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domingo, outubro 10, 2021
O país da vergonha
Três demônios no meio do caminho
Justiça de SP nega duas vezes liberdade a mãe de 5 filhos que furtou miojo e refrigerante
por Wesley Faraó Klimpel | Folhapress
O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) negou duas vezes liberdade a uma mulher presa ao furtar um mercado na Vila Mariana, em São Paulo, no dia 29 de setembro. Mãe de cinco filhos, ela disse que cometeu o crime por estar com fome. A Defensoria Pública, que cuida do caso, recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Do mercado, a mulher levou sem pagar dois pacotes de miojo, duas garrafas de refrigerante e um pacote de suco em pó, totalizando R$ 21,69. Segundo a decisão, policiais militares que a prenderam afirmaram terem sido chamados por pedestres que avisaram sobre o furto e viram a suspeita caindo durante a fuga. A mulher, então, disse que tinha furtado os produtos porque estava com fome.
Na delegacia, um funcionário da empresa de segurança do mercado afirmou que a suspeita foi filmada enquanto colocava os produtos na bolsa. Ao ser abordada por uma atendente, ela devolveu uma lata de leite condensado e se negou a entregar os demais itens.
O Ministério Público de São Paulo pediu ao TJ para que a prisão em flagrante fosse convertida em preventiva, justificando que a mulher já tinha antecedentes criminais --ela responde a outros dois processos por furto.
Em contrapartida, a Defensoria Pública de São Paulo, responsável pela defesa da acusada, pediu o relaxamento da prisão, argumentando que ela é mãe de cinco filhos. Além disso, foi citado o princípio da insignificância, orientação do STF (Supremo Tribunal Federal) que busca não punir condutas com resultados irrelevantes dos pontos de vista jurídico e patrimonial.
Ainda em 2020, em meio a cadeias lotadas e a pandemia de Covid-19, magistrados passaram a rever reincidência para crimes insignificantes.
No dia seguinte ao furto, a juíza Luciana Menezes Scorza acatou o pedido da Promotoria e converteu a prisão em flagrante da mulher em preventiva. "Embora seja genitora de quatro crianças [o quinto filho é adolescente], não há evidências de que ela é responsável por seus cuidados", afirmou.
Além disso, para a juíza de 1ª instância, como a ré disse estar em situação de rua e sem emprego, "a recolocação em liberdade neste momento (de maneira precoce) geraria presumível retorno às vias delitivas, meio de sustento".
A Defensoria, então, recorreu à 2ª instância do TJ-SP, que também negou a liberdade à mulher presa. O desembargador Farto Salles lembrou que a ré é reincidente e que estava cumprindo pena em regime aberto quando furtou o mercado no fim de setembro.
O magistrado também afirmou que não é imprescindível a liberdade da mãe para cuidar dos filhos, já que eles estão sob os cuidados da avó. "Embora triste a situação, impossível se negar a periculosidade avaliada em face da real e intensa culpabilidade da agente."
A defesa da ré também argumentou que houve irregularidade na falta de uma audiência de custódia, ao que o magistrado rebateu afirmando que a "dispensa do ato encontra amparo na excepcional situação de calamidade pública vivenciada na pandemia de Covid-19 --e correlata suspensão dos expedientes presenciais nas unidades cartorárias inviabilizando a apresentação 'física' dos presos."
Diante da segunda negativa à liberdade da mulher, a Defensoria Pública recorreu nesta sexta-feira (8) ao STJ. De acordo com um levantamento do jornal Folha de S.Paulo, de 2019, uma em cada três decisões judiciais proferidas na segunda instância que chegam ao Superior Tribunal de Justiça é alterada pela corte.
Em junho de 2020, o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), absolveu uma mulher que furtou um pedaço de picanha e outras mercadorias no Rio de Janeiro. No mesmo dia, Rosa Weber negou habeas corpus a um jovem que furtou dois xampus, de R$ 10 cada, em São Paulo. Ela endossou sentença que dizia que, como tinha antecedentes, o réu mostrava que não conseguia viver em sociedade.
Nota da redação deste Blog - Enquanto isso, políticos superfaturam o preço do peixe, rouba o dinheiro que vem para saúde e educação, desviam a finalidade do dinheiro da COVID-19, tudo isso amparado na impunidade. Parece que o lema é: tem quem roubar muito.
Após novo reajuste, Bolsonaro joga a toalha e diz que não tem poder sobre a Petrobras
Deu no Estado de Minas
O presidente Jair Bolsonaro afirmou que não vai interferir na política de preços da Petrobras, depois da nova alta anunciada, de 7,2%, que vale a partir deste sábado para as refinarias. “Tenho falado com Paulo Guedes, não basta a economia, você tem que ter viés político”, disse Bolsonaro, que participou da 1ª Feira Brasileira do Nióbio, em Campinas (SP). Apesar disso, ele afirmou:
“Não tenho poder sobre a Petrobras. Já tivemos experiência de congelamento no passado”. O chefe do Executivo deu as declarações ao ser questionado sobre medidas para conter o preço dos combustíveis, principal vilão da inflação, que chegou a 10,25% no acumulado em 12 meses, maior índice registrado desde 2016, além das negociações do Auxílio Brasil, programa social que substituirá o Bolsa-Família.
Mais cedo, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que outros países estão sofrendo com inflação ainda maior. Citou que o preço do gás no Reino Unido subiu 300% nos últimos meses e 200% em média na Europa e que alguns países do continente passam por desabastecimento.
DISSE BOLSONARO – “Um dos países que menos sofreram na economia com a pandemia fomos nós. Aí fora, a Inglaterra, 300% de aumento do gás. 200% em média na Europa. Alimentos em falta lá. Não é apenas inflação. O pessoal reclama daqui, mas aqui estamos pagando aquela do fique em casa, a economia a gente vê depois. Eu falei que não podia fazer isso. Mas a gente tá recuperando aí”, disse.
Bolsonaro pretende permanecer em Campinas neste feriado prolongado e retornar a Brasília na quarta-feira. Foi o que ele disse a um grupo de apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, na manhã de sexta-feira.
Com apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), o governo pretende alterar a incidência do ICMS, que é imposto estadual, sobre os combustíveis, mas enfrenta resistência de governadores. Bolsonaro garantiu também que não haverá rompimento de contratos em seu governo: “Quando se fala em combustível, somos autossuficientes, mas por que esse preço atrelado ao dólar? Eu posso agora rasgar contratos? Como é que fica o Brasil perante o mundo?”.
“FORA, BOLSONARO” – O discurso do presidente na cidade paulista chegou a ser interrompido por gritos de “Fora, Bolsonaro” e outras críticas ao governo. Ele reagiu ao microfone: “Não vamos chegar ao nível deles. Sairei daqui imediatamente se essa manifestante me responder quanto é 7 vezes 8 ou a raiz quadrada de quatro”. Ele admitiu, entretanto, que sua gestão tem falhas.
“Em parte dá certo nosso governo, não vou falar que é tudo 100%”. E voltou a afirmar que não tem corrupção no governo. “Pode haver um dia, mas não vai ser por incentivo”, sem mencionar as suspeitas de irregularidades no Ministério da Saúde.
O chefe do Executivo federal participou da feira de nióbio e da inauguração de estruturas do Sirius, superlaboratório que faz espécie de “raio-X superpotente” de diversos tipos de materiais em escalas de átomos e moléculas.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Conforme informamos aqui em primeira mão, Bolsonaro está autorizado a voltar ao cercadinho, desde que não faça ataques às instituições e à democracia. Mas continua proibido de falar em “meu Exército”, “dentro das quatro linhas”, “artigo 142” e “comandante supremo das Forças Armadas”. O general Braga Netto, ministro da Defesa, também está liberado para falar, dentro de certos limite, é claro, mas o desânimo bateu tão forte que ele prefere continuar reduzido à sua insignificância. Pensaram que iam dar um golpe, porém foram “colocados em seus devidos lugares”, como se dizia antigamente. (C.N.)
Crise offshore amplia isolamento de Guedes e Bolsonaro é pressionado até por aliados
Publicado em 9 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Marianna Holanda e Ricardo Della Coletta
A revelação de que Paulo Guedes mantém empresa em paraíso fiscal serviu para aumentar a pressão no governo sobre o ministro da Economia, que passa pelo seu momento de maior isolamento na Esplanada e no Palácio do Planalto.
Interlocutores do presidente afirmam que Guedes, outrora superministro, não tem conseguido emplacar soluções para reverter o quadro de crise econômica, e, principalmente, para a implementação do Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família.
MAIS FRITURA – Assim, o fogo amigo contra Guedes nos corredores do Planalto se intensificou nos últimos dias e auxiliares do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) devem usar o episódio da offshore para aumentar a fritura.
Nesta quarta-feira (6), em outra frente, a Câmara dos Deputados aprovou a convocação do ministro para explicar perante o plenário a manutenção de offshore. Quando uma autoridade é convocada, sua presença é obrigatória.
No Planalto, segundo interlocutores do presidente, o titular da Economia enfrenta um “paredão” de ministros contra ele —a sua demissão, inclusive, já foi sugerida por alguns pares ao próprio Bolsonaro. Se antes críticas ao ministro ficavam mais restritas à articulação política, agora se alastram por outros ministérios.
TETO DE GASTOS – Diante das dificuldades de aprovar medidas para pagar o Auxílio Brasil no Congresso em 2022, uma ala majoritária de auxiliares palacianos tem defendido furar o teto de gastos —que limita o crescimento das despesas à inflação—, algo rejeitado por Guedes.
O auxílio emergencial acaba no dia 31 de outubro e ainda não há uma solução para aumentar o valor do pagamento no Auxílio Brasil nem para manter todas as famílias beneficiárias do programa criado na pandemia da Covid-19.
A relação de Guedes está especialmente ruim com a ala política do governo, que cobra o ministro pelas dificuldades enfrentadas em matérias econômicas no Congresso. Além disso, outro fator que pesa contra o ministro é um histórico de atritos com congressistas.
CONSTRANGIMENTO – Interlocutores palacianos afirmam que as notícias sobre os investimentos de Guedes no exterior criam um constrangimento para o governo, principalmente em um momento de grave crise econômica e de alta dos preços.Por isso, dizem esses interlocutores, houve pouco empenho do Planalto em sair em defesa do ministro diante das revelações.
Auxiliares de Guedes se queixaram desse abandono. Eles creditam o desgaste interno a pressões por mais recursos. Membros da equipe econômica dizem ainda que as pressões sobre o ministro devem aumentar por causa da proximidade do ano eleitoral.
No entanto, assessores do ministro avaliam que as revelações da offshore não devem levar à saída de Guedes do governo. Dizem acreditar que ele ainda seja visto como importante avalista junto ao mercado.
INVESTIGAÇÃO – Há uma apuração preliminar em andamento na Comissão de Ética Pública, após denúncia feita pelo deputado Ivan Valente (PSOL-SP). Como a Folha mostrou, conselheiros disseram reservadamente ter visto com preocupação o caso.
Devem também avaliar, entre outras coisas, se o artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal foi respeitado. O texto prevê que “alterações relevantes no patrimônio da autoridade pública deverão ser imediatamente comunicadas à CEP [Comissão de Ética Pública]”.
Offshore é um termo em inglês usado para definir empresa aberta em outros países, normalmente locais onde as regras tributárias são menos rígidas e não é necessário declarar o dono, bem como a origem e o destino do dinheiro
FINS ILÍCITOS – Não é ilegal ter uma offshore, desde que declarada à Receita Federal, mas a falta de transparência desse tipo de empresa faz com que, frequentemente, elas sirvam para fins ilícitos, como ocultação de patrimônio.
O caso foi revelado por documentos da Pandora Papers, investigação promovida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.
A série de reportagens mostrou ainda que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também tem offshore em paraíso fiscal.
MAIORIA EXPRESSIVA – Nesta quarta, deputados aprovaram a convocação de Guedes. O requerimento apresentado pela oposição foi aprovado por 310 a 142 votos.
Mesmo partidos aliados, como PP, PL e Republicanos —todos com assento no primeiro escalão do governo— votaram a favor do comparecimento do ministro.
Uma das consequências diretas da revelação da empresa de Guedes, segundo interlocutores no Planalto, é prejudicar o já complicado andamento de reforma tributária no Congresso. Eles dizem acreditar que no Senado, onde a articulação política do governo já enfrenta mais resistência, os congressistas devem impor dificuldades para aprovar, por exemplo, a taxação de lucros e dividendos.
Com um peso e várias medidas, o Supremo mostra que a perseguição agora é seletiva
Publicado em 10 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Deu na Gazeta do Povo
Que os tribunais superiores e instâncias políticas como a CPI da Covid vêm promovendo uma guerra contra a liberdade de expressão já é algo bastante evidente desde que o inquérito das fake news no STF resultou na censura a uma revista, ainda em 2019. E também é notório que os alvos desta perseguição têm, todos, um perfil ideológico ou político-partidário semelhante: ou estão mais à direita, ou são conservadores, ou declaram apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
Alguém até poderia alegar que são apenas as pessoas desse lado do espectro ideológico ou político que “fariam por merecer”, que seriam apenas elas a propagar “discurso de ódio” e fazer “ataques às instituições”. Mas onde estaria a evidência empírica de que a perseguição é enviesada?
RELATIVIZAÇÃO – Haveria duas formas de demonstrar que a liberdade de expressão está sendo deliberadamente relativizada apenas para um grupo: a primeira seria mudar o alvo dos insultos.
O que aconteceria, por exemplo, se uma coluna de um grande jornal brasileiro trouxesse, em vez de frases com início, meio e fim, apenas insultos enfileirados – quase 200, para ser mais preciso – dirigidos não ao presidente Jair Bolsonaro (como de fato ocorreu, sem nenhum tipo de consequência ou responsabilização), mas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF?
A segunda forma de comprovar um viés ideológico na perseguição seria comparar insultos reais ao Supremo, mas feitos por pessoas de perfis diferentes. E, se a primeira situação ainda é hipotética, a segunda acaba de se concretizar; com isso, a corte presenteia o brasileiro com a evidência cabal de que, quando o assunto é liberdade de expressão, todos são iguais em direitos, mas uns são mais iguais que outros.
DE FORMA SELETIVA – Não resta mais dúvida alguma de que o STF vem agindo não apenas de forma abusiva em suas restrições à liberdade de expressão, mas também exerce esse abuso de forma seletiva, contra apenas um lado do espectro político-ideológico
Para isso, convidamos o leitor a analisar as seguintes falas: “Por várias e várias vezes já te imaginei [o ministro Edson Fachin] tomando uma surra. Ô… quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa corte. Quantas vezes eu imaginei você, na rua, levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não. Eu só imaginei”.
Ou, então: “Você faz uma intervenção agora… aposenta dez ministros do Supremo (…) pega aqueles dez satanazes… as duas bruxas… e os oito satanazes, você aposenta, manda pra casa (…) Impeachment dos ministros do Supremo. Esses dez… Tirando este Kassio que é novo (…) ainda sem os vícios dessa cachorrada mais antiga que está lá. (…) impeachment para aquelas sujeitas e aqueles sujeitos que estão lá”,
E, por fim, “Uma das tarefas fundamentais da gente é estimular o ódio de classe (…) Tem que acordar todo dia querendo pegar pelos cabelos cada um daqueles ministros do STF – se puxar pelo Fux sai a peruca – (…) tem que odiar, tem que xingar. Tem que ver uma foto e ter raiva, ter vontade de cuspir, tem que odiar a burguesia brasileira e seus representantes (…) Eu quero que o STF se f…. Barroso é um grande de um canalha. É um inimigo do povo brasileiro. O STF apoiou o golpe, p...!”
SEM MUITA DIFERENÇA – Em conteúdo, não há diferenças significativas: insultos a ministros do Supremo e, em dois casos, menção a agressões físicas. Mas os autores das duas primeiras falas foram presos graças a elas: são, respectivamente, o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), atualmente com o mandato suspenso, e o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, ambos aliados de Bolsonaro. Já o autor da terceira citação, o historiador stalinista Jones Manoel, referiu-se ao Supremo naqueles termos em 18 de setembro, durante evento de um sindicato cearense.
Passadas três semanas, ele continua livre para dizer o que bem entender, ainda que suas afirmações pudessem se encaixar perfeitamente no conceito de “ameaças e infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi e injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares”, como descreve o ex-presidente da corte Dias Toffoli no despacho em que determinou a abertura do inquérito das fake news, em março de 2019.
MUITO PELO CONTRÁRIO – Mas que não pense o leitor que desejamos ver Alexandre de Moraes ordenando a prisão de Jones Manoel por seu discurso de ódio – agora dirigido ao Supremo, mas que é habitual no caso do historiador, que já defendeu a execução de adversários políticos.
Se a prisão dele ocorresse, estaríamos diante de abuso idêntico ao cometido contra Roberto Jefferson e Daniel Silveira (no caso do deputado, com a agravante de também ter sido violada a imunidade parlamentar).
Seria apenas mais uma arbitrariedade cometida dentro de um inquérito que jamais deveria ter existido, tantas as aberrações jurídicas contidas nele.
PARA NÃO RESTAR DÚVIDA – Se ressaltamos o caso de Jones Manoel, é para que não reste mais dúvida alguma de que a corte vem agindo não apenas de forma abusiva em suas restrições à liberdade de expressão, mas também exerce esse abuso de forma seletiva, cassando a voz e validando arbítrios – como no caso recente em que Cármen Lúcia validou a quebra de sigilo do antropólogo, escritor e colunista da Gazeta do Povo Flávio Gordon – contra apenas um lado do espectro político-ideológico.
Se estivesse vivo, Alfredo Ceschiatti teria de alterar sua escultura da deusa Têmis, que está diante da sede da corte na Praça dos Três Poderes. Melhor seria instalar-lhe uma venda removível, para mostrar que os ministros às vezes enxergam, às vezes preferem não enxergar, e às vezes enxergam até o que não existe – ao menos é o que tem ocorrido neste inquérito das fake news e em outras investigações semelhantes, em que decisões parecem ditadas mais pelas conveniências que pelos fatos e pela lei penal e processual.
Afinal, há quem veja crimes quando o que existe é o mero exercício da liberdade de expressão; há quem não veja o princípio do juiz natural quando há indícios de possíveis crimes; e, como fica claro agora, há quem tenha passe livre para dizer de tudo sem que os ministros vejam absolutamente nada ali.
(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)
Novas exigências do PSOL para apoiar Lula são recebidas com desagrado pelos petistas
Publicado em 10 de outubro de 2021 por Tribuna da Internet
Mônica Bergamo e Julia Chaib
Folha
A informação de que o apoio do PSOL à candidatura presidencial de Lula ainda não está garantido e passa por questões programáticas e pelo eventual apoio do PT a candidaturas do partido nos estados, como a de Guilherme Boulos em SP, não foi bem recebida por lideranças petistas — em especial as paulistas.
Elas dizem que a retirada de uma candidatura do PSOL a presidente, que tem “1% nas pesquisas”, na linguagem figurada das lideranças petistas, não justificaria a contrapartida do nome de Fernando Haddad ao governo de São Paulo para apoiar Boulos. Haddad aparece em segundo lugar na pesquisa Datafolha para o governo de SP, com 17%. Boulos está em quarto lugar, com 11%.
MANIFESTAÇÕES – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (8) que não foi aos últimos protestos de rua organizados pela oposição a Jair Bolsonaro por questões sanitárias e para evitar transformá-los em “atos políticos”.
O petista disse que ainda não decidiu se participará da próxima manifestação organizada pela esquerda, marcada para 15 de novembro, mas admitiu a possibilidade de ir ao protesto caso não esteja em viagens internacionais marcadas para a mesma data.
Em entrevista em Brasília, o ex-presidente também mudou o tom de sua fala com relação ao tema da regulação da mídia e afirmou que este é um assunto de responsabilidade do Congresso Nacional e dos partidos, e não do presidente da República. Antes, nas últimas declarações, o petista defendia a regulamentação sem tentar se distanciar do assunto, como fez nesta sexta-feira.
DISSE LULA – “O que se propõe é que em algum momento da história do Congresso Nacional este tema possa ser debatido. É um tema do Congresso”, disse. “Em algum momento os partidos vão debater. O que ninguém pode é ter medo de um debate sobre isso”, afirmou Lula nesta sexta.
A mudança no tom atende a apelos que o petista ouviu em conversas com aliados nesta semana, que pediram a ele que evitasse adotar a regulação da mídia como um mote de sua campanha eleitoral.
Lula voltou a dizer que só decidirá se será candidato à Presidência no início do ano que vem, mas afirmou que montará um conselho de desenvolvimento econômico e social, com a participação de “empresários, negros, todo mundo”, para debater temas afeitos à campanha.
IMPEACHMENT – Durante a entrevista, o petista criticou Bolsonaro, o chamou de “maluco beleza”, “biruta de aeroporto”, e rebateu ilações de parlamentares segundo os quais o PT não defenderia verdadeiramente o impeachment porque Lula gostaria de manter a polarização e enfrentar Jair Bolsonaro no segundo turno, o que seria eleitoralmente melhor para ele.
“Dizer que o PT é contra o impeachment é de uma insanidade… A pessoa que fala que o PT é contra o impeachment poderia perguntar porque o [Arthur] Lira [presidente da Câmara] não coloca em votação (…) O presidente poderia colocar um dos pedidos em votação”, defendeu o ex-presidente.
Apesar das declarações, Lula não participou até hoje de atos de oposição organizados para defender o afastamento de Bolsonaro e afirmou que ainda não decidiu se vai ao próximo ato que está sendo organizado para o dia 15 de novembro.
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