Dora Kramer
É intrigante a insistente solicitude com que governistas se dispõem a aconselhar o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, a persistir na luta para obter a legenda do PSDB na disputa pela Presidência da República em 2010.
Tecem loas à capacidade de Aécio para agregar aliados, insinuam que se ele for o candidato da oposição o governo estará em maus lençóis porque a aliança em torno de Dilma Rousseff tenderia a explodir em função do êxodo de governistas em direção à candidatura do mineiro e alimentam abertamente a tese de que “Minas” tende a se insurgir contra uma posição subalterna, pois a sucessão presidencial “passa” necessariamente por lá.
Começando pelo fim: se Minas não aceita uma posição subalterna e tem – como, de fato, tem – a importância estratégica devida ao segundo maior colégio eleitoral do país, por que a direção nacional do PT não começa por organizar sua própria seara, hoje às turras no estado, em vez de incentivá-la a se tornar uma sublegenda do PMDB?
É que a preocupação primordial do governo é afastar o máximo de obstáculos possíveis do caminho de Dilma Rousseff, haja vista a determinação do presidente Luiz Inácio da Silva em tirar o deputado Ciro Gomes do páreo e acomodá-lo na disputa pelo governo de São Paulo.
Nessa linha, a paura maior é com a possibilidade de o PSDB juntar os governadores de São Paulo e Minas Gerais numa mesma chapa. Se a dupla seria imbatível ou não, só o eleitor para confirmar. Mas é fato que nas hostes governistas o temor é grande porque a avaliação em tese é a de que seria praticamente impossível derrotar José Serra e Aécio Neves juntos.
O ideal, qualquer governista confirma, teria sido conseguir que Aécio saísse do PSDB e concorresse por outro partido, de preferência o PMDB, para tirar dos tucanos os votos de Minas.
Essa possibilidade morreu com o fim do prazo para filiação partidária dos candidatos e a permanência de Aécio Neves no PSDB. A meta do adversário passou a ser, então, a tentativa de alimentar a cizânia interna na esperança de que se repita o cenário de 2002, quando boa parte do PSDB fazia cara de paisagem enquanto José Serra disputava a Presidência com Lula.
É do jogo, não fere nenhuma regra, mas o caminho escolhido agride a lógica dos fatos e não faz jus à inteligência dos envolvidos. De ambos os lados.
Os petistas dizem por toda parte que Aécio é o candidato mais difícil de ser derrotado, que eles prefeririam mil vezes concorrer com José Serra e que se o mineiro for escolhido está tudo perdido. Cobrem o governador de Minas de elogios, fazendo dele um juízo que não condiz com quem aprendeu na família que a política é a arte de ser matreiro.
Se Aécio é mesmo, na visão do PT, o adversário mais perigoso, o natural seria combatê-lo, minar suas chances, desqualificá-lo no lugar de elevá-lo à condição de divindade. Nem Aécio acredita nem o PT se faz verossímil. Inclusive porque já usou o truque em 2006, quando ministros “confidenciavam” a jornalistas que o PSDB faria bom negócio em escolher o então governador de São Paulo, pois Geraldo Alckmin seria um páreo duríssimo para Lula.
Agora a coisa se repete. Dá para entender alguém que elege para si a melhor opção para o adversário? Só sendo mentira. E das bem bobas.
Futucar é preciso
Hoje à noite no programa “É notícia” (Rede TV!) o presidente Lula aparecerá dizendo em entrevista a Kennedy Alencar que o mensalão foi fruto de armação de seus adversários, uma tentativa de golpe da oposição que ele não denunciou porque não é função do presidente da República ficar “futucando essas coisas”.
Quer dizer, então, que há quatro anos o Brasil correu o risco de enfrentar uma ruptura institucional e o chefe da Nação deixou passar em branco, permitindo que os responsáveis pela conspiração ficassem impunes, mais não fosse da condenação moral diante da opinião pública?
Se foi isso mesmo que o presidente Lula quis dizer na gravação feita durante a semana, cabe ao menos uma interpelação judicial para que sua excelência explique as razões pelas quais deliberadamente acobertou uma tentativa de agressão ao Estado de Direito, cláusula pétrea da Constituição.
Se não foi, cumpria reparar. A ausência de cobranças sérias a respeito das declarações do presidente e a aceitação tácita de que sua popularidade o torna inimputável é o que o autoriza a cometer toda sorte de leviandades, a ofender as pessoas, desmoralizar qualquer um que se oponha aos seus propósitos e ainda exigir que seja tratado com obsequiosa reverência.
A penúltima foi comparar a oposição a Hitler dizendo que a organização de militantes para atuar da eleição se assemelhava à cooptação de jovens na Alemanha nazista.
Como Lula fala tolices a mancheias, as pessoas acham graça. Vão rindo até o momento em que encontrarão razões para chorar e já não terão como reclamar.
Fonte: Gazeta do Povo