Sebastião Nery
RIO – Agamenon Magalhães, o mais poderoso pernambucano do século passado, seminarista de Olinda, formado em Direito em 1916, deputado federal de 1924 a 30, constituinte de 1934, ministro do Trabalho de 1934 a 37, ministro da Justiça em 1937, interventor de Pernambuco de 1937 a 45, foi novamente ministro da Justiça em 1945.
“Em 22 de junho, assinou a primeira lei brasileira antitruste, chamada por seus adversários (como Assis Chateaubriand) de Lei Malaia, em alusão ao apelido de O Malaio dada ao ministro em virtude de suas feições asiáticas. O poeta Manoel Bandeira chegara a chamá-lo satiricamente de China Gordo. A lei antitruste criou a Comissão Administrativa da Defesa Econômica, o CADE” (FGV), aí até hoje.
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BARBOSA LIMA
Fundador do PSD em 1945, constituinte de 1946, deputado federal de 1946 a 51, lançou em 1947 a candidatura a governador de Pernambuco de Barbosa Lima Sobrinho, que se elegeu.
Nas vésperas da posse, a especulação em Pernambuco era se o secretariado de Barbosa Lima seria mais indicado por Agamenon ou se por ele mesmo. No dia da posse, Barbosa Lima, através do filho de Agamenon, Paulo Germano (depois deputado de 1955 a 1959 e diretor do “Correio da Manhã”), mandou um cartão a Agamenon, comunicando-lhe o secretariado escolhido. Terminava assim :
- Meu mestre me ensinou : ninguém governa governador.
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O DISCURSO
Em 1950, a candidatura de Agamenon a governador era inevitável. O PSD lançou-o contra João Cleofas, da UDN. Agamenon ganhou, mesmo perdendo em Recife, que ele chamou de “cidade cruel”. Os amigos de Agamenon acusaram Barbosa Lima de, como governador, haver feito corpo mole e pouco participado da campanha.
Na cerimônia de posse e transmissão do governo, no salão nobre, esperava-se um grande discurso-manifesto de Agamenon. Barbosa Lima falou primeiro, prestando contas do governo e despedindo-se. Na hora de Agamenon falar, ele apenas estendeu a mão para Barbosa Lima e disse :
- Boa viagem!
E entrou para o gabinete.
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LULA
É do mesmo Agamenon esta outra lição, que Palocci devia saber :
- O homem público não compra, não vende nem troca.
Em 24 de agosto de 1952, dois anos antes do suicídio de Vargas, o gigante Agamenon foi fulminado por um enfarte.
Lula não sabe dessas coisas. De poucas coisas Lula sabe, além de um palanque armado e uma garrafinha estimulante. Mas certamente ele sabe, e sabe bem, das tretas e mutretas da inexplicavel fortuna de Palocci. E já é hora de aprender a lição de Agamenon ensinada a Barbosa Lima:
- Ninguém preside presidente.
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JK
Juscelino traduzia a lição de Agamenon sobre política e negócios com uma definição que Ulysses Guimarães gostava de repetir :
- O empresário pode ser político. Mas não ao mesmo tempo. Ninguém pode ser político e empresário ao mesmo tempo. Se quiser ser político, o empresário deve deixar imediatamente seus negócios. Se não, perde como político e perde como empresário.
Tudo isso está sintetizado na sabedoria de Clarice Lispector:
- Até acabar com os próprios defeitos é perigoso. A gente não sabe sobre qual deles nós construímos nosso edifício.
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GLEISI
O PT está cada dia mais sentindo o estrago que Palocci está fazendo ao governo de Dilma e ao próprio partido. Apesar do cerco que Palocci armou para o governo e o PT não falarem nada sobre seus misteriosos milhões multiplicados entre a vitória e a posse de Dilma, começam a pipocar nos jornais e televisões opiniões independentes.
1. – Senadora Gleisi Hoffman do PT do Paraná, além de mulher do ministro das Comunicações Paulo Bernardo, dos mais próximos de Dilma: “Os mensaleiros cometeram erros graves em nome de um projeto coletivo. Esse não é o caso de Palocci” (Folha).
2. – Edinho Silva, presidente do PT de São Paulo : “Palocci tem esclarecimentos a dar para a nação brasileira e para os organismo do governo, e os dará” (Folha).
3 – André Vargas, secretário nacional de Comunicação do PT: “O Palocci deve explicações ao pais e vai dar. Tenham certeza de que vai dar, porque ele não tem nada o que esconder.
(Se não tem nada a esconder, por que não deu até agora? Na TV , só repetiu as mesmas alegações de sempre”).
Fonte: Tribuna da Imprensa