Carlos Chagas
Certas coisas, só no Brasil. Quarta-feira foi comemorado o Dia Nacional Contra a Corrupção, com direito à presença e a discurso do presidente Lula. Mais importante do que saber que o governo federal cruza os braços diante da avalancha de lambanças praticadas por mil agentes do poder público, é perguntar o porquê dessa omissão.
Com todo o respeito, a resposta surge simples: porque o medo é de desmoronar todo o arcabouço institucional do país. A corrupção vai dos governos estaduais, como o de Brasília, ao Congresso, premido pelo mensalão de punições inconclusas, e até à imensa maioria das empresas privadas. Tornou-se municipal, também, com o envolvimento da maior parte dos prefeitos. Toda prestação de serviço público envolve comissões e propinas que passaram a ser oferecidas, em vez de exigidas.
Não haverá que esquecer montes de igrejas evangélicas surripiando incautos, nem clubes de futebol escamoteando receitas, quanto mais associações corporativas explorando seus integrantes. Para cada lado que se olhe saltam a impunidade e a desfaçatez dela decorrente.
Para o cidadão comum que paga seus impostos torna-se cada vez mais tentador ingressar nessa procissão de horror, dentro da máxima utilizada por Stanislaw Ponte Preta, décadas atrás: ou se restaure a moralidade no país ou locupletemo-nos todos.
Alguém precisa dar o exemplo da contramarcha. Fracassaram os símbolos do passado, da vassoura de Jânio Quadros à espada do marechal Lott, das caçadas a marajás, de Fernando Collor, à estrela dos companheiros. O exemplo vem de cima e chega às camadas mais humildes da população: um veículo levado à oficina é reparado num detalhe mas engatilhado no outro, para o proprietário voltar. Um pintor de parede mistura tinta com água para repetir o serviço bem antes da garantia. Produtos variados com embalagem de um quilo pesam novecentas gramas.
Parece tolice imaginar que um dia tudo vai explodir e que o povo fará justiça pelas próprias mãos. Ao contrário, nos teremos transformado na República da Corrupção Institucionalizada.
Acendeu a luz amarela
Apesar das obras que se arrastam no palácio do Planalto, não foi retirado o semáforo postado na avenida bem defronte. E a luz amarela acendeu. Na recente pesquisa do Ibope-CNI, Dilma Rousseff manteve-se no patamar de 17% de preferências populares, mas cresceu em rejeição: 41% dos consultados não votariam na candidata.
Fazer o quê, para o presidente Lula? Claro que continuar batalhando, na esperança de que sua altíssima popularidade, de 83%, possa reverter os números desfavoráveis à chefe da Casa Civil. O problema é a existência de prazos. Se chegarmos a março sem que Dilma decole e encoste nos percentuais de José Serra, começarão as defecções e as reclamações. Estas, por parte do PT, que lembrará ao presidente Lula não ter havido participação dos companheiros na escolha. Aquelas, porque o PMDB, por exemplo, é o mais pragmático dos partidos. Já esteve com José Serra, em 2002, tendo até indicado Rita Camata como candidata á vice-presidência. Por isso e outras razões, o atual companheiro de chapa de Dilma não foi sacramentado. Talvez nem seja, menos pelas dificuldades surgidas dianta de Michel Temer, mais porque o PMDB não entra em bola dividida. Ciro Gomes, meio na encolha, poderá ganhar oxigênio, abrindo-se uma outra hipótese, por enquanto remota: de o presidente Lula apoiar a candidatura de Roberto Requião, apesar dos prováveis naturais protestos do PT. Em suma, para quem for dirigir, é bom prestar atenção no semáforo…
A culpa de todos
O dilúvio que assola São Paulo está levando alguns açodados a jogar toda a culpa no prefeito Gilberto Kassab e, de tabela, no governador José Serra. Seria bom um pouco de bom senso. Os dois tem sua parcela de responsabilidade, mas há quanto tempo os governantes tem descuidado de adotar medidas drásticas, desde o assoreamento permanente dos rios que cortam a capital até uma política ordenada de desenvolvimento urbano?
De Ademar de Barros a Abreu Sodré, Laudo Natel, Paulo Egidio, Paulo Maluf, Franco Montoro, Orestes Quércia, Fleury Filho, Mário Covas, Geraldo Alckmin – todos podem ser citados como tendo feito no máximo o trivial, no governo do estado. Dos prefeitos, nem se fala.
O resultado aí está: uma cidade afogada e sem perspectivas. Sem esquecer do egoísmo das classes produtoras, que do alto da Avenida Paulista encontram-se prisioneiras de sua própria ambição.
Agricultura versus ambientalismo
No Paraná, responsável pela produção de quase 30% de grãos que o país exporta, a maior preocupação é conciliar a agricultura com o ambientalismo. O governador Roberto Requião, agora, e o vice-governador Orlando Pessuti, a partir de abril, pisam em ovos depois que Carlos Minc assumiu o ministério do Meio Ambiente. Porque ao contrário da ex-ministra Marina Silva, ele agride os produtores paranaenses com críticas e exigências descabidas, obrigando o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, a reagir com vigor. Transformar o Paraná num imenso jardim botânico poderá atender às concepções de Minc, mas trará inequívoco prejuízo à produção agrícola. O presidente Lula está sendo continuadamente alertado, mas prefere aguardar o prazo de desincombatibilização de seu polêmico ministro, candidato declarado a deputado federal ano que vem.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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