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sábado, julho 09, 2022

O Senhor dos Anéis tinha um cabaré camuflado em Aracaju


Por Adiberto de Souza *

Pra começo de conversa, o Senhor dos Anéis desse texto não tem nada a ver com o personagem do livro de fantasia escrito pelo britânico J. R. R. Tolkien. O nosso anti-herói nasceu no município sergipano de Maruim e foi batizado Horácio Nelson Bittencourt. Por este nome, contudo, quem privou de sua intimidade não o identificaria, pois, desde jovem, ele foi apelidado de Nelson de Rubina, referência à sua mãe e pioneira da hotelaria em Sergipe, Maria Rubina dos Santos. Em 1919, essa laranjeirense instalou um hotel na praça Fausto Cardoso, esquina com a rua Pacatuba, no centro de Aracaju, onde posteriormente foi construído o prédio do Tribunal de Justiça.

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Conhecemos Nelson em meados da década de 70, quando fomos trabalhar no Hotel Norte-Sul, inicialmente na recepção e depois gerenciando os dois prédios, um de cada lado da rua Geru, entre as ruas Santo Amaro e Itabaianinha, Centro da capital. Vizinho ao Norte-Sul da esquerda, em direção à Rua da Frente, morava Nelson de Rubina, já setentão, mas administrando uma pensão para mulheres. Era, na verdade, um cabaré camuflado, onde também funcionava uma concorrida furna de jogos. Foi naquela mesa de carteado que conhecemos Maurício Guedes, o famoso pistoleiro Chapéu de Couro: nos tratávamos por “Oscar” e alimentamos a amizade por anos a fio.

O Senhor dos Anéis sergipano ganhou essa alcunha da historiadora Maria Luíza Pérola Dantas Barros, na monografia escrita por ela na Universidade Federal de Sergipe, em 2015. Nesse trabalho científico, a pesquisadora se reporta a um Nelson de 39 anos de idade, entre 1942 e 1943. Segundo o estudo, neste período, ele e três mulheres alugaram um carro de praça para levá-los à distante “Barra de São Cristóvão”, visando procurar pelo cadáver de um conhecido, passageiro do Navio Baependy, torpedeado pelo submarino alemão U-507. Uma tragédia da 2ª Guerra Mundial, na costa sergipana.

Três anéis e uma condenação

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“Não encontraram o corpo, porém a viagem para Rubina não seria em vão”, escreve a historiadora. Ao retornar da cadavérica expedição, Nelson levava consigo três anéis retirados dos restos mortais de uma das 270 vítimas do torpedeamento, identificada como Virginia Auto de Andrade, esposa do então procurador do Tribunal de Segurança Nacional, Gilberto de Andrade, “algo que, sem dúvida, acabou por agravar a situação de Rubina perante as autoridades da época”, revela Maria Luíza Pérola em sua monografia. As joias em questão eram um solitário de brilhante, de aproximadamente dois quilates e aro platino, um outro anel de ouro com uma garra de prata, além de uma aliança.

Denunciado após ter vendido os anéis, um deles em Maceió por “10 mil cruzeiros, a um senhor Brandão”, Nelson foi acusado pelo Ministério Público de Sergipe, com base nos os artigos 155 e 212 do Código Penal, referentes a furto e vilipêndio, respectivamente. Em 1943, o condenado apela da acusação e é absolvido. Não cumpriu um dia sequer de cadeia. É interessante destacar que, para as autoridades sergipanas, esse caso foi isolado. Em sua pesquisa, a historiadora conta que “o chefe de Polícia de Aracaju, Enoch Santiago, dizia, de forma estereotipada, que o sergipano era ‘pacato, correto e solidário’ e que algo um tanto inusitado aconteceu”, como se o episódio do nosso anti-herói tivesse sido uma exceção.

No estudo “O fim do mundo começou no mar: os ataques do Submarino U-507 ao litoral sergipano em 1942”, os também historiadores Dilton Cândido Santos Maynard e Raquel Anne Lima de Assis escrevem que as coisas não ocorriam como propagava o chefe de polícia da capital. Segundo os dois estudiosos, o colar, a aliança, a pulseira ou o fardamento não serviram apenas para identificação dos corpos mutilados pelo ataque do submarino, naquela fatídica noite do dia 15 de agosto de 1942.

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Dilton Cândido e Raquel Lima escrevem que “o saque aos mortos, embora combatido e criticado, ocorreu com uma frequência distinta daquela mencionada nos registros oficiais. Por exemplo, as joias de Eduardo Alexandre Bauman, um segundo tenente convocado, foram ‘apreendidas em mãos de um indivíduo na Barra de São Cristóvão’. Após saquearem o corpo do rapaz de 27 anos, populares enterraram-no em 17 de agosto de 1942. Quando encontrado pelas autoridades, o cadáver apresentava esmagamento parcial de partes moles – dos dedos anular e médio da mão direita e uma contusão da região frontal”. Conta-se que, para furtar relógios, anéis e alianças, os saqueadores esmagavam – às vezes decepavam – braços, mãos e dedos dos corpos inchados que chegavam às praias.

Voltemos à rua Geru da década de 70:

A historiadora Maria Luíza Pérola Dantas Barros tem razão quando escreve em sua monografia que o nosso anti-herói possuía muita “habilidade em articular palavras e fatos em seu favor. Nelson não poupa argumentos na construção de sua imagem”, atesta a pesquisadora.

Morando na rua Geru desde que a mãe morreu e o Hotel de Rubina fechou, ele vivia do aluguel de quartos a prostitutas, homossexuais e quem mais se interessasse pelos aposentos, tal qual nosso amigo “Chapéu de Couro”, um alagoano que deu com os costados em Sergipe pelas mãos do irmão mais velho e também pistoleiro Floro Guedes, acusado de ter assassinado políticos no interior de Sergipe. As prostitutas podiam levar os clientes para os quartos e geralmente levavam, mas o trabalho delas era nos cabarés do centro e da periferia de Aracaju.

De conversa mansa e bem articulada, Nelson era um senhor branco, olhos azulados, de altura mediana, calvo e de fisionomia sempre tranquila. Tinha fama de ter sido um grande pé de valsa na juventude. Quando a conversa descambava para trabalho, ele costumava abrir as mãos grandes, de pele macia e dizer: “Essas duas aqui nunca souberam o que é calo.” À época que nos conhecemos, Rubina estava com cerca de 70 anos, mas gostava de mulheres novas e bonitas. Fazia questão de apresentá-las como “o meu novo amor”. Jogador de baralho inveterado, usava a “esposa” do momento para extorquir os desavisados que baixavam na pensão à procura dos prazeres da carne.

Calça no prego

A tática dele era a seguinte: seu “novo amor” convidava o incauto para o quarto do casal, pedindo discrição para não chamar a atenção do “esposo”, que, àquela altura, estava entretido apostando no carteado. Tão logo o infeliz se despia para iniciar o vamos ver, Nelson começava a bater à porta, solicitando um dinheiro que teria deixado no bolso de uma calça pendurada no prego da parede. Para que o “marido traído” não entrasse nos aposentos, como ele ameaçava fazer, o miserável entregava à mulher o valor solicitado. Rubina batia à porta a cada cinco minutos, até depenar a vítima.

Sem direito aos prazeres do sexo por falta de clima e já totalmente descapitalizado, o coitado saia do quarto de fininho, rezando para não ser visto pela cara-metade da bela infiel. Desconsolado, nunca mais voltava ao camuflado cabaré da rua Geru. Uma sacanagem!

Generoso com os amigos e suas mulheres, Nelson costumava servir saborosas feijoadas nos domingos à tarde, numa mesa posta no longo quintal. Mesmo após ter deixado o trabalho no Hotel Norte-Sul, ainda frequentamos por algum tempo a Pensão das Mulheres para jogar conversa fora com o velho amigo, rir do famoso “quarto do casal” com um prego na parede, lembrar de “Chapéu de Couro” treinando tiro ao alvo em garrafas vazias de cerveja e, claro, filar a saborosa feijoada sergipana, feita no capricho por Florentino ou simplesmente “Flor”, um homossexual risonho e de meia idade, que pilotou o fogão da casa por todo o sempre. Não sabemos como e quando morreu o Senhor dos Anéis. Deus o tenha!

É editor do Portal Destaquenotícias

Bolsonaro cita 'agressões' a militares: 'Temos que nos preparar'




O presidente Jair Bolsonaro ainda relatou ter um 'ritual' matutino diário de rezar para que o Brasil 'não sinta as dores do comunismo'

Por Ingrid Soares

"Nós, militares, todos, vocês, jovens cadetes, que receberam o espadim agora há pouco, nós todos fizemos um juramento: dar a vida pela nossa pátria, se preciso for. E esse 'dar a vida' não é com possíveis agressões de fora, em especial por agressões internas. Temos esse compromisso, temos que nos preparar dia a dia para essa possibilidade. Vivemos em paz, temos um país democrático e seu povo ama e respira a liberdade. A nossa vida pode ser decisiva para vocês, jovens, para as crianças, nossos filhos e netos possam continuar vivendo nesse território brasileiro", disse sem citar nomes ou detalhar a que se referia.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou nesta sexta-feira (8/7) da solenidade militar de entrega de espadins aos cadetes da Força Aérea Brasileira (FAB), em Pirassununga (SP). Em discurso, o chefe do Executivo cobrou preparação dos militares para o que caracterizou de "agressões internas".

"Nós, militares, todos, vocês, jovens cadetes, que receberam o espadim agora há pouco, nós todos fizemos um juramento: dar a vida pela nossa pátria, se preciso for. E esse 'dar a vida' não é com possíveis agressões de fora, em especial por agressões internas. Temos esse compromisso, temos que nos preparar dia a dia para essa possibilidade. Vivemos em paz, temos um país democrático e seu povo ama e respira a liberdade. A nossa vida pode ser decisiva para vocês, jovens, para as crianças, nossos filhos e netos possam continuar vivendo nesse território brasileiro", disse sem citar nomes ou detalhar a que se referia.

Bolsonaro relatou ainda "cobiça" por parte de outros países. E indiretamente se referiu às eleições de outubro e a seu opositor político, Lula falando em "traição". "O que temos aqui, poucos têm e isso passa a ser cobiçado por muita gente de fora do nosso país. O que nós não podemos admitir é que a traição venha de gente de dentro do país para comungar com essas teses, buscando, ao tirar a nossa liberdade, entregar as nossas riquezas e a nossa gente a outra ideologia", bradou.

"As cores da nossa pátria são a verde e a amarela que representam a esperança, o progresso, a democracia e a liberdade. Tem gente incomodada com isso. Por vezes, eu olho no espelho e me pergunto: como cheguei até aqui? Qual é a missão que Deus me deu?”, questionou.

Em seguida, o chefe do Executivo relatou ter um "ritual" matutino diário de rezar para que o Brasil "não sinta as dores do comunismo." Bolsonaro também disse contar com "pessoas de bem, civis e militares" para zelar pela liberdade.

"Eu tenho um ritual desde quando assumi a presidência: levantar, dobrar os joelhos, me concentrar e pedir a Deus que nós não venhamos a sentir as dores do comunismo. Para isso eu peço mais do que sabedoria. Eu peço também força para resistir e coragem para decidir. Mas nós não podemos fazer nada sozinhos. Por isso, conto com muitas pessoas de bem, civis e militares para que possamos cada vez mais dizer a vocês: assim como o oxigênio é essencial para as nossas vidas, a liberdade é essencial."

Bolsonaro repetiu cobiça no país e apontou que “alguns vendilhões se associam a outros de fora para nos escravizar”. Por fim, alegou ser um presidente que "acredita em Deus, que respeita os seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo".

E, nas entrelinhas, pediu mais um voto de confiança nas urnas, citando que "até o último dia da minha vida ou do meu mandato, farei com que a nossa Constituição seja de fato cumprida. Estou aqui porque fui voluntário, porque entendo ser essa uma missão dEle, materializada pelas mãos de muitos de vocês. E até o último dia da minha vida ou do meu mandato, eu farei com que a nossa Constituição seja de fato cumprida. Nos preparemos, analisemos o que vem acontecendo na nossa pátria. Não somos um país de samba e carnaval nos momentos felizes. Somos um grande país, uma grande nação."

As falas foram transmitidas por meio das redes sociais do presidente, já que a TV Brasil, canal que faz a cobertura oficial, tem limitações de transmissão por conta do período eleitoral.

Correio Braziliense / Estado de Minas

Tempo de águas turvas




Já se difundiu na sociedade inteira a pergunta “haverá golpe?” ou, para os conformistas, “vai ter golpe”

Por José de Souza Martins* (foto)

Desde a posse do presidente da República, ele próprio e membros de seu governo, com alguma frequência, agitam as águas da política brasileira para turvá-las e nelas pescar de modo politicamente impróprio.

Por trás desses procedimentos está uma compreensão do processo político que não é deles, nem têm eles demonstrado ter o discernimento que lhes permita saber o que estão fazendo. Embora gostem do que fazem. Sabem de uma coisa: foram eficazes as manipulações extraeleitorais das eleições de 2018, a falsa defesa dos costumes, o falso fortalecimento da segurança. Candidatos evangélicos e candidatos fardados foram beneficiados por essas máscaras ideológicas.

Tudo foi e tem sido instrumento de uma cultura de suspeição que torna fácil, na campanha eleitoral, manipular consciências e colocar entre parênteses a consciência crítica e democrática do eleitor para induzi-lo a votar em quem normalmente não votaria. Desde a ruinzinha cinematografia americana da Guerra Fria, o mundo por ela influenciado tem sido induzido a temer fantasmas ideológicos para eleger quem supostamente os combate.

Em dias passados, a colunista Malu Gaspar divulgou no jornal “O Globo” que o general Braga Netto, candidato provável a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro, em encontro com empresários da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro, teria dito que não haverá eleição se não for feita a auditoria dos votos defendida pelo mandatário da República. Foi ouvido em silêncio. A assessoria de imprensa do general esclareceu que não houve ameaça e que a fala foi tirada de contexto.

No entanto, afirmações como essa, de ameaças às instituições e ao processo democrático, têm sido feitas, logo cercadas de interpretações e correções que desdizem o já dito. Desmentidos não têm o poder de desfazer os efeitos subjetivos da mensagem já enviada. Eles apenas criam incerteza quanto à afirmação original e primária do disseminador de uma afirmação perturbadora.

A fala de campanha do general não está isolada. Repete Bolsonaro de meses atrás. Portanto, a frágil incerteza do desmentido de agora alenta a desconfiança de que está em andamento um processo de gestação da dúvida quanto à eleição.

O que tem sido interpretado de que estamos em face de preparação de um golpe de Estado e que o golpe tem o aval das Forças Armadas. Sabemos que institucionalmente isso não pode ocorrer. E sabemos que autores de golpe são candidatos a processo e prisão.

Esse tipo de conduta destina-se a naturalizar a possibilidade do golpe. Já se difundiu na sociedade inteira a pergunta “haverá golpe?” ou, para os conformistas, “vai ter golpe”.

De certo modo, está se preparando um substrato de consciência política e eleitoral destinado a frustrar os eleitores se não houver golpe. Ou seja, trata-se de uma técnica de manipulação da opinião eleitoral de modo a envenenar a legitimidade do processo político no caso, nesta altura muito provável, de que um candidato de oposição vença a eleição.

Um filho do presidente, na esteira desse jogo, declarou que não sabe como os eleitores de Bolsonaro reagirão no caso dele não vencer as eleições. Nos países normais, as pessoas normais sabem o que acontece com os que perdem eleição: vão para casa ou, quem não está acostumado a trabalhar, vai procurar emprego.

Diferentemente do que ocorreu em todas as eleições anteriores à de 2018, o bolsonarismo empenha-se em criar a anomalia política de que aquela eleição não foi para confirmar a natureza democrática do processo eleitoral, com a alternação doutrinária e ideológica dos governantes, mas para pôr-lhe fim. O eleitorado teria votado no sentido de instituir uma ditadura. O que não é estranho.

A vocação totalitária de uma parte do eleitorado brasileiro é antiga. Foi difundida nas revoltas tenentistas. Num documento dos militares revoltosos de 1924, em São Paulo, há um programa de reproclamação da República após o governo de Floriano Peixoto, usurpada e aparelhada pelas oligarquias dos “coronéis” de roça. Basicamente uma ditadura para educar os brasileiros à conduta própria de um regime político antirrepublicano, nascido nos quartéis.

A realidade mostrou que isso era impossível. A ditadura de 1964 teve que conciliar com as oligarquias, especialmente suas facções de bajuladores, os que trocam favor por voto, por verbas de orçamento secreto, como se viu agora, o país reduzido a uma republiqueta na pressuposição de que democracia é a do bando de eleitores com mentalidade carneiril. Costa e Silva, ministro da Guerra do governo de Castelo Branco, chegou a dizer na TV que não conseguia entender os civis. No quartel, ele dava uma ordem, e a ordem era cumprida. No governo, não.

*José de Souza Martins foi professor titular de sociologia na Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "Sociologia do desconhecimento Ensaios sobre a incerteza do instante" (Editora Unesp, 2021).

Valor Econômico

Gabinete paralelo’: Lindôra quer arquivar pedidos para investigar Bolsonaro


Lindôra Araujo e Augusto Aras


A vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo, defendeu ao Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira, 8, o arquivamento de três pedidos de investigação contra o presidente Jair Bolsonaro no caso do 'gabinete paralelo' instalado no Ministério da Educação, durante a gestão Milton Ribeiro, com favorecimento de pastores na novas petições sobre o mesmo assunto, considerando que o caso distribuição de verbas - caso revelado pelo Estadão.

As petições tratam do suposto vazamento de informações da Operação Acesso Pago - fase ostensiva da investigação que prendeu Milton Ribeiro e pastores com livre trânsito no Planalto - por parte do chefe do Executivo. As suspeitas sobre a violação de sigilo da ofensiva foram levantadas após Milton Ribeiro relatar, em conversa interceptada pela Polícia Federal, que o presidente teve u 'pressentimento' de que o aliado seria alvo de busca e apreensão.

Lindôra não analisou o mérito dos pedidos, ou seja, as condutas atribuídas ao chefe do Executivo. A vice-PGR apenas defendeu que não sejam instauradas novas petições sobre o caso, argumentando que o mesmo será enfrentado no bojo do inquérito que acabou voltando à corte máxima.

"Considerando que os fatos ora representados já estão, em tese, abrangidos por inquérito policial que foi declinado ao Supremo Tribunal Federal por suposto envolvimento de pessoa com prerrogativa de foro, não se justifica, a princípio, deflagrar mais um procedimento investigativo com idêntico escopo, sob pena de se incorrer em litispendência e violação ao princípio do "ne bis in idem"", registrou a Lindôra.

A vice-PGR anotou ainda que, 'ao que tudo indica, os autos do referido inquérito ainda não aportaram no Supremo Tribunal Federal ou estão na pendência de remessa à Procuradoria-Geral da República'. Como mostrou o Estadão, após a investigação retornar à corte máxima, foi imposto sigilo aos autos. A ministra Cármen Lúcia já abriu vista do caso para a PGR.

Lindôra afirmou que somente por meio do devido acesso à investigação 'será possível o pleno conhecimento dos elementos de informação que foram colhidos após a deflagração de medidas cautelares e, por consequência, a devida apreciação pelo Ministério Público Federal e as providências a serem adotadas'.

"Portanto, a cognição ministerial deve ser formada a partir do exame dos elementos de informação já documentados no referido procedimento investigativo, sem necessidade de instauração de novas petições sobre a mesma situação", indicou.

As manifestações da vice-PGR, braço direito de Augusto Aras, foram protocoladas no STF nesta sexta, no âmbito de petições apresentadas à corte pelos senadores Paulo Roberto Galvão da Rocha (PT/PA), Humberto Sérgio Costa Lima (PT/PE), Fabiano Contarato (PT/ES), Jacques Wagner (PT/BA), Jean Paul Terra Prates (PT/RN), Paulo Renato Paim (PT/RS) e Zenaide Maia Calado Pereira dos Santos (PROS/RN); pelo deputado Reginaldo Lázaro de Oliveira Lopes (PT/MG); e pelo deputado Israel Matos Batista (PSB/DF).

Os três pedidos de investigação contra Bolsonaro foram encaminhadas ao gabinete da ministra Cármen Lúcia, que é relatora do inquérito sobre o 'gabinete paralelo' instalado no MEC. A investigação retornou ao Supremo após decisão do juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, que determinou a abertura, no dia 22 de junho, da Operação Acesso Pago.

O motivo da volta do caso ao Supremo foi o alerta da Procuradoria da República no DF sobre 'indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita' nas investigações por parte do chefe do Executivo. O MPF pediu que fossem enviadas à corte máxima as interceptações telefônicas realizadas no âmbito das investigações, para averiguação de possível ocorrência dos crimes de violação de sigilo funcional com dano à administração judiciária e favorecimento pessoal.

A gravação que levando suspeitas da Procuradoria foi a que registrou uma conversa entre Ribeiro e sua filha, na qual o ex-ministro da Educação diz que havia falado por telefone com o presidente e este havia mencionado um 'pressentimento' de que o aliado seria alvo de busca e apreensão. "Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa", afirmou.

Estadão / Dinheiro Rural

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Bolsonaro e Tarcísio se reúnem com apoiadores em pizzaria em SP

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pré-candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) se reuniram com apoiadores nesta sexta-feira, 8, em uma pizzaria do bairro do Paraíso, em São Paulo.

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, e a deputada federal Carla Zambelli (PL) também estão presentes. Cerca de 40 apoiadores estão no local.

Bolsonaro e sua comitiva deixaram a pizzaria pouco antes das 21h e desceram a rua a pé. Neste sábado, ele participa da Marcha para Jesus, evento de evangélicos que será realizado em São Paulo. À tarde, ele vai a outra marcha, na cidade de Uberlândia, em Minhas Gerais.

Estadão / Dinheiro Rural

O Último dos Tucanos




Tomara que, no futuro, possa haver uma convergência virtuosa de novos líderes e uma nova geração de políticos.

Por Simon Schwartzman* (foto)

José Serra entra para a história como o único senador que votou contra o estupro da Constituição e do teto orçamentário perpetrado pelo Congresso. É o último da geração de políticos tucanos que lutaram contra a ditadura militar, saíram do antigo MDB para criar o PSDB quando o partido foi dominado pela política corrupta de Orestes Quércia, conseguiram deter a inflação e reorganizar a economia do País, dando início às políticas sociais, e entregaram o governo de forma civilizada em 2002, quando Lula ganhou as eleições.

Espero que a “PEC Kamikaze” não seja suficiente para manter no poder o bando fascista de Bolsonaro, mas Lula não ajuda. Como os antigos reis Bourbons, ele nada esquece e nada aprende. Seu comentário sobre a PEC foi que, no seu governo, os orçamentos seriam aprovados com a “participação da sociedade”, como se quatro mandatos presidenciais não bastassem para saber que não é assim que orçamentos federais são aprovados e administrados. Sobre os preços dos combustíveis, Lula defendeu a reestatização da Petrobras, que seus governos levaram quase à falência. Antes, havia falado contra os políticos “sem alma” que só se preocupam com o teto de gastos e o equilíbrio orçamentário, e não com as necessidades do povo sofredor. Como se só ao “mercado” interessasse ter uma economia vigorosa e estável, capaz de criar empregos e pagar bons salários, e que os recursos públicos sejam destinados a investimentos e políticas sociais de qualidade, e não aos bolsos dos políticos e das corporações com mais capacidade de pressão.

Sobre os escândalos de corrupção no Ministério da Educação, só o que Lula fez foi balbuciar algo sobre o direito de defesa dos acusados, como que temendo o fim do “garantismo” judiciário que faz com que, no Brasil, todos os crimes de políticos sejam perdoados. E, machão, não se comoveu com os crimes de assédio sexual que derrubaram o presidente da Caixa Econômica Federal, dizendo que não era policial nem procurador.

Rejeitados pela maioria da população, os dois candidatos à Presidência entram num processo eleitoral que será turbulento e cujo ganhador herdará um país exausto e em frangalhos. Como explicar que não tivesse surgido um terceiro nome? Temos Simone Tebet tentando ocupar esse espaço, mas que começa enfraquecida pelo próprio processo em que sua candidatura se formou, por uma negociação interminável dos interesses locais dos velhos partidos. E temos Ciro Gomes, sozinho, golpeando à esquerda e à direita, incapaz de sair de sua bolha. Mesmo que uma dessas candidaturas consiga crescer – o que não é impossível, porque os eleitores decidem seu voto na última hora, como vimos recentemente na Colômbia –, o futuro presidente dificilmente terá condições de pôr fim à crise fiscal e à usurpação dos recursos públicos pelos congressistas do Centrão, que puxam o País para o fundo.

Por três vezes tentamos resolver este impasse elegendo um presidente “contra tudo o que está aí”, e os três casos – Jânio, Collor e Bolsonaro – resultaram em desastre. Os exemplos recentes de líderes populistas na região, como López Obrador, no México, e Petro Castillo, no Peru, sem falar de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, na Venezuela, mostram que o problema é mais geral.

Em seminário recente na Fundação Fernando Henrique Cardoso, o professor Steven Levitsky lembrou dos três pilares das democracias modernas, apesar de suas imperfeições: partidos políticos estruturados, uma imprensa prestigiada e capaz de formar a opinião pública e grupos de interesse fortes e diversos comprometidos com a estabilidade política. Hoje, esses pilares estão minados pelos “três Ps” mencionados em artigo recente de Moisés Naím: o populismo, a polarização, acentuada pelas políticas identitárias, e a pós-verdade das redes sociais.

Quatro anos atrás, com o derretimento do PT, a crise econômica se aprofundando e as manifestações de protesto crescendo, surgiram várias tentativas de organizar movimentos que buscavam substituir os políticos tradicionais por uma nova geração de líderes, mais bem formados e comprometidos com os temas da desigualdade social, do aperfeiçoamento do Estado, da moralidade pública e do desenvolvimento econômico e social. Mas foram tentativas pequenas e dispersas, que não conseguiram fazer muita diferença. Tomara que, no futuro, possa haver uma convergência virtuosa de novos líderes e uma nova geração de políticos, retomando as bandeiras dos velhos tucanos e trazendo para o País novas perspectivas.

Diziam, tempos atrás, que o Brasil crescia à noite, quando os políticos dormiam. Lembro-me de o velho Antônio Carlos Magalhães dizendo que, durante a noite e nos fins de semana, nos conchavos políticos no Palácio de Ondina, desfazia as boas medidas que tomava durante o dia como governador da Bahia. Em alguns momentos, de fato, os ventos da economia internacional, como os ciclos favoráveis das commodities, ajudaram a economia a andar, e não faltam exemplos de políticos virtuosos e iniciativas locais e regionais bem-sucedidas que mostram que nem tudo está perdido. Mas não será fácil.

*Sociólogo, é membro da Academia Brasileira de Ciências

O Estado de São Paulo
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Varíola dos macacos: entenda como ocorre a transmissão e os sintomas da doença




Os órgãos sanitários brasileiros confirmaram 36 novos casos de varíola dos macacos (monkeypox), de acordo com o último boletim do Ministério da Saúde desta quinta-feira,7. O total chega a 142 e a maioria (98) foi confirmada no Estado de São Paulo.

O aumento dos casos ocorre no mundo todo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou mais de 7 mil registros em 60 países desde o início do surto, em maio. A Europa é o epicentro, com cerca de 80% das notificações. Até agora, foi registrada apenas uma morte provocada pela doença. Em São Paulo, os casos também vêm se multiplicando. Na última terça-feira, 5, o Ministério da Saúde contabilizava 80 pacientes com a doença no País, dos quais 52 estavam em São Paulo.

Uma das principais preocupações entre todos os profissionais da saúde é a falta de informações sobre a doença e o período prolongado em que ela continua transmissível. A subnotificação também preocupa, considerando que o processo de coleta, envio e análise das amostras é lento e sem controle entre os diferentes níveis da administração pública.

Como a varíola dos macacos é transmitida

Apesar do nome, a doença viral não tem origem nos macacos, apenas foi identificada pela primeira vez nesses animais. A varíola dos macacos não se espalha facilmente entre as pessoas. Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a transmissão ocorre principalmente por contato direto ou indireto com sangue, fluidos corporais, lesões na pele ou mucosas de animais infectados.

A transmissão secundária (pessoa a pessoa) pode acontecer por contato próximo com secreções infectadas das vias respiratórias ou lesões na pele de um infectado, ou com objetos contaminados recentemente com fluidos do paciente ou materiais da lesão. A transmissão ocorre também por gotículas respiratórias.

Em São Paulo, médicos têm relatado aumento rápido sobretudo entre homens gays, bissexuais, mulheres transexuais e travestis. Esse padrão de contágio, entre homens que fazem sexo com outros homens, também foi observado em outros países, como a Espanha. Especialistas alertam, porém, que qualquer pessoa pode se infectar pelo vírus. A Secretaria de Estado da Saúde informou que o surto tem prevalência de transmissão de contato íntimo e sexual.

O padrão de infecção também foi reconhecido nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, onde as campanhas de vacinação contra a varíola dos macacos foram direcionadas especificamente para homens gays e bissexuais. No Reino Unido, 96% dos 1.235 casos confirmados até a última sexta-feira, 1º, eram em homens que se relacionam com homens, segundo a Agência de Segurança em Saúde.

Quais os tratamentos para a varíola dos macacos

Não há tratamento específico, mas os quadros clínicos costumam ser leves. Os pacientes vêm se recuperando em algumas semanas apenas com repouso, hidratação oral, medicações para diminuir o prurido e controle de sintomas como febre ou dor.

Existem medicamentos antivirais, como o tecovirimat e o cidofovir, que podem ser usados em pessoas sob risco de complicações, mas que não são facilmente disponíveis comercialmente. E, assim como na maioria das viroses agudas, o próprio sistema imunológico é capaz de eliminar o vírus.

O maior risco de agravamento ocorre, em geral, para pessoas imunossuprimidas com HIV/aids, leucemia, linfoma, metástase, transplantados, pessoas com doenças autoimunes, gestantes, lactantes e crianças com menos de 8 anos.

Como prevenir a varíola dos macacos

Para a prevenção, deve-se evitar o contato próximo com a pessoa doente até que todas as feridas tenham cicatrizado, assim como com qualquer material que tenha sido usado pelo infectado. Também é importante a higienização das mãos, lavando-as com água e sabão ou utilizando álcool gel.

Identificada pela primeira vez em macacos, a doença ocorre principalmente na África Ocidental e Central. Raramente se espalhou para outros lugares, então essa nova onda fora do continente causa preocupação. O primeiro caso europeu foi confirmado em 7 de maio em um indivíduo que retornou à Inglaterra da Nigéria, onde a varíola dos macacos é endêmica.

Existem duas cepas principais: a cepa do Congo, que é mais grave, com até 10% de mortalidade, e a cepa da África Ocidental, que tem uma taxa de mortalidade de cerca de 1%. A monkeypox coloca os virologistas em alerta porque está na família da varíola, embora cause quadros menos graves.

A varíola foi erradicada pela vacinação em 1980, e a vacina desde então foi descontinuada. Diante do aumento de casos em países onde ela não é endêmica, a OMS convocará uma nova reunião de seu comitê para definir como proceder com a questão e não descarta declarar a varíola dos macacos como emergência de saúde global, mesmo status da covid-19.

Estadão / Dinheiro Rural

O país kamikaze

 




O piloto na 2.ª Guerra Mundial morria só; nossos kamizazes buscam a própria salvação colocando o Brasil em risco.

Por Fernando Gabeira (foto)

A chamada PEC Kamikaze, que pode aumentar os gastos públicos em até R$ 50 bilhões, mostra que a elite brasileira não se importa com o que acontecerá com o seu país, desde que se mantenha no poder. Num só movimento, a proposta atropela o equilíbrio fiscal, a Constituição e a legislação que rege as eleições.

O desequilíbrio fiscal foi o argumento usado pelo senador José Serra para apresentar o único voto contra a emenda. Ele lembrou que o Senado descobriu só agora que há milhões de famintos no Brasil. De fato, se houvesse sensibilidade, o tema do combate à fome teria sido desenvolvido há muito tempo, sem grandes transtornos ao equilíbrio fiscal. De repente, nas vésperas das eleições, há um estalo que coincide, de um lado, com a péssima situação de Bolsonaro nas pesquisas e, também, com o medo da oposição de se colocar contra um projeto tão ostensivamente demagógico.

O argumento de que há uma alta no preço do petróleo e de que isso justifica uma decretação de estado de emergência é ridículo. Talvez no Equador, onde houve manifestações nacionais contra o aumento da gasolina, isso tivesse algum sentido. Ainda assim, não seria a resposta adequada.

O atropelo da legislação eleitoral é dos fatos mais graves desde a redemocratização. Houve compra de votos no passado republicano, mas precisamente por causa disso se formularam leis para superar essa questão. A decretação do estado de emergência é feita para driblar a legislação e abertamente comprar votos com dinheiro público.

Quando existem no País 33 milhões de pessoas passando fome e mais de 100 milhões em insegurança alimentar, existe, sim, um diagnóstico de emergência. Mas um tipo de emergência que obriga o governo a fazer planos de combate à fome, reavaliar seus gastos. Porém, antes mesmo de pensar nisso, o governo aceita um orçamento secreto na Câmara, destinado a lhe garantir apoio e assegurar aos deputados os gastos em seus redutos eleitorais.

O avanço do fisiologismo se prolonga no futuro, pois, agora, deputados querem que as emendas de relator, base do orçamento secreto, sejam impositivas.

Essa singularidade do sistema político brasileiro favorece a eleição dos parlamentares que já estão aí. Considerando que o interesse pela eleição de congressistas é menor e que apenas alguns novos conseguem romper a barreira, é possível prever que o Congresso brasileiro não será qualitativamente melhor nos próximos quatro anos. Independentemente do desfecho das eleições presidenciais, portanto, as perspectivas são sombrias.

Não se espera de uma elite política que nos prometa, como no passado, amanhãs luminosos. No entanto, quando ela é comprometida apenas com se manter no poder, cria-se uma situação similar a quando os punks definiam sua época como no future.

Isso não significa que tudo esteja perdido. Ainda há a possibilidade de mobilizar os eleitores para que escolham bem seus candidatos. Mesmo que surja uma modesta minoria de parlamentares comprometidos com o País, ela pode muito, se souber se articular com a opinião pública, sobretudo quando as redes sociais têm tanto peso.

As pesquisas nas eleições anteriores não são animadoras: em Estados como o Rio de Janeiro, cerca de 70% dos eleitores esqueciam em quem votaram para a Câmara.

Não creio apenas que a relação eleitor-candidato defina nosso futuro. Há, também, o curso da realidade, a crescente complexidade dos problemas. Não será possível, adiante, tratar de forma tão ligeira problemas como a fome e a insegurança alimentar. Da mesma maneira, não será possível prosseguir subsidiando a gasolina, como se ela fosse o eterno combustível. Em outras palavras, a gravidade crescente dos problemas dará ao encontro da minoria parlamentar com a opinião pública um alento para propor saídas e, em certos momentos, evitar catástrofes.

Nem todos os que votaram agora na PEC Kamikaze vão repetir incessantemente esse comportamento. Eles se viram duplamente chantageados. Não querem parecer indiferentes à crise econômica e muito menos arriscar-se num momento eleitoral. Mas esse tipo de chantagem que usa os vulneráveis como escudo – aliás, largamente usado por grupos armados de traficantes ou terroristas na guerra assimétrica – precisa ser diagnosticado a tempo e desmontado por meio de campanhas.

A oposição marchou de olhos fechados para o cadafalso e acabou, contra sua vontade, dando a Bolsonaro uma chance espúria de chegar ao segundo turno. Não é garantido que haja tempo para que a medida tenha o efeito eleitoral desejado; não é certo que todos a associem a Bolsonaro. Mas a inclusão de um dispositivo que proíbe a propaganda pela campanha do presidente é bastante limitada. As emissoras de rádio já divulgam a medida, o próprio Bolsonaro a transformou no seu principal discurso e o governo voltou amplamente a ocupar espaço na TV, depois de tantos insultos à mídia.

Muito possivelmente, este tema já estará superado por outra barbaridade nos próximos dias. Mas foi uma grande lição sobre como somos governados, como se usa dinheiro público à vontade e como se driblam as leis no País.

O piloto kamikaze na 2.ª Guerra morria só; nossos kamizazes buscam a própria salvação colocando o Brasil em risco.

O Estado de São Paulo

País decente não tem fome - Editorial




ONU recoloca Brasil no vergonhoso ‘mapa da fome’, do qual só sairemos quando a sociedade considerar inaceitáveis a obscena desigualdade social e o desenvolvimento econômico medíocre

O Brasil voltou de vez ao mapa da fome e nada indica que se livrará dessa vergonhosa marca tão cedo. Dados do relatório O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2022, divulgado por cinco agências da Organização das Nações Unidas (ONU), apontam que 15,4 milhões de pessoas estavam sob insegurança alimentar grave no País entre 2019 e 2021, um contingente que representa hoje 7,3% de toda a população – são 3,9 milhões a mais do que o contingente observado entre 2014 e 2016, época em que o índice não chegava a 2%. Números que muitas vezes parecem frios ganham outra dimensão quando traduzidos em exemplos mais claros: 15,4 milhões de brasileiros não sabem se comerão um prato de comida ao longo do dia de hoje.

A essas pessoas, o presidente Jair Bolsonaro nunca ofereceu nada, nem mesmo uma palavra de solidariedade. Sem qualquer planejamento nem foco nos mais necessitados, o governo distribuiu benefícios de forma indiscriminada a todos que conseguissem passar pelos parcos e confusos controles de acesso do Auxílio Emergencial. Agora, observando que seus índices de aprovação atingiram o pico na vigência do programa, o Executivo dobrou a aposta no Auxílio Brasil, repleto de falhas graves apontadas por todos os especialistas em políticas sociais. Principal adversário de Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem falado em retomar o Bolsa Família, que, embora seja melhor que seu malfadado sucessor, tampouco foi capaz de solucionar a miséria nacional.

Essa tragédia não é fruto do acaso, mas de escolhas feitas por um País que sempre virou as costas para os mais necessitados. É verdade que Bolsonaro destruiu as bases do Cadastro Único para Programas Sociais, um consistente banco de dados de mais de 20 anos de história; que extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), cujo papel nas políticas de combate à fome ao longo dos últimos anos foi fundamental; que praticamente zerou as verbas do programa de aquisição de alimentos Alimenta Brasil, que priorizava regiões com maior índice de pobreza. Também é inegável que o aumento na quantidade de famintos não é exclusividade brasileira. A pandemia, a guerra na Ucrânia e os preços de alimentos e combustíveis agravaram a pobreza em diversos países do mundo. Mas também é fato que a incompetência nacional para resolver gargalos históricos não vem de hoje e atravessa administrações de diferentes matizes políticas. Não se trata de diminuir a incontestável contribuição do governo Bolsonaro em levar o Brasil à ruína, mas de chamar a sociedade a assumir a responsabilidade pela solução de questões que têm raízes na nossa história.

Se a fome havia deixado de ser um problema crônico no passado recente, a desigualdade social era e continua sendo uma marca obscena do País – inabalável mesmo quando o PIB cresce de maneira mais vigorosa. A desigualdade sempre foi vista como uma característica inerente ao Brasil, algo que deveria ser inaceitável sob qualquer ponto de vista. Atacar a mazela da fome é urgente e passa por uma articulação entre governo e entidades da sociedade civil, além de parcerias entre o setor público e privado. Mas ações emergenciais não substituem respostas estruturais, e compensações, ainda que fundamentais, não levam à emancipação.

Não há como oferecer uma solução definitiva para a miséria sem que o País retome o caminho do crescimento, algo que passa pelo resgate dos fundamentos macroeconômicos devastados por Bolsonaro. É essencial a aprovação de uma reforma tributária para acabar com a regressividade e para deixar de castigar a produção. Não haverá empregos de qualidade enquanto não houver uma política industrial que incentive a inovação e a produtividade e abandone a proteção de setores com amigos em Brasília. Será impossível oferecer melhores oportunidades aos mais pobres enquanto a Educação Básica não for uma prioridade real. O Brasil está à deriva e, em suma, precisa voltar a ter um governo de fato. Do contrário, mesmo que o País consiga sair do mapa da fome, basta aguardar a próxima crise para que volte para lá.

O Estado de São Paulo

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