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segunda-feira, março 07, 2022

Como a implosão da URSS está na raiz da guerra na Ucrânia




Mikhail Gorbachev, o último líder da União Soviética, ao lado do ex-presidente russo Boris Yeltsin, o primeiro após o colapso da URSS

Por Shin Suzuki, em São Paulo 

Após o colapso da União Soviética em 1991, o historiador norte-americano Francis Fukuyama fez uma análise ambiciosa e cunhou uma expressão que marcou a época: com o fim da Guerra Fria, a democracia liberal ocidental era a forma de governo vencedora e dominaria o mundo a ponto de decretar "o fim da história". A desintegração da antiga URSS acabou, na verdade, por criar as condições para a maior tensão mundial em décadas.

O presidente Vladimir Putin justifica o ataque militar que gera uma crise humanitária de grandes proporções e desrespeita leis do direito internacional ao apontar uma tática expansionista da Otan, a Aliança Militar do Atlântico Norte, em direção ao território russo.

Os componentes geopolíticos do atual conflito passam pelo que analistas internacionais consideram equívocos históricos dos Estados Unidos e da Otan a partir de 1991. Mas há outros fatores-chave da questão como a estratégia russa de constante interferência sobre ex-repúblicas soviéticas (15 países surgiram com o colapso da URSS) e um plano agressivo de retomada de sua influência mundial.

"É inegável que os EUA perderam uma oportunidade histórica no final da Guerra Fria de criar uma comunidade de segurança na Europa que englobasse a Rússia", diz Felipe Loureiro, professor de Relações Internacionais da USP e coordenador do Observatório da Democracia no Mundo (ODEC-USP).

"Dito isso, a forma como a Rússia agiu [ao atacar a Ucrânia] é injustificável do ponto de vista das relações internacionais, do direito internacional."

A partir dos anos 1990, a Otan abriu suas portas para países que pertenceram ao bloco comunista (República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia, Albânia), ex-repúblicas soviéticas (Estônia, Letônia e Lituânia) e países dos Balcãs (Croácia, Eslovênia, Montenegro e Macedônia do Norte), essa uma região de laços tradicionais com a Rússia.

Depois começaram as conversas para inclusão na Otan de Ucrânia e Geórgia, duas outras ex-repúblicas soviéticas.

"A diplomacia russa questionava a expansão da Otan no Leste Europeu argumentando que, uma vez que o Pacto de Varsóvia [a aliança militar do bloco comunista] foi extinto no fim da Guerra Fria, a Otan também deveria ter sido extinta", afirma Vicente Ferraro, mestre em ciência política pela Escola Superior de Economia de Moscou e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da USP.

"A intervenção da aliança em Kosovo em 1999 [na Guerra dos Balcãs] representou um dos primeiros grandes atritos entre EUA e Rússia no período pós-Guerra Fria. Em um discurso emblemático em 2007, Putin ressaltou o seu incômodo com a presença e atuação da aliança próximo às fronteiras russas, chegando a fazer ameaças concretas", diz Ferraro.

Para Felipe Loureiro, a decisão de primeiro manter a Otan e depois expandir para o leste foi resultado de fatores múltiplos e complexos, não única e exclusivamente de um projeto hegemônico dos EUA.

"Mas quando você expande uma determinada aliança, quando você se arma no sistema internacional, é compreensível que um outro país, principalmente uma potência aniquilada no pós-Guerra Fria, interpretasse isso como algo que a ameaçasse", analisa.

Em seu livro de memórias, Robert M. Gates, ex-secretário norte-americano de Defesa nas gestões George W. Bush e Barack Obama, disse que "a relação com a Rússia foi muito mal administrada depois que [George] Bush [pai] deixou o governo em 1993".

Vicente Ferraro lembra, no entanto, que os países do Leste Europeu e as ex-repúblicas soviéticas tiveram seus próprios motivos para a adesão à Otan.

"Vale salientar que a expansão da Otan e da União Europeia no leste não foi uma simples invasão. Houve a intenção de países da região em aderir à aliança em consideração a fatos históricos, políticos e ideológicos. Havia temor de um eventual expansionismo russo. A atuação da URSS no Leste Europeu durante a Guerra Fria deixou ressentimentos na região, do mesmo modo que a atuação dos EUA deixou ressentimentos na América Latina", diz.

Interferência na vizinhança

A influência atual da Rússia em países vizinhos se manifesta de forma política, econômica e militar. Moscou lidera uma aliança militar, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que inclui Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão.

No último dia 6 de janeiro, enquanto a tensão crescia na Ucrânia, a Rússia mandou milhares de paraquedistas ao Cazaquistão como "tropas de manutenção de paz" para controlar as manifestações populares contra o presidente local por causa da alta do combustível.

"Em 2005, Putin declarou que o fim da URSS foi 'a maior catástrofe geopolítica' do século 20, dando indícios de sua intenção em restabelecer, ao menos em parte, a influência russa nos países vizinhos", diz Ferraro, do Laboratório de Estudos da Ásia da USP.

"Tal paradigma causou apreensão em países vizinhos, como a Ucrânia."

Em 2008, o presidente russo Dmitry Medvedev (Putin foi designado premiê à época) afirmou que o país tinha poder de veto sobre a política interna dessas nações por conta de "interesses privilegiados" da esfera russa.

"A partir de 2008, a Rússia passou a recorrer ao uso da força para resguardar a sua hegemonia no espaço pós-soviético. Naquele período, invadiu a Geórgia para repelir um ataque do governo local contra uma região separatista. Durante a crise ucraniana de 2014, incorporou a Crimeia ao seu território e deu suporte militar e econômico às lideranças separatistas do leste", afirma Ferraro.

Mitologia e identidade russa

A consolidação de Putin no poder também marcou a construção de um projeto que resgata as conquistas do passado russo e uma ideia de "homem forte".

"A gente pode dizer que esse conflito na Ucrânia faz parte de um projeto de longo prazo do Putin. Ele tem uma concepção de nacionalismo russo que a gente pode dizer que é bem próxima à concepção do czarismo no final do século 19", diz Loureiro, do departamento de relações internacionais da USP.

"É a ideia de uma nação pan-russa que, apesar das diferenças étnicas, tem uma língua comum, uma religião comum (o cristianismo ortodoxo) e a centralidade na figura do czar, que no caso da Rússia contemporânea é o próprio Putin."

Na concepção de Grande Rússia, há dois países cruciais: a Bielo-Rússia (pequena Rússia, a atual Belarus, aliado mais próximo de Putin) e a Ucrânia.

"No século 9, vikings que utilizavam o rio Dnieper para comercializar madeira e âmbar entre o mar Báltico e o Mar Negro se estabeleceram nas cercanias de Kiev", explica Fabiano P. Mielniczuk, coordenador de ciência política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

"O líder era chamado Rurik. Ele e seu filho são considerados os primeiros governantes dos Russos (chamados na época de Kievan Rus). Com o tempo, os Rus se espalharam para além de Kiev [atual capital da Ucrânia] e chegaram até Moscou. Com o tempo também, eles se dividiram em principados e passaram a disputar o poder."

Por isso, observa Loureiro, "a Ucrânia tem espaço importante no imaginário da identidade nacional".

Esse nacionalismo está no cerne do conservadorismo russo, que defende "valores tradicionais" em oposição ao que chamam de "valores liberais ocidentais decadentes" - aprovação do casamento gay, diminuição do protagonismo masculino e falta de centralidade no papel da família.

Aliança com a China

Mielniczuk analisa que "Putin representa o que restou aos russos na busca pela redefinição das suas identidades após o fim da guerra fria. O Ocidente fechou as portas para negociações sérias sobre o papel dos russos na ordem pós-Guerra Fria, tratando-os como perdedores".

"O processo de reconstrução da identidade russa se desenvolveu tendo o Ocidente como antagonista", complementa.

'Vladimir Putin e Xi Jinping anunciaram parceria 'sem limites'

É um interesse comum com o líder chinês Xi Jinping, com quem Putin anunciou uma "parceria sem limites".

"A ordem será marcadamente multipolar novamente. Por ser uma invenção ocidental, o aumento de poder de polos não ocidentais vai necessariamente se refletir em uma crítica às instituições do ocidente, como a democracia liberal", diz Mielniczuk.

Loureiro diz que "Putin vem transformando o estado russo em um estado crescentemente autocrático e centrado na personalidade dele. Ele e Xi Jinping sustentam que os regimes que eles comandam garantem maior centralização, maior coerência, uma suposta maior unidade coletiva que representa mais eficiência, rapidez e coerência para lidar com os desafios do século 21".

"Esse me parece que vai ser um embate importante, ideologicamente falando, das relações internacionais no século 21."

BBC Brasil

Últimas notícias: Ataques matam civis em Irpin




Segundo o prefeito da pequena cidade nas proximidades de Kiev, ao menos oito pessoas morreram em ataques russos, entre elas crianças. Acompanhe as últimas notícias.

    Ataques matam civis em Irpin
    Netflix suspende operações na Rússia
    Putin diz para Macron que Rússia não pretende renunciar de objetivos
    Maior museu de arte da Ucrânia corre para salvar obras
    TikTok suspende parcialmente serviços na Rússia
    Polônia supera marca de 1 milhão de refugiados ucranianos
    American Express suspende operações na Rússia
    Agência da ONU diz que segurança de central nuclear foi colocada em risco
    Quase 4 mil presos na Rússia em protestos contra a guerra
    Mais de 1,5 milhão de refugiados da guerra na Ucrânia
    Putin e Erdogan conversam
    Caças russos atacam cidades no nordeste da Ucrânia
    Zelenski pede a ucranianos que lutem
    Visa e Mastercard suspendem operações na Rússia

As atualizações estão no horário de Brasília 

20:30 – Ataques matam civis em Irpin

De acordo com a agência de notícias Reuters, houve pesados ataques de artilharia em Irpin, cidade nas proximidades da capital ucraniana, Kiev. Homens, mulheres e crianças fugindo dos violentos combates na região tentaram se esconder. 

Em imagens feitas pelo jornal The New York Times é possível ver o exato momento em que um grupo de pessoas em fuga é atingido por uma explosão. Uma mulher, seu filho adolescente, a filha, que aparentava cerca de 8 anos, e um amigo da família morreram. Os corpos ficaram estendidos no chão, ao lado de uma mala de rodinhas e de algumas mochilas que a família levava. 

Segundo o prefeito, Oleksander Markyshin, oito civis morreram em decorrência dos bombardeios na cidade. 

Irpin já vinha sendo alvo de ataques. Soldados ucranianos explodiram uma ponte na cidade para tentar retardar o avanço russo. Para escapar, moradores precisam atravessar a ponte em escombros. Imagens da agências de notícias mostram soldados e moradores locais ajudando idosos e crianças a atravessarem a ponte em escombros, enquanto mais tiros são ouvidos ao fundo.

20:10 – Netflix suspende operações na Rússia

A Netflix vai suspender todas as suas operações na Rússia, informou neste domingo um porta-voz da empresa de streaming em declarações à revista americana Variety.

Assim, a plataforma junta-se a uma vasta lista de empresas que anunciaram nos últimos dias a suspensão das atividades na Rússia, como Apple, Microsoft, Visa, Mastercard e American Express. 

A Netflix lançou o serviço local em russo há pouco mais de um ano e tem mais de um milhão de assinantes no país, uma pequena porcentagem dos mais de 222 milhões de assinantes que detém em todo o mundo.

A empresa anunciou há poucos dias que decidiu suspender toda a atividade de produção e de aquisição de conteúdos na Rússia, devido à invasão da Ucrânia.  Havia quatro projetos originais em língua russa em preparação. (Lusa)

19.30 – Putin diz para Macron que Rússia não pretende renunciar de objetivos

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou neste domingo ao presidente da França, Emmanuel Macron, que não tem intenção de renunciar aos quatro objetivos que estabeleceu naquela que denomina como "operação militar especial" na Ucrânia.

Os dois conversaram por telefone por cerca de uma hora e 45 minutos. Putin se mostrou inflexível com as exigências de que Kiev ceda em todas as questões colocadas por Moscou, justificando que tem intenção de "alcançar todos os objetivos com negociação ou guerra".

As quatro reinvindicações russas são a "desnazificação" da Ucrânia, a desmilitarização do país vizinho, a renúncia de entrada na Otan e de manter um Exército, além do reconhecimento da independência da Crimeia e da região do Donbas.

Macron reforçou as "preocupações e exigências no campo humanitário e político", para que seja colocado um fim à invasão da Ucrânia. Segundo o Palácio do Eliseu, trata-se de criar corredores humanitários e as condições para uma negociação, da qual as autoridades ucranianas se mostraram dispostas a participar. (EFE)

19:10 – Maior museu de arte da Ucrânia corre para salvar obras

Em meio à fuga de mais de 1,5 milhão de pessoas e dos constantes ataques russos, grupos correm contra o tempo na Ucrânia para salvar itens históricos da destruição.

O diretor do Museu Nacional Andrey Sheptytsky, o maior museu de arte da Ucrânia, percorre os corredores do prédio supervisionando os funcionários que guardam as coleções para proteger o patrimônio nacional caso a invasão russa avance para o oeste.

Em uma galeria parcialmente vazia, funcionários colocam em caixas de papelão peças barrocas cuidadosamente embrulhadas. A poucos metros dali, um grupo desce a majestosa escadaria principal do museu carregando uma gigantesca obra de arte sacra, a iconóstase Bohorodchany, do século 18.

"Às vezes, as lágrimas vêm porque muito trabalho foi colocado aqui. Leva tempo, energia. Você está fazendo algo bom, se sente satisfeito. E então, hoje, você vê paredes vazias, parece amargo, triste. Não acreditávamos até o último minuto que isso pudesse acontecer'', disse o diretor-geral do museu, Ihor Kozhan.

As portas da instituição, localizada na cidade de Lviv, próxima à fronteira com a Polônia, estão fechadas desde que começou a invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro. Patrimônios históricos em todo o país estão em perigo, à medida que os combates continuam. (AP)

18:40 – TikTok suspende parcialmente serviços na Rússia

A rede social chinesa TikTok decidiu neste domingo pela suspensão parcial dos serviços na Rússia e já não permitirá que sejam subidos vídeos e feitas retransmissões ao vivo a partir do país, segundo informaram as agências de notícias russas TASS e Interfax.

A justificativa é a lei aprovada nesta semana no país que prevê penas de até 15 anos de prisão pela difusão do que as autoridades nacionais possam considerar "informações falsas" sobre a guerra na Ucrânia.

Segundo a Interfax, a companhia chinesa difundiu um comunicado em que o TikTok indica que a segurança dos funcionários e usuários segue sendo a "principal prioridade".

"Diante da nova lei de fake news da Rússia, não temos mais remédio do que suspender a transmissão ao vivo e de novos conteúdos no nosso serviço de vídeo, enquanto consideramos as implicações de segurança desta nova lei", apontou a empresa.

A princípio, não haverá mudanças no serviço de mensagens do aplicativo na Rússia.

Na última sexta-feira, o órgão regulador de meios de comunicação do país (Roskomnadzor), decidiu bloquear o acesso no território russo ao Facebook e ao Twitter, em resposta à decisão da União Europeia de vetar a emissora RT e a agência de notícias Sputnik, que foram acusadas de serem parte da máquina de guerra russa. (EFE)

18:15 – Polônia supera marca de 1 milhão de refugiados ucranianos

A Polônia superou neste domingo a marca de um milhão de refugiados vindos da Ucrânia desde o início da invasão da Rússia, segundo fontes da guarda fronteiriça polonesa.

A grande maioria dos deslocados pelo conflito são cidadãos ucranianos, no entanto, também cruzaram a linha de fronteira poloneses, belarussos, uzbeques, marroquinos, paquistaneses, afegãos e americanos, entre outros.

A ONU estima que 1,5 milhão de pessoas já deixaram a Ucrânia em direção a outros países desde o último dia 24, o que torna a crise atual a maior da Europa desde a segunda guerra mundial.

A Polônia é o país que mais recebeu refugiados desde o início da crise, seguido por Romênia, Hungria e Eslováquia. (EFE)

'Polônia é o país que mais recebeu refugiados da Ucrânia'

17:55  – O que são corredores humanitários?

Estratégia é usada, por exemplo, para evacuar civis e entregar medicamentos e alimentos em zonas de conflitos. No entanto, em alguns casos, podem ser usados ​​para contrabandear armas e combustível para cidades sitiadas. (DW)

16:45 – American Express suspende operações na Rússia

A operadora de cartões American Express juntou-se à Visa e Mastercard para suspender suas operações na Rússia.

"Os cartões American Express emitidos globalmente não funcionarão mais em comércios ou caixas eletrônicos na Rússia. Além disso, cartões emitidos localmente na Rússia por bancos russos não funcionarão mais fora do país", disse a empresa em comunicado, acrescentando que também está encerrando todas as operações comerciais em Belarus. (ots)

14:48 – Agência da ONU diz que segurança de central nuclear foi colocada em risco

 A Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) alertou neste domingo que um militar russo assumiu a gestão técnica da central nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, o que vai contra os princípios básicos para o funcionamento seguro da instalação.

"A direção da usina agora está sob as ordens do comandante das forças russas que tomaram o local na semana passada", garantiu o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi.

Ele afirmou estar muito preocupado com a mudança, que, segundo ele, vai contra os pilares indispensáveis da segurança nuclear, ao deixar limitada a capacidade do corpo técnico da instalação de "tomar decisões livres de pressões indevidas".

A AEIA indicou que a autoridade reguladora nuclear ucraniana informou que qualquer ação, inclusive as relacionadas com o funcionamento técnico dos seis reatores, requer a aprovação prévia do comandante russo, segundo comunicado emitido para informar sobre a situação da central.

Além disso, Grossi destacou um segundo "grave desenvolvimento", ao explicar que, desde este domingo, há problemas para se comunicar com o corpo técnico de Zaporíjia, já que as linhas de telefone da instalação não funcionam, assim como não há resposta por mensagens eletrônicas e não há sinal frequente de celular.

Segundo Grossi, a situação viola outro dos considerados sete pilares básicos da segurança nuclear, que é o de manter comunicações entre o regulador nuclear e o operador da central.

"A deterioração da situação das comunicações vitais entre o regulador e a central nuclear de Zaporíjia é também uma fonte de profunda preocupação, especialmente, durante um conflito armado que pode colocar em perigo as instalações nucleares do país em qualquer momento", disse Grossi.

O diretor-geral da AEIA ainda afirmou que existem problemas para estabelecer contato com a antiga usina de Chernobil, onde, em 1986, aconteceu o mais grave acidente nuclear da história. A unidade está sob controle das tropas russas desde 24 de fevereiro.

Desde então, os funcionários de Chernobil, assim como acontece com os de Zaporíjia, estão trabalhando em três turnos, sem possibilidade de descanso adequado.

Além disso, a AEIA indicou que perdeu contato com todas as instituições da cidade portuária de Mariupol - que está sob ataque de tropas russas - que usam diferentes fontes de materiais radioativos. (EFE)

13:30 – Mais de 3.900 presos na Rússia em protestos contra invasão da Ucrânia.

Segundo o projeto de mídia russo OVD-Info, que monitora detenções em protestos oposicionistas, foram detidos neste domingo (06/03), em 53 cidades da Rússia, pelo menos 3.917 participantes de protestos contra a invasão da Ucrânia, ordenada pelo presidente Vladimir Putin.

Vídeos nas redes sociais, postados por opositores do regime do Kremlin e blogueiros, mostram milhares de ativistas entoando "Não à guerra!" e "Tenham vergonha!". Vê-se também a polícia de Ecaterimburgo, no distrito dos Urais, de equipamento antimotim, espancando um manifestante caído no chão. Um mural protagonizado por Putin foi pichado.

O Ministério russo do Interior confirmou ter detido 1.700 cidadãos em Moscou e 750 em São Petersburgo – as duas maiores metrópoles do país –, além de 1.061 em outras cidades,  sobretudo Ecaterimburgo e Novosibirsk, na Sibéria. (Reuters,AFP,AP)

12:00 – Evacuação de Mariupol fracassa pela segunda vez

Violações do cessar-fogo interromperam pela segunda vez os planos de evacuação de civis da cidade portuária de Mariupol, no sudeste da Ucrânia, declarou assessor do Ministério do Interior do país Anton Gershchenko, no serviço de mensagens instantâneas Telegram: "A segunda tentativa de um corredor humanitário para civis em Mariupol terminou novamente com bombardeios pelos russos."

11:30 – Erdogan insiste em cessar-fogo, Putin quer desistência ucraniana

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu durante conversa telefônica com o seu homólogo russo, Vladimir Putin, neste domingo, um "cessar-fogo imediato" na Ucrânia e se ofereceu para buscar soluções para o conflito. "Vamos abrir o caminho para a paz juntos", afirmou o mandatário turco numa conversa telefônica que durou uma hora.

:Segundo a Presidência turca, durante a conversa Erdogan destacou a importância de um cessar-fogo, a fim de aliviar a crise humanitária e permitir uma solução negociada. Por sua vez, Putin assegurou que "a operação especial" – como Moscou classifica a invasão da Ucrânia – só vai parar se Kiev abandonar a resistência e aceitar as exigências russas, noticiou a agência estatal russa RIA Novosti.

Putin teriam ainda explicado a Erdogan que está disposto a dialogar, com a condição de que a Ucrânia aceite a sua "desmilitarização", "desnazificação" e o compromisso de ser um país neutro, sem tentativas de adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Erdogan insistiu que um cessar-fogo geral "não só aliviaria as preocupações humanitárias na região, mas também permitiria a busca de uma solução política", informou o gabinete de comunicação do presidente turco. (Lusa,DPA)

10:50 – Papa lamenta "rios de sangue" na Ucrânia

O papa Francisco condenou as perdas de vidas na Ucrânia devido à invasão militar russa, pedindo o estabelecimento urgente de corredores humanitários: "Rios de sangue e lágrimas correm na Ucrânia, esta não é apenas uma operação militar, mas uma guerra que semeia morte, destruição e miséria", disse após a oração do Angelus, perante centenas de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano. Muitos portavam bandeiras ucranianas.

O sumo pontífice apelou para que os ataques armados na Ucrânia cessem imediatamente, que o diálogo prevaleça e o direito internacional seja respeitado, com o estabelecimento de "corredores humanitários reais" para fornecer "alívio vital aos nossos irmãos e irmãs oprimidos pelas bombas e pelo medo".

Ele lembrou que "as vítimas são cada vez mais numerosas, assim como aquelas em fuga, especialmente mães e crianças" e, por isso, "a necessidade de assistência humanitária naquele país martirizado cresce dramaticamente a cada hora". O líder da Igreja Católica agradeceu aos jornalistas que "colocaram as suas vidas em risco" para informar o mundo sobre os eventos na Ucrânia.

Segundo as autoridades de Kiev, a guerra lançada por Vladimir Putin já fez mais de 2 mil mortos entre a população civil ucraniana. A ONU registra, ainda, mais de 1,5 milhão de deslocados que procuram refúgio nos países vizinhos. (Lusa,Reuters)

10:15 – Mais de mil detidos em protestos antiguerra na Rússia

Mais de mil cidadãos de várias partes da Rússia foram presos neste domingo em protestos contra a operação militar do Kremlin na Ucrânia. Segundo o projeto de mídia russo OVD-Info, que monitora detenções em protestos oposicionistas, até as 14h20 em Moscou (08h20 em Brasília), 1.103 manifestantes haviam sido detidos em 35 cidades.

Outras fontes falam de 1.700 prisões. Os números mais elevados se registraram em Novosibirsk, na Sibéria, e Ecaterimburgo, no distrito dos Urais. A polícia antimotim também prendeu manifestantes concentrados em praças de Moscou e São Petersburgo, as maiores cidades de país. Assim, chega a quase 10 mil o número de detenções desde 24 de fevereiro, quando o presidente Vladimir Putin ordenou a invasão da Ucrânia.

Na quarta-feira (02/03), o crítico do Kremlin preso Alexei Navalny conclamara seus compatriotas a se manifestarem diariamente contra a guerra de agressão, sem medo de encarceramento, frisando que a Rússia não podia ser uma "nação de covardes assustados" e tachando Putin de "czar insano". Na sexta-feira, o chefe do Kremlin assinou uma lei prevendo penas de prisão de até 15 anos para quem publique "notícias falsas" sobre as Forças Armadas russas. (Reuters,AFP,AP)

09:50 – EUA consideram fornecer aviões a Ucrânia por via indireta

Os Estados Unidos estão considerando enviar aviões para a Polônia, caso o país, por sua vez, se decida a fornecer aeronaves de combate à Ucrânia, confirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, durante visita à Moldávia; "Não posso me reportar a um cronograma, mas estamos examinando a questão muito, muito ativamente", confirmou.

Washington vem discutindo com Varsóvia a possibilidade de fornecer caças militares russos MiG29 e Su-25 para a Ucrânia. Em troca, os EUA entregariam aos poloneses jatos americanos F-16. A informação foi relatada por uma autoridade de defesa americana à agência Dow Jones. A eventual operação ainda está em negociação e seus termos não estão claros.

Segundo porta-voz da Casa Branca, os EUA estariam consultando outros países da Otan sobre a operação. "Há uma série de questões práticas desafiadoras, incluindo como os aviões podem realmente ser transferidos da Polônia para a Ucrânia", afirmou, sob anonimato.

O fornecimento de caças russos foi um dos pedidos feitos pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em videoconferência com parlamentares americanos no sábado. Ele renovou os apelos para que o Ocidente endureça ainda mais as sanções que já estão castigando a economia da Rússia.

Zelenski tem apelado à Otan para que estabeleça uma zona de exclusão aérea sobre seu país, o que a organização transatlântica rejeita. Seu homólogo russo, Vladimir Putin, já declarou que consideraria tal passo um envolvimento do Ocidente no conflito armado. (Reuters,ots)

07:15 – Refugiados da Ucrânia ultrapassam 1,5 milhão

O número dos que atualmente fogem da invasão da Ucrânia pela Rússia ultrapassou 1,5 milhão, relatou a Organização das Nações Unidas neste domingo.

"Mais de 1,5 milhão de habitantes da Ucrânia procuraram os países vizinhos em dez dias. Esta é a crise de refugiados de crescimento mais rápido na Europa desde a Segunda Guerra Mundial", escreveu o alto-comissário da ONU para refugiados, Filippo Grandi, no Twitter, citado pela agência de notícias AFP.

A invasão russa está sendo condenada pela generalidade da comunidade internacional, que responde com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções econômicas para isolar ainda mais Moscou, além de ajuda humanitária à população. (Lusa,AFP)

04:50 – OMS registra ataques a estabelecimentos de saúde na Ucrânia

A Organização Mundial de Saúde confirmou a ocorrência de "diversos" ataques a estabelecimentos de saúde na Ucrânia e está investigando outros.

Os ataques provocaram várias mortes e ferimentos, escreveu o chefe da OMS, Tedros

Adhanom Ghebreyesus, no Twitter neste domingo.

"Ataques contra estabelecimentos ou profissionais de saúde desrespeitam a neutralidade médica e são violações ao direito internacional humanitário", afirmou ele, sem mencionar a Rússia. (Reuters)

04:30 – Maioria dos alemães quer punição a Schröder por vínculo com Putin

A maioria dos alemães quer que o ex-chanceler federal Gerhard Schröder seja expulso do Partido Social-Democrata (SPD), a sua legenda, em função de seus vínculos com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e seus cargos mantidos em estatais russas.

Schröder sofre questionamentos na Alemanha há vários anos por essa ligação, mas a intensidade das críticas cresceu após a invasão da Ucrânia e a falta de uma condenação, por parte do ex-chanceler, à iniciativa de Putin.

Uma pesquisa realizada na sexta-feira com 1.005 pessoas pelo instituto Insa para o jornal Bild am Sonntag mostrou que 82% dos eleitores do SPD consideram que Schröder deveria ser expulso do partido. Na população em geral na Alemanha, esse percentual é de 74%.

Além disso 79% dos eleitores do SPD, e 75% dos alemães em geral, querem que a aposentadoria paga a Schröder por ele ter sido chanceler federal seja cancelada, assim como os benefícios concedidos a ex-ocupantes do mais alto cargo político na Alemanha.

Na quinta-feira, o atual chanceler federal, Olaf Scholz, também do SPD, afirmou que Schröder deveria renunciar aos seus cargos em estatais russas, e o diretório social-democrata da cidade de Heidelberg protocolou um pedido para que ele seja expulso do partido. (DPA)

4:00 – Rússia ataca áreas habitadas, diz inteligência do Reino Unido 

Um relatório da inteligência do Reino Unido afirmou neste domingo que as forças armadas da Rússia estavam atacando áreas habitadas na Ucrânia. O documento diz ainda que a resistência dos ucranianos estava reduzindo a velocidade do avanço de Moscou.

"A escala e a força da resistência ucraniana continua a surpreender a Rússia, (...) [que] respondeu atacando áreas habitadas em diversos locais, incluindo Kharkiv, Chernihiv e Mariupol."

Segundo a inteligência britânica, "a Rússia usou antes táticas similares na Tchetchênia em 1999 e na Síria em 2016, usando tanto ataques aéreos como por terra". (Reuters)

02:30 – Caças russos atacam cidades no nordeste da Ucrânia

As cidades de Sumy e Lebedin, no nordeste da Ucrânia, continuaram a sofrer ataques de militares russos no sábado, afirmou o chefe da administração local de Sumy, Dmytro Zhyvytskyi.

Caças russos destruíram um armazém de alimentos e materiais de construção e um estacionamento no sábado, segundo ele. Uma usina de eletricidade e aquecimento já havia sido destruída na sexta-feira. 

O aquecimento não funciona mais em toda a cidade de Okhtyrka, localizada entre Sumy e Lebedin, e em alguns locais também não há mais fornecimento de água e eletricidade. A informação não pode ser verificada de forma independente. (DPA)

02:15 – Autoridades dos EUA vão à Venezuela para tratar de Rússia

Altas autoridades do governo dos Estados Unidos viajaram para a Venezuela no sábado para se reunir com representantes do governo de Nicolás Maduro, segundo o jornal The New York Times.

A viagem marca a primeira vista de oficiais do alto escalão do governo americano a Caracas, em um momento que a Casa Branca amplia os esforços para isolar a Rússia na arena internacional.

Os Estados Unidos cortaram relações diplomáticas com a Venezuela em 2019, depois de acusarem Maduro de fraude eleitoral.

Existe nos Estados Unidos uma avaliação de que a Venezuela poderia se tornar uma ameaça de segurança, considerando seus laços estreitos com a Rússia.

O The New York Times também reportou que alguns membros do Partido Republicano estão envolvidos nas conversas com Caracas para retomar o comércio de petróleo entre os dois países, um movimento que poderia reduzir as importações de petróleo dos Estados Unidos da Rússia.

"Temos que ir para fora! Temos que lutar!", afirmou Zelenski em discurso por vídeo.

23:00 – Zelenski pede a ucranianos que lutem

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, fez um discurso em vídeo na noite de sábado em que pediu aos cidadãos do país que lutem para expulsar os militares russos.

"Temos que ir para fora! Temos que lutar! Sempre que houver uma oportunidade", disse.

Ele disse que civis desarmados resistiram a unidades militares russas em diversas cidades, inclusive na cidade portuária de Kherson, no sul, o que torna a ocupação pelos invasores mais difícil.

Zelenski afirmou ainda que era importante impedir a criação de novas autoproclamadas "repúblicas populares" pró-Rússia no território ucraniano, similar a outras duas que já existem no leste do país. (DPA)

20:43 – Visa e Mastercard suspendem operações na Rússia

As gigantes mundiais de cartões Visa e Mastercard anunciaram na noite deste sábado a suspensão das operações na Rússia. A Mastercard "decidiu suspender a rede de serviços na Rússia", e a Visa "cessará todas as transações nos próximos dias", disseram as duas empresas em comunicados.

A Mastercard disse que os cartões emitidos por bancos russos deixarão de ser suportados pela rede e qualquer cartão emitido fora do país não funcionará em lojas ou caixas automáticos russos. "Não tomamos esta decisão de ânimo leve", afirma a Mastercard no comunicado, acrescentando que a mudança foi feita após discussões com clientes, parceiros e governos.

A Visa disse que está trabalhando com clientes e parceiros na Rússia para cessar todas as transações ao longo dos próximos dias. "Somos obrigados a agir na sequência da invasão (...) da Rússia à Ucrânia, e dos acontecimentos inaceitáveis a que assistimos", disse o presidente e diretor executivo da Visa, Al Kelly, também em comunicado.

"Esta guerra e a constante ameaça à paz e à estabilidade exigem que respondamos de acordo com os nossos valores", acrescentou Kelly. (AFP)

Deutsche Welle

Guerra na Ucrânia: como dependência da Europa de gás russo financia invasão




Apesar das sanções financeiras, o governo de Vladimir Putin continua a vender gás para a Europa

Por Cecilia Barría

Em meio à escalada do conflito militar na Ucrânia, os preços do gás natural dispararam à medida em que Estados Unidos, Europa e demais países reforçam sanções econômicas contra Moscou.

Cerca de 40% do gás natural importado pela Europa vem da Rússia, dependência que aumentou a preocupação dos governos no atual cenário de guerra.

Embora a Alemanha tenha suspendido a aprovação final do gasoduto Nord Stream 2, que permitiria aumentar as importações de gás da Rússia, os países europeus continuam comprando gás russo, enquanto intensificam as sanções financeiras contra Moscou.

A escassez de suprimentos globais e a gigantesca onda de inflação que afeta o mundo deixaram os governos europeus "entre a cruz e a espada", segundo especialistas nesta área, especialmente a Alemanha, que tomou a decisão de reduzir suas fontes de energia nuclear.

"O gás russo é o calcanhar de Aquiles da Europa nesta guerra, essa é a sua grande vulnerabilidade, é isso que permite à Rússia capitalizar e financiar esse aventura", diz Ángel Saz-Carranza, diretor do Centro de Economia Global e Geopolítica da escola espanhola de negócios Esade e professor visitante da Georgetown University, nos Estados Unidos.

Engenheiro aeronáutico pelo Imperial College de Londres e doutor em Ciências da Administração, Saz-Carranza é especialista em análise de risco político, governança, lobby e regulação.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista, concedida à BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.

BBC News Mundo - Quanto a Europa depende do gás natural russo para suprir sua demanda?

Ángel Saz-Carranza - A dependência é muito alta, como vemos agora, cerca de 40% da demanda de gás na Europa depende da oferta do gás russo.

BBC News Mundo - E, na outra ponta, quanto a Rússia depende do mercado europeu para suas exportações de gás?

Saz-Carranza - Isso é o que equilibra um pouco a situação, porque a dependência da Rússia do mercado europeu também é muito alta. De fato, sua capacidade de transportar gás para o Oriente é residual.

À exceção do gás natural liquefeito, que pode ser exportado por meio de navios, quase todos os gasodutos da Rússia vêm para o Ocidente.

BBC News Mundo - Qual é a probabilidade de o governo russo decidir fechar as torneiras de gás em resposta às sanções que a Europa e os Estados Unidos impuseram?

Saz-Carranza - É uma possibilidade real, dado o momento em que estamos e dada a própria reação da Rússia. A Rússia está agindo sem racionalidade, um certo missionarismo excessivo por parte do presidente, algo messiânico.

'O gás russo é o calcanhar de Aquiles da Europa nesta guerra', argumenta Ángel Saz-Carranza

Portanto, estamos em um cenário um tanto desconhecido, a Rússia poderia fechar as torneiras. No entanto, neste momento, com as sanções e a pressão econômica que a Rússia está sofrendo, também é verdade que a única entrada de capital que ela tem é através do pagamento desse gás.

A Rússia poderia cortar o gás e a Europa poderia aguentar dois ou três meses sem esse combustível, mas também é verdade que a Rússia perderia a única fonte de capital internacional que tem agora.

BBC News Mundo - Quanto da receita fiscal da Rússia depende das vendas de gás para a Europa?

Saz-Carranza - As estimativas que vi recentemente são cerca de metade do orçamento público. Isso é muito, mas também é verdade que a Rússia tem atualmente uma dívida pública muito baixa, tem muitas reservas.

BBC News Mundo - Tudo indica que a Rússia se preparava há anos para que sua situação financeira permitisse ao país enfrentar qualquer ameaça externa, pelo menos por um tempo...

Saz-Carranza - A Rússia passou algum tempo saneando suas contas públicas, tanto reservas quanto dívidas, apesar das dificuldades econômicas do país e do sofrimento causado por sanções anteriores.

É por isso que o país pode ter alguma margem de manobra. Mas agora não é conveniente para a Europa parar de comprar gás russo, temos que ver como as sanções continuam a ser definidas com o Swift [sigla para Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, sistema internacional de transferências financeiras].

Em princípio, nem Rússia nem Europa devem fechar a torneira do gás.

'Alemanha seria uma das economias mais afetadas por eventual suspensão da oferta de gás pela Rússia'

BBC News Mundo - Quais empresas vendem e quais empresas compram gás russo?

Saz-Carranza - Na Rússia, o gás canalizado vem via Gazprom e o gás natural liquefeito, especialmente destinado à Ásia, é fornecido pela Rosnef, empresa petrolífera que também produz gás liquefeito.

Na Europa, existem grandes empresas de gás que normalmente são empresas privadas, embora com importantes acionistas públicos.

BBC News Mundo - Assim, os governos sozinhos não podem parar de comprar gás da Rússia...

Saz-Carranza - Os países agora estão sob uma tremenda pressão que já tinham antes devido aos preços muito altos da eletricidade e da energia na Europa. Na Europa, os preços triplicaram até o momento neste ano.

Diante dessa pressão, que já resulta em algum descontentamento social, você tem alguns líderes políticos que teriam que decidir não comprar.

Certamente já é tarde demais para reagir agora, então, o incentivo político é realmente o contrário, ou seja, o incentivo político é que por favor não aumentem os preços. É isso que pensam os líderes políticos da Europa.

Como não aumentar os preços do gás no curto prazo? Bem, continuar comprando da Rússia.

Deveríamos ter feito uma estratégia não só com incentivos públicos, mas até com direcionamento político, para orientar essas empresas privadas em uma direção ou outra.

BBC News Mundo - O preço político a pagar agora, em meio à crise, pode ser muito alto. Como você vê isso?

Saz-Carranza - Existem dois problemas. No curto prazo, o político tem o incentivo de continuar comprando gás o mais barato possível — que é o da Gazprom atualmente. Por outro lado, há um problema na Europa: a influência estatal no mercado de energia por meio de empresas públicas é muito tímida.

[Uma intervenção estatal] poderia ser visto como uma ruptura do livre mercado e da livre concorrência entre empresas. Certamente agora, em uma situação de guerra, isso pode ser feito, mas também não é fácil fazê-lo a longo prazo.

Neste momento, a barreira para as empresas de gás na Europa de capital misto pararem de comprar é que os preços disparariam, isso bloquearia [a atividade de] muitas indústrias e geraria um tremendo caos em um momento em que temos uma inflação muito alta na Europa e estamos tentando sair da crise da covid.

BBC News Mundo - Então parar de comprar ou reduzir as compras de gás da Rússia é muito improvável devido aos custos políticos que tal decisão teria...

Saz-Carranza - Isso pode ser feito se a guerra continuar se intensificando muito, e a população europeia estiver disposta a arcar com esse custo.

Claramente, veríamos uma duplicação do preço. Eles já triplicaram até agora este ano, então, seria uma situação muito, muito difícil, mas bem, talvez seja disso que se trata.

Isso teria um alto custo para a Europa, essa decisão não é gratuita. É por isso que as sanções isentaram o petróleo e o gás, incluindo as sanções americanas, porque as sanções americanas dependem do preço do petróleo.

Sancionar a Rússia geraria alguns problemas domésticos muito relevantes no nível político para [o presidente americano Joe] Biden.

Sem gás russo, a Europa não se apaga amanhã, mas precisaríamos repensar muitas coisas.

BBC News Mundo - Quais são as outras fontes de gás natural a que a Europa pode recorrer?

Saz-Carranza - Há uma parcela que poderia ser substituída, por exemplo, queimando mais carvão, embora isso não seja muito positivo para as políticas climáticas. Também [poderia haver substituição] com um pouco mais de produção própria [de gás natural], que é muito pouca.

Poderia aumentar um pouco, não muito, o que vem da Argélia e o que vem da Noruega. Claro, o que [a Europa] teria que fazer seria tentar comprar o máximo de embarques de gás natural liquefeito entregue por navios.

Mas é claro que não há gás liquefeito suficiente disponível sem ter sido previamente contratado no mercado para fornecer os 40% de gás que a Europa compra da Rússia.

Teríamos que ir para outros tipos de fontes e depois tentar aumentar a [oferta das] fontes que já temos em mãos, que são a Noruega e a Argélia, e finalmente a alternativa de gás natural liquefeito.

BBC News Mundo - Embora o gás natural liquefeito tenha suas próprias dificuldades...

Saz-Carranza - Tem a dificuldade que as usinas de regaseificação na Europa não são distribuídas de forma otimizada. Há problemas logísticos aí. Portanto, ter um ano de demanda de gás coberta na Europa sem gás russo é muito difícil de acontecer.

Além disso, entraríamos em uma guerra de preços com a Ásia, na qual já estivemos envolvidos em certa medida para o gás liquefeito e acho que teria que ser feita uma gestão da demanda, ou seja, racionalização do consumo.

BBC News Mundo - A Europa estava fazendo campanha para avançar em direção às energias renováveis, mas parece que será difícil avançar nesse caminho com o conflito atual. Qual é a sua opinião?

Saz-Carranza - A Europa tentou diversificar-se na última década com energias renováveis e também com projetos como o gasoduto que nos liga ao Azerbaijão via Turquia, mas por outro lado, as empresas se aproximaram do gás russo.

Portanto, houve uma dissonância entre vontade política e empresarial. Os incentivos não foram bem calibrados.

Coisas curiosas também aconteceram. Para além do fato de a Gazprom ter jogado suas cartas e conseguido atrair empresas europeias, também vimos que é muito difícil fazer a transição energética e afastar-se do carvão, fechar centrais nucleares e diversificar da [dependência da] Rússia. Fazer tudo isso é muito difícil.

A Rússia também fez grandes alianças com o Oriente Médio, com os Emirados, por exemplo, e outras partes dos países do Golfo.

BBC News Mundo - Pode-se dizer então que a dependência do gás russo é como o calcanhar de Aquiles da Europa no momento?

Saz-Carranza - Sem dúvida, o gás russo é o calcanhar de Aquiles da Europa nesta guerra, essa é a sua grande vulnerabilidade, é isso que permite à Rússia capitalizar e financiar essa aventura.

O alto preço do petróleo e do gás permite que a Rússia viva relativamente bem e se financie dessa forma.

BBC News Mundo - O sr. acha que uma possível decisão da Europa de não comprar gás da Rússia vai além de considerações econômicas e geopolíticas? Pergunto porque também pode haver um dilema ético. Isto é, em que medida o fato de a Europa continuar a comprar gás da Rússia implica que está ajudando indiretamente a financiar a campanha militar de Putin?

Saz-Carranza - Completamente. A Europa está financiando os caprichos de Putin. Isso é algo que a Europa deve começar a considerar, ou seja, deve considerar como alinhar seu setor privado. Não o fez durante esta década, não conseguiu diversificar o suficiente.

A lição aqui é que, no futuro, temos que ser mais inteligentes para orientar o setor empresarial em direção a esses objetivos políticos.

BBC Brasil

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