Para mim, a eleição baiana deste ano, tem, até agora, um grande enigma a ser decifrado, que é a situação do candidato a governador pelo PMDB, Geddel Vieira Lima. Restando apenas dez dias para a decisão definitiva das urnas, o candidato peemedebista aparece nas pesquisas de opinião exatamente no mesmo patamar com que começou a sua pré-campanha, apesar de todos os recursos que empregou neste período.
Ex-ministro da Integração Nacional, o deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) decidiu fazer uma aposta arriscada quando, em 2009, optou pelo rompimento da aliança do seu partido com o PT, aliança que teve grande parcela de responsabilidade na histórica e surpreendente vitória de Jaques Wagner (PT) sobre Paulo Souto, derrotando a máquina carlista. Com uma base de 114 prefeitos e mais de mil vereadores, o PMDB baiano constituía uma estrutura sólida, garantindo a ele uma grande penetração em todas as regiões do Estado, o que era reforçado pela sua atuação no Ministério, com um elenco significativo de obras em mais de 100 municípios.
Mesmo sabendo que sempre é uma aposta arriscada concorrer contra a máquina governista e tendo ainda que enfrentar o que restou da estrutura carlista, Geddel decidiu apostar na sua capacidade de trabalho e foi à luta, formalizando a candidatura. Tinha, como estratégia, crescer no espaço entre o governador e Paulo Souto, apresentando-se como uma alternativa nova, contrapondo-se ao que já tinha sido e ao que está sendo, qualificando-se para ir ao segundo turno contra qualquer um dos dois.
Naquele momento da pré-campanha (fevereiro e março), recebia entre 8 e 10% das intenções de voto, na média das pesquisas eleitorais. Ele e sua equipe acreditavam, então, que sua performance devia ser debitada ao fato de ser menos conhecido do que os outros dois principais adversários, Souto e Wagner, e que isto iria mudar à medida que o eleitoradi tomasse conhecimento de suas propostas.
Profissional, montou uma boa estrutura para gerir a campanha, conseguiu reunir dez partidos em torno do PMDB e disparou emissários e aliados para todos os municípios baianos. Contratou uma equipe vitoriosa (em 2008) para conduzir o marketing eleitoral e jogou suas fichas na boa presença que tem frente aos microfones e câmeras.
Conseguiu garantir a teoria dos dois palanques na Bahia, com que procurou dividir as atenções do presidente Lula e da candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT). E, principalmente, nesta linha, buscou reforçar a mensagem de que também era candidato de Lula e de Dilma na Bahia, tentando garantir para si um pouco do peso da popularidade do ocupante do Palácio do Planalto ou, pelo menos, dividir a influência positiva com o governador Jaques Wagner.
Apesar do esforço, iniciou o horário eleitoral gratuito (em 17 de agosto), no mesmo patamar das intenções de voto, subindo apenas um pouco para 11%, mas dentro das margens de erro dos diversos institutos de pesquisa. A justificativa era que os adversários tinham maior visibilidade anterior, o governador pela exposição própria do cargo e o candidato do DEM pelo fato de já ter sido governador duas vezes.
A aposta passou a ser, então, a propaganda no Rádio e na TV. Sua equipe de marketing produziu boas peças, fortes na mensagem e leves na apresentação, a música da campanha não é ruim e o próprio candidato, como já se esperava, não foi mal nas suas aparições, com um discurso direto, frases objetivas e muitas críticas ao governo estadual.
Nada disto, porém, foi capaz de fazer o candidato subir nas pesquisas eleitorais e ele continua, a dez dias da eleição, estacionado nos mesmos patamares do início da campanha eleitoral, de acordo com os levantamentos de todos os institutos de pesquisa. Fato que foi usado até por Dilma Rousseff para anunciar publicamente que só tem, agora, um candidato a governador da Bahia, Jaques Wagner, jogando para o alto o compromisso anterior, de ficar de braços dados com o ex-ministro.
No futuro, quem analisar esta campanha baiana, poderá ter um bom material para estudar e tentar explicar porque um candidato que, aparentemente fez tudo certo, seguindo todo o receituário do marketing eleitoral, não conseguiu sequer mudar de patamar nas pesquisas eleitorais.
Como recomenda a prudência, repito que ainda faltam dez dias para a eleição e o quadro ainda pode mudar, uma vez que pesquisa não é urna e só esta dá os números reais de cada candidato. E, quem sabe, o esforço de Geddel e de sua equipe possa, ainda, dar algum resultado positivo? Aliás, se isto acontecer, será um caso ainda mais interessante para estudo dos especialistas.
Fonte: A Tarde