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quinta-feira, janeiro 06, 2022

O triste caso da Igreja Anglicana: fiéis sumindo e templos fechando.

 




O fenômeno é comum ao cristianismo em geral, mas o declínio da igreja que nasceu da briga de um rei com um papa parece mais acentuado.

Por Vilma Gryzinski

“Melhor uma fé fraca do que uma heresia forte”, disse Tomás Morus, o ex-protegido que o rei Henrique VIII mandou decapitar por não aceitar sua ruptura com Roma.

Henrique VIII entrou para a história como o rei que criou, literalmente, uma igreja. Morus, como um santo e mártir disposto ao sacrifício final em nome da fé.

No inferno ou no paraíso, os dois formidáveis rivais poderiam hoje juntos assistir a decadência das ideias pelas quais arriscaram tudo. A fé é fraca na Inglaterra que Henrique VIII arrancou de Roma para tentar ter um herdeiro homem e se casar com a mulher (depois mulheres) que cobiçava.

Em seu lugar, não há heresias fortes, como a de recusar a autoridade papal e assumir nada menos que seu lugar como poder supremo, mas a indiferença, a descrença, o esgarçamento de identidade com a espiritualidade cristã e sua substituição por ideologias como o ambientalismo – ou por simplesmente nada.

O enfraquecimento da religião, um fenômeno comum na Europa desenvolvida, se reflete no fechamento literal de igrejas. Um levantamento feito pelo jornal Telegraph mostrou que mais de 400 igrejas fecharam nos últimos dez anos na Inglaterra. Em trinta anos, foram 970.

Além dos fiéis que encolhem e não se renovam, o fenômeno também é produto do despovoamento das pequenas cidades, com menos oportunidades e atrativos para os mais jovens. Igrejas abandonadas e pubs fechados refletem essa realidade. No interior da Espanha, da Itália e da França, onde predominou o catolicismo, a paisagem não é muito diferente. Não existe patrimônio artístico que dê conta de substituir a falta de gente.

A Igreja Anglicana que Henrique VIII criou – com direito a maiúsculas – é uma das peculiaridades que fazem o excepcionalismo da Inglaterra, tão cultivado como um dos fatores de identidade nacional. Tirou todo o seu ritual da Igreja Católica, emprestou uma fatia da reforma protestante que já se desenhava na época, fez pequenas adaptações teológicas e instaurou uma religião de estado que dá ao monarca a posição de chefe supremo.

É tão anacrônico que só pode continuar funcionando na Inglaterra. Os bispos anglicanos, por exemplo, têm cadeiras na Câmara dos Lordes – parece o Conselho da Revolução do Irã, com a diferença que a democracia orgânica impede os abusos.

Não que tenha havido falta deles. O cisma promovido por Henrique VIII e endossado pelo parlamento entre 1532 e 1534 alimentou a rivalidade entre católicos e protestantes, incentivando atrocidades dos dois lados. Guerras civis se sucederam e pretendentes ao trono enfrentaram-se em confrontos que duraram séculos. Os católicos – “papistas”, na definição dos adversários – perderam, sofreram perseguições e discriminação. Somente em 2013 foi substituída a lei datada de 1701 que proibia o monarca ou herdeiro de se casar com alguém da fé católica.

Tudo isso pertence a uma história, cheia de som, fúria e sangue. A Igreja Anglicana hoje é repleta do que no Brasil seriam os padres petistas. Justin Welby, autoridade espiritual maior como arcebispo da Cantuária, vive fazendo insinuações contra o governo, nominalmente conservador, de Boris Johnson. Incorre em bobagens de psicologia de botequim do tipo “muitas pessoas rejeitam a ideia de Deus como pai se tiveram um relacionamento ruim com seus pais”.

“Deus é a favor de impostos mais altos, da proteção aos sindicatos, da proibição dos empregos temporários e do salário mínimo de 8,75 libras a hora”, ironizou no Guardian o colunista Simon Jenkins, reproduzindo um discurso de Welby na central sindical TUC. Os esquerdismos de manual do arcebispo esbarram no ateísmo da esquerda de raiz.

As causas politicamente corretas foram plenamente incorporadas. Não só as mulheres passaram a receber a ordenação sacerdotal desde 1992 como existe uma mulher trans, Sarah Jones, no comando de uma paróquia. Ela fez a transição antes de ser ordenada e já declarou que Deus não é ele nem ela, “mas magnificamente não-binário”.

O papa Bento XVI criou um “ordinariato pessoal”, um organismo dirigido especificamente a acolher os sacerdotes anglicanos que não aceitam mudanças desse teor e resolvem fazer outro tipo de transição, em direção da Igreja Católica. Através disso, padres casados que se convertem são aceitos na Igreja. Jonathan Goodall, bispo de Ebbsfleet, foi um dos casos mais recentes. Desde os anos noventa, doze bispos se converteram.

É claro que tudo o que acontece com os anglicanos é uma espécie de prévia do que vai se passar, ou já está se passando, com a Igreja Católica, cuja força vem, segundo um termo caro ao papa Francisco, das “periferias”, elas próprias palco do impressionante avanço das novas igrejas evangélicas.

Uma igreja que não tem mais certezas férreas e vai atrás do espírito do tempo é, concorde-se ou não com isso, uma igreja enfraquecida.

Segundo o censo de 2019, a Inglaterra está a 1% de se tornar um país sem maioria cristã. Apenas 51% declararam-se cristãos. Sem religião foram 38%. Os “cristãos culturais”, que ainda têm ligações emocionais com todo o legado da igreja – seja de que confissão for – divisam nisso tudo um dos sinais de declínio da civilização ocidental, a prodigiosa construção que, com todos os desvios, erros e brutalidades, mais conhecimento e liberdade trouxe para a humanidade.

Em Utopia, uma sátira que publicou em 1516, Tomás Morus coloca seu interlocutor fictício como integrante de uma viagem de Américo Vespúcio ao Brasil. A ilha utópica fica depois do Brasil, um lugar sem propriedade privada nem trancas nas portas, com hospitais grátis, refeições comunitárias e várias religiões, todas mutuamente toleradas. O tipo de lugar em que Justin Welby gostaria de morar, conformado com seu jardim religioso cada vez mais desimportante.

Revista Veja

Por que as pessoas seguem na pobreza?

 




É importante desmontar as “armadilhas da pobreza”, evitando a dependência crônica das políticas públicas

Por Tiago Cavalcanti* (foto)

Em artigo de 2007 publicado no Journal of Economic Perspectives, Abhijit Banerjee e Esther Duflo, vencedores do prêmio Nobel de Economia de 2019, investigaram de forma detalhada a vida de pessoas que vivem na extrema pobreza em um conjunto de 13 países.

Verificou-se serem indivíduos que vivem em famílias numerosas, gastando de 56 a 75% da renda com alimentação. Cerca de 10% dos gastos dessas famílias são com ritos sociais, a exemplo de casamentos e velórios, enquanto, em média, 10% dos gastos são com álcool ou cigarro. Tais famílias quase não investem em educação e dependem do Estado ou de organizações não governamentais para receberem algum tipo de investimento em capital humano.

Os adultos vivendo na extrema pobreza na grande maioria trabalham por conta própria ou são pequenos empreendedores operando em baixa escala e com quase nenhum ativo produtivo, a exemplo de terras e máquinas. São pessoas com pouca especialização, exercendo mais de uma atividade e com acesso restrito ao crédito.

De fato, um dos principais problemas em desenvolvimento econômico é entender a razão pela qual grande contingente de indivíduos permanecem em situações de extrema pobreza e em atividades de baixíssimo rendimento. Quais são as principais restrições e barreiras que evitam que essas pessoas saiam da pobreza? Entender isso é importante para definir políticas efetivas que possam melhorar a vida de quase 1 bilhão de habitantes do planeta. Principalmente, quando o orçamento dos governos para gastos sociais é limitado.

A questão é longínqua e atraiu vários pensadores e economistas. O médico pernambucano Josué de Castro escreveu sobre o assunto ainda na primeira metade do século passado. Ele observou a vida dos pobres no Recife e postulou que alguns operários da época eram pouco produtivos porque eram mal alimentados. Assim, a má nutrição estaria causando a pobreza e políticas redistributivas e de combate à fome teriam efeitos positivos e significantes.

Partha Dasgupta e Debraj Ray nos anos de 1980 desenvolveram teoria consistente com os argumentos de Josué de Castro e mostraram como a má nutrição pode ser importante determinante de renda e da acumulação de ativos. Angus Deaton, prêmio Nobel de 2015, estudou o problema nos anos 1990 com trabalhos empíricos corroborando as ideias de Dasgupta e Ray.

A questão nutricional é certamente relevante para os casos de extrema carência material, mas mesmo quando essa questão parece resolvida a persistência da pobreza se mostra ainda relevante.

Há duas teorias principais para explicar essa persistência. Alguns economistas defendem a ideia que algumas pessoas trabalham em ocupações de baixo rendimento porque não possuem atributos, como capital humano ou talento, para exercerem outras atividades.

A educação, por exemplo, habilita as pessoas a aprenderem e utilizarem melhor as informações, os processos produtivos, abrindo oportunidades para diversas atividades. O baixo capital humano dos indivíduos explicaria a permanência das mesmas em certas atividades e em situação de privação material.

De acordo com essa teoria, a pobreza seria erradicada com um maior investimento nas pessoas através da expansão e melhoria da saúde e da educação públicas. Ações diretas de combate à pobreza, como a transferência de renda e/ou o acesso ao crédito, não teriam necessariamente efeitos significativos e permanentes na pobreza de longo prazo.

Uma outra visão entre os economistas é que as pessoas permanecem em atividades de baixo rendimento porque não têm ativos ou renda suficiente para fazerem certos investimentos e assim saírem da “armadilha da pobreza”. Um pequeno empresário pode precisar de máquinas e equipamentos para aumentar sua escala produtiva e vendas, assim podendo acumular ativos. Neste caso, acesso ao crédito barato e políticas de transferência de renda poderiam induzir investimentos e a saída de situações de extrema pobreza.

A visão de Josué de Castro sobre o efeito negativo na produtividade do trabalho de uma nutrição inadequada se insere também nesta teoria da existência de uma “armadilha da pobreza”.

É pouco questionável que políticas que levem a melhoria do capital humano possam tirar os indivíduos da pobreza. A questão que levanta mais dúvidas é se há ou não evidência sobre a existência de uma “armadilha da pobreza” e se políticas redistributivas podem ter efeitos duradouros sobre a incidência da pobreza.

Em um trabalho a sair no Quartely Journal of Economics, economistas da London School of Economics analisam um experimento controlado de 2007 com cerca de 26.000 famílias em Bangladesh, quando mulheres dessas famílias aleatoriamente receberam uma transferência de um ativo com valor de aproximadamente US$ 490 ou aproximadamente 90% do valor anual de gastos com consumo dessas famílias.

Se a pobreza em Bangladesh é determinada principalmente por atributos individuais dessas mulheres, era esperado que tal transferência geraria efeitos temporários no consumo das famílias beneficiadas pelo programa, mas não necessariamente teria levado a alterações relevantes nas atividades laborais e na renda.

No entanto, após 11 anos, os autores do estudo mostram que essa transferência gerou de fato mudanças duradouras, afetando positivamente o número de horas trabalhadas, assim como as atividades exercidas e o acúmulo permanente de ativos das mulheres. Os economistas indicam que a taxa interna de retorno do programa foi bem mais elevada do que as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras em Bangladesh.

O referido estudo revela que a “armadilha da pobreza” pode ser um determinante importante da persistência de indivíduos em atividades de baixa remuneração. Portanto, não só políticas de investimento de capital humano são efetivas para combater a pobreza de curto e longo prazos; ações redistributivas podem também ter um papel relevante.

Contudo, é essencial pensar em como melhorar o desenho de políticas redistributivas em larga escala. É importante desmontar as “armadilhas da pobreza”, evitando a dependência crônica das políticas públicas. Temos sim que dar o peixe para todos que passam fome, mas o objetivo fundamental é ensinar a pescar e promover os incentivos para a criação de valor e o fortalecimento do trabalho produtivo.

*Tiago Cavalcanti é professor de Economia da Universidade de Cambridge e da FGV-SP

Valor Econômico

Covid-19: reações à vacina em crianças são raras, dizem especialistas

 




Para pesquisadores, risco de não vacinar supera qualquer reação

Por Vinícius Lisboa 

As chances de uma criança ter quadros graves de covid-19 superam qualquer risco de evento adverso relacionado à vacina da Pfizer, avaliam pesquisadores da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ouvidos pela Agência Brasil.

A vacina já está em uso em crianças de 5 a 11 anos em 30 países, e cerca de 10 milhões de doses foram aplicadas somente nos Estados Unidos e Canadá.

Membro do Departamento Científico de Imunizações da SBP, Eduardo Jorge da Fonseca Lima tem acompanhado os dados de vigilância farmacológica divulgados pela autoridade sanitária dos Estados Unidos, o FDA. Entre as mais de 8 milhões de crianças vacinadas no país, 4% tiveram eventos adversos pós vacinação, e, entre esses casos, 97% foram leves, tranquiliza o médico.

"Um evento adverso muito falado e que preocupa as pessoas é a miocardite, que é uma inflamação no coração, que qualquer vírus ou vacina pode causar. De 8 milhões de doses aplicadas, houve um registro de apenas 11 casos, e os pacientes evoluíram bem", destaca.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) Flavia Bravo acrescenta que a miocardite pós-vacinação é muito rara, e mais rara ainda em crianças, já que acomete com mais frequência adolescentes e jovens adultos.

"Observou-se uma ocorrência raríssima de miocardite relacionada à vacina da Pfizer, 16 vezes menor que a incidência de miocardite causada pela própria covid-19", analisa. "São casos raros, não houve nem uma morte por causa deles e a maioria nem precisou de internação".

Imunizante

A vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos tem uma formulação diferente e uma dose menor que a dos adultos e adolescentes, com apenas 10 microgramas (0,2 mL) do imunizante. Seu uso foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 16 de dezembro.

Segundo a Anvisa, a tampa do frasco da vacina é da cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de vacinação e também pelos pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para serem vacinadas. Para os maiores de 12 anos, a vacina, que será aplicada em doses de 0,3 mL, terá tampa na cor roxa.

O médico da SBP explica que, nos ensaios clínicos, os pesquisadores buscam a menor dose capaz de provocar uma resposta imune efetiva, e que, no caso das crianças, foi possível reduzir a quantidade. "Percebeu-se que as crianças têm um sistema imunológico que responde muito melhor que o dos adultos".

Reações

Os especialistas afirmam que os pais podem esperar como eventos adversos reações comuns a outras vacinas que já fazem parte do calendário infantil do Programa Nacional de Imunizações (PNI), como dor no local da aplicação, febre e mal estar.

Flávia Bravo compara que a frequência de eventos adversos relacionados à vacina da Pfizer em crianças tem se mostrado inferior a de vacinas como a meningocócica b e a pentavalente, que já são administradas no país: 

"A gente recomenda aos pais o mesmo que a gente recomenda para qualquer vacina. Os eventos esperados são as reações locais, febre, cansaço, mal-estar. Podem aparecer gânglios. Esses eventos são todos previstos e autolimitados. Se o evento adverso estiver fora disso que ele já espera que aconteça com as outras vacinas, é hora de procurar o serviço que aplicou a vacina e o seu médico, se você tiver".

Eduardo Jorge Fonseca reforça que os eventos adversos mais esperados são leves, como febre, dor no corpo e irritabilidade. Sintomas que devem alertar os pais para a necessidade de avaliação médica são febre persistente por mais de três dias, dor no tórax e dificuldade para respirar, aconselha ele, que reafirma que esses quadros são extremamente raros.

"A gente não está dizendo que a vacina tem 0% de risco. Estamos dizendo que a vacina é extremamente segura, que um percentual muito pequeno vai ter evento adverso, e a imensa maioria desses eventos adversos vai ser considerada leve", explica Fonseca.
Covid-19 em crianças

O médico enfatiza que qualquer risco de evento adverso é inferior ao que vem sendo observado nos casos de covid-19 em crianças. De janeiro ao início de dezembro de 2021, um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz mostrou que houve 1.422 mortes por síndrome respiratória aguda grave decorrente de covid-19 na faixa etária até 19 anos.

Outra preocupação no caso de crianças com covid-19 é a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, quadro que gera inflamações em diferentes partes do corpo, incluindo coração, pulmões, rins, cérebro, pele, olhos ou órgãos gastrointestinais. Desde o início da pandemia, foram registrados 1.412 casos desse tipo no Brasil, causando 85 óbitos.

Os dados fizeram parte do embasamento de uma nota técnica divulgada pela Fiocruz em defesa da vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Os pesquisadores da instituição escreveram que "ainda que em proporções de agravamento e óbitos inferiores aos visualizados em adultos, as crianças também adoecem por covid-19, são veículos de transmissão do vírus e podem desenvolver formas graves e até evoluírem para o óbito".

Outro alerta diz respeito à disseminação da variante Ômicron, muito mais transmissível que as formas anteriores do novo coronavírus: "diante da transmissão e avanço atual da variante Ômicron, existe uma preocupação aumentada com seu maior poder de transmissão, especialmente, nos indivíduos não vacinados. Isso torna as crianças abaixo de 12 anos um grande alvo dessa e possivelmente outras variantes de preocupação".

O pesquisador da Sociedade Brasileira de Pediatria acrescenta ainda que outro perigo é o desenvolvimento de um quadro de covid-19 longa, que pode trazer impactos cognitivos e prejuízos ao aprendizado. "O risco do adoecimento de uma criança por covid-19 e suas repercussões de curto prazo, como a própria miocardite pós-covid, as consequências da covid longa e a letalidade no Brasil, que é muito maior que em outros países, é incomparável ao risco-benefício de vacinar todas as crianças", avalia Fonseca.

Ele rechaça a ideia repetida por movimentos antivacina de que o imunizante seria experimental: "esse nome experimental é altamente equivocado. É uma vacina recente, que passou por todas as fases de estudo clínico, que mostrou sua eficácia e sua segurança".

Flávia Bravo ressalta que os pais devem ficar tranquilos em relação à segurança da vacina. Mesmo com a celeridade no desenvolvimento, nenhuma etapa de testagem foi pulada, os resultados foram avaliados por outros cientistas ao redor do mundo e agora a efetividade da vacina está sendo confirmada pelas autoridades sanitárias de cada país que já iniciou a aplicação. "Além de já termos ensaios clínicos pré-licenciamento que são tranquilizadores, na prática, na vida real, a gente está observando isso também".

Agência Brasil

Fala de Macron sobre não vacinados provoca críticas

 




Presidente francês disse que pretende "encher o saco" de não imunizados com restrições até que eles aceitem imunizantes. Declaração provoca suspensão de sessão no Parlamento que discutia lei sobre passaporte sanitário.

O Parlamento francês suspendeu o debate sobre uma nova lei relacionada ao passaporte de vacina na madrugada desta quarta-feira (05/12), após parlamentares de oposição exigirem explicações do presidente Emmanuel Macron sobre comentários feitos em uma entrevista ao jornal Le Parisien.

Na véspera, o presidente disse que pessoas não vacinadas são "irresponsáveis" e que ele planejava tornar suas vidas tão complicadas que elas acabariam tendo de tomar a vacina.

"Os não vacinados, quero muito encher o saco deles. E vamos continuar fazendo isso, até o fim. Essa é a estratégia", disse Macron.

Na fala, o presidente de centro-direita usou em francês o verbo "emmerder", um termo coloquial incomum para um chefe de Estado. O termo, um palavrão dependendo do contexto, tem difícil tradução para o português, mas pode ser entendido como "encher o saco" ou "pentelhar".

Críticas no Parlamento

A entrevista foi publicada pouco antes de parlamentares retomarem um debate sobre o novo projeto de lei, que tornará obrigatório a apresentação de um comprovante de vacinação contra a covid-19 para a entrada em restaurantes, cinemas e trens.

A sessão foi rapidamente tomada por uma discussão sobre os comentários do presidente.

"Um presidente não pode dizer coisas assim", afirmou o parlamentar Christian Jacob, líder do partido de oposição conservador Les Republicans. "Eu sou favorável ao passaporte da vacina, mas não posso apoiar um texto cujo objetivo é 'encher o saco' dos franceses."

"É esse seu objetivo, sim ou não? Não podemos continuar debatendo sem termos uma resposta clara sobre isso", disse.

Representantes da extrema-direita também atacaram o que classificaram como "violência" de Macron.

Mas críticas também partiram da esquerda. A prefeita de Paris, a socialistas Anne Hidalgo, e o comunista Fabien Roussel questionaram se Macron quer mesmo "unir" os franceses. Jean-Luc Mélenchon, da extrema esquerda, denunciou o que chamou de uma "confissão alucinante de Macron".

Premiê defende Macron

Outros opositores no Parlamento ecoaram as críticas exigiram que o primeiro-ministro Jean Castex, um aliado de Macron, desse explicações. A sessão foi suspensa pouco antes das 2h e retomada na tarde desta quarta-feira, após Castex defender os comentários de Macron.

"O que o presidente da República disse, eu ouço em todos os lugares e vocês sabem disso", disse o primeiro-ministro. "Há uma exasperação da parte dos nossos cidadãos ao verem toda uma forma de constrangimentos que lhes são impostos quando outros decidem libertar-se deles. (...) As palavras do presidente da República estão em perfeita sintonia com o que nós fazemos."

"Quem está insultando a nação? Quem está fragmentando a nação? Quem leva os agentes de saúde, em nossas alas de emergências, a fazer escolhas éticas dramáticas? É uma pequena minoria", argumentou o primeiro-ministro em reposta a outro parlamentar. "Ser cidadão também significa ter deveres e relembrá-los."

Gafes

Desde que assumiu o poder em 2017, Macron um ex-banqueiro e ex-ministro fez esforços para tentar minimizar uma imagem de político arrogante próximo às elites que persiste entre vários franceses. No entanto, ocasionalmente ele é acusado de insensibilidade.

Em 2017, ele foi criticado por afirmar estações ferroviárias são lugares "onde se encontram pessoas bem-sucedidas e pessoas que não são nada". No ano seguinte, provocou polêmica ao afirmar a um desempregado que descrevia suas dificuldades que bastava "atravessar a rua" para encontrar emprego.

Pandemia

Após as falas de Castex, os debates sobre a lei foram retomados, mas começaram a se arrastar diante de centenas de emendas apresentadas pelos parlamentares. Por volta de 20h (16h em Brasília), os parlamentares ainda tinham que analisar 390 emendas ao texto.

Se aprovada, a lei prevê que maiores de 12 anos sem vacinação não poderão ir a restaurantes, museus, academias, cinemas ou utilizar certos transportes, mesmo que apresentem teste de diagnóstico negativo de menos de 24 horas.

A França vem enfrentando um avanço robusto do coronavírus nas últimas semanas. Nesta quarta-feira, foram registradas mais 332 mil novas infecções - um novo recorde no país. Entre os franceses, 78,6% receberam pelo menos uma dose da vacina e 76,8% receberam todas as doses necessárias.

Deutsche Welle

Ômicron deve se tornar variante dominante na Alemanha




Ministério da Saúde afirma que avanço da variante é questão de dias. Titular da pasta pede mais restrição de contatos, mas ministro das Finanças afirma que governo não pretende impor novos lockdowns.

A variante ômicron do coronavírus provavelmente se tornará dominante em toda a Alemanha em questão de dias, declarou um porta-voz do Ministério da Saúde alemão nesta quarta-feira (05/01). A nova variante, mais infecciosa, já responde por um quarto de todos os novos casos de covid-19 na Alemanha.

A ômicron também já é a mais comum em alguns estados alemães, especialmente no norte do país: "A respeito disso, devemos realmente presumir que em pouco tempo, em questão de dias, ela [ômicron] também se tornará a variante dominante em todo o país", completou o porta-voz.

Diante desse quadro, o ministro da Saúde do país, Karl Lauterbach, vem defendendo que a Alemanha considere a imposição de mais restrições de contato social e eleve o número de vacinados com a dose de reforço.

"Infelizmente, será necessário apertar o botão para conter a onda pesada que está vindo em nossa direção", disse Lauterbach à agência de notícias RedaktionsNetzwerk Deutschland, sem dar mais detalhes.

Governo exclui confinamento

O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, deve se reunir com líderes regionais na sexta-feira para discutir como reagir à disseminação da variante ômicron. Apesar do avanço da doença, no momento o governo alemão parece firme no objetivo de evitar a imposição de novos lockdowns.

"Queremos evitar fechamentos localizados ou generalizados no futuro", disse o ministro das Finanças, Christian Lindner. "Nosso objetivo continua sendo manter a vida social e evitar danos sociais, na medida do possível."

Em dezembro, as infecções diárias estavam diminuindo na Alemanha, depois que o país introduziu medidas como a exigência do comprovante de vacinação para diversas atividades em ambientes fechados, mas há uma semana recomeçaram a aumentar.

O Instituto Robert Koch, de prevenção de doenças, relatou 58.912 novos casos nesta quarta-feira, um aumento de 47% em relação à semana anterior. O país registrou mais 346 mortes, elevando o total para 112.925 desde o início da pandemia.

A Alemanha tem uma taxa de vacinação relativamente baixa em comparação com outros países da Europa Ocidental: 71,3% da população está totalmente vacinada e 39,3% receberam uma dose de reforço.

Deutsche Welle

Saldo comercial recorde expõe ineficiência produtiva - Editorial




O Brasil será uma das economias emergentes que menos crescerá este ano - se crescer

Fortes desvalorizações do dólar ao longo da pandemia levaram a um superávit comercial recorde no ano passado, de US$ 61 bilhões, e a um recorde em exportações (US$ 280,39 bilhões), mas não evitou a decadência da competitividade dos manufaturados brasileiros. A pauta de vendas ao exterior está cada vez mais concentrada e com seu dinamismo voltado para os bens primários provenientes da agricultura e da indústria extrativa. A balança da indústria de transformação registrou déficit de US$ 53,36 bilhões no ano passado.

Apesar do câmbio favorável, e contrariando os manuais, as importações da indústria de transformação cresceram mais que as exportações - 35,1% e 26,3%, respectivamente. Também em contradição com o que se poderia supor diante de um real superdesvalorizado, o país teve déficits em praticamente todos os mercados compradores relevantes, com exceção da Ásia, onde a participação da China é preponderante. O Brasil teve pequeno saldo negativo em suas transações com a Argentina (de US$ 70 milhões), um resultado negativo pouco maior com União Europeia (- US$ 1,73 bilhões) e outro, substancial, com os Estados Unidos (-US$ 8,28 bilhões).

As commodities agrícolas e minerais garantiram o saldo positivo da balança brasileira, e a China, mercado do qual o país é cada vez mais dependente, assegurou dois terços do resultado comercial, ou US$ 41,4 bilhões. A Ásia compra quase metade dos bens exportados brasileiros (46,3%) e a China, quase um terço (32,1%), embora a fatia da região e do país tenham tido um pequeno declínio no ano passado.

Como esses mercados relevantes são também concorrentes mais competitivos do Brasil em bens manufaturados, as commodities continuaram avançando na composição da pauta de vendas brasileiras. Minério de ferro, óleos brutos e cobre somam US$ 78,1 bilhões das exportações, mais de um quarto do total. Se a eles forem acrescidos, soja e café não torrado, mais farelo de soja e carnes de aves (ambos classificados como produtos da indústria de transformação), as vendas somam US$ 137 bilhões - apenas sete categorias de produtos compõem a metade de tudo o que o Brasil exportou no ano passado.

Em 2022 a performance das exportações brasileiras provavelmente não se repetirá, mesmo que expectativas de valorização do real não se concretizem. 2021 foi o ano de consolidação da recuperação da devastação provocada pela pandemia e o comércio mundial, segundo estimativa da Organização Mundial do Comércio, deve ter crescido 10,8%. Para este ano a cifra cai a menos da metade, 4,7%.

Além disso, o pico da recuperação já ficou para trás nas principais economias desenvolvidas, em particular nos EUA, onde o crescimento deverá desacelerar para 4% este ano, ainda assim bem acima de sua tendência histórica. Esta perspectiva supõe que o início da redução da enorme liquidez global por parte do Fed e dos demais bancos centrais se dê de forma tranquila e previsível e não provoque tumultos financeiros, o que não está de forma alguma assegurado. A China está em desaceleração, sua participação no impulso ao crescimento da economia global diminuiu e é crescente a possibilidade de que não mais repetirá as taxas de expansão aceleradas da última década.

O crescimento mais moderado das economias desenvolvidas deve conter os preços das commodities, que serão mais comportados e possivelmente menos voláteis do que foram nos últimos dois anos. Em 2021, o crescimento dos preços foi determinante para o saldo recorde, com evolução de 28,3%, ante apenas 3,5 nas quantidades vendidas. Nas commodities metálicas, os preços saltaram 62,4%. Dada a dependência crescente delas, o saldo comercial pode cair um pouco. Para a inflação doméstica isto será positivo e poderá aliviar a carga de juros necessária para trazê-la de volta à meta, desde que a variação do dólar em relação ao real não dispare, como no passado recente. As chances de valorização do real em um ano eleitoral, porém, são diminutas.

Por outro lado, o Brasil será uma das economias emergentes que menos crescerá este ano - se crescer. Ainda que seja difícil bater novo superávit recorde, a participação do setor externo no crescimento será positiva, ao contrário de 2021, quando deve ter retirado 1,4 ponto percentual do PIB (segundo previsão do Banco Central). As importações diminuirão com a menor atividade, enquanto que as exportações aumentarão, embora em ritmo mais comedido que no ano passado.

Valor Econômico


Por que idolatramos políticos?




Eles são parafusos de uma engrenagem que deve manter um país funcionando. 

Por Lygia Maria (foto) 

Há quem critique o conceito de "brasileiro cordial", do sociólogo Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), porque o brasileiro seria agressivo, mal-educado, mas isso é um equívoco. "Cordial" vem do latim "cor, cordis", que significa "coração". Ou seja, o brasileiro é um ser passional —logo, dado a fazer bobagens.

Não consegue separar o privado (emoção) do público (razão), acha que o Estado é uma ampliação do círculo familiar, ou seja, acha que o espaço público é a casa da mãe joana (nepotismo, patrimonialismo, personalismo etc.). Como esclarece o sociólogo, "a inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado (...) o indivíduo afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas".

Um exemplo é a idolatria à pessoa de Jair Bolsonora a partir do "ele é gente como a gente!", só porque veste camiseta de time de futebol, come pizza em pé na calçada ou tira foto usando chinelos, sentado em uma cadeira de plástico em um boteco nas férias de fim de ano.

No outro lado, temos o "Lulinha paz e amor", "Lula ladrão, roubou meu coração" e uma adoração messiânica ao ex-presidente Lula. Segundo a militância, Lula é o único capaz de salvar a população brasileira, e quem se recusa a votar nele é um herege. Puro sebastianismo: a crença de que dom Sebastião (1554-1578) voltaria como um novo messias para levar Portugal à glória novamente.

Nas últimas eleições, ouvimos que Henrique Meirelles não é simpático, que Marina Silva é frágil. Boulos bradava "vamos voltar a fazer política com emoção". Não! Foi por causa da emoção que atolamos nessa lama polarizada. Um jornalista disse que já é hora de perdoar o PT. Perdoar um partido que causou estrago devastador na economia e se envolveu em corrupção? Perdoamos pessoas pelas quais nutrimos algum tipo de sentimento e apenas quando assumem responsabilidade pelos erros cometidos.

Políticos e partidos são como eletrodomésticos. Uma geladeira serve apenas para resfriar alimentos. Um político é um funcionário público que deve ser eficiente e só, como uma geladeira: parou de gelar? Conserte ou compre outra. Ninguém ama uma geladeira, idolatra uma geladeira.

Não somos máquinas, claro, mas sermos humanos não significa estarmos em constante estado de torpor emocional. Entre o brasileiro apaixonado e um computador há gradações e há situações em que cada habilidade humana (razão e paixão) é mais adequada. Idolatremos humoristas, músicos, santos. Tratemos políticos pelo que de fato são: parafusos de uma engrenagem que deve manter um país funcionando de forma eficiente.

Folha de São Paulo

Em "Watergate polonês", oposição foi espionada com Pegasus



Celular do oposicionista polonês Krzysztof Brejza foi hackeado mais de 30 vezes

Telefones de políticos da oposição e de uma promotora na Polônia foram hackeados com spyware Pegasus, que governo Bolsonaro teria cogitado comprar. Autoridades parecem pouco interessadas em esclarecer o caso.

Em julho de 2021, um consórcio internacional de jornalistas publicou os resultados de uma investigação revelando como o spyware israelense Pegasus foi usado por uma série de países autocráticos como Azerbaijão, Arábia Saudita, Ruanda e Marrocos para espionar políticos, correspondentes e ativistas de direitos humanos. O único país europeu que supostamente utilizou o programa foi a Hungria.

Mais de meio ano depois, estão vindo à tona detalhes que sugerem que o atual governo polonês, liderado pelo partido Lei e Justiça (PiS), pode estar mergulhado num escândalo próprio relacionado ao Pegasus. O grupo populista de direita é notório por simpatizar com o premiê húngaro, Viktor Orbán.

Krzysztof Brejza, legislador integrante da legenda liberal Plataforma Cívica (PO), relatou, no fim de dezembro, que seu smartphone foi hackeado 33 vezes entre abril e outubro de 2019.

Nessa época, Brejza chefiou a equipe eleitoral de seu partido antes das eleições legislativas de 13 de outubro. Durante o período, a emissora pública polonesa TVP acusou o deputado de 38 anos de liderar uma campanha virulenta contra seus inimigos políticos, citando e-mails falsos para confirmar a acusação.

Brejza acha que o timing da acusação "não é coincidência" e que e-mails foram baixados de seu telefone durante esse tempo, tendo sido manipulados depois. Ele não foi o único político polonês vítima dos ataques de hackers: Roman Giertych, conhecido advogado oposicionista e ex-ministro do Interior, diz que seu telefone foi invadido 18 vezes.

Pistas de seis ataques de hackers entre junho e agosto de 2021 também foram detectadas no telefone da promotora polonesa Ewa Wrzosek, que criticou o governo polonês por seus planos controversos de implementar a votação por carta para a eleição presidencial de 2020, e que também trabalha para a oposicionista Associação de Promotores Poloneses Independentes "Lex Super Omnia".

O que é o Pegasus?

O software de espionagem Pegasus foi desenvolvido pela empresa de tecnologia israelense NSO. É vendido a países do mundo todo para auxiliar na luta contra o terrorismo e o crime organizado. O Pegasus é capaz de espionar iPhones e smartphones com sistema Android em tempo real, gravar conversas, registrar dados de localização e ativar câmeras secretamente.

Especialistas em computação dizem que não existe proteção contra esse tipo de software de espionagem.

O deputado Krzysztof Brejza ficou sabendo que foi hackeado após a publicação de uma matéria da agência de notícias Associated Press. Já Ewa Wrzosek recebeu um alerta da empresa Apple. O Citizen Lab, um laboratório interdisciplinar sediado na Universidade de Toronto, Canadá, confirmou os ataques.

Figuras da oposição polonesa denominaram as ações de "Watergate Polonês", exigindo um inquérito parlamentar especial, por temer que eleições passadas possam ter sido comprometidas.

Governo nega saber dos ataques

O governo, por seu lado, diz não ter conhecimento de irregularidades. Ao falar com jornalistas no fim de 2021, o vice-ministro da Justiça, Michal Wos, afirmou: "Não sei de que sistema você está perguntando, não sei que sistema é esse", acrescentando que o ministro da Justiça e procurador-geral Zbigniew Ziobro tampouco tem conhecimento de qualquer medida de espionagem ilegal do tipo.

De fato, a Procuradoria-Geral tem mostrado desinteresse notório pelo assunto. O advogado do político opositor Brejza apresentou uma denúncia, mas nenhum processo foi iniciado até agora. Wrzosek, que também buscou iniciar uma ação legal, teve seu caso engavetado pelas autoridades, por suposta falta de provas.

No início de janeiro, o vice-ministro da Justiça minimizou o caso no Twitter, postando uma imagem de um controle da PlayStation com a seguinte legenda: "Este é o Pegasus que comprei nos anos 90."

Por sua vez, o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, afirmou que o escândalo de ataques de hackers a telefones pode ter sido obra de agências de inteligência internacionais, das quais "há muitas no mundo".

Acordo de alto nível

Contudo, uma série de documentos recém-descobertos lançou mais luz sobre o caso do spyware. Em 3 de dezembro de 2021, o diário de esquerda Gazeta Wyborcza revelou que, em julho de 2017, o premiê húngaro Viktor Orbán se encontrou com a então premiê polonesa, Beata Szydlo, e o ex-primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Segundo o jornal, nesse encontro foi tomada a decisão de comprar o Pegasus.

O governo teria tentado esconder a compra no valor de 25 milhões de zlótis (cerca de R$ 35 milhões) ao retirar o dinheiro de um fundo do Ministério da Justiça para vítimas de crimes, em vez de mandar a conta para o Departamento Central Anti-Corrupção.

Para viabilizar a compra, o Parlamento polonês precisou alterar o status do fundo. Segundo o jornal, o vice-ministro Wos submeteu o pedido ao comitê financeiro da Casa, mas os legisladores nunca foram informados de que os fundos estavam separados para comprar software de espionagem.

O próximo software

Aparentemente, Israel diminuiu de mais de 100 para 37 o número de países autorizados a usarem o Pegasus, e Hungria e Polônia estão entre os que tiveram a licença de uso revogada. A oposição polonesa, porém, duvida que isso acabará com o programa de espionagem.

"Nos próximos dias, vamos ser informados sobre os nomes e os números de telefones de mais vítimas de espionagem", acredita Grzegorz Schetyna, um dos fundadores da PO e ex-ministro do Interior e do Exterior.

Já o especialista em segurança Piotr Niemczyk aponta que outros programas de espionagem alternativos já estão no mercado. A empresa de cibersegurança israelense Cytrox, com sede na Macedônia, desenvolveu o Predator, um programa equivalente ao Pegasus.

Em 27 de dezembro último, o líder do PiS, vice-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski acalmou a população ao dizer que "estou brincando apenas pela metade quando digo que você deve usar um telefone como o meu: um aparelho velho e usado que grava vídeos quando sabe que botão apertar". Kaczynski é conhecido como profundamente cético em relação às tecnologias modernas.

Deutsche Welle

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