Carlos Chagas
Ao antecipar para 6 de fevereiro a convenção que reelegerá Michel Temer seu presidente, o PMDB embutiu contundente recado ao presidente Lula. Caso o atual presidente da Câmara termine garfado na pretensão de tornar-se companheiro de chapa de Dilma Rousseff, o partido passará a estimular a candidatura do governador Roberto Requião ao palácio do Planalto.
Trata-se de uma questão de orgulho ferido, para o parlamentar paulista e para a cúpula do PMDB. Afinal, o nome dele concentra a maior tendência na direção e nas bancadas no Congresso. Pensavam tratar-se de uma questão da competência interna, exclusiva do partido. Surpreenderam-se quando o presidente Lula atravessou o samba, falando no desejo de receber uma lista tríplice para o preenchimento da candidatura, ao mesmo tempo estimulando outras opções, como Helio Costa, Edison Lobão e Sérgio Cabral.
Além de um obvio complexo napoleônico, o primeiro-companheiro terá tido seus motivos para agir assim. Percebeu que Michel Temer, como candidato a vice de Dilma Rousseff, pouco acrescenta em termos eleitorais. Em especial em São Paulo, onde não ocupa propriamente uma liderança popular. A candidatura dele não compensará a vantagem eleitoral com que José Serra deverá partir de seu estado. Já Helio Costa mobilizaria Minas para enfrentar a influência de Aécio Neves, assim como Edison Lobão sedimentaria o Nordeste e Sérgio Cabral, o Rio. O problema é que nenhum dos três mostra-se empolgado pela aventura. Costa e Cabral tem seus próprios planos para os governos de seus estados. No caso do ministro das Minas e Energia, a reeleição para o Senado.
Poucas vezes as relações entre o PMDB e o governo balançaram tanto como agora. O partido sabe da importância que terá, nacionalmente, para a vitória ou a derrota de Dilma e mostra-se disposto a engrossar. Michel Temer reconduzido à sua presidência equivalerá tanto a um recado quanto a uma ameaça. E Requião poderia embolar o meio campo.
Tucanos com orelhas de burro
A natureza dotou os tucanos de bicos desproporcionais ao corpo, mas parece que o PSDB tenta implantar imensas orelhas de burro nas penosas. Ingressar na Justiça para condenar o presidente Lula por propaganda eleitoral antecipada equivale a abrir mais um palco para o primeiro-companheiro e sua candidata. Não haverá juiz ou ministro em condições de proibir o presidente da República e a chefe da casa Civil de percorrerem o país, inaugurando e fiscalizando obras públicas. Só a partir de julho, se formalizada sua candidatura, Dilma ficará impedida de comparecer a inaugurações. O Lula, nunca.
Abre-se agora a oportunidade para o governo demonstrar o óbvio junto aos tribunais. A Advocacia Geral da União deveria exigir que os tucanos venham a arcar com as custas do processo.
Bronca particular
Na reunião ministerial de ontem, na Granja do Torto, o presidente Lula passou uma reprimenda genérica nos presentes, mas com endereço certo para alguns. Repetiu que abomina os ministros que levam a público suas divergências e, mesmo, fazem críticas ostensivas à política oficial. Acha naturais confrontos de idéias e de objetivos. Muitas vezes os projetos envolvem dois ou mais ministérios, cada um com sua parcela de razão. O importante é que resolvam tudo no âmbito do governo, sem alarde na imprensa. E quando parecer impossível que se entendam, tragam a ele as questões.
Certas orelhas ficaram mais vermelhas do que outras, mas o ministério engoliu calado a repreensão. Ninguém quer sair prejudicado neste último ano de mandato do presidente. Nem os ministros que vão sair até 31 de março, nem os que imaginam continuar.
Até que enfim
Promissora informação para a reabertura dos trabalhos do Congresso, a 2 de fevereiro: por iniciativa do deputado Aldo Rebelo, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara ouvirá de lideranças indígenas veementes denúncias contra a ação de ONGs estrangeiras que se intrometem na Amazônia. Financiadas por governos e por multinacionais, essas organizações agem para dividir as diversas tribos espalhadas na região. Buscam solapar a soberania nacional na Amazônia e tem petulância, até mesmo, de confrontar as forças armadas brasileiras ao longo de nossas fronteiras. Se partem os protestos dos próprios índios que as ONGs dizem defender, eis aí um bom começo para se botar ordem na bagunça.
Fonte: Tribuna da Imprensa