Carlos Chagas
Só se encontram obstáculos ao acordo do PMDB com o PT, nos estados, em termos das eleições de governador. Caso não se componham os interesses e os candidatos, como deseja o presidente Lula, no mínimo ficará capenga o entendimento em torno da candidatura de Dilma Rousseff para a presidência da República. Do Rio Grande do Sul à Bahia, do Rio de Janeiro a Minas Gerais, para não falar em muitos outros estados, os dois partidos jogam seu futuro com mais vigor, até, do que olham para a presidência da República.
Justifica-se o conflito, porque se o PMDB pretende continuar como maior partido nacional, precisará de quantos candidatos a governador possa apresentar, puxadores da fila para as eleições parlamentares.
Já o PT, partido do governo, reage à condição de filho enjeitado que o presidente Lula pretende impor-lhe. Aceitar a maioria de candidatos a governador que o PMDB apresentar equivalerá a não crescer no futuro Congresso, ou, até mesmo, ver suas bancadas reduzidas.
Muito mais importante do que saber se o companheiro de chapa de Dilma Rousseff será Michel Temer ou Helio Costa, Edison Lobão ou Henrique Meirelles, será para o PMDB emplacar José Fogaça contra Tarso Genro, Geddel Viera Lima contra Jacques Wagner, Sérgio Cabral contra Lindemberg, Helio Costa contra Fernando Pimentel – só para dar alguns exemplos.
Na medida em que o PT insistir em lançar seus candidatos, arrefecerá o já complicado esforço do PMDB para apoiar a chefe da Casa Civil para o Planalto. Isso explica porque, de verdade ou de mentirinha, dezesseis diretórios estaduais peemedebistas assinaram a proposta de uma candidatura própria à sucessão presidencial, no caso, Roberto Requião. Para os dois partidos, fica impossível atender os apelos de isenção feitos pelo presidente Lula. Ambos argumentam não poder haver isenção entre o incêndio e os bombeiros…
Tarso Genro tem razão
Tarso Genro tem razão quando lamenta que no Brasil os poderosos não vão para a cadeia, mesmo sendo ladrões.
Uma qualidade o ministro da Justiça possui: de não esconder seu pensamento com palavras dóceis. Tarso Genro fala o que sente, na maioria dos casos, com precisão contundente.
Seu último comentário referiu-se à iniciativa de um ministro do Superior Tribunal de Justiça, suspendendo todas as ações e até anteriores sentenças expedidas contra o banqueiro Daniel Dantas.
O controvertido especulador já foi condenado a dez anos de prisão, viu-se preso duas vezes e responde a mil denúncias sobre lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas e outros crimes. De repente, o STJ o exime de tudo, numa liminar capaz de vir a ser confirmada pela maioria de seus ministros.
Tarso Genro, sem papas na língua, mesmo respeitando a decisão judicial, estrilou e reafirmou aquilo que todos nós já sabemos desde Pedro Álvares Cabral: cadeia, no Brasil, é para ladrões de galinha.
Fonte: Tribuna da Imprensa