Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)
Carlos Newton
Apesar de o Brasil ser autossuficiente em extração e refino de petróleo, o atual presidente da Petrobras, economista Roberto Castello Branco, defende a manutenção de uma política de preços que foi implantada no passado distante, quando o país ainda dependia do petróleo importado para tocar a economia. Na realidade, hoje a situação é outra, porque a Petrobras já se tornou uma das empresas que produzem petróleo com menor custo de extração.
De acordo com informações da Rystad Energy e da própria Petrobras, em 2016 a estatal brasileira atingiu um custo médio de extração de US$ 16,3 por barril e ficou no quarto lugar do ranking mundial, superada apenas pela Arábia Saudita (US$ 9 por barril), Irã (US$ 9,1 por barril) e Iraque (US$ 10,6 por barril).
PRODUTIVIDADE – Portanto, em 2016, que foi o último ano a que tivemos acesso às pesquisas, a Petrobras já era mais competitiva do que outros grandes produtores, como Rússia (US$ 19,2 por barril), Canadá (US$ 26,6 por barril) e Venezuela (US$ 27,6 por barril). E de 2016 para cá, o custo médio do petróleo brasileiro diminuiu mais ainda, devido à alta produtividade do pré-sal, cujo valor de extração (US$ 8 por barril) já é inferior ao da imbatível média da Arábia Saudita (US$ 9 por barril).
Mesmo diante dessa realidade dos números, o burocrata Roberto Castello Branco continua defendendo que os brasileiros paguem preços equivalentes aos dos combustíveis importados, apesar da Petrobrás ser autossuficiente na produção de petróleo e de haver capacidade de refiná-lo internamente para abastecer o país com menores custos.
Ao tentar defender esta estranha política, chamada de Preço de Paridade de Importação (PPI), Castello Branco deu uma declaração sem pé nem cabeça, verdadeiramente indecifrável: “Se usarmos os custos na formação dos preços, seremos obrigados a importar e perder dinheiro”.
CASTELLO MENTE – Em tradução simultânea, o presidente da Petrobras está dizendo que os custos atuais de produção de petróleo no Brasil seriam superiores ao valor médio cobrado pelas refinarias no Golfo do México, acrescido do custo do transporte do Golfo do México até o Brasil, incluindo também os gastos portuários para internação em nosso país, além do custo de seguro para cobrir eventuais gastos com oscilações de câmbio e preços, pois é assim que são calculados hoje os preços dos derivados no Brasil. Só pode ser Piada do Ano.
Essa afirmação, feita em novembro por Castello Branco na Comissão de Infraestrutura da Câmara Federal, não corresponde à verdade, porque o custo médio de extração do petróleo no Brasil é muito inferior ao conseguido pela estatal mexicana Pemex e pelas empresas americanas. Os custos estão subindo, porque os novos poços ficam mais longe da costa e em águas mais profundas. O custo de perfurar no Golfo do México é hoje até 25% maior que em 2010, segundo a Shell e a Chevron.
Portanto, Castello Branco mentiu perante os parlamentares, agindo exatamente como Luciano Coutinho, então presidente do BNDES, que afirmou no Congresso haver garantias, oferecidas pela Odebrecht, para o empréstimo destinado à obra do porto de Mariel em Cuba. Logo depois, a Odebrecht desmentiu e ficou-se sabendo que a garantia era do Tesouro Nacional brasileiro…
A VERDADE DOS NÚMEROS – Os executivos brasileiros podem mentir, mas os números não mentem. O presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho, diz que em 2014 foram produzidos pela Petrobras 181,6 milhões de barris de gasolina, que passaram a ser 248,8 milhões de barris com adição de 27% de etanol anidro. Ou seja, o país não precisa importar gasolina.
Da mesma forma, com a entrada em funcionamento da primeira unidade da Refinaria Abreu e Lima, em Recife, a capacidade de produção nacional de óleo diesel também já é compatível com a demanda. “Caso exista a necessidade de importação de diesel, será residual e pode ser suprimida com aumento do biodiesel”, diz Flipe Coutinho, criticando a importação massiva de diesel que a Petrobras vem fazendo, beneficiando petroleiras e “traders” (intermediários) americanos.
PAÍS É AUTOSSUFICIENTE – “O Brasil tem capacidade de produzir e refinar o petróleo no país. Mas a política atual tem promovido a importação de combustíveis e a exportação de petróleo cru. Cerca de 50% do petróleo cru produzido no Brasil tem sido exportado, em grande medida por multinacionais estrangeiras. Enquanto isso, até 30% do mercado de combustíveis têm sido importados, na maior parte dos Estados Unidos”, salienta o presidente da Aepet.
Diz Coutinho que os custos médios e ponderados de produção da Petrobrás sempre foram bem menores do que seus preços. Isso significa ser possível adotar uma política de preços competitivos, baseados nos custos e na paridade de exportação do combustível brasileiro, garantindo alta lucratividade da Petrobrás. Além disso, é preciso reduzir os impostos, que hoje compõem 46% do preço final.
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P.S. – Segundo os especialistas da Associação dos Engenheiros da Petrobras, nenhum país se desenvolveu exportando petróleo cru por multinacionais estrangeiras e importando combustíveis. É isso que precisa ser discutido e mudado no Brasil. Mas quem se interessa? (C.N.)