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R$ 50 reais: imagens revelam esquema de compra de votos na cidade de Itajuípe |
A função de Nadinho é negociar, angariar eleitores e pagar pelos votos. Faz isso dentro da sua própria casa, espécie de quartel-general do esquema. “Foi passado pra mim 30 pessoas pra ‘trabalhar’. Pagar R$ 50 hoje após encerrar a votação. Tô aqui com a numeração de todos os títulos. A gente tá fazendo um trabalho sério, sem molequeira. O investimento do deputado é alto”.
Comércio
O fato de os votos terem sido negociados na casa de Nadinho dá um tom ainda maior de comércio ao esquema. A residência fica bem ao lado de um bar, de propriedade da mãe do rapaz. Nas gravações, podem ser ouvidas as tacadas de sinuca no estabelecimento, enquanto Nadinho dá orientações certeiras aos eleitores.
“O dinheiro tá comigo, mas se a gente perceber que não tá acontecendo, não vai ser pago”. Os que tiveram a promessa dos R$ 50 fizeram fila na porta de sua casa para receber o pagamento após a votação no dia 3. Pelas gravações, Tafarel, que mora em Itajuípe, é uma espécie de enviado à localidade para fiscalizar, instruir e abastecer Nadinho com dinheiro para a compra de votos.
Num dos momentos, Tafarel chega a revelar o valor do ‘investimento’ e em quantas localidades houve esquemas semelhantes, além do número de pessoas escolhidas para participar da votação.
“São 44 local (sic). São 60 pessoas aqui, uns R$ 3 mil. No total, Félix Júnior tá gastando R$ 68 mil pra boca de urna e trabalho feito na campanha”. Em seguida, o próprio Nadinho confirma com quem pegou o dinheiro usado nos pagamentos. “O dinheiro mesmo, eu peguei na mão de Tafarel”.
Félix Júnior e Paulo Câmera foram disparados os mais votados na única urna de União Queimada, instalada na Escola Municipal Otávio Portela. O primeiro teve 98 votos e o segundo, 53. Há ainda outra pessoa envolvida. Uma mulher identificada como Shirlei, a coordenadora da 68ª Seção Eleitoral. Shirlei conhece a lista dos que receberam dinheiro e tem o papel de fiscalizar. “Eu tô lá de olho. Tem pessoas com dificuldade de digitar e ficam lerdando”.
‘Dr. Paulo’
A todo momento, os envolvidos apontam “Dr. Paulo” como peça-chave no esquema. Mas nesse caso eles não se referem a Paulo Câmera, e sim Paulo Martinho, ex-prefeito de Itajuípe, liderança política na região. “Eu presto conta a doutor Paulo. É doutor Paulo que depois vem em cima de mim”, afirma o tempo inteiro Nadinho, alertando os eleitores sobre a “seriedade” do esquema. Já Tafarel chega a dizer que foi candidato a vice-prefeito com Martinho. “Faltou mil votos pra se eleger (sic)”.
Após a votação, Nadinho comemorou dentro de casa, onde se formou uma grande fila na porta. “Fomos os mais bem votados. Fico feliz. Eu sabia que ia estourar, mas não sabia que ia derrubar os candidatos do prefeito e dos vereadores”. Um a um, os que venderam seus votos foram receber o que lhes era devido.
“Pede ao pessoal pra só entrar quando eu mandar. Isso não era nem pra formar fila. Tô chamando discretamente pra disfarçar”. É possível distinguir as notas de R$ 50 entregues a boa parte das 30 pessoas que assinam a lista, totalizando R$ 1,5 mil.
Nadinho só não se conformou com alguns dos eleitores que não cumpriram o compromisso. “Teve gente que não votou 100%, senão a gente tinha estourado”. E acusa um deles de sequer ter título. “O cara não votou. Colocou o nome na lista pra sacanear, mas o título dele tá cancelado. Coloquei três pessoas atrás dele e ele não votou. Como é que vou pagar a um cara desses”.
Banheiros
Além da compra de votos com dinheiro vivo, Félix Júnior, Paulo Câmera e Paulo Martinho também seriam responsáveis pela construção de cinco banheiros nas residências, também em troca de votos. A promessa era de construir muito mais. Um dos moradores flagrados recebendo dinheiro chega a cobrar. “Ô, Nadinho. Será que essa semana ele vai ver o negócio dos banheiros. Só fizeram cinco aqui”.
Agenciador diz que trabalhou para deputado e nega esquema
O homem que fez da sua residência o local de negociação e pagamento dos votos comprados nas eleições assistia à televisão quando a reportagem chegou. À procura dos envolvidos no esquema, a equipe foi a Itajuípe, a 418 quilômetros de Salvador, e depois seguiu para o distrito de União Queimada, onde as gravações foram feitas.
Ainda sem saber do que se tratava, Nadinho puxou o banco, serviu copos de refrigerante e falou sobre como foram as eleições no distrito. Orgulhoso, admitiu ter trabalhado para o candidato a deputado federal eleito Félix Mendonça. O jovem de 18 anos, mostrou-se antenado com a política da região.
Só mudou o semblante quando indagado sobre denúncias que o apontavam como cabo-eleitoral de um esquema de compra de votos. Sem ter conhecimento da existência das imagens, negou qualquer esquema de compra de votos e garantiu conhecer muito pouco os homens para os quais trabalhou. “Se eu disser que tenho amizade com eles, tô mentindo. Se rolou dinheiro, eu não sei. A eleição aqui foi tranquila”, restringiu-se a explicar.
Não é o que mostram as gravações. Nas imagens, Nadinho faz tudo de forma organizada. Pede que, antes de receberem o dinheiro, todos assinem seus nomes numa folha de papel. “Assina aí que é o comprovante que eu tenho que você recebeu o dinheiro”, diz.
Mesária
A mulher identificada como Shirlei, que coordenou a 68ª seção, preferiu não atender à reportagem. Mas o pai de Shirlei confirmou que a filha é convocada para ser mesária em todas as eleições. Identificados no vídeo, moradores que venderam seus votos negaram que o tenham feito, ainda que parcialmente.
Indagado sobre sua participação, José Carlos Lemos, o Raposão, desconversou. “Prometeram uns banheiros aí. Votei neles, mas não recebi dinheiro não”, disse Raposão, com um adesivo de Félix Júnior colado na parede de sua casa, feita de madeira.
Nas gravações, Raposão aparece recebendo R$ 50 por votar nos dois candidatos. “Aí, tá vendo. Seus candidatos explodiram. Se rolar segundo turno nós tá dentro, viu? Me procure”, disse a Nadinho. Outro da lista, Adeílson Pereira Lima, que também recebe R$ 50 e está com um adesivo de Paulo Câmera na camisa, negou da mesma forma a existência de compra de votos.
A maioria dos que venderam os votos é gente simples, moradores de um distrito pobre, sem saneamento básico. Entre os cooptados, analfabetos que sequer assinam a lista de Nadinho. “Eu não assino não. Vou melar meu dedo”, diz um dos moradores. “Então faça qualquer rabisco aí”, retruca Nadinho. “Sempre estou do lado de Paulo Martinho, mas preciso dos R$ 50 pra comprar meu remédio”, disse uma eleitora.
Numa localidade com aproximadamente 500 eleitores, Félix Júnior teve 98 votos e Paulo Câmera 53. É o que aponta a 2ª via do Boletim de Urna, que o CORREIO teve acesso. Em Itajuípe, que tem mais de 15 mil eleitores, Félix Júnior foi o segundo mais votado com quase dois mil votos. Paulo Câmera teve quase 850. Enquanto Félix Júnior foi eleito na Bahia com quase 149 mil votos, Paulo Câmera obteve pouco mais de 40,5 mil.
Mandatos podem ser impugnados, diz MP
Para o promotor eleitoral das cidades de Itajuípe e Barro Preto, Patrick Pires da Costa, as imagens do vídeo representam uma prova concreta de crime eleitoral .“É um material que não deixa dúvidas, é bem forte”, disse o promotor, que vai solicitar à Polícia Federal instauração de inquérito para apurar as irregularidades.Autor: Além da Notícia
Comentários:
Já que a Polícia Federal irá ou já está apurando o caso, seria de bom alvitre, que se alongasse até a cidade de Jeremoabo onde nas últimas eleições, protagonizou-se uma das mais tristonhas facetas da política baiana: a cabulação escancarada de votos por parte do poder municipal. Corre na boca miúda que o candidato Félix Jr teria agraciado o prefeito local, onde teria recebido grande grana para “gastos de campanha”. Não provo nem afirmo, porque não resido mais em Jeremoabo, apenas ouvi comentários de rua, mas como “a voz do povo é a voz de Deus”...
Ora, dois dias antes das eleições, “tista de deda“ promoveu uma festa (essa às expensas do Município de Jeremoabo) a pretexto de inaugurar obras (todas inacabadas) executadas pela Prefeitura. Soube que o juiz ainda “aconselhou” o prefeito a não “correr o risco”, mas o jurídico dele disse que não era problema porque as eleições eram estaduais e federais.(Não afirmo porque foi comentários de rua}
Não é de hoje que os erros tem se repetido e as inaugurações salvo melhor juízo, foram pano de fundo para promover os candidatos Felix Jr e Gildásio Penedo, ambos candidatos de tista de deda. É um escândalo
Mas como em Jeremoabo se troca votos por colchões e filtros doado pelo governo, o povo nas eleições ficam banguelos e doentes, nada é de se duvidar.
Dentre essas inaugurações acredito até “Casas Populares”, o que se supõe uma moeda forte em se tratando de compra de votos...