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sábado, novembro 19, 2022

O silêncio é de ouro




Bolsonaro completou 17 dias sem compromissos externos desde que perdeu a eleição presidencial. Mais ainda, abandonou a rotina frenética de comunicação. 

Por Natália Lázaro (foto)

Jair Bolsonaro completou, nesta quinta-feira (17), 17 dias sem compromissos externos desde que perdeu a eleição para Lula, do PT. Nesse período, sua agenda oficial registrou quatro audiências com Renato de Lima França, o Subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência, e com Célio Faria Júnior, da Secretaria de Governo. Também ficaram anotadas duas reuniões com o Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira; com Wagner Rosário, da Controladoria-Geral da União (CGU); e com Bruno Bianco, da Advocacia Geral da União. Além desses auxiliares próximos, ele se encontrou com alguns políticos, como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), e o vice-líder do Progressistas no Senado Federal, Luis Carlos Heinze (PP/RS). A reclusão, em parte, pode ser explicada pelo fato de Bolsonaro ter sido acometido por uma erisipela nas pernas. Mais surpreendente é o silêncio do político. Durante o seu mandato, ele produziu polêmicas em sequência, postou incansavelmente nas redes sociais e tornou a live semanal no YouTube um ritual quase sagrado. A interrupção dessa rotina frenética de comunicação, que conduziu o país a diversas crises, mostra como foi duro para Bolsonaro tornar-se o único mandatário a não alcançar a reeleição no período pós-redemocratização. Quem trabalha perto dele, diz que ele tem demonstrado uma certa apatia e que os silêncios se repetem também dentro do Palácio da Alvorada.

Durante o mês de novembro, Bolsonaro falou apenas duas vezes em público. A primeira, 48 horas depois de ter saído o resultado das urnas. Antes de fazer um pronunciamento em que não reconheceu a derrota, ele procurou as Forças Militares e indagou sobre a possibilidade de ir à Justiça contra o resultado. Consultou-se, além disso, com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio de Oliveira, com o ministro da Segurança-Pública, Anderson Torres e com o advogado-geral Bruno Bianco. A segunda fala aconteceu no dia seguinte. Nesse momento, caminhoneiros bolsonaristas que protestavam contra a vitória de Lula já fechavam rodovias por todo o país havia quase três dias. Como os piquetes ameaçavam provocar desabastecimento em alguns estados, além de atrapalhar a vida de muita gente, Bolsonaro gravou um vídeo pedindo que eles desbloqueassem as estradas.

Os piquetes de caminhoneiros não foram a única reação ao resultado das eleições. Há quinze dias, eleitores de direita mantém acampamentos em frente aos quartéis das Forças Armadas de diversas cidades. Eles pedem uma intervenção dos militares, que impeça a posse de Lula e mantenha Bolsonaro no poder até a realização de novas eleições, em data incerta. Sobre essas vigílias, o presidente não disse nada.

O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu inquérito e convocou todas as forças policiais para investigar a organização e estrutura dos acampamentos. Já surgiram indícios de que existe uma “organização piramidal” por trás delas. Os cidadãos comuns são convocados por líderes locais, que respondem a organizadores maiores, como grandes empresários, em especial dos do agronegócio. Entre os nomes encontrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), está Emilio Dalçoquio, empresário de Santa Catarina e amigo pessoal de Bolsonaro.

Para a oposição, no topo da pirâmide há membros do governo fazendo contato discreto com os líderes, trocando informações sobre as mobilizações e estabelecendo regras e limites para os atos. Uma dessas regras seria não mencionar Bolsonaro nas manifestações, com o intuito de blindá-lo. De fato, não são vistas nas ruas faixas ou cartazes com o nome do presidente. Segundo os manifestantes, isso demonstra que o inconformismo não se restringe ao resultado da eleição e está voltado para “o sistema como um todo”.

Também no Palácio do Planalto o assunto da eleição ainda não morreu. Como revelou O Antagonista nesta semana, uma consultoria contratada pelo PL para auditar as urnas produziu um relatório afirmando que modelos mais antigos do equipamento têm uma fragilidade grave, que tornaria inválidos milhões de votos. Seria causa suficiente para anular as eleições. A direção do partido de Bolsonaro diz que o relatório não é válido e que só em dezembro será apresentada a sua versão definitiva. Mas não se pode descartar neste momento a hipótese de que mais uma contestação da votação seja encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) antes do final do ano.

Outras ideias com chances nulas de sucesso têm sido levadas a Bolsonaro, como um novo pedido de impugnação da candidatura de Lula devido às acusações na Lava Jato. Aliados mais sensatos, no entanto, dizem que está na hora de aceitar o resultado das urnas e deixar o país seguir seu rumo. Essa seria a melhor maneira de o presidente manter sua influência nos próximos anos, valendo-se do fato de que sua distância em relação a Lula foi de apenas dois milhões de votos. Bolsonaro, que ajudou o PL a eleger a maior bancada na Câmara, deve receber o cargo de Conselheiro Nacional do partido. Seus gastos seriam bancados pela legenda a partir de 2023, incluindo moradia e advogados.

Dezembro dirá se o presidente vai ser fiel ao seu estilo até o último instante, e buscar mais um confronto, ou se ele vai optar por uma saída discreta. Enquanto isso, o silêncio é de ouro.

Revista Crusoé

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