencionada, e alegou, “por sua natureza”, a questão tem sido “conduzida na esfera da administração do Senado”. Segundo a assessoria, “a questão relacionada ao policial legislativo Araújo Lima corre por duas vias: uma administrativa (Diretoria Geral), outra judicial (ação iniciada pelo referido policial legislativo)”.

Questionado pela reportagem, José Sarney declarou, por meio da assessoria, que a devida apuração dos fatos será feita “pelas vias administrativa e judicial”. Cotado para o exercício de um quarto mandato na Presidência do Senado, o peemedebista disse ainda acreditar que o problema não representa riscos à “credibilidade ou o funcionamento” da polícia legislativa.

Dossiê

Ex-fuzileiro naval e bombeiro, Rubens diz que tem sido perseguido pela cúpula administrativa do Senado. Com e-mail funcional bloqueado, insígnias e armas de policial confiscadas e processado por faltas ao serviço e insubordinação com menções de postura agressiva, como atesta comissão de sindicância, levou ao conhecimento da Mesa Diretora uma espécie de dossiê (requerimento nº 029249/10-4) em que relata o caso. “Protocolo todos os documentos, porque os atos administrativos têm de ser fundamentados em pressupostos básicos”, disse Rubens à reportagem.

O relatório final entregue à Primeiro Secretaria há quase cinco meses rebate cada uma das acusações do servidor, e ainda registra um longo histórico sobre o acusador. Como determina a Lei nº 8.112/90, que rege o funcionalismo público, a comissão foi formada por três servidores de igual ou superior graduação acadêmica em relação ao investigado. O grupo decidiu recomendar a suspensão do servidor, por período que ainda cabe à Primeira Secretaria decidir. Vai ficar para 2011.

À disposição da Casa

A manifestação mais recente da Primeira Secretaria sobre o caso é a Portaria nº 41/2010, assinada por Heráclito em 10 de junho de 2010 e publicada no Boletim Administrativo de Pessoal nº 4477, do dia 14 do mesmo mês. Em decisão referente ao processo 00.9.234/10-1, em que Rubens é acusado de não se dirigir ao novo posto de trabalho, o senador determina o afastamento do servidor por 60 dias a partir da publicação do ato, “sem prejuízo de remuneração”, mas com restrição de acesso do servidor às dependências do Senado, “visando a manutenção da ordem e disciplina”. O policial já cumpriu o afastamento e voltou ao trabalho sem armas, identificação e ainda com o correio eletrônico funcional bloqueado.

“Isso começou porque o diretor [Pedro Ricardo] se sentiu ameaçado no cargo, e resolveu deflagrar uma perseguição pessoal, colocando a administração da Casa contra mim. A administração só ouve o que diretor fala, mesmo sendo mentiras comprovadas”, reclamou Rubens, que recebeu oferta de defensor gratuito oferecido pelo Senado, mas utiliza advogado próprio. “A intenção dele é me demitir no Senado.”

Um dos advogados que participaram da comissão de sindicância disse considerar Rubens pessoa educada e que tem seus méritos. Mas afirmou crer que ele violou seu dever funcionar ao matar o pitbull.

Impunidade

Diretor da Secretaria de Polícia Legislativa do Senado, Pedro Ricardo disse à reportagem que “tudo já foi respondido” nas comissões disciplinares instauradas nas esferas competentes da Casa. Para ele, Rubens fere o espírito do serviço público e extrapola suas atribuições ao promover uma campanha para desqualificar a cúpula administrativa, além da própria instituição legislativa.

“É difícil trabalhar e administrar toda uma cidade – e o Senado é uma cidade, todos sabemos – e conviver com esse tipo de situação, com gente que vive na impunidade. Isso é tática dele, tentar desacreditar toda a administração da Casa. Porque, se ele for demitido, ele vai ser tachado de coitadinho, e a imprensa vai atrás”, disse o diretor. Pedro Ricardo entende que o colega padece do “vício do funcionário antigo, o chamado Barnabé, que faz e acontece e não é punido”.

Servidor concursado, há 18 anos, o diretor da Polícia ironiza o ingresso de Rubens. “Ele é que entrou pelo trem da alegria, em 1988”, critica Pedro Richardo.

Pedro Ricardo declarou ainda que, depois de Rubens ter sido rejeitado em gabinetes de senadores e setores da Casa, foi ele mesmo, já na condição de diretor da polícia, que o aceitou de volta à atividade de segurança institucional – situação que logo viria a se complicar. “Ele [Rubens] diz que foi bombeiro e fuzileiro e não sabe receber e cumprir uma ordem simples e direta”, comparou, que nega ter ameaçado o colega de morte, como Rubens denuncia no dossiê. “Tanto é que eu mandei abrir um termo circunstanciado no processo.”

Nos autos

Responsável pelas questões jurídicas, o advogado-geral do Senado diz que, a partir de agora, só vai responder aos ataques de Rubens nos autos – postura técnica que inclui não só defesa, diz o advogado, mas interpelações com base na legislação do funcionalismo público.

“Sinceramente, depois dessa última nota dele [o tal “dossiê” protocolado na Mesa], só vou respondê-lo nos autos. Porque quero evitar que isso se transforme em questão pessoal. Não tenho nada contra o cidadão Rubens, e não quero desvirtuar a discussão para expor meus méritos pessoais”, disse Luiz Fernando Bandeira.

Para Bandeira, o dossiê apresentado à Mesa por Rubens sequer terá tramitação. “Isso não vai ter nenhum andamento... trata-se de uma pessoa que desenvolve essa postura agressiva contra a instituição e contra os ocupantes gratuitamente. Não consigo entender onde ele quer chegar com isso. Na verdade ele quer angariar problemas”, completou o advogado.

Mas, para Rubens, o atual quadro de comando do Senado é uma ameaça iminente. “Pelo andar da carruagem, acho que a intenção das autoridades é me demitir. Só não o fizeram ainda porque não encontraram respaldo legal”, observa o servidor, que chegou a recorrer à Justiça Federal para contestar seu deslocamento de função e local de trabalho. Ele foi mandado para o setor de transporte, em um prédio externo ao Senado.

“O próprio juiz federal indeferiu a liminar e, nos despachos, considerou que isso é picuinha administrativa, e que não cabe ao Judiciário intervir”, arrematou Luiz Fernando Bandeira.

Fonte: Congressoemfoco

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