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terça-feira, julho 04, 2023

As várias faces perversas da inflação que se disfarçam nas perdas salariais

Publicado em 4 de julho de 2023 por Tribuna da Internet

Charge do Rômulo Estânrley (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Na edição desta segunda-feira, na Folha de S. Paulo, o economista Benito Salomão escreve um artigo sobre o que ele considera perspectivas para a desinflação e também, é claro, sobre o processo inflacionário. A inflação, ao contrário do que tentam fazer crer os PHDs de grande cultura econômica, é um meio de lucro para os bancos e para grandes aplicações no mercado financeiro, e também um sistema que tem crescido no Brasil de redução dos salários e aumento permanente dos preços.

Não que os preços não devam aumentar. Isso é uma consequência lógica das atividades humanas, de sua produção, do avanço tecnológico e do aperfeiçoamento que também leva ao progresso. Um tipo de inflação é o reflexo da queda do volume produtivo, criando uma solução social à base do poder aquisitivo. Menor produção com o nível de interesse na escala ascendente produz uma seleção à base de preços. Quem tem mais dinheiro compra, quem tem menos dinheiro não adquire.

ESPECULAÇÃO – Mas há também a face oculta de uma produção que se mantém estável ou cresce, mas com ela avançam os preços. É a especulação. Não havendo pressão maior pela demanda, não se sustenta a regra da competição seletiva à base do maior e menor poder de compra. Há ainda um outro aspecto, e é o que está, provavelmente, acontecendo no Brasil.

A perda dos salários para a inflação é cada vez mais intensa, não há como negar, e isso exclui uma faixa do mercado de compras. Os produtos encalham. Nessa hipótese, o comércio vê-se na obrigação de reduzir a altura dos preços para que parte da população possa adquirir as mercadorias.

Essas faces devem ser apreciadas, mas infelizmente não são, pois os altos especialistas que podem fazer a tradução do que se diz para o que se pratica, não possuem interesse algum em produzir o esclarecimento. Assim, com o passar do tempo, no Brasil, ajudados por uma Selic de 13,75%, os bancos e aplicadores do capital escolhem as atividades financeiras muito mais do que os investimentos na produção econômica. Esse tema é otimamente exposto pelo francês Thomas Piketty no seu livro “O Capital no século XXI”.

SEM RECUO – As aplicações financeiras praticamente não acarretam expansão de mão-de-obra, ao contrário dos investimentos da produção. Ainda em matéria de inflação – a meu ver, se todos perdessem com ela, a mesma já teria acabado – é preciso considerar também que ao contrário dos que tentam iludir a opinião pública, ela não recua.

Ela pode se adicionar menos do que estava sendo adicionada em período comparativo anterior, mas não quer dizer que tenha recuado. Em 2021, por exemplo, a taxa inflacionária bateu 10,50%, segundo o IBGE. Em 2022, ela recuou para 5,7%. Quer dizer que ela baixou? Nada disso. Os 5,7% se adicionaram aos 10,5% do ano anterior.

A inflação serve também para reduzir os salários. A Constituição Federal diz que os salários dos funcionários públicos são irredutíveis. Mas esse não pode ser um conceito apenas nominal. Uma forma de reduzi-los é reajustá-los abaixo do índice inflacionário. Logo, manter a situação atual que se firmou ao longo do governo Jair Bolsonaro constitui uma prática inconstitucional. No caso, é preciso que a Constituição seja observada em sua verdadeira essencialidade. Uma coisa é o valor nominal, outra é o valor real, essa é a questão.

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