Pedro do Coutto
Numa entrevista de página inteira ao repórter Igor Gielow, Folha de São Paulo de sábado, o governador da Bahia Rui Costa abriu praticamente uma cisão no seu partido, o PT, na medida em que acha que o ex-presidente Lula deve alterar seu discurso político e passar a pregar a pacificação do país. Assim, o ex-presidente da República tornar-se-ia o alvo central de um projeto de realinhamento da legenda, abandonando a polarização com o presidente Jair Bolsonaro. Rui Costa, portanto, propõe uma alteração no foco central do debate político.
O novo posicionamento na visão de Rui Costa deve incluir também uma proposta de pacificação do país, realizando ao mesmo tempo um ajuste fino na posição econômica.
PAPEL DE LULA – Rui Costa destaca também que Lula precisa assumir um papel preponderante nesse processo, equivalendo a uma conciliação e não mais a radicalização que predominou na legenda de 2003 a 2010.
Com isso, o governador baiano exclui a presença da ex-presidente Dilma Rousseff no panorama que ele traçou como ideia de rumo a ser percorrido pelo ex-presidente da República.
O governador, reeleito no ano passado com 75% dos votos, reflete em si, sem dúvida alguma, um êxito administrativo que o levou a reeleição.
SERÁ CANDIDATO – Sobre a possibilidade de ser o candidato da legenda a sucessão de 2022, acrescentou que se encontra à disposição do partido. Costa, por exemplo, critica a posição do PT em relação a economia por considerar que a negação permanente a qualquer mudança representa um choque com a realidade brasileira. É preciso refinar o discurso, diz ele.
Na minha opinião, o radicalismo foi a causa principal do desabamento do Partido dos Trabalhadores nas urnas da sucessão. O partido perdeu muitos acentos na Câmara Federal e nas Assembleias Legislativas, somando-se a isso a larga margem de Jair Bolsonaro em relação a Fernando Haddad.
Rui Costa em parte tem razão, porém é preciso levar-se em conta que a onda de corrupção que marcou os governos Lula e Dilma Rousseff forneceram combustível para a viagem de Bolsonaro ao Palácio do Planalto.
DANÇA DOS CORRUPTOS – O PT perdeu as eleições porque principalmente seu comportamento tentando encobrir a dança dos corruptos e corruptores transformou-se num principal fator da vitória de Bolsonaro.
A ideia contida na entrevista de Rui Costa é a de que, sem dúvida, a continuar a polarização a legenda que deveria ser a dos trabalhadores, como está escrito em sua página, transformou-se na legenda do fracasso eleitoral. Sem dúvida alguma, o governador da Bahia tocou no ponto mais sensível da estrutura da agremiação. Deseja um debate em nível alto sem a agressividade que Lula vem demonstrando nos seus mais recentes pronunciamentos políticos.
Rui Costa está propondo, penso eu, um título inspirado num filme famoso: “E o Vento Levou…”.