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quarta-feira, março 31, 2021

Base aliada dá bobeira e comissão da Câmara consegue convocar ministro Braga Netto

Publicado em 31 de março de 2021 por Tribuna da Internet

diz que golpe de 1964 deve ser celebrado em 'contexto  histórico' | Jovem Pan

Ministro Braga Netto foi convocado e não poderá faltar

Bruno Góes
O Globo

A Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou nesta quarta-feira a convocação do novo ministro da Defesa, general Walter Braga Netto. Como o pedido não foi transformado em convite, Braga Netto será obrigado a comparecer à audiência, que ainda não tem data prevista.

Durante a deliberação, parlamentares do grupo usaram requerimento que estava na pauta para que o antecessor de Braga Netto, Fernando Azevedo, pudesse explicar a compra de cerveja e picanha pelas Forças Armadas. Como ele não está mais no cargo, o novo titular foi convocado e terá de explicar muita coisa mais.

TROCA DE COMANDO – Agora, o novo ministro da Defesa também será inquirido sobre a crise provocada pela troca de comando da pasta e nas três forças: Exército, Marinha e Aeronáutica.

Aprovado por unanimidade, o requerimento foi apresentado pelo deputado Elias Vaz (PSB-GO). No momento da análise, nenhum parlamentar alinhado ao governo estava presente para tentar impedir a convocação. Deputados da base também não se pronunciaram. O requerimento, então, foi aprovado de forma simbólica.

— Nós fizemos um acompanhamento de gastos do governo, do portal de preços do Ministério da Economia, e nos causou estranheza, inclusive com licitações homologadas. Nem todos (os itens) foram comprados, mas nos chamou atenção. Para se ter uma ideia: filé mignon, foram mais de um milhão de quilos comprados; salmão, 438 mil quilos; lombo de bacalhau, 148 mil quilos; 700 mil quilos de picanha e 80 mil cervejas — disse Elias Vaz. O requerimento foi o primeiro item da pauta, aprovado com celeridade.

MAIS CONVITES – Também nesta quarta-feira, a comissão de Relações Exteriores da Câmara aprovou requerimento de convite a Braga Netto e ao ministro Carlos Alberto França (Relações Exteriores).

O presidente da comissão, Aécio Neves (PSDB-MG), disse que a comissão vai abordar as “perspectivas” para a área da Defesa.

“É absolutamente necessário para essa comissão que possamos conhecer também as diretrizes e as perspectivas da área de Defesa. Uma área essencial à vida nacional e à qual essa comissão pretende dar atenção muito especial” — afirmou Aécio.

Além disso, avisou que França será questionado sobre o papel do Itamaraty para a compra de insumos e vacinas. “Há uma grande expectativa de qual será a postura do novo ministro em relação a várias questões que serão levantadas pelos membros desta comissão sobre questões relacionadas à pandemia e ao papel do Ministério das Relações Exteriores na ampliação do acesso do Brasil e dos brasileiros a insumos e vacinas”, disse Aécio.

Rêgo Barros reforça a independência das Forças Armadas: “Que a política permaneça ao largo dos quartéis””


Ex-porta-voz, general deixou o Planalto após desgaste com Bolsonaro

Leandro Colon
Folha

O general Otávio do Rêgo Barros, da reserva do Exército, afirmou nesta terça-feira, dia 30, à Folha que a política deve permanecer distante dos quartéis. “Reforço a importância da independência das FA (Forças Armadas), como instituição de Estado, para a promoção da paz social, bem como para a superação dos desafios de toda ordem aos quais a sociedade é submetida. Que a política permaneça ao largo dos quartéis”, afirmou.

O general, porém, evitou tecer mais comentários sobre a crise instalada no Ministério da Defesa, com as demissões do general Fernando Azevedo e Silva do cargo de ministro e dos três comandantes das Forças Armadas. “Estive afastado de todo esse processo e seria leviano de minha parte aportar opinião”, disse o general.

RENÚNCIA CONJUNTA – Pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas pediram renúncia conjunta por discordar do presidente da República. O tom da declaração de Rêgo Barros vai na linha do teor da carta divulgada por Azevedo após ser demitido por Bolsonaro no começo da tarde de segunda-feira, dia 29. O general agradeceu o presidente e disse que, “nesse período, preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.

Nos bastidores, a avaliação é de que Azevedo deixou o primeiro escalão da Esplanada porque se recusou a politizar as Forças Armadas. Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, o vice-presidente Hamilton Mourão, que é general da reserva, afirmou não ver chance de abalos institucionais. “Zero. Pode botar quem quiser, não tem ruptura institucional. As Forças Armadas vão se pautar pela legalidade, sempre.”

INSATISFAÇÃO – Como mostrou a Folha, Bolsonaro decidiu demitir o ministro da Defesa porque está insatisfeito com o afastamento crescente do serviço ativo das Forças Armadas do governo. No seu lugar, foi nomeado o general Braga Netto, então ministro da Casa Civil.

O general Rêgo Barros deixou o Planalto desgastado com Bolsonaro. O seu cargo de porta-voz foi extinto em outubro pela Presidência da República. O general da reserva já não fazia pronunciamentos oficiais desde março, após, segundo assessores presidenciais, incômodo de Bolsonaro com o protagonismo que o militar ganhou à frente do posto.

Pouco depois, em artigo publicado no jornal Correio Braziliense, ele fez críticas indiretas ao presidente e à gestão. Rêgo Barros se somou a outros militares que se tornaram vozes críticas a Bolsonaro depois de passarem por cargos civis.

Piada do Ano! General que deu entrevista, irritou Bolsonaro e causou a crise é o novo comandante do Exército


General Paulo Sérgio deu a entrevista que provocou a crise

Natália Portinari e Julia Lindner
O Globo

 Ao anunciar os novos comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, afirmou nesta quarta-feira que os militares estão comprometidos com os poderes constitucionais e as liberdades democráticas, ressaltando que todo o governo federal está mobilizado para o enfrentamento da Covid-19. O general Paulo Sérgio Nogueira vai assumir o Exército; o almirante de esquadra Almir Garnier Santos chefiará a Marinha; e o tenente-brigadeiro Baptista Júnior foi escolhido para a Aeronáutica.

– A Marinha do Brasil, o Exército brasileiro e a Força Aérea brasileira se mantém fiéis às suas missões constitucionais de defender a pátria, garantir os poderes constitucionais e as liberdades democráticas. Neste dia histórico, reforço que o maior patrimônio de uma nação é a garantia da democracia e a liberdade do seu povo – declarou o ministro, enaltecendo a data que marca o aniversário do golpe militar.

DESAFIO MAIOR – O novo ministro disse, ainda, que o país tem como desafio o combate à Covid-19 e que “todo o governo federal e os poderes da República têm mobilizado os seus esforços e energias para o enfrentamento dos impactos da epidemia”. Segundo ele, as Forças Armadas são “fatores de integração nacional” que contribuem para esta missão.

Após Braga Netto conversar com os cotados ao comando das Forças Armadas ao longo do dia, ele os levou para uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto em busca do aval do mandatário do país. Logo depois, o ministro convocou a imprensa para apresentar os nomes publicamente e fez um breve pronunciamento. Todos os escolhidos respeitam o critério de antiguidade.

A troca no comando do Exército, da Marinha e da Aeronáutica vem após uma crise que levou os três comandantes anteriores a deixarem os cargos. De acordo com relatos, eles foram pressionados por Bolsonaro a demonstrarem maior apoio ao governo federal.

PARABÉNS ANTECIPADOS – Nas redes sociais, antes do anúncio oficial, o general José Luiz Freitas, comandante de Operações Terrestres do Exército, parabenizou Paulo Sérgio Nogueira pela indicação.

“Escolhido o novo Comandante do Exército, General Paulo Sérgio, excepcional figura humana e profissional exemplar. Como não poderia deixar de ser, continuaremos unidos e coesos, trabalhando incansavelmente pelo Exército de Caxias e pelo Brasil!”, escreveu Freitas nas redes sociais.

Chefe do Departamento-Geral do Pessoal do Exército, o general Paulo Sérgio disse no último final de semana, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, que o Brasil deve se preparar para uma possível terceira onda da pandemia da Covid-19, considerando a situação da Europa, o que teria desagradado Bolsonaro.

Segundo um ministro palaciano ouvido pelo GLOBO, a escolha de Paulo Sérgio serve para distensionar e diminuir a temperatura da crise com as Forças Armadas.

CONVOCAÇÃO – Também nesta quarta-feira, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara aprovou a convocação do novo ministro da Defesa. Como o pedido não foi transformado em convite, Braga Netto será obrigado a comparecer à audiência, que ainda não tem data prevista.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, enalteceu o trabalho dos comandantes que deixaram os postos e desejou sucesso aos sucessores.

“Meu respeito e admiração ao Gen. Fernando, Alm. Ilques, Gen. Leal Pujol e Brig. Bermudez. A condução dos assuntos de defesa e das FA foi exemplar, aliando lealdade ao Brasil e rapidez nos chamados da população. Desejo sucesso ao novo ministro da Defesa e aos novos Comandantes”, escreveu Mourão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A comemoração do 31 de Março acabou se transformando num velório. O neoministro Braga Netto e seu mentor Jair Bolsonaro não tiveram escolha, porque os Altos Comandos das três Armas fecharam solidariedade total ao ex-ministro e aos ex-comandantes militares e não vão permitir alinhamento militar ao governo. Em tradução simultânea, Braga e Bolsonaro trocaram seis por meia dúzia. Basta ler a entrevista do general Paulo Sérgio deu ao Correio Braziliense no domingo e que causou a crise, porque Bolsonaro ficou furioso e resolveu demitir o ministro da Defesa e os comandantes militares na segunda-feira. Ou seja, Braga e Bolsonaro criaram uma crise à toa e estão absolutamente enfraquecidos (C.N.)

Leia a entrevista que causou a crise, irritou Bolsonaro e levou o general Paulo Sérgio a comandar o Exército


General Paulo Sergio Nogueira

General mostrou com o Exército enfrenta a covid na tropa

Carlos Newton

A crise começou no domingo (dia 28), pela manhã, quando o presidente Jair Bolsonaro leu a entrevista do general Paulo Sérgio Nogueira anunciando que o Exército já se prepara para 3ª onda da covid-19.

Entrevistado pelo excelente repórter Renato Souza, o responsável pelo setor de recursos humanos do Exército, inclusive da área de saúde, disse acreditar que, em dois meses, Brasil enfrentará nova etapa da pandemia. Ele destacou que a taxa de mortalidade na instituição é de 0,13%, bem abaixo do índice de 2,5% registrado na população

Ironicamente, o general Paulo Sérgio, que provocou toda a confusão, acabou sendo nomeado comandante do Exército, mostrando que Bolsonaro já não manda nada. Leia a entrevista e tire suas conclusões.
 

Quais são as obrigações do Departamento-Geral de Pessoal do Exército?
É o órgão que cuida da estrutura, planeja e coordena todas as ações referentes aos nossos recursos humanos, nas áreas de avaliação de desempenho, promoções, atendimento aos pensionistas, assistência social, religiosa, entre outras. E, neste período que estamos vivendo, na saúde.

Quantas pessoas são atendidas pelo departamento?
Estamos falando numa força de 220 mil homens. E, aqui no DGP, eu sou a autoridade máxima do departamento de todas essas áreas de atuação. É um órgão que cuida da dimensão humana da Força, que é aquilo que temos de mais sublime. Então, nessa valorização dos recursos humanos, no apoio à família militar que a gente busca, damos ao Exército a operacionalização de que a gente precisa. A fatia dos nossos usuários, que são inativos, pensionistas, dependentes, eu diria que é de cerca de 700 mil do sistema. Quando se somam ativos, inativos e dependentes, chega a esse número de usuários do sistema de saúde.

São quantos hospitais nesta rede atualmente?
Nós temos cerca de 60 hospitais, policlínicas e postos médicos; isso espalhado nos oito comandos militares de área. Vem desde Amazônia, Nordeste, Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Planalto. É uma rede adequada ao efetivo que a gente tem. Mas 60 hospitais em um país continental como o nosso é pouco. O Hospital de Manaus recebe pacientes de São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Rio Branco, Porto Velho, Boa Vista. A cadeia de evacuação da Amazônia Ocidental se baseia no Hospital de Manaus. É um hospital muito importante para o Exército. É uma rede adequada à nossa Força, e temos de trabalhar, aqui, para que o recurso seja empregado. São quase 750 organizações militares espalhadas pelo Brasil.

Manaus e a Região Norte, no geral, foram as localidades mais atingidas pelas ondas da pandemia até o momento. Isso foi uma surpresa para o Exército?
Até hoje, é um aprendizado para todos nós. O Exército, ou melhor, o Ministério da Defesa, lá em março do ano passado, vendo o problema se adiantar, criou 10 conjuntos em todo o Brasil. Esses conjuntos envolveram as Forças Armadas e as autoridades estaduais e municipais. Esses 10 comandos conjuntos trabalharam harmônicos. No Exército, para dar suporte a esses comandos e aos nossos hospitais, criamos a Operação Apolo. Tem toda uma equipe logística, saúde, administrativa que coordena as ações. Eu estava em Belém, era o comandante da área quando isso começou. O Brasil inteiro se voltou para a Amazônia Ocidental. Nós tomamos nossas medidas. O Exército, por exemplo, baixou recomendações administrativas claras, com relação à prevenção mais especificamente. A partir dali, foi uma coisa muito disciplinada, no uso da máscara, no afastamento social nos refeitórios, nos dormitórios. Aí, começaram a surgir campanhas de conscientização. Os hospitais começaram a pedir sangue, e iniciamos uma campanha. Hoje, já passa de 40 mil doadores de sangue, no Exército, espalhados pelo Brasil. Lançamos a campanha “Ajudar está no nosso sangue”. Todas as medidas sanitárias, diretrizes emanadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), corroboradas pelas nossas diretorias de saúde, são rigorosamente cumpridas em nossos quartéis. É uma Força disciplinada.

Com relação à falta de oxigênio em Manaus, ocorreu alguma falha de previsibilidade?
No nosso caso, não. Tudo foi novidade. Ninguém imaginava aparecer de repente um negócio destes, este coronavírus. Os nossos hospitais na Amazônia têm reserva. Mas quando começou a surgir a crise na rede pública, nós “startamos”, aqui, um planejamento alternativo. Com antecedência, compramos usina de oxigênio, cilindro e, por meio da Força Aérea Brasileira, suprimos São Gabriel, Tabatinga, Porto Velho e Manaus. Não faltou oxigênio para as organizações militares de saúde do Exército. Esse centro de operações funciona e trabalha conjugado com a possibilidade de acontecer isso. Terminou essa crise do oxigênio, agora é Porto Alegre, Santa Maria e Rio Grande do Sul. Médicos de Manaus, engenheiros de Manaus, equipes de saúde para reforçarmos o Hospital de Santa Maria, já levamos.

Como está a situação em Manaus?
Em Manaus acalmou, tranquilizou, e no Sul, apertou. Então, deslocamos equipes. A logística no Amazonas é complicada, tem de usar aviões. Mas deslocamos equipamentos de Manaus para Porto Alegre. Nós temos um comando logístico, uma experiência logística. Não morreu ninguém, militar ou dependente nosso, por falta de leito, de apoio, de equipamento (no Exército). Morreu porque está morrendo gente, e lamentamos profundamente. Perdi parentes, tenho amigos na UTI em estado gravíssimo, generais que foram meus amigos. Nesse sentido, queria até ressaltar outros programas que fazemos para amenizar este estresse e sofrimento. Temos desenvolvido campanhas sobre estresse, desemprego, a morte de um ente querido; temos cuidado da saúde mental.

A segunda onda está afetando mais os jovens. Isso tem sido percebido dentro do Exército?
Sim. Temos militares mais jovens que foram evacuados, ou seja, moravam no interior, onde não tinha hospital, e foram transportados para outro local.

Foram necessários reforços nas equipes de saúde?
Sim, tivemos de convocar pessoal médico. Às vezes, tem equipamento, mas não tem equipe médica. Eu não posso transformar um infectologista em três, um intensivista em quatro, por estar abrindo mais 10 leitos. Então, tivemos de convocar e capacitar novas equipes. A primeira fase da pandemia veio em ondas. Começava por Manaus e descia para o resto do país. Melhorava em um estado e piorava em outros, então, a gente deslocava equipes.

Existe o temor de uma terceira onda em nível nacional?
Quando soubemos que França e Alemanha estão começando novo lockdown com esta terceira onda, imaginamos que, como ocorreu na segunda, que começa na Europa, dois meses depois se alastra por outros continentes. Temos de estar preparados no Brasil. Não podemos esmorecer. É trabalhar, melhorar a estrutura física dos nossos hospitais, ter mais leitos, recursos humanos para, se vier uma onda mais forte, a gente ter capacidade de reação.

O Exército, então, já trabalha com a hipótese de uma terceira onda?
É um planejamento contínuo. Tudo que a gente faz sempre tem a visão do futuro. Se temos a notícia de que, lá na frente, pode ter uma terceira onda, temos de estar preparado. Mas torcemos para não termos, que a gente avance, e a vacina está aí para isso.

Qual foi a estratégia para impedir o adoecimento da tropa nos últimos 12 meses?
Depois que os números caíram no Pará, (os casos) vieram para o Rio de Janeiro. Nós socorremos, deslocamos equipes médicas para Belém. Adquirimos equipamentos para reforçar nossos hospitais no Pará. Não faltou leito, pois tivemos êxito nessa operação. A coisa foi se expandindo para o Sul. Agora, os números estão crescendo no Rio de Janeiro. Vamos manobrando com nossos meios, apoiando estados e municípios. Nosso hospital de campanha no Rio é dividido em quatro módulos. Temos um hospital de campanha apoiando o hospital da rede pública, e outro em Manaus ainda. Também apoiamos a própria rede militar em algumas regiões.

Qual é o quadro atual da covid-19 no Exército?
Os números são relativamente bons em relação à população em geral, por conta da prevenção que temos. O índice de letalidade é muito baixo, menor do que na rede pública, graças a essa conscientização, essa compreensão, que é o que eu acho que, se melhorasse no Brasil, provavelmente, o número de contaminados seria bem menor.

Qual é esse índice de letalidade?
Estamos com uma taxa de mortalidade de 0,13%. Ínfima, em termos de comparação com a do país. Eu diria que a maioria dos hospitais são modernos. Os hospitais de porte mesmo são o HCE (Hospital Central do Exército) e o Hospital de São Paulo. Iniciamos a operação covid com 84 leitos de UTI em toda a rede. Fruto de equipamento comprado e transformação da estrutura dos hospitais, chegamos a 280 leitos de UTI em toda a rede militar. Há hospitais da rede pública de São Paulo, daqueles grandes, que têm 280 leitos. Então, é uma rede muito restrita, que mal atende à própria Força. Inclusive, temos convênios com a rede privada, que chamamos de organizações civis de saúde. Encaminhamos nosso paciente para a rede privada, pois não temos leitos suficientes em nossos hospitais.

Mas mesmo os hospitais privados registram falta de leitos de UTI. O que é feito nesses casos?
Quando o hospital privado diz que não há leitos, aí nós vamos ter de nos virar com os que a gente tem. Então, estamos adquirindo materiais, como respiradores e monitores, e transformando leitos de semi-intensiva em intensiva e leitos de enfermaria em semi-intensiva. Com muita prevenção e cuidado, temos nos mantido nos números adequadamente. Nenhum óbito aconteceu por falta de leito, oxigênio ou medicamento na nossa família militar, entre ativos, pensionistas e dependentes.

Como ocorreu a expansão da rede de saúde militar?
O Hospital de Curitiba é bem pequeno, com oito leitos de UTI. Lançamos um módulo de hospital de campanha lá e levamos 10 a 12 leitos com ato de semi-intensiva. Melhorou aqui, piorou ali, temos de fazer a logística de material e transporte para não deixar faltar onde precisa. Quando eu falei de 60 hospitais, são diversas unidades de saúde. Os postos médicos, nem leitos de intensiva e semi-intensiva têm. O paciente que chega ali em estado crítico é evacuado ou para a rede civil ou para um hospital de referência. Já está acontecendo no nosso caso o que chamamos de evacuação aeromédica. Acionamos uma empresa contratada e trazemos o paciente lá de Tefé, no meio da Floresta Amazônica, para Manaus. Ou traz para o Rio de Janeiro, e assim por diante. Onde tem vias de transporte, como no Sul, em caso leve, vem pela estrada. Mas na Amazônia é por meio aéreo.

A transferência pode ocorrer para um hospital público do Sistema Único de Saúde (SUS)?
Pode, e não tem problema. Só não é o normal. Porém, se o hospital de referência for do SUS, como em Tefé, onde só tem posto de saúde, o militar vai para hospital SUS normal. A depender do caso, nós o retiramos do hospital e trazemos para uma rede nossa. Certamente, ele não ficará no hospital mais de 48 horas.

Se tiver um leito vago em um hospital do Exército e um civil precisar de UTI, ele terá acesso?
É aquilo que falei no início. A nossa rede é adequada à Força, ao nosso efetivo. Se for visitar nossa rede, toda ela já está no limite de ocupação. Quiséramos nós ter a capacidade em nossos hospitais de ajudar nesse sentido. O que fazemos é hospital de campanha, como ocorreu em Manaus, em Porto Alegre e no Rio de Janeiro. São anexos a hospitais da cidade. Esse é o apoio que podemos dar.

Então, existem muitas campanhas de conscientização no Exército para incentivar o distanciamento, o uso de máscaras?
Chega a ser uma febre. Agora mesmo estamos recebendo o novo contingente de soldados incorporados. Eles estão com três semanas de instrução. São aqueles recrutas que se alistam, e todas as medidas sanitárias foram colocadas em prática. Desde a chegada ao quartel até a instrução; à noite, na hora de dormir; é o termômetro na entrada, higienização dos pés, álcool em gel, uso da máscara, distanciamento. Nós testamos praticamente todos os recrutas, quase 90%, e o índice de contaminação foi muito baixo. Os infectados foram isolados, com equipes médicas acompanhando. Em 2020, não tivemos nenhum óbito de soldado incorporado ao Exército. Imaginamos que seja pela idade, pela juventude.

E entre os militares mais idosos?
Entre esses, tivemos baixas, generais da ativa que morreram no HFA (Hospital das Forças Armadas). Entram naqueles 0,13% de óbitos. Ao recruta, fizemos um período de internato, e eles conversam com a família por vídeo. Ele pode ir no fim de semana. Eu acho que não tem local mais seguro para um jovem, hoje, do que dentro do quartel, pois ele está sendo acompanhado, fiscalizado sobre as medidas preventivas, instruído. Os índices de infecção são mínimos, e aqueles que se contaminam são resolvidos em internação. Nós temos locais isolados nos quartéis para esse tipo de coisa.

O general Miotto, ex-comandante militar do Sul, morreu por covid-19. Ele era influente no Exército. Existe preocupação maior com os oficiais de mais idade?
Hoje, no Quartel General, não estamos com todo o efetivo cumprindo o expediente normal. Metade vem um dia; outra metade, no outro. Ou metade vem de manhã e metade, à tarde. Todo mundo no ambiente é um risco, almoçando junto… Isso é prevenção que vem sendo feita há um ano. Quem não pode vir, é mais idoso, fica em casa. O general Miotto era um chefe militar, um amigo, que a gente lamenta muito. Mas é um risco, e eu estou aqui agora. Em duas semanas, posso me contaminar e não resistir. Temos oficiais generais internados, e não tem diferença para ocupar um leito. Se um soldado precisar de um leito naquele momento, tem de ser para ele. Temos maior preocupação com quem está com mais de 60 anos. Eu sou de risco, tenho 62, e já tive covid em Belém. Tive sintomas leves, em maio do ano passado. Eu estava em missão, na ponta da linha, viajando. Em algum momento, peguei, levei para minha esposa. Minha sogra, que mora comigo, e tem 84, não pegou.

O índice de infecção aumenta para militares que vão a campo?
Isso aí não tem jeito. A Força não pode parar, a missão continua, com a defesa da Pátria. Tem de ter instrução, adestramento. Estamos em operação, como a Verde Brasil, na defesa do meio ambiente. Então, com precaução, prevenção, fiscalização e disciplina, estamos conseguindo combater a covid sem perder a operacionalidade da tropa.

A segunda onda veio forte, e registramos mais de 3 mil óbitos em um dia. O senhor acredita que o Exército pode colaborar mais no combate à pandemia?
O reflexo na Força é igual. Estamos no limite. Se for, agora, ao Hospital das Forças Armadas, verá dois compartimentos de UTI completamente lotados. Eu sempre vou lá para verificar, pela minha posição de ser o 01 da saúde na Força. Nós estamos no limite, e a gente torce e até reza para que esses números decresçam para não faltar. Até hoje não faltou, mas é um risco que a gente corre.

O país quase todo enfrenta uma situação grave…
É, mas tem locais onde começa a reduzir. No Sul, está tendo uma leve desaceleração. Manaus desacelerou de uma forma que a terceira onda, que já está surgindo na Europa, a gente imagina que, se mantiver a tradição da primeira para a segunda, daqui a dois meses vamos sofrer essa terceira onda. E queremos exatamente a manutenção do planejamento para nos prepararmos para essa terceira onda. É isso que estamos fazendo, e esperamos que o poder público faça também. Eu acredito que, neste momento, estamos no nosso limite. Nossas organizações militares de saúde, nossos hospitais, são muito modestos. Estamos salvando vidas militares nos hospitais privados, pagando de acordo com o contrato. É uma válvula de escape nossa.

O Exército pode atuar na adoção de medidas sanitárias, como o fechamento de vias, se for o caso?
Sim, nós temos organizações militares muito capacitadas, na área de defesa química, biológica. Capacitamos mais de 5 mil militares no Brasil na parte de descontaminação. Hoje, todos os nossos quartéis têm pelotão, de 30 homens, por exemplo, capacitado. É muito comum a imagem daquele grupo de militares encapados, em aeroportos, portos, praças públicas. Em Belém, eu montei a patrulha do ponto de ônibus, com uma equipe protegida, equipamento apropriado, e saía na avenida à noite para desinfetar. Neste ano, realizamos muitas campanhas. Fizemos doações de sangue.

Como a sociedade civil pode se beneficiar desses programas?
Se o presidente de uma empresa quiser fazer descontaminação, é só falar com a gente. Não tem critério, e acontece muito. Em Belém, o Ministério Público pedia, a rodoviária de Belém pedia. Foi feita uma grande descontaminação na Rodoviária do Plano Piloto, nas estações de metrô, pelo Batalhão de Goiânia. Se for privado, às vezes, a empresa tem recursos para bancar, então, às vezes, atuamos na capacitação da equipe de limpeza, por exemplo. Fica três quatro dias no quartel aprendendo a descontaminar.

O Brasil está em guerra contra o vírus?
É um trabalho árduo, pois a medicina ainda não sabe tudo sobre o vírus. É uma mobilização, e o mais importante é que o Exército está pronto para ajudar a nação. As baixas que temos todos os dias são números de guerra. É uma força de expressão, mas é isso. Exige planejamento, integração, conjugação de esforços. Não conseguimos fazer tudo sozinho. Na Amazônia, é muito comum solicitar apoio. A Força esteve nesse ano inteiro e estará até o último momento do lado do Brasil, reduzindo o sofrimento desta, em tese, guerra.

O senhor falou em coordenação, campanha. O governo federal não tem uma campanha em nível nacional pelo uso de máscaras, distanciamento. Falta orientação para a população?
Nós acompanhamos o que acontece pelas mídias sociais, pela imprensa. Eu não tenho a condição de fazer um juízo de valor sobre o que está sendo feito ou deixado de fazer. Eu vejo um esforço grande, por parte dos órgãos gerais, de tentar conscientizar. Agora, é uma população de 200 milhões de habitantes, com problemas sociais diversos, com cinturões marginais nas grandes megalópoles. Às vezes, é difícil chegar à ponta da linha com essa orientação. Acho que há campanhas positivas.

O ministro da saúde e o próprio presidente chegaram a recomendar o uso de medicamentos sem eficácia científica comprovada contra a covid-19. No Exército, isso não acontece…
No Exército, temos protocolos muito bem elaborados, difundidos, que dizem qual a conduta entre médico, paciente e família para o melhor tratamento. Se vai dar a medicação A, B, C, O, D, é decidido entre médico e paciente. Eu não tenho restrição, nem a medicamento nem a tratamento.

O Ministério Público Federal investiga o governo por eventuais irregularidades na condução da pandemia. O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello é do Exército, e tem outros 6 mil militares no Executivo. Existe algum constrangimento da ligação da imagem das Forças Armadas com as falhas do governo?
Nessa área política, fica difícil para a gente. Eu prefiro não comentar. Mas acho que o Pazuello foi convocado pelo presidente para uma missão. Ele aceitou, saiu da Força, pediu licença e está lá fazendo seu papel. Não vou fazer juízo de valor do trabalho dele. Eu não conheço o âmago do que ocorre lá dentro. Conheço o Pazuello, convivi com ele na Amazônia, na 12ª Região Militar. Ele cumpriu a missão que o presidente deu a ele.

A segunda onda está preocupando mais?
Total. Está sendo pior que a primeira para o Brasil inteiro. A curva é muito mais ascendente. Aprendemos com a primeira, e, com certeza, se vier a terceira, a segunda terá nos dado lições. O esforço hoje do Exército para reduzir os números de contaminação é impressionante. Todo dia, nosso comandante, o general Leal Pujol, faz videoconferência conosco e recomenda para que a ponta da linha use máscara, álcool em gel, distanciamento. Não tem mais formatura militar. Quando vai fazer algum evento são 10, 20, no máximo. Agora mesmo, teve aniversário de uma companhia, e foi meia dúzia de gatos pingados.

O Exército está em lockdown?
Não paramos nada. Se for ali ao Batalhão de Guarda Presidencial, está tendo instrução de tiro, de armamento, educação física. O treinamento físico controlado, tomar sol, vitamina, com nossos médicos acompanhando o tempo todo. Por isso, está com 0,13% de mortalidade. Tem internato de quatro semanas para todos. Antes, os recrutas voltavam para casa todo dia. Essa gurizada, agora, quando chegar em casa, estará consciente. Eles estão sendo massificados com campanha. Os militares que têm parentes em grupos de risco não precisam ir para casa. Aqui, temos alimentação, dormitório.

Como está o apoio às comunidades indígenas?
A nossa tropa é muito próxima das comunidades indígenas. Apenas na Amazônia Ocidental são 24 pelotões de fronteira, perto da Colômbia, da Venezuela. E, do lado de cá, é índio, do lado de lá, também, ou estamos dentro da própria terra indígena. Na área da Cabeça do Cachorro, tem dois pelotões. O médico do pelotão é o da tribo. Essa interação é impressionante. O indígena tem uma imunidade diferente, e existe um cuidado maior da nossa parte. Na vacinação, helicópteros vão lá com todos da equipe testados e com resultado negativo, todos empacotados para ir lá, vacinar e sair para não deixar contaminar. Um só que se contamine causa um grande estrago. Quando surge uma notícia de infecção em determinada comunidade, nós vamos avaliar. Surgiu a notícia da morte de três indígenas por covid. Chegamos lá, e não era covid, mas houve casos. Agora, a população indígena está toda vacinada, todas as comunidades. Risco sempre tem, mas reduzimos isso.

O Brasil poderia estar numa situação melhor?
Eu respondo pelo nosso DGP, nosso Exército. Como autoridade máxima na área de saúde da Força, acho que estamos cumprindo nosso dever. Os números estão aí, e apoiando a nação naquilo que é possível para enfrentar esse problema.

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