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terça-feira, novembro 05, 2019

Por determinação de Bolsonaro, Folha de São Paulo é excluída de clipping do Itamaraty


“Espero que não me acusem de censura. Está certo?”, disse Bolsonaro
Patrícia Campos Mello
Folha
O Itamaraty retirou a Folha do clipping diário de notícias acessado diariamente pelos funcionários do ministério. O clipping reunia notícias de diversos veículos de mídia nacionais e internacionais, e a Folha passou a ser o único dos grandes jornais que não está incluído.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores, a Folha foi excluída por causa da determinação do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de cancelar as assinaturas do jornal feitas pelo governo federal. Na quinta-feira, dia 31, Bolsonaro afirmou que havia determinado o cancelamento de todas as assinaturas da Folha no Executivo. Em tom de ameaça, o presidente também disse que os anunciantes do jornal “devem prestar atenção”.
RESCISÃO – “Determinei que todo o governo federal rescinda e cancele a assinatura da Folha de S.Paulo. A ordem que eu dei [é que] nenhum órgão do meu governo vai receber o jornal Folha de S.Paulo aqui em Brasília. Está determinado. É o que eu posso fazer, mas nada além disso”, disse, em entrevista à TV Bandeirantes.
“Espero que não me acusem de censura. Está certo? Quem quiser comprar a Folha de S.Paulo, ninguém vai ser punido, o assessor dele vai lá na banca e compra lá e se divirta. Eu não quero mais saber da Folha de S.Paulo, que envenena o meu governo a leitura da Folha de S.Paulo.”
“SEM CENSURA” – Questionado pelo apresentador José Luiz Datena se seria uma forma de censura, o presidente respondeu: “Não é uma forma de censura, nada”. Mais tarde, em live nas redes sociais, Bolsonaro voltou ao tema e ameaçou anunciantes do jornal.
“Não vamos mais gastar dinheiro com esse tipo de jornal. E quem anuncia na Folha de S.Paulo presta atenção, está certo?”, disse. O clipping é uma seleção diária de notícias referentes à política externa do país elaborada pela assessoria de imprensa do Itamaraty. Ele fica disponível na rede interna e pode ser acessado por todos os funcionários do ministério.
REDUÇÃO DE FONTES – Para o embaixador Rubens Ricupero, que esteve à frente da embaixada em Washington e é historiador da diplomacia, ao suprimir alternativas de informação, o governo reduz a capacidade dos diplomatas de tomarem decisões certas.
“Todos os postos diplomáticos no mundo acessam este clipping, é uma fonte de informação primordial para acompanhar a realidade do país”, diz Ricupero.   “É a lógica das mídias sociais – você bloqueia quem está em desacordo e fica vivendo em sua bolha, sem nenhuma crítica”, afirma.
ANTIPATIA – Para Guilherme Casarões, cientista político e professor da FGV EAESP, a atitude do Itamaraty revela duas características do governo. “A primeira é a gestão extremamente personalista, em que a antipatia contra a imprensa profissional, crítica e independente é razão suficiente para ameaças e boicotes governamentais”, diz Casarões.
“A segunda é a transformação do Itamaraty numa espécie de bunker ideológico do bolsonarismo, em que as tendências mais canhestras do governo são potencializadas, para espanto não só da maioria dos diplomatas, mas de interlocutores internacionais, que não imaginavam que o governo fosse perseguir a imprensa dessa maneira.”
PERSPECTIVAS – Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV, aponta que a Folha traz informações que não são encontradas em outros veículos. “Além de ter colunistas que trazem perspectivas importantes, a Folha é um dos poucos jornais brasileiros que têm correspondentes no exterior, o que é essencial neste momento atual de instabilidade política na região”, afirma.
“Além disso, há a preocupação de que possa ocorrer com outros jornais, ou seja, não contribui para um ambiente de livre troca de ideias.”
NOTA – Após Bolsonaro determinar o cancelamento de assinaturas do jornal feitas pelo governo federal, a Folha afirmou, em nota, que “lamenta mais uma atitude abertamente discriminatória do presidente da República contra o jornal e vai continuar fazendo, em relação a seu governo, o jornalismo crítico e apartidário que a caracteriza e que praticou em relação a todos os outros governos”.
“Se confirmada, a decisão de Bolsonaro configura uma violação dos princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade na administração pública”, afirmou na ocasião Luís Francisco Carvalho Filho, advogado da Folha.
TOTALITARISMO – “Trata-se de atitude típica de governos totalitários. Chávez e Maduro, por irônica que seja a comparação, fizeram exatamente a mesma coisa com a imprensa na Venezuela. Os veículos todos são ameaçados, não apenas a Folha”, disse Taís Gasparian, também advogada do jornal.
Uma semana antes, o presidente dos EUA, Donald Trump, havia determinado que as agências federais do país cancelassem as assinaturas dos jornais The New York Times e The Washington Post por discordar da cobertura que as duas publicações fazem de seu governo.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Para alguns do movimento “Brasil acima de tudo” o presidente está certo. Já que a Folha “critica” e pega pesado contra a gestão atual. Para outros, mais sensatos, esse é mais um ato autoritário de Bolsonaro que tenta demonstrar força através da coação e da censura através da sua caneta bic. Aliás, não sei quem mais é  figurante nas tentativas popularescas de Bolsonaro, a caneta bic ou o deputado Hélio Lopes que larga o mandato para servir de segurança-amigo de infância-acompanhante do presidente. Mas voltando à vaca fria, se cismar com mais meia dúzia de jornais, Bolsonaro deixará apenas a Rede Record e o SBT para noticiar os seus atos e benfeitorias. Serão só elogios. Aproveitando a deixa da nota, ao contrário do que alguns comentaristas desta Tribuna afirmam, este editor não olha apenas em uma só direção, somente com o olho esquerdo, ou mesmo esquece dos desmandos de outros governos. Mas justificar cada desvio da atual gestão, e já foram inúmeros em apenas 11 meses,  com “mas e o Lula?”, “mas e a Dilma?”, mas e o Temer?” é pequeno demais. É sofrível. Os fatos são presentes. A atenção é para o atual momento. Reduzir um erro com outros não convence. Este jornalista “estagiário”, como alguns a mim se referem, busca sempre a imparcialidade, a exemplo dos meus mais de 20 anos de análise política e jornalismo. Evidentemente, nem todas as bolas são certeiras, mas certamente buscam o caminho da verdade e do ineditismo da informação para o bom debate. (Marcelo Copelli)

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Aras diz que delatores foram “desleais” e agiram com má-fé
Rafael Moraes Moura
Estadão
Em parecer encaminhado nesta segunda-feira, dia 4, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao tribunal a extinção dos acordos de colaboração premiada dos irmãos Joesley e Wesley Batista, além dos executivos Ricardo Saud e Francisco de Assis.
Na avaliação de Aras, os quatro delatores foram “desleais” e agiram com má-fé ao omitirem fatos ao Ministério Público Federal e contarem com a ajuda nos bastidores do ex-procurador Marcelo Miller, acusado de fazer “jogo duplo”, ao auxiliar o grupo J&F enquanto ainda mantinha vínculos com a Procuradoria.
“ESPERTEZAS” – “Ora, no âmbito da colaboração premiada não há espaço para espertezas, ardis e trapaças, na exata medida em que estas não são aptas a conviverem com a necessária cooperação, lealdade e confiança mútua que devem reger as relações entre as partes”, escreveu Aras em seu parecer.
Aras pediu ao Supremo que os quatro colaboradores percam os benefícios acertados no acordo, como a imunidade penal (a previsão de não serem processados sobre os fatos que eles mesmos denunciaram). O procurador-geral da República, no entanto, pediu que o tribunal mantenha válidas todas as provas colhidas, inclusive os depoimentos dos delatores – e as multas já pagas por eles.
RESCISÃO  – Por decisão do relator do caso, ministro Edson Fachin, a decisão final sobre a rescisão ou não do acordo de colaboração premiada dos quatro delatores caberá ao plenário do Supremo. Não há previsão ainda de quando esse julgamento vai ocorrer.
O procurador destacou que uma das cláusulas presentes nos acordos de Joesley e Wesley Batista, Ricardo Saud e Francisco de Assis obrigava os quatro a informarem à PGR todos os fatos ilícitos de que tivessem conhecimento. Para Aras, a atuação de Miller no episódio é “reprovável” do ponto de vista ético.
“Não há como sustentar a normalidade e legitimidade de se contratar um Procurador da República para auxiliar os colaboradores na elaboração de futura colaboração premiada a ser firmada, justamente, com o MPF”, observou Augusto Aras.
ILICITUDE –  “Considerando que Joesley Batista, Ricardo Saud, Francisco de Assis e Wesley Batista possuem capacidade intelectual elevada, além de serem assessorados pela melhores bancas de advogados do país, não é crível que eles não percebessem a ilicitude das condutas de Marcello Miller e deles próprios, de, respectivamente, prestarem e receberem serviços jurídicos de um procurador da República.”
O procurador também criticou o comportamento de Josley e Batista e Ricardo Saud, ao deixarem de informar no início das negociações do acordo as acusações existentes contra o senador Ciro Nogueira (PP-PI).
ÁUDIO – No último prazo para a entrega de material complementar aos procuradores, em 31 de agosto de 2017, Joesley entregou um áudio sobre o pagamento de R$ 500 mil ao parlamentar em troca de seu apoio ao impeachment de Dilma Rousseff (PT).
“Não é crível o argumento de que o fato envolvendo Ciro Nogueira não foi reportado ao MPF já no momento inicial, quando da assinatura do acordo, por que os ex-colaboradores não o consideraram como criminoso. Ora, tal fato, além de grave, seria considerado por qualquer pessoa, ainda que despida de conhecimentos jurídicos mínimos, como sendo ‘ilícito’”, criticou Aras. Os quatro delatores já alegaram ao Supremo que não agiram de má-fé.
JULGAMENTO –  A discussão sobre a legalidade das colaborações premiadas volta nesta terça-feira (5) para o centro do debate no STF. A Segunda Turma do STF, que reúne cinco dos 11 ministros da Corte, retoma o julgamento que envolve a delação premiada de Luiz Antônio de Souza, um ex-auditor do Paraná acusado de ocultar fatos e mentir para a Justiça.
O acordo foi rescindido, mas depois ele e sua irmã, Rosângela de Souza, acertaram uma “nova delação” com o Ministério Público, que foi homologada pela Justiça. Os processos não estão relacionados à Operação Lava Jato, mas integrantes da Corte avaliam que a análise do processo pode trazer reflexos em outra delação controversa – a dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J&F, que ainda aguarda uma definição do plenário do STF.
OPERAÇÃO PUBLICANO – Em maio deste ano, a Segunda Turma começou a discutir o caso de Luiz Antônio de Souza e Rosângela de Souza, investigados no âmbito da Operação Publicano. A apuração se debruçou sobre delitos cometidos em Londrina e em Curitiba por uma organização criminosa de auditores da Receita Estadual do Paraná contra a administração pública.
Tanto o caso dos irmãos Souza, quanto as delações do grupo J&F, levantam a seguinte discussão: se um vício na formação do acordo de colaboração premiada pode ou não anulá-lo como um todo, invalidando inclusive as provas colhidas pelos investigadores.

Toffoli enfrenta pressões para seu voto decisivo sobre prisão após segunda instância


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Charge do Jota A (Jornal O Dia/PI)
Thais Arbex e Reynaldo Turollo Jr.
Sob pressão em um ambiente político ainda mais radicalizado, o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Dias Toffoli, deve dar nesta semana o voto decisivo no julgamento das ações sobre a constitucionalidade da prisão de condenados em segunda instância.
A retomada da discussão judicial mais esperada do ano, marcada para quinta-feira (dia 7) e que também pode afetar o destino do ex-presidente Lula, acontece num momento de instabilidade, em que Toffoli tem sido cobrado por uma ala da corte a dar uma resposta institucional enfática aos recentes ataques à corte.
INSATISFAÇÃO – A publicação de um vídeo numa rede social do presidente Jair Bolsonaro no qual ele é retratado como um leão cercado por hienas, entre elas uma que representa o Supremo, deflagrou insatisfação de parte de seus pares diante da ausência de uma resposta oficial.
Coube ao decano Celso de Mello sair em defesa do STF. Após ser procurado pela Folha, o ministro disse que “o atrevimento presidencial parece não encontrar limites na compostura que um chefe de Estado deve demonstrar no exercício de suas altas funções”.
Nos dias seguintes ao do vídeo, que acabou apagado por Bolsonaro, novas polêmicas resvalaram no Supremo. Bolsonaro teve o nome citado por um porteiro na investigação sobre a morte de Marielle Franco (PSOL) e um dos filhos dele, o deputado Eduardo (PSL-SP), falou na possibilidade de um “novo AI-5” no caso de radicalização da esquerda  — referência ao marco do período mais duro da ditadura militar. Novamente o presidente do STF não se pronunciou.
SILÊNCIO – Nos bastidores, Toffoli justifica seu silêncio. A pessoas próximas o presidente tem dito que a corte tem de se preservar e que, à frente da mais alta instância do Poder Judiciário, ele não pode virar comentarista de Twitter nem bater palma para louco dançar, numa referência às publicações e declarações mais polêmicas do clã Bolsonaro.
Na quarta-feira (31), após sair de um evento em São Paulo, Toffoli enfrentou um protesto com cerca de 15 pessoas favoráveis à prisão após condenação em segunda instância. Vestidos de verde e amarelo, os manifestantes cercaram o carro do presidente do Supremo, chegaram a bater na lataria e estenderam uma faixa com os dizeres “hienas do STF”.
O pano de fundo do pequeno ato é o apoio à Operação Lava Jato e ao ex-juiz Sergio Moro, hoje ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, ambos sob escrutínio do Supremo. Em conversas reservadas, Toffoli minimizou o protesto.
LULA SOLTO – O CNJ (Conselho Nacional de Justiça) estima que uma alteração na jurisprudência atual poderia beneficiar até 4.895 réus que tiveram a prisão decretada após serem condenados em segundo grau. O ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril de 2018 pelo caso do tríplex de Guarujá (SP), é um dos que podem se beneficiar com uma eventual mudança de entendimento.
Diante de um provável veto do STF à prisão de condenados em segundo grau, o presidente do tribunal tem feito movimentos políticos para construir um ambiente menos hostil a uma decisão nesse sentido.
Na última segunda (28), mesmo dia em que foi veiculado o filme das hienas, ele enviou aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), uma sugestão para alterar o Código Penal e evitar que processos penais prescrevam quando um réu recorrer às instâncias superiores.
PRESCRIÇÕES – Pela ideia de Toffoli, recebida por Maia com entusiasmo, os prazos de prescrição deverão parar de correr quando um condenado apresentar recurso ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que é considerado uma terceira instância, e ao Supremo.
Também na segunda-feira Toffoli indicou que vai pautar, logo após as ações sobre prisão em segunda instância, a análise de um recurso que definirá se condenados pelo Tribunal do Júri podem recorrer em liberdade ou já devem ser presos após o veredito.
O Tribunal do Júri julga crimes dolosos contra a vida, como homicídios, e hoje alguns condenados conseguem recorrer em liberdade.
MUITAS CRÍTICAS  – A intenção de Toffoli é dar uma resposta às críticas de parte da opinião pública que teme que homicidas demorem a ser presos e, ao mesmo tempo, acenar ao grupo que defende a prisão em segunda instância, que deve sair vencido. O relator do recurso que discute o júri é Luís Roberto Barroso, que integra esse grupo.
O placar parcial do julgamento que será retomado está em 4 votos a favor da execução antecipada da pena (dos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux) e 3 contra (Marco Aurélio, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski).
Entre os 4 ministros que faltam votar, 3 (Gilmar Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli) têm sido contra a prisão logo após condenação em segunda instância, que é permitida pelo STF desde 2016. Assim, a tendência é de a corte ter maioria (6 votos) para mudar a jurisprudência vigente.
TOFFOLI DECIDIRÁ – Na avaliação de advogados e de membros do próprio STF, com os gestos da última semana, Toffoli indicou estar disposto a votar pela necessidade esperar o trânsito em julgado (o fim dos recursos dos tribunais superiores) para que um condenado cumpra a pena.
Publicamente, o ministro tem dito que ainda não decidiu como vai votar — deixando no ar a possibilidade de manter a proposta que fez em 2016. Na ocasião, ele buscou uma saída intermediária: a de permitir a prisão após julgamento do recurso no STJ (opção que, em tese, não beneficiaria Lula). Seria um caminho do meio entre os que defendem a prisão em segunda instância e os que vão pelo trânsito em julgado.
Hoje em dia, contudo, a avaliação de observadores é de que esse entendimento intermediário só geraria mais divergências no plenário.
LAVA JATO – Embora a segunda instância seja uma das principais bandeiras da Lava Jato, a operação está enfraquecida com a divulgação das mensagens de Telegram pelo site The Intercept Brasil e por outros veículos, incluindo a Folha.
A atuação de Toffoli deve continuar em destaque no restante do mês. No dia 21 está previsto o julgamento de um recurso que paralisou todas as investigações do país que usaram dados de órgãos de controle, como o antigo Coaf, sem autorização judicial.
A paralisação das apurações foi determinada pelo ministro em julho, atendendo a um pedido do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), que era investigado pelo Ministério Público.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A reportagem esqueceu de mencionar que a proposta de Toffoli sobre suspender as prescrições não afeta os réus da Lava Jato. É apenas uma cortina de fumaça para encobrir a garantia de impunidade aos criminosos de elite, digamos assim(C.N.)

Inquérito do caso Marielle contradiz versão de promotoras sobre controle de entrada


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Investigação levou 11 meses até citar a casa de Bolsonaro
Marina Lang, Italo Nogueira e Júlia BarbonFolha
Documentos do inquérito sobre o assassinato de Marielle Franco mostram que a Polícia Civil do Rio de Janeiro possui há um ano as planilhas com os registros de entrada de visitantes do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa e morou até se mudar para o Palácio do Planalto.
Os papéis contradizem recente versão do Ministério Público do Rio, segundo a qual o órgão só teve acesso aos documentos em 5 de outubro passado, quando afirma ter apreendido o material na portaria do condomínio no curso da investigação sobre o mandante do assassinato da vereadora.
SEM COMENTÁRIOS – Procurado pela Folha e informado sobre o teor da reportagem, o Ministério Público disse que só irá se manifestar no processo. A Polícia Civil não quis se manifestar.
A Divisão de Homicídios da polícia detém os papéis ao menos desde novembro de 2018. Já a Promotoria foi informada desde março deste ano sobre a apreensão das planilhas. Elas foram obtidas durante a investigação do caso, porque o policial militar aposentado Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do crime, também mora no condomínio Vivendas da Barra, o mesmo de Bolsonaro.
Promotoras do MP-RJ, contudo, haviam afirmado em entrevista na semana passada que as planilhas só foram apreendidas em outubro, após Lessa e o ex-policial militar Élcio de Queiroz, outro réu no processo, terem confirmado que se encontraram no condomínio horas antes do assassinato da vereadora, em março de 2018.
AFASTAMENTO – A promotora que primeiro informou que a planilha não havia sido apreendida anteriormente foi Carmen Carvalho. Ela se afastou do caso dois dias depois, quando vieram à tona fotos suas em apoio ao presidente Bolsonaro e aliados.
Apesar do acesso anterior às planilhas, ao menos desde março, somente em outubro os integrantes do MP-RJ procuraram o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, para saber se poderiam continuar a investigação depois de o nome do presidente da República ter aparecido na investigação — o aval do STF veio nesta segunda-feira (dia 4 de novembro).
Como revelado na semana passada pelo Jornal Nacional, uma das planilhas manuscritas indicava que o ex-PM Élcio tinha como destino a casa 58, a de Bolsonaro.
DIZ O PORTEIRO – Ainda segundo a reportagem, um porteiro do condomínio declarou em depoimento à Polícia Civil em outubro que “seu Jair” autorizou a entrada de Élcio. Segundo o funcionário, ao notar que o carro se dirigia à casa 65/66, ele contatou novamente a casa 58 para confirmar a autorização. E o mesmo interlocutor disse que sabia para onde iria o ex-PM.
Bolsonaro, contudo, estava na Câmara dos Deputados na hora em que o ex-PM entrou no condomínio. Gravação do interfone também indica, segundo perícia do Ministério Público, que a ligação foi feita para a casa 65/66 e a autorização de acesso foi dada por Ronnie Lessa.
Embora toda essa movimentação tenha ocorrido apenas no mês passado, a polícia apreendeu o controle de acesso ao condomínio em novembro de 2018. Já a análise do documento ocorreu até fevereiro.
PLANILHAS – A Divisão de Homicídios da Polícia Civil obteve na portaria planilhas de entrada de visitantes entre o fim de dezembro de 2017 e outubro de 2018 —as tabelas dividem os acessos de carro e de pedestres. Há ainda um arquivo de programa Excel no qual agentes da unidade transcreveram as informações dos papéis originais.
A transcrição, contudo, se deteve apenas às linhas que indicavam acesso à casa 65/66, de Ronnie, entre fevereiro e março de 2018 —a tabela eletrônica também traz informações na íntegra sobre os acessos ao condomínio em janeiro do ano passado.
O registro manuscrito da entrada de Élcio mostra que era possível identificá-lo na planilha original. Embora o nome esteja quase ilegível e a indicação da casa seja a 58, e não a do outro acusado, o modelo e a placa do carro usado para acessar o condomínio estão evidentes.
EM NOME DA MULHER – O Logan placa AGH 8202 está em nome da mulher de Élcio. O ex-PM, inclusive, declarou em janeiro deste ano na Delegacia de Homicídios, quando foi interrogado ainda em liberdade, que o usava para transitar pela cidade.
O processo não deixa claro em que circunstâncias essas planilhas foram apreendidas — não consta mandado de busca e apreensão para este fim. Os relatórios do processo que se referem a elas são de fevereiro. O delegado Giniton Lages também fez menção a elas no relatório final do inquérito, de março.
Sem identificar por sete meses a entrada de Élcio no condomínio, a análise da menção à casa de Bolsonaro só passou a ser alvo das autoridades após o interrogatório dos dois acusados, em que reconheceram ter se encontrado no condomínio no dia do crime.
DISSE O EX-PM – Durante o interrogatório em 4 de outubro deste ano, Élcio foi questionado se frequentava outra casa no condomínio. Ele negou. Questionado se conhecia outro morador do local, disse que não, para depois afirmar apenas que sabia que o presidente vivia lá.
Ronnie Lessa também foi questionado sobre se frequentava a casa de outros moradores. Ele negou sem tecer outros comentários.
As promotoras do MP-RJ afirmaram também que, pouco antes do interrogatório, uma empresa privada conseguiu desbloquear os celulares de Lessa. Num deles foi encontrada uma mensagem de sua mulher com a foto da planilha na véspera do depoimento dos dois acusados na Divisão de Homicídios, quando ainda estavam em liberdade. Os dois foram presos preventivamente em março.
A PERÍCIA – No dia seguinte à divulgação do depoimento do porteiro pelo Jornal Nacional, o Ministério Público divulgou uma perícia segundo a qual uma gravação do interfonema da portaria mostrou que quem autoriza a entrada de Élcio é Ronnie Lessa.
A Folha mostrou, contudo, que a análise não considerou a possibilidade que o sistema do computador da portaria do condomínio tenha sofrido algum tipo de alteração, como um arquivo deletado ou renomeado.
A perícia também não analisou se o porteiro da gravação em que Élcio é autorizado a entrar por Ronnie Lessa é o mesmo que prestou depoimento. De acordo com o jornal O Globo, a perícia da Polícia Civil aponta se tratar de pessoas diferentes.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O mistério aumenta cada vez mais e o suspense é de matar o Hitchcock, diria o compositor Miguel Gustavo. (C.N.)

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