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segunda-feira, abril 13, 2020

Bolsonaro ignora os números e diz que “está começando a ir embora a questão do vírus”


Videoconferência reuniu representantes católicos e evangélicos
Amanda Almeida
O Globo
Em meio a um número crescente de mortes por Covid-19 no país, que chegou a 1.223 neste domingo, o presidente Jair Bolsonaro usou uma videoconferência com lideranças religiosas para dizer que “parece que está começando a ir embora a questão do vírus”.
Nas últimas semanas, o ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) tem dito que o Brasil só enfrentará o pico da pandemia entre abril e maio e que o coronavírus circulará até meados de setembro.
DESEMPREGO – “Temos dois problemas pela frente, lá atrás eu dizia: o vírus e o desemprego. Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego. Devemos lutar contra essas duas coisas”, disse Bolsonaro, sem se estender no assunto.
Anunciada como “Celebração de Páscoa”, a videoconferência foi transmitida pela TV Brasil, uma emissora pública, por duas horas. A chamada para o evento dizia que  Bolsonaro e Michelle Bolsonaro receberiam líderes religiosos para “juntos, com todos os brasileiros, espalharem mensagens de fé”.
MEDIAÇÃO  – A primeira-dama, no entanto, não apareceu na transmissão, que contou com pastores, um padre, um bispo e um rabino. A mediadora foi Íris Abravanel, mulher do empresário e apresentador Silvio Santos.
Bolsonaro abriu e fechou a transmissão. Em sua primeira declaração, não citou o coronavírus diretamente, mas fez referências ao cenário vivido pelo país. “Um país precisa ser informado do que realmente está acontecendo. Não através do pânico, mas através de mensagem de paz, de conforto. Cada um tem de se preparar para a realidade”, disse.
DOIS MILAGRES – Ao encerrar a reunião, Bolsonaro chorou ao falar sobre ter vivido “dois milagres”. O primeiro teria sido a sobrevivência à facada que levou em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. Já o segundo foi a sua eleição para a Presidência da República em outubro do mesmo ano. Na avaliação dele, seu perfil não era o de um candidato que seria escolhido pelo brasileiro.
Em seguida, Bolsonaro disse que “a cruz é muito pesada”, mas que o esforço será “compensador” com o apoio de “milhões de pessoas que têm o coração verde e amarelo e que creem em Deus”. Foi quando falou brevemente sobre o coronavírus, dando destaque ao impacto da doença no número de desempregados.
ECONOMIA – Bolsonaro tem manifestado preocupação com os prejuízos econômicos que vêm junto com o isolamento social, uma vez que grande parte do comércio está fechada. Setores como o turístico e de restaurantes, dentre outros, já registram perdas significativas.
Para combater a recessão, o presidente defende o chamado “isolamento vertical”. Nele, apenas os grupos de risco ficariam isolados em casa. Ou seja, idosos e doentes crônicos ficaram em casa, enquanto jovens e adultos saudáveis sairiam de casa para trabalhar normalmente.
CURA – Bolsonaro começou sua fala afirmando que o Brasil é “o país mais cristão do mundo”, disse que vivemos um momento difícil, sem citar o diretamente o novo coronavírus. Em seguida, acrescentou que só Deus tem a cura.
“Vivemos um momento difícil. Sabemos quem pode nos curar [nesse momento, Bolsonaro aponta para cima]. Deus sempre acima de tudo. Nós aqui na Terra temos que fazer a nossa parte.”
PREGAÇÃO – Durante a transmissão, religiosos também fizeram referências diretas ou indiretas ao coronavírus, sempre pregando fé para vencer a doença.
“Sou uma das vozes proféticas dessa nação. Não vamos ter no nosso país uma desgraça de morte. Isso é, esses profetas do caos vão ficar envergonhados. Nenhuma previsão catastrófica acontecerá no nosso país. Eu declaro, na autoridade do nome de Jesus, que, dentro de pouco tempo, o Brasil vai usufruir de um tempo de prosperidade que nunca aconteceu na nossa história”, disse o pastor Silas Malafaia, acrescentando que “a imprensa resolveu ser partido político por interesses escusos”, sem detalhar quais seriam eles.
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) disse que a “extrema imprensa e outras pessoas que eram contra a medicação que nosso presidente indicava agora se curvam”.

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