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sábado, outubro 09, 2021

“Num mundo de incertezas, quem oferece esclarecimento enganoso é recompensado na política"




O filósofo basco Daniel Innerarity esboça em seu novo livro um plano de choque para transformar a democracia e garantir sua sobrevivência. Ele defende um ‘reset’ radical da política:

O filósofo Innerarity (Bilbao, 60 anos) é um dos grandes pensadores do mundo de acordo com a revista Le Nouvel Observateur. Sua solvência no âmbito do pensamento é provada em uma dezena de ensaios como La sociedad invisible (A Sociedade Invisível), Los tiempos de la indignación (Os Tempos da Indignação), Un mundo de todos y de nadie (Um Mundo de todos e de Ninguém) e La democracia del conocimiento (A Democracia do Conhecimento). Agora, o professor de Filosofia Política e Social da Universidade do País Basco acaba de publicar Una teoría de la democracia compleja. Gobernar en el siglo XXI (Uma Teoria da Democracia Complexa. Governar no Século XXI, ainda inédito no Brasil), cuja primeira edição se esgotou em dois dias na Espanha, em que esboça a necessidade de transformar o sistema para sua sobrevivência.

Pergunta. Seu livro apresenta um plano de choque à democracia. Propõe uma democracia mais sustentada na biologia do que na física.

Resposta. O paradigma das instituições modernas da democracia é a relação entre forças físicas tal como foram definidas por Newton e Laplace. Jefferson, por exemplo, gostava muito de física. Quando se analisa uma ideia tão fundamental ao sistema político como o checks and balances, pesos e contrapesos, é um universo de inércias e gravidade. A pergunta que abre o livro é se a reflexão política fez a passagem que as ciências da natureza realizaram, que desde então passaram por Einstein, Heisenberg, os avanços da neurociência, a teoria da emergência, das causalidades não lineares... Minha resposta é não. Ainda estamos pensando na política em um universo newtoniano.

P. No que a democracia ficou defasada?

R. Em quase tudo. Com exceção do núcleo de valores, de princípios normativos para os quais nunca encontraremos um substituto útil: a ideia de autogoverno, de igualdade, de representação, de deliberação, de justiça... Essas ideias não sofrerão grandes evoluções, a não ser que precisem se concretizar em contextos diferentes. Mas o restante das ideias... Nosso conceito de soberanias, territorialidade, autarquia, de poder, sofreram uma transformação que contrasta muito com a evolução feita pelos que se dedicam a pensar nessas coisas e os que exercem a política prática.

P. A questão, portanto, não são ajustes, e sim redefinir o sistema.

R. Projetamos um sistema para sociedades que cumpriam condições como simplicidade, autarquia, abrangência e instrumentos tecnológicos de pouquíssima sofisticação. E em 300 anos teremos um mundo interdependente, espaços abertos, soberanias compartilhadas em muitas regiões do mundo (ou pelo menos relações poliárquicas), uma sociedade muito mais plural, mais granular, mais diversificada... Já não funciona que os que estavam no Governo supostamente concentravam o maior nível de conhecimento frente a uma massa que sabia pouco. Hoje os Executivos precisam governar com subsistemas muito inteligentes. Isso significa um reset radical da política. Não estamos diante da típica reforma administrativa, sequer constitucional.

P. Essa redefinição é urgente?

R. Devemos realizar já certas revisões de nossos conceitos e o quanto antes, melhor. Para muitas coisas já chegamos tarde. Por exemplo a crise climática. Para a robotização, em parte, também. Mas esse é um processo que também tem um longo percurso. Deveríamos conseguir que as instituições políticas de vários formatos incorporem em seu estilo de governo dimensões cognitivas e reflexivas. Estamos passando de uma época em que as instituições estavam acostumadas a dar ordens a um mundo em que se deve dedicar o maior tempo possível a aprender.

P. Como fazer essa passagem ao “governo dos sistemas inteligentes” sem danificar seus princípios?

R. É o grande desafio. A direita costuma ter uma linguagem de adaptação: é preciso se adaptar às mudanças sem se preocupar muito pelos critérios de legitimidade que podemos estar carregando em certas adaptações. Em certa parte da esquerda, o que temos é um discurso de impugnação, da desordem do mundo, das injustiças e uma atitude receosa em relação às tecnologias e à globalização. Entre essas duas concepções equivocadas da vontade política (adaptação e repúdio) se abre todo um campo que deveria ser presidido por como conseguir realizar (não adaptar) os ideais irrenunciáveis da democracia em contextos e situações que vão mudando com o passar do tempo.

P. Sabemos como?

R. Não seria honesto apresentar meu livro como uma solução a todas essas questões. Meu livro pretende ser uma caixa de ferramentas para começar com essa tarefa. Não sei como construir o mecanismo, mas proporciono alguns instrumentos que podem ajudar muita gente, porque precisamos fazer isso entre todos: governantes que abandonem esse foco obsessivo no curto prazo e na escaramuça imediata, mas também a população, os veículos de comunicação...

P. O senhor considera que a principal ameaça da democracia é a simplicidade. Não é um contrassenso?

R. Simplicidade, no sentido da simplificação. Em uma versão dupla. Em primeiro lugar, há várias disfuncionalidades na política porque há um contraste entre os conceitos que recebemos e as realidades com as quais estamos lidando. Essa simplificação, conceitos políticos que levam em consideração a riqueza da sociedade e dos novos entornos, é a primeira. Mas há outro tipo de simplificação, mais de ordem prática, que tem a ver justamente com esse mundo da complexidade, cheio de incertezas em que estamos navegando como podemos, em que, pelo menos a curto prazo, os simplificadores têm todas as chances de ganhar. Quem oferece um consolo passageiro, um esclarecimento enganoso do panorama é recompensado em termos políticos.

Quem oferece um consolo passageiro, um esclarecimento enganoso do panorama é recompensado em termos políticos

P. Como Donald Trump e Boris Johnson?

R. Por exemplo. Quem fala de construir um muro para delimitar um espaço, todo mundo entende isso. Quem fala de recuperar um controle que havíamos perdido, mais da metade dos eleitores britânicos entende isso.

P. A democracia se torna complexa e a política se simplifica.

R. Ou, pelo menos, a política não tem o nível de complexidade adequado à sociedade que deve gerir. É o famoso princípio de Ashby de que não podemos desenvolver um sistema inteligente se não desenvolvermos um nível semelhante de complexidade. E se ele não existe, o que se deve fazer é transacionar e estabelecer uma relação mais horizontal. Quando o regulador é mais inteligente do que o regulado, a relação pode ser vertical e funciona bem; quando estão igualados, na verdade desequilibrados no sentido contrário, o que se deve fazer é obter informação, acertar com o regulado um certo tipo de troca entre informação e legitimidade.

P. O senhor fala de proteger a democracia de si mesma, ou seja, da imaturidade, fraqueza, incerteza e impaciência da população.

R. A soberania popular, para que não aja irreflexivamente, seja mais deliberativa e produza melhores resultados, precisa estar bem-organizada. O soberano tem a última palavra, mas também sabemos que se equivoca muitas vezes. Pensamos que a democracia é soberania popular e nos damos conta de que a autolimitação da soberania popular faz parte da soberania popular. De fato, todos nós o fazemos. Estamos colocando limitações no plano pessoal e coletivo para justamente ter uma maior liberdade.

P. A democracia é até um instrumento útil para os que pretendem atacá-la.

R. Não podemos proteger a democracia ao extremo de não correr alguns riscos. É um sistema aberto, em que há liberdade de expressão, em que qualquer um pode entrar (o direito de sufrágio passivo está aberto a todo mundo),... E mais, quando se horizontalizou muito e existem cada vez menos guardiões da porta: os jornais já não têm a verticalidade que tinham, os partidos não são organizações férreas, os próprios agentes políticos estão submetidos ao monitoramento de todos os pontos de vista... A democracia, por sua própria definição, será sempre um sistema de governo frágil e vulnerável. E precisamos aprender a gerir essa vulnerabilidade.

P. A perda de confiança nas instituições e intermediadores é uma causa ou um efeito do que acontece à democracia?

R. Todas as instituições que estabeleciam uma intermediação entre o público e o interesse geral foram desafiadas pela sedução do imediatismo. Já existem muitas utopias que colocam que o melhor esquema de agregação das microvontades é criar um dispositivo que sem nenhuma deliberação reunisse nossos desejos. Diante disso, defendo que uma política de mediações bem configurada pode ser mais igualitária do que a pura espontaneidade da agregação de vontades individuais através de telas de computador. A justificativa da mediação política é corrigir os vieses que estão na sociedade e nos sistemas informatizados: a defesa dos interesses que não podem se fazer valer em uma sociedade entendida como o choque e o combate espontâneo das forças em jogo, onde costumam ganhar, que casualidade, os que têm outro tipo de poder.

P. O senhor afirma que a categorização esquerda-direita também responde a uma simplificação da complexidade ideológica.

R. O que não significa que não possamos continuar utilizando-a e que não entendamos todos perfeitamente o que queremos dizer quando nos referimos à esquerda e à direita. Primeiro, precisamos pensá-la com um pouco menos de profundidade. Segundo, não se pode entender como a clássica contraposição Estado-mercado, da qual viemos. E terceiro, terá que conviver com outros eixos de confronto porque não são os únicos que funcionam na sociedade.

P. Dizer que a direita e a esquerda já não existem costuma ser um argumento de direita?

R. Uma pessoa que o diz costuma refutar a politização das coisas. E a despolitização das coisas costuma beneficiar os que já têm poder.

P. O independentismo é uma solução simples em meio a esse mare-magnum de complexidade?

R. É uma opção pessoal cuja plausibilidade aumenta na medida em que o sistema político é incapaz de canalizar com uma lógica democrática, deliberativa, de negociação, reivindicações fortes de identidade plurinacional.

P. A questão da Catalunha é um problema complexo abordado com muita simplicidade?

R. Sem dúvida. Falei com muitos líderes políticos sobre a Catalunha imaginando qual seria uma solução razoável praticável para o conflito catalão. Do ponto de vista teórico não há grandes dificuldades. Bastaria pensar de que modo a democracia se realiza em um sistema político composto, como o que temos. Pensar que a unidade de que se fala na Constituição é compatível com uma redistribuição diferente do poder. Idealizar mecanismos de reciprocidade, em virtude dos quais a cessão de uma parte seja compensada com a cessão de outra, e gerar um marco de confiança para uma negociação. O grande problema é quem o faz: quem tem liderança suficiente nos dois mundos, em um momento em que, além disso, os tea partys são numerosos, para explicar aos próprios que existem coisas melhores do que uma vitória. Por exemplo, um grande acordo.

O problema do conflito catalão é quem tem liderança suficiente nos dois mundos para resolvê-lo

P. As tensões territoriais estão na Catalunha, mas também em León e em Teruel. O Estado-nação está desmoronando?

R. No livro o que apresento é que temos que conceber os espaços políticos de uma maneira mais poliárquica. No conflito catalão há uma pressão porque não existe nenhuma assimetria em relação a outras comunidades autônomas, algo tremendamente disfuncional, porque não haverá uma solução na Catalunha se não existir uma especificidade reconhecida constitucionalmente. Depois vêm os casos como Teruel Existe e a Espanha Esvaziada. E Madri, como grande centro de sucção de recursos e com certas formas de competitividade de outros centros alternativos, como Barcelona, Valência, Sevilha e Bilbao. Estamos realmente diante de uma definição do espaço no qual queremos viver e isso, em si mesmo, não me parece um problema. Vê-lo com uma certa displicência, como se fosse uma espécie de retorno do tribalismo e de rebelião das províncias, me parece que reflete uma maneira muito elitista e muito madrilenha de ver as coisas. Isso dito por uma pessoa que gosta muito e sente-se muito bem em Madri.

Madri é o exemplo de um centro em uma sociedade que já não pode se organizar a partir de um centro

P. Há uma disputa entre a cidade-Estado e a nação-Estado?

R. Sem dúvida. Madri é um exemplo de um centro em uma sociedade que já não pode se organizar a partir de um centro. A única maneira de se reorganizar a partir de um centro é fazê-lo de maneira tremendamente disfuncional e tremendamente desigual. 

El País

O capitalismo de Estado da "pobreza menstrual"



A Bolsa Modess da Dona Tabata merece ser chamada de retrocesso. O Bolsa Família deu certo apostando na liberdade do pobre em escolher como gastar o próprio dinheiro, ao tempo que reduzia a burocracia. 

Por Bruna Frascolla (foto)

Guardei o papelzinho do absorvente Always. Aquele papelzinho que puxamos para colar o absorvente na calcinha. Nele, para a minha surpresa, vinha um monte de florezinhas e escritos motivacionais: “Força”, “Meu jeito/ Nossa vitória”, “Seja o lado bom”, “#TamosJuntas”, “Não desista”, “Meninas Podem!”, “Acredite” e “Permita-se!”. Algum publicitário idiota acha perfeitamente normal e sadia a ideia de receber motivação impessoal e anônima de um absorvente. É mal generalizado; vemos um monte de frases piegas e anônimas espalhadas por placas. Eu não quero viver numa sociedade em que todos presumem que sou uma órfã que precisa de empatia, e muito menos numa sociedade em que a empatia venha de coisas inanimadas como um papelzinho de absorvente.

Mas ao ver a montanha de florezinhas me ocorreu também que o produto hoje é voltado para uma faixa etária baixa, para adolescentes em vez de mulheres feitas. Com a pílula, é provável que os absorventes descartáveis tenham visto sua receita despencar ao longo dos anos. Qual a solução? Lobby! Basta emplacar uma compra bem grandona com governos.

Triste história contada pela Always

Você na certa viu a tristíssima estatística de que um quarto das meninas faltam às aulas por não poderem comprar absorventes descartáveis. Essa estatística é repetida sem que se fale sempre na sua origem: um estudo da Always. Tem hora que o Brasil é pior que o mundo no que concerne ao tratamento dado a homossexuais, graças aos dados do GGB (Grupo Gay da Bahia). E tem hora que é pior que o mundo, graças aos dados da Always: “A ONU estima que 1 em cada 10 meninas falte a escola durante a menstruação, e no Brasil esse índice é ainda pior. Segundo a pesquisa, 1 em cada 4 mulheres já faltou a aula por não poder comprar absorventes. Quase metade destas (48%) tentaram esconder que o motivo foi a falta de absorventes e 45% acredita que não ir à aula por falta de absorventes impactou negativamente o seu rendimento escolar.

Empresas privadas se comportam como ongueiros – aliás, arranjam até uma ONG de fachada para mascarar o seu lobby. Como mostrou a cientista política Marize Schons em suas redes sociais, a P&G, dona da Always, é uma financiadora da ONG Girl Up. E essa ONG é a responsável por criar um projeto para usar o seu dinheirinho para “combater a pobreza menstrual” – termo que ninguém conhecia e que de repente parece um problema urgentíssimo.

A jornalista Paula Schmitt comparou a conduta dos lobistas à dos cracudos que pedem para pessoas decentes comprarem o leite das crianças. Ela tem razão; afinal, um jeito bem eficaz de tirar dinheiro dos outros é dizer que é para ajudar criancinha pobre. Depois o cracudo revende o leite e o lobista faz a festa com a licitação.

E os movimentos liberais, hein?

Nas redes sociais, políticos do Novo, do MBL e a conta oficial do Livres têm defendido que Bolsonaro é mau como um pica-pau por não ter apoiado a Bolsa Absorvente da Dona Tabata. A Bolsa Modess seria super compatível com o liberalismo porque absorvente não é privilégio. E comida? Comida é mais importante que absorvente. Será então que o governo deveria abrir licitação de feijão pra distribuir?

Isso lembra o debate do início dos anos 2000 em torno do Bolsa Família. Quando Lula assumiu, queria implementar o Fome Zero, que coletava alimentos e os distribuía aos necessitados. O projeto acabou abandonado. Com a introdução dos economistas liberais por Palocci, Lula largou os economistas da Unicamp e adotou figuras como Marcos Lisboa, que cito: “José Márcio Camargo e Francisco Ferreira fizeram então a proposta de unificar todos os programas de transferência de renda [do governo FHC, tais como Bolsa Escola e Vale Gás] e distribuir os recursos para as famílias mais pobres com filhos na escola. No lugar de variados programas que subsidiavam o consumo de bens específicos [tais como a novidade da vez, que é o absorvente descartável], seria preferível transferir renda, dinheiro, diretamente às famílias extremamente pobres. Caberia a elas, então, decidir como melhor utilizar esses recursos para atender às suas necessidades. Foi esse o caminho afinal tomado pelo governo – o da unificação e focalização dos programas de transferência de renda –, apesar da oposição feita por muitos economistas e intelectuais ligados ao PT. O mérito por essa guinada é do presidente Lula, com o apoio decisivo do ministro Antonio Palocci. Eles souberam reformular a política social – e abraçar a agenda liberal – quando ficou claro o fracasso das propostas originalmente defendidas pelo PT, como Fome Zero e Primeiro Emprego. Nascia assim o Bolsa Família.”

A Bolsa Modess da Dona Tabata merece ser chamada de retrocesso. O Bolsa Família deu certo apostando na liberdade do pobre em escolher como gastar o próprio dinheiro, ao tempo que reduzia a burocracia. Desde a época do PT, as meninas pobres têm o dinheiro do Bolsa Família para comprar absorventes. É claro que a mãe da menina vai saber melhor do que o Estado quantos pacotes a filha usa por mês e qual modelo é o seu preferido. (Com abas? Sem abas? Precisa de absorvente noturno ou o fluxo é pouco?) Agora, a menina pobre tem uma outra receita para comprar absorventes: o Auxílio Brasil, que Bolsonaro quer unificar com o Bolsa Família mantendo a filosofia liberal.

Em matéria de liberalismo, Tabata, o Novo, o MBL e o Livres estão mais perto de Maria da Conceição Tavares do que de Marcos Lisboa. Podem ir dar aula de economia na Unicamp e na UFRJ. Ou isso, ou sua atuação política é lobby disfarçado de preocupação com os brasileiros.

Gazeta do Povo (PR)

‘O fundo do poço’ - Editorial




Sucessão de equívocos põe em risco produção científica e sistema de pós-graduação do País

Numa iniciativa que causou forte impacto nas comunidades acadêmica e científica, os reitores das três universidades públicas paulistas – USP, Unicamp e Unesp – divulgaram uma contundente nota de protesto, intitulada O fundo do poço, contra a decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro que suspendeu as atividades de avaliação do sistema brasileiro de pós-graduação.

Essa avaliação é feita a cada quatro anos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a última, divulgada em 2017, abrangeu 4.175 programas de pós-graduação, que receberam notas numa escala de 1 (insuficiente) a 7 (muito bom). Os conceitos 6 e 7 são dados apenas aos programas considerados com padrão internacional e de excelência. A suspensão da avaliação do período de 2017 a 2020 foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF), sob a justificativa de que a Capes mudou retroativamente os critérios de fiscalização e os parâmetros para cada área do conhecimento, disseminando insegurança jurídica. É com base na pontuação da Capes que bolsas de estudos são concedidas, linhas de financiamento são abertas e as instituições com baixa pontuação são descredenciadas. 

Em abril, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, surpreendeu ao trocar a direção da Capes e indicou para presidi-la a reitora de uma universidade particular do interior do Estado de São Paulo – uma instituição que tem pouca expressão educacional e científica no País. Quase cinco meses depois, ela também surpreendeu ao destituir os integrantes do Conselho Técnico-Científico, que é o órgão responsável pela avaliação da pós-graduação. Ao deixar o cargo, os demitidos acusaram a presidente da Capes de patrocinar uma “desconstrução do modelo de avaliação construído e aperfeiçoado pelos pares, ao longo de décadas, pondo em risco a credibilidade de uma agência de Estado reconhecida nacional e internacionalmente”. 

Para o MPF, a destituição dos conselheiros e as mudanças retroativas nos critérios de fiscalização podem ter sido promovidas para favorecer universidades privadas num sistema de pós-graduação construído com base nas universidades públicas. Para o órgão, a alteração nas regras terá impacto na distribuição de recursos federais de fomento à educação e à pesquisa. “O problema não é a modificação dos parâmetros em si, mas sua imprevisibilidade e sua retroação ilícita, o que impede as instituições de reagir à mudança regulativa. A Capes sequer prevê regimes de transição entre um período de avaliação e outro, tornando a avaliação imprevisível para os administrados, que necessitam se reformular em um prazo exíguo para atender às novas exigências”, afirmaram os procuradores Jessé dos Santos e Antonio Cabral, autores da ação acolhida pela Justiça Federal. 

Em sua nota de protesto, os reitores da USP, Unicamp e Unesp alegaram que, apesar de a Capes ter mudado critérios retroativamente, o MPF teria superestimado o risco de “imprevisibilidade” decorrente dessa alteração. Também disseram que a interrupção abrupta causada por decisão judicial coloca em risco o sistema de pós-graduação e a produção científica brasileira. E lembraram ainda que a judicialização do problema era desnecessária, pois as notas dos programas são definidas posteriormente à avaliação, refletindo a percepção do desempenho de cada área do conhecimento feita por “milhares de consultores ad hoc”.

Esse é mais um retrato dos problemas de gestão na administração pública que o Brasil vem sofrendo. O ministro da Educação errou quando indicou para dirigir a Capes uma pessoa que não está à altura do cargo. Também ela errou quando destituiu os 20 membros do conselho encarregado de fazer a avaliação e mudou critérios. O MPF errou, igualmente, quando pediu a suspensão da avaliação. E a Justiça Federal fez o mesmo, concedendo a suspensão sem avaliar suas consequências. 

Ao afirmar que a educação e a ciência brasileiras estão “no fundo do poço”, a nota dos reitores da USP, Unicamp e Unesp só mostrou essa sucessão de equívocos – que, no conjunto, mostram que o poço talvez não tenha fundo. 

O Estado de São Paulo

À espera de fatos novos

 




O governo é incapaz de criar fatos novos, a política não

Por Carlos Melo* (foto)

Há meses, o governo e seus fiéis indicavam as condições para a vitória de Jair Bolsonaro, em 2022. O crescimento em “V” e o final da pandemia, após vacinação em massa, seriam fatos novos. Não fossem suficientes, haveria o dispositivo de força que permitiria ao presidente “jogar fora das quatro linhas da Constituição” - seja lá o que isso signifique.

Nada disso se confirmou e a fé fundamentalista foi abalada. Em 2022, a economia crescerá 1% do PIB, com desemprego, inflação e aumento de juros. A crise social está nas ruas. Quanto à pandemia, 600 mil vidas não ressuscitarão, o ressentimento ficará; a CPI da Covid foi além do que se supunha e seu relatório terá efeitos importantes dentro e fora do Brasil.

O dispositivo golpista foi, por ora, desarmado: o STF asfixiou as finanças do “7 de setembro”; a hierarquia nas PMs funcionou; as Forças Armadas resistiram às investidas do presidente; os caminhoneiros isolaram a banda bolsonarista da categoria. Num desfecho constrangedor, a carta que Michel Temer escreveu para Jair Bolsonaro assinar foi irrefutável sinal de fracasso.

Ilusório esperar salvação por reformas que alterem o destino do governo. À parte a embromação dos líderes, o Congresso Nacional já funciona em modo eleitoral: sabe que reformas trazem desgastes imediatos e benefícios, quando ocorrem, no longo prazo. A razão imediatista é implacável. Improvável que a articulação política do governo a dobre.

Restará o caminho do aumento de gastos com sinecuras e liberações de emendas, como contraparte ao compromisso da blindagem presidencial prometida pelo Centrão. Também outros - importantes, sim, mas limitados -, como o imprescindível “Auxílio Brasil”, estimularão despesas feitas, antes, pela lógica do populismo eleitoral do que com o objetivo do atendimento de graves problemas reais.

A alternativa do presidente e seu grupo tem sido não se agarrar ao bote salva-vidas da mobilização do radicalismo da base social. Um contingente que rodeia os 20% da população e que pode levar Jair Bolsonaro ao segundo turno da eleição. Na esperança de reviver 2018, conta com um embate contra Luiz Inácio Lula da Silva, de modo a se favorecer, mais uma vez, do antipetismo.

É uma estratégia manjada, que não muda o rumo do processo. Pesquisas indicam de que o clima da eleição de 2022 será anti-Bolsonaro. As sondagens demonstram que, no segundo turno, o presidente perderia para qualquer postulante; sendo Lula, hoje, o maior favorecido pelos erros e pela rejeição ao governo. Na verdade, é Bolsonaro quem o viabiliza.

Com isso tudo, teremos pela frente quase 15 meses de um governo que sangra a caminho da derrota. Sendo a instabilidade política e administrativa que provoca, exatamente, o fator que aprofunda seus problemas. A realidade é que, em pouco menos de três anos de mandato, Jair Bolsonaro criou à sua roda um ciclo vicioso, estéril de esperança.

Agentes econômicos buscam se antecipar e, do seu ponto de vista, a perspectiva que vislumbram lhes atormenta. Precificam um cenário em que atravessam uma montanha íngreme e, do outro lado, exauridos, defrontam-se com um arco-íris em tons de cinza, cujo pote de ouro traz - como assinalou o empresário Pedro Passos - a “inaceitável” reeleição de Jair Bolsonaro ou a “indesejável” volta de Lula ao comando do país.

O primeiro, uma usina de crises incapaz de superar os impasses que cria; o segundo, temido em razão de erros do passado e da incerteza que ainda hoje desperta. “O que será seu governo?”, é a pergunta de nove, em dez, reuniões realizadas por empresários e economistas. Num cenário de desalento, aflitos, operadores econômicos acendem velas pelo milagre da “terceira via”.

Improdutivo especular sobre vias sem nome, que ainda não estão no Waze. Essa hipotética alternativa só terá futuro como “segunda via”; para isso, carecerá de fatos novos. Espremida entre direita e esquerda, terá pouco espaço para se expandir e ir ao segundo turno. Dependerá da fragilização de uma das margens que a oprimem. Pelas pesquisas, o nome de Lula está consolidado. Já à margem direita, pelos motivos acima, nem tanto.

O impeachment é pouco provável. Ao apaniguado Centrão, fiel da balança na Câmara, nesse momento mais interessa o governo frágil e dependente - e mais à frente, será tarde. Há sombras que não se pode descartar: no TSE, se analisa a impugnação da eleição da chapa Bolsonaro/Mourão. Mas, por enquanto, seria ocioso contar com isso.

Contudo, é bom lembrar que mesmo num ambiente de poucas perspectivas, no Brasil, tudo é possível. Ulysses Guimarães alertava que política é feita de fatos novos - consta que, reunido com amigos, mantinha cadeira reservada à “sua excelência, o fato novo”. Ele pode tardar, mas frequentemente aparece. E desorganizam tudo.

Objetivamente, a desidratação política de Bolsonaro seria um desses fatos. E, como sem Bolsonaro não haverá antibolsonarismo, uma nova segunda via poderia ser aberta com as máquinas do antipetismo. A inviabilidade, legal ou política, do presidente se sentaria na cadeira reservada pelo Doutor Ulysses. São lances possíveis, num jogo ainda pouco previsível.

Lula é sabedor disso e dos riscos num eventual governo. Hoje, não se sente pressionado e joga com a ansiedade dos outros. Em 2002, empurrou a divulgação da “Carta ao Povo Brasileiro” até junho. O presente, entretanto, é mais inclemente: mais cedo do que mais tarde, terá que emitir sinais claros do que pretende. A quem o criticava por decidir apenas sob pressão, Ulysses respondia: “sim, eu só decido sob pressão”. Sob pressão, Lula também pode criar um fato novo. É bom ficar de olho no jogo.

*Carlos Melo é cientista político e professor senior fellow do Insper.

Valor Econômico

De olho em Moro

 



Doria contra Leite: ‘A população não quer fazer teste, quer segurança, confiança’

Por Eliane Cantanhêde (foto)  

O mais novo investimento do governador e presidenciável João Doria, de São Paulo, é para tentar atrair o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro para seu projeto de disputar as prévias do PSDB em novembro e a Presidência da República em 2022. Os dois andam conversando, mas Moro, um poço de indefinição, não diz nada e não descarta nem confirma sua própria candidatura. Além disso, é também disputado pelo União Brasil (resultado da fusão DEM-PSL).

Além do temperamento e da inexperiência política, o tempo corre contra Moro, que tem até o fim deste mês para acertar sua vida com a consultoria em que trabalha depois de deixar o Ministério da Justiça atirando. Ele tem até o dia 31 para dizer se abandona o sonho de ser candidato (à Presidência ou ao Senado), ou se abandona o emprego.

Moro conversa muito, mas não define nada, enquanto João Doria é inabalável na sua decisão – ou obsessão – de disputar a Presidência e tenta arrastar Moro e, junto com ele, toda a sua simbologia no combate à corrupção, para sua campanha. A Lava Jato morreu, mas a aura da Lava Jato ainda paira sobre o eleitorado.

Doria levou para seu governo seis ex-ministros do governo Michel Temer, a começar por Henrique Meirelles, da Fazenda. Também levou o seu vice, Rodrigo Garcia, do DEM para o PSDB e acolheu o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, ex-DEM, hoje sem partido, numa secretaria com dupla personalidade, econômica e política. E convidou para a Saúde Luiz Henrique Mandetta, do DEM, que indicou seu ex-braço direito, João Gabbardo.

Enquanto o governador Eduardo Leite (RS), seu adversário nas prévias do PSDB, esbanja simpatia, princípios e pautas de costumes, Doria dispara uma torrente de números: PIB de 7,5% em São Paulo neste ano, segundo a Fundação Seade, e recuperação de 713 mil empregos de janeiro a agosto, segundo o Caged. Tudo sempre acompanhado de “eu fiz”, ou “São Paulo fez”. O Estado, aliás, aplica R$ 30 milhões em absorventes femininos nas escolas. Ontem, Bolsonaro vetou um programa semelhante para o Brasil...

Ao dizer que o social e a Educação “não são prerrogativas do (ex-presidente) Lula”, novos números: mais R$ 21 bilhões para investir em 2021 e R$ 28 bilhões em 2022, 4,3 milhões de pessoas no “Alimento Solidário”, 2 milhões no “Vale Gás”, de 363 para 1.878 escolas de tempo integral... E uma bandeira de campanha: “Aqui não tem roubo. Não se mete a mão no dinheiro público”.

E a rejeição? Para o mundo político, um grande problema de Doria é exatamente sua rejeição, que é forte em São Paulo e migra para o resto do País. Mas o próprio rejeitado diz que o índice vem caindo há quatro meses e emenda: “Quanto melhor a economia, a renda, o emprego e a vacina, melhor a avaliação (dele) em São Paulo e no Brasil”. A estratégia de Eduardo Leite é transformar suas desvantagens em vantagens – ser muito jovem (36 anos), novato e inusitado. Mas Doria aposta: “A população não quer fazer teste, quer segurança, confiança”.

Se as prévias já não são um passeio, como Doria aparentemente imaginava, a maior pedreira vem depois, seja para ele, Leite ou qualquer opção de “centro” ou “terceira via”. Ao admitir a força eleitoral de Lula, com quem já trocou ácidos desaforos, disse que não menospreza Bolsonaro: “Ele está ferido, machucado, mas tem a caneta e a queda nas pesquisas não é acentuada, é gradual. Logo, será um importante player, vai dar muito trabalho”.

É uma corrida de obstáculos: prévia tucana, polarização Lula-Bolsonaro e uma multidão de candidatos a terceira via, que fica ainda mais congestionada com o União Brasil. Logo, Eduardo Leite é apenas um dos muitos problemas de Doria para sobreviver até o segundo turno de 2022.

O Estado de São Paulo

Guedes fala sobre ‘offshore’ após revelação do ‘Pandora Papers’: “Não fiz nada de errado”




Cartaz em São Paulo que critica o ministro Paulo Guedes e o caso das 'offshores', revelado pelo 'Pandora Papers'.

Ministro diz que perdeu dinheiro após assumir Economia em 2018, quando teria deixado seu cargo de diretoria à frente da empresa em paraíso fiscal. Advogados ainda não comprovaram as declarações

Por Regiane OliveiraLucas Berti

São Paulo - Acabou o silêncio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, se defendeu pela primeira vez nesta sexta-feira (8) desde a revelação feita pela investigação jornalística do Pandora Papers, que o apontou como sócio de uma offshore em um paraíso fiscal nas Ilhas Virgens Britânicas. As explicações vieram durante um evento virtual do banco Itaú, no qual ministro afirmou que seus empreendimentos são operados de forma legal. “Ela [a empresa] foi declarada, não houve movimento cruzando as fronteiras, trazendo dinheiro do exterior ou mandando dinheiro ao exterior”, afirmou. Segundo o ministro, desde que ele colocou dinheiro na referida empresa, os negócios foram declarados à Receita Federal brasileira.

“Perdi muito dinheiro estando aqui [no Ministério da Economia] exatamente para evitar problemas como esse. Tudo o que estava ao meu alcance de investimento eu vendi, tudo pelo valor de investimento. Eu perdi muito mais do que o valor da companhia que está declarado legalmente lá fora. É permitido, não fiz nada de errado”, disse, por chamada de vídeo.

O ministro fez questão de esclarecer que seu dinheiro no exterior é gerido de forma independente. “Eu saí da companhia dias antes de vir para o cargo de ministro.” A informação de que Guedes esteve à frente da administração da offshore de 2014 até dezembro de 2018 foi confirmada pela gestora de ativos Trident Trust, em nota enviada ao site O Antagonista. Da parte do ministro, que até então só havia falado por meio de seus advogados, nenhum documento foi apresentado para confirmar suas declarações.

Guedes quebra o silêncio apenas dois dias após o plenário da Câmara dos deputados aprovar, na quarta-feira, por 310 votos a 142, sua convocação para prestar esclarecimentos sobre o patrimônio estimado em 9,5 milhões de dólares (cerca de 52 milhões de reais, nos valores atuais) —ligado à offshore Dreadnoughts International Group— que o ministro mantém em sociedade com sua esposa, Maria Cristina Bolivar Drummond, e uma filha. Além de Guedes, também está na mira dos parlamentares o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, outro listado nas investigações conduzidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em sua sigla em inglês).

Antes de Guedes comentar o caso nesta sexta-feira, sua defesa havia se antecipado a possíveis pedidos por parte da Procuradoria Geral da República (PGR). Os advogados entregarram, na quarta, documentos que demonstrariam que o ministro não ocupava o cargo de administrador da offshore desde que assumiu o Ministério, em dezembro de 2018. Em nota, os defensores negaram conflito de interesse, afirmando que ele “em hipótese alguma, teve seus investimentos beneficiados em razão do cargo que ocupa”. É essa suspeita que motivou os pedidos de explicação do Parlamento —além da convocação, foram aprovados mais três convites para que ele se explique.

A revelação do Pandora Papers fez ecoar as declarações de Guedes em 2020, quando o ministro sugeriu que a alta dólar seria positiva. Na mesma oportunidade, disse que antes de o dólar aumentar seu valor em relação ao real, “empregada doméstica estava indo para Disney, uma festa danada”.

Enquanto Guedes se diz “tranquilo, supertranquilo” quanto aos esclarecimentos que deverá prestar diante dos deputados (em data ainda a ser definida), o Brasil se preocupa com a economia. Além de uma nova alta nos combustíveis, programada para ser anunciada no fim desta semana pela Petrobras, o país vê a inflação atingir alta recorde para o mês de setembro desde o Plano Real —ou seja, a maior variação mensal para o mês desde 1994.

El País

600 mil mortos por covid: veja outros 7 números que mostram impacto da pandemia no Brasil




Brasil é um dos países com maior quantidade de casos e mortes por covid-19

O Brasil está prestes a atingir a marca de 600 mil mortos por covid-19 em quase 19 meses passados desde o registro do primeiro óbito pela doença. Apesar da diminuição observada nas últimas semanas nos índices de casos e mortes, especialistas afirmam que o momento é de cautela.

As marcas deixadas pela pandemia podem ser exemplificadas por 7 números que retratam o momento atual da covid no país e efeitos consolidados sobre a população brasileira.

Há a boa notícia de mais da metade dos municípios brasileiros sem registros de morte por covid em setembro passado, mas a expectativa de vida do brasileiro deve diminuir e a crise econômica se expressa em perda de emprego em setores mais pobres da população.

45% dos brasileiros vacinados

Dados do governo mostram que 45% dos brasileiros tomaram duas doses ou dose única da vacina contra a covid, ou seja, mais de 96 milhões de pessoas já estão imunizadas, segundo o último relatório do consórcio de veículos de imprensa.

"De fato, o número ainda é baixo", diz Paulo Petry, epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Quanto mais tempo um vírus permanece em circulação, maior é a chance de ele sofrer mutações". O percentual da população que está parcialmente imunizada está próximo de 70%, ou quase 150 milhões de pessoas.

Profissional da saúde segurando seringa e ampola de vacina

'Por volta de 45% dos brasileiros já estão totalmente imunizados'

Petry afirma que o número relativamente baixo de imunizados junto à queda no registro de óbitos ao menos é uma mostra da grande eficácia da vacinação como elemento de contenção da pandemia. "Por enquanto os cuidados devem ser mantidos. Nós ainda não atingimos a tão sonhada imunidade coletiva, que se estima em cerca de 80% de completamente imunizados."

9 capitais do país com alta de casos

Nove capitais do país ainda apresentam tendência de alta de doenças respiratórias graves, segundo o último boletim Infogripe, produzido pela Fiocruz.

O monitoramento de casos de síndrome respiratória aguda grave, considerando as últimas 3 semanas, aponta que as cidades com esse viés são Brasília, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Palmas, Porto Velho, Salvador e Vitória.

"Isso deixa claro que a epidemia não acabou e que muita gente ainda está desprotegida, em que pese o avanço da vacinação em massa", diz o epidemiologista Jesem Orellana, da FioCruz Amazônia. "Temos que ser cautelosos, com um vírus tão astuto como o Sars-Cov-2", afirma.

Quase 60% das cidades sem mortes por covid

Em setembro, 58% dos municípios brasileiros não registraram mortes por covid. Segundo dados tabulados pelo pesquisador Wesley Cota, da Universidade Federal de Viçosa, e divulgados pelo site G1, foram 3.274 cidades sem notificação de mortes no último mês.

Desde maio de 2020 esse patamar não era alcançado. A cidade mais populosa sem mortes registradas é São José de Ribamar, no Maranhão, que conta com 179.028 habitantes.

Nos últimos dias, segundo dados do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), a média móvel de mortes tem começado a ficar abaixo da marca de 500.

A epidemiologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo, segue a linha de outros pesquisadores e diz que o momento ainda é de observação. "Em epidemiologia, a palavra controle tem uma definição e nós não estamos no controle", afirma.

"A pandemia é global. Não adianta apenas eu ter bons indicadores no meu país, no meu município, se os indicadores estão ruins em outras partes. Podem surgir variantes que trazem riscos."

No entanto, a cientista vê um cenário mais positivo atualmente: "Tudo pode acontecer, mas a vantagem de já termos uma plataforma de vacinas é que mesmo que surja alguma variante a gente tem como remodelar essa plataforma para combatê-las. Então desse ponto de vista nós estamos muito melhor do que no ano passado."

Queda da expectativa de vida

O Brasil registrou uma queda de dois anos na expectativa de vida dos brasileiros. Uma equipe de pesquisadores concluiu que, em média, bebês nascidos no Brasil em 2020 viverão 1,94 ano a menos em razão da pandemia de covid.

A expectativa baixou dos 76,7 anos de vida anteriormente projetados para 74,8 anos, segundo o estudo liderado pela demógrafa Márcia Castro, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Harvard. Esse é um importante indicador de qualidade de vida e um dos componentes no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das nações.

Em entrevista à BBC News Brasil, Márcia Castro afirmou que os dados podem ser piores do que essa estimativa. "A gente sabe que houve muita dificuldade de acesso ao teste de covid-19, subnotificação e muita morte pelo novo coronavírus que não foi registrada dessa maneira".

1 milhão de cirurgias canceladas

Um milhão de cirurgias foram adiadas ou canceladas no Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro por causa da pandemia de covid, de acordo com um levantamento feito pelo Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, em Bauru, e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).

Segundo Nivaldo Alonso, coordenador do estudo, "esforços rigorosos para reduzir a disseminação de covid-19 estarão associados a atrasos e cancelamentos reduzidos para cirurgias de emergência, mas exigirão esforços governamentais coordenados para expandir o atendimento cirúrgico para superar atrasos das cirurgias eletivas".

Com as mudanças no sistema de saúde, o acesso à cirurgia de emergência foi reduzido e centenas de milhares de procedimentos eletivos foram adiados para concentrar os esforços do corpo médico no combate à covid.

Desemprego em alta

54% dos moradores das favelas do Rio de Janeiro perderam o emprego durante a pandemia, segundo a pesquisa "Coronavírus nas Favelas: a Desigualdade e o Racismo sem Máscaras", realizada pelo coletivo Movimentos, com o apoio do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). O levantamento com 955 participantes também apontou que 26% dos moradores de comunidades cariocas trabalham com carteira assinada.

Somente 24% responderam que fizeram teste para detectar covid-19 - entre os que tiveram sintomas, apenas 45% conseguiram fazer um teste. A pandemia também influenciou negativamente a saúde mental dos moradores de favelas do Rio: 76% dos entrevistados informaram algum distúrbio do sono, 43,1% registraram algum nível de depressão e 34% percebem a ansiedade como um sentimento mais presente após a pandemia.

Trocas de ministros

Quatro ministros estiveram à frente da pasta da Saúde do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia. Luiz Henrique Mandetta era ministro desde o início do governo Bolsonaro e saiu apenas dois meses após a confirmação do primeiro caso de covid-19 no Brasil. Ele foi sucedido pelo médico Nelson Teich, que não chegou a durar 1 mês no comando do ministério.

A saída de ambos é atribuída à resistência de Bolsonaro em aceitar as recomendações científicas para o enfrentamento da pandemia.

O ministro da Saúde mais longevo durante a pandemia foi o general Eduardo Pazuello, que apresentou um alinhamento muito maior com as ideias do presidente. Foram dez meses no cargo, em que ocorreram graves crises sanitárias e uma escalada de mortes no país em virtude da doença. Foi sob seu comando que houve falta de respiradores e oxigênio em hospitais, atraso na compra de vacinas e a promoção de tratamentos considerados ineficazes.

Sob pressão, Pazuello saiu em março último e deu lugar a outro médico, Marcelo Queiroga. O atual ministro foi flagrado por câmeras em Nova York fazendo um gesto obsceno a manifestantes contrários a Bolsonaro - que participou da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no mês passado.

Dias depois, Queiroga anunciou que havia contraído covid e que cumpriria isolamento em um hotel nova-iorquino. Ele só retornou ao país na última segunda-feira.

BBC Brasil

Advogado apadrinhado pelo Centrão perde cargo em Ministério após ser alvo da PF

 

Blog da Noelia Brito


Posted: 08 Oct 2021 02:40 PM PDT

Tiago Pontes, marca presença na cerimônia de posse do senador Ciro Nogueira (PP), líder do Centrão como Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência / Foto: Divulgação 

Tiago Pontes Queiroz, do Ministério do Desenvolvimento Regional, foi alvo de operação da PF referente a suspeitas de fraudes na aquisição de medicamentos quando exerceu cargo no Ministério da Saúde, aponta a Folha de São Paulo 

Em resposta a pedido de manifestação feito pela Folha de SãoPaulo, o Ministério do Desenvolvimento Regional do governo Jair Bolsonaro anunciou que o advogado Tiago Pontes Queiroz deixou o cargo de secretário Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano para se defender em inquérito da Polícia Federal e ação de improbidade do Ministério Público.

Queiroz é alvo de investigações e acusações quando esteve à frente da diretoria de Logística do Ministério da Saúde, em 2018, pelo suposto favorecimento a uma das empresas sob foco na CPI da Covid, a Global Gestão em Saúde.

Nesta quinta-feira (7), a reportagem da Folha informou ao Ministério do Desenvolvimento Regional que os sigilos bancário e fiscal de Queiroz haviam sido quebrados pela Polícia Federal e um dos endereços dele no Recife havia sido alvo de medida de busca e apreensão no dia 21 de setembro, no âmbito da Operação Pés de Barro da Polícia Federal.

A Folha também pediu um posicionamento do ministro Rogério Marinho sobre a manutenção de Queiroz no posto mesmo com as suspeitas levantadas pela PF e pela Procuradoria.

Em nota enviada ao jornal na tarde desta sexta-feira (8), o ministério informou a saída de Queiroz, ressaltando que as investigações recaem sobre período anterior à posse dele na pasta.



Segundo a Folha de São Paulo, o advogado se tornou o símbolo do “toma lá, da cá” entre o governo Bolsonaro e o centrão e conseguia manter um cargo de alto escalão mesmo após passar a ser suspeito de corrupção e fraude em contratos do Ministério da Saúde.

O advogado foi colocado no ministério quando Bolsonaro começou a distribuir cargos ao centrão em 2020 em uma ofensiva para isolar o então presidente da Câmara Rodrigo Maia. Nesses cargos, os indicados tinham acesso à estrutura e a recursos do governo federal, afirma o jornal.

Antes, transitou em diversos cargos no governo federal. Foi Gerente Regional I de Administração e Finanças da CBTU Recife em 2015 e 2016, durante o governo da petista Dilma Rousseff.

No governo Michel Temer (MDB), Tiago Queiroz passou a trabalhar no Ministério da Saúde, a época sob o comando de Ricardo Barros (PP-PR), hoje líder do governo Bolsonaro na Câmara.

Sob Bolsonaro, ele havia sido nomeado em março como chefe da STU (Superintendência de Transportes Urbanos) do Recife, órgão que faz parte da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos). Dois meses depois, foi alçado ao posto de Secretário de Mobilidade e Desenvolvimento Regional.

Nesse caso, sua indicação foi atribuída não só ao PP de Barros, mas também ao Republicanos.

Procurado pela Folha, Queiroz afirmou: "estou pronto para esclarecer em juízo que não cometi qualquer ato ilícito por tratar-se de compras e pagamentos de medicamentos para processos judiciais através de aquisições no período de 2016 e 2017, que eu sequer estava nomeado no cargo competente para tal (fui nomeado em 2018). É preciso que todos os fatos sejam analisados à luz da legalidade e em lugar oportuno".

TCM multa ex-prefeitos de Jacobina por irregularidades na contratação de advogados


TCM multa ex-prefeitos de Jacobina por irregularidades na contratação de advogados
Foto: Reprodução / Ministério Público da Bahia

Uma representação formulada pelo  Ministério Público de Contas contra os ex-prefeitos da cidade de Jacobina, Leopoldo Moraes Passos e Rui Rei Matos Macedo, em razão de irregularidades na contratação direta de escritórios de advocacia para prestação de serviços de assessoria/consultoria jurídica, foi acatada na sessão desta sexta-feira (8), pelo Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-BA). Os contratos em questão teriam sido firmados, respectivamente, nos exercícios de 2003 e 2016.

 

Durante a sessão, o conselheiro José Alfredo Rocha Dias, relator do processo, imputou ao ex-prefeito Leopoldo Moraes Passos uma multa no valor de R$10 mil e de R$7,5 mil a Rui Rei Matos Macedo. 

 

Conforme divulgou o TCM, de acordo com a representação do MPC, o ex-prefeito Leopoldo Moraes Passos contratou, por inexigibilidade, o escritório do advogado Paulo Sérgio Maciel O’Dwyer, pelo valor de R$9.974.276,73, tendo por objeto a “propositura e acompanhamento de Ação de Cobrança referente a importâncias não repassadas do Fundef ao Município de Jacobina pela União Federal a partir de 1998”.

 

Já o ex-prefeito Rui Rei Matos Macedo celebrou contrato, também por inexigibilidade, com o escritório “Ibaneis Advocacia e Consultoria”, pelo montante R$3.316.244,85, visando o levantamento/ liberação de crédito depositado e vinculado em execução de sentença e defesa do município em ação civil pública.

 

De acordo com o procurador de contas, Guilherme Costa Macedo, as contratações violaram o disposto na Lei de Licitações, já que as contratações dos serviços advocatícios foram realizadas sem o prévio certame licitatório. “O mero fato de se estar diante de serviços técnico-profissionais especializados não autoriza, por si só, a contratação direta” e seguiu afirmando que, no entendimento do MPC, “não se admite a contratação direta, com fundamento no art. 25, II, da Lei n° 8.666/93, de serviços advocatícios rotineiros, cuja complexidade não difere da média dos serviços praticados”, disse.

 

O Ministério Público de contas também questionou o pagamento dos honorários em valores elevados, além da utilização nesses pagamentos de recursos proveniente dos precatórios do Fundef que, originalmente, deveriam ser destinados à educação básica.

 

Ainda durante a sessão, o conselheiro José Alfredo destacou, em seu voto, que os gestores de Jacobina efetivamente celebraram contratos irregulares, na medida em que não teriam restado comprovadas a indispensável singularidade dos serviços, a notória especialização dos contratados e a razoabilidade dos preços praticados. Cabe recurso da decisão. 

Bahia Notícias

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