José Carlos Werneck
O chanceler Mauro Vieira, em artigo publicado no jornal “O Globo”, sintetizou magnificamente a trajetória do ex-secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), embaixador João Clemente Baena Soares, falecido no Rio de Janeiro no último dia 7 de junho.
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UM MESTRE DA DIPLOMACIA
Mauro Vieira
Há pessoas que têm o privilégio de atuar profissionalmente na área para a qual são vocacionadas. E que, generosamente, devolvem o privilégio na forma de lições e aprendizados de valor inestimável e validade eterna para aqueles que têm a sorte de compartilhar o cotidiano com elas. Foi o caso do embaixador João Clemente Baena Soares, em sua relação com a diplomacia — ofício que desempenhou com esmero e brilhantismo por mais de 40 anos.
O embaixador Baena Soares, mestre de várias gerações de diplomatas, nos deixou dia 7 de junho aos 92 anos. Fui um desses privilegiados, que agora lamenta a partida do amigo e do mestre na diplomacia, dono de enorme capacidade negociadora e refinada capacidade de análise.
DESDE JOVEM – Conheci o embaixador Baena Soares ainda jovem diplomata. Tive a sorte de privar de sua companhia e o privilégio de contar com sua amizade e com seus conselhos ao longo de toda a minha carreira.
Baena Soares coroou uma trajetória brilhante na diplomacia como secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) entre 1984 e 1994. Foi o único brasileiro, até o momento, a ocupar o cargo na História da OEA. Em uma década à frente do organismo hemisférico, consolidou uma das principais atribuições da organização, a observação eleitoral.
Foi um talentoso facilitador de soluções pacíficas nas crises políticas da América Central em meados dos anos 1980 e no Haiti, no início dos anos 1990. A
HOMENAGEM EM BELÉM – A Assembleia Geral da OEA de 1994 foi sediada na sua Belém natal, em homenagem a sua marcante gestão. Não deixa de ser feliz a coincidência que na Cúpula dos Países do Tratado de Cooperação Amazônica, prevista para agosto deste ano, e na trigésima Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas — a COP30 —, a realizar-se em novembro de 2025, a comunidade internacional regresse à capital paraense.
Antes de comandar a OEA, em momento histórico complexo na região e no mundo, de reconquista da democracia em vários países latino-americanos e dos estertores da Guerra Fria, Baena Soares ocupara o cargo de secretário-geral das Relações Exteriores — posto mais alto na hierarquia da carreira diplomática no Itamaraty — durante a gestão do chanceler Ramiro Saraiva Guerreiro (1979-1984).
ATUAÇÃO NA ONU – Já aposentado da diplomacia oficial, integrou também o painel de alto nível das Nações Unidas, convocado pelo saudoso Kofi Annan para examinar as ameaças à segurança internacional no início do século.
O legado de Baena Soares permanece vivo na OEA e no Itamaraty. Seus dois filhos ativos no Serviço Exterior Brasileiro — Clemente, futuro embaixador do Brasil em Lima, e Rodrigo, atual embaixador do Brasil em Moscou —, além da querida Cláudia, e seus tantos netos, poderão se orgulhar da marca deixada por ele para o Brasil, para as relações internacionais e para o ofício de diplomata, que exerceu com grande talento e com a dedicação que até hoje nos serve de exemplo.