Pedro do Coutto
Escrevo este artigo, recorrendo a título de filme famoso sobre episódio da segunda Guerra, no início da tarde de sexta-feira, para a edição de domingo. Portanto, sem saber quais foram as explicações de Antonio Palocci. Quando o artigo for publicado, é possível que Palocci, afastado por ele mesmo, tenha pedido demissão e não seja mais o ministro chefe da Casa Civil. Com a ressalva, escapo do risco de colocar em hipótese próxima um desfecho já acontecido.
A presidente Dilma Roussef – leio as reportagens publicadas em O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo – finalmente cobrou explicações públicas sobre os temas das assessorias prestadas a empresas que tanto rendimento proporcionaram ao consultor e quanto rendeu negativamente para o governo. Um processo rumoroso, como se dizia antigamente, que o próprio protagonista principal transformou em escândalo. Além das matérias de Maria Lima, Luiza Damé, Chico de Góis e Cristiane Jungblut, O Estado de São Paulo saiu com seu clássico editorial: “Situação limite”. Tal enfoque por si só diz tudo.
Além disso, cresce em importância política a entrevista da presidente da República à repórter Ana Flor, Folha de SP, afirmando não ser refém de acontecimentos e pessoas. Com isso, Dilma respondeu a Anthony Garotinho e a todos aqueles que desejam usar a improvável blindagem a Palocci ao rompimento de limites partidários quanto ao preenchimento de cargos no segundo escalão. Ou então, caso do ex-governador do RJ, à aprovação do projeto de emenda constitucional do deputado Arnaldo Faria de Sá que eleva para 3 mil reais o isso dos soldados da PM e do Corpo de Bombeiros.
Por isso, inclusive, é que Palocci tem de sair do executivo. Sua presença, além de paralisar a atuação do Planalto, ainda por cima expõe Roussef a investidas de clara chantagem política. Não dá pé.
Palocci, paralelamente, criou um mar de contradições. Uma delas envolvendo o deputado Marco Maia, presidente da Câmara Federal. Enquanto na tarde de quinta-feira, Maia anunciava que iria anular a convocação de Palocci pela Comissão de Agricultura, o próprio convocado já revelava estar disposto a fornecer uma explicação pública pela televisão, o que aconteceria na noite sexta-feira.
Ora, se o ministro já deu a tal explicação pública, não existe mais o menor motivo para que também não o faça na Comissão de Agricultura. E na tela da TV ou nas respostas à Procuradoria, Palocci nunca não traz nada de novo, apenas repete as mesmas alegações. Mas deixa mal o presidente da Câmara. Marco Maia, que fica numa posição ridícula, ao querer blindar quem promete se explicar.
Como escrevi outro dia, o cargo de chefe da Casa Civil é essencial, e seu desempenho, da mais absoluta confiança. O presidente, no caso atual a presidente, não pode ser traída, muito menos lançada a redemoinhos políticos por causa de quem exerce um posto cuja nomeação depende da caneta presidencial. Mas acontecem tais casos. Lula teve que demitir José Dirceu e Erenice Guerra. Dilma Rousseff vai ter que demitir Antonio Palocci. Juscelino Kubitschek teve que demitir o jornalista Alvaro Lins. O erro de Ernesto Geisel foi o de não demitir Golberi que gravava suas conversas telefônicas, até as trocadas em sua residência, portanto fora do Planalto.
O jornalista Élio Gáspari, em sua monumental obra sobre a ditadura de 64 e suas diversas fases, conseguiu, por essas gravações, escrever a série de livros, aos quais acrescentou o brilho de seu talento e sua capacidade de interpretação. É isso aí.
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OUTRO ASSUNTO
Ótima e motivo de grande satisfação para os jornalistas, digo por mim, a eleição de Merval Pereira para a ABL. Sua presença vai acrescentar muito à cultura política do país.
Fonte: Tribuna da Imprensa