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quarta-feira, janeiro 22, 2020

Entidades de imprensa apontam “manipulação” e criticam denúncia contra Greenwald


Glenn e outros seis  foram denunciados por ligação com hackers
Daniela Arcanjo
Folha
Entidades de imprensa criticaram nesta terça-feira, dia 21, a denúncia do Ministério Público Federal contra o jornalista Glenn Greenwald. Entre as críticas, rotularam a medida de um procurador como “mais um ataque à liberdade de imprensa” e “tentativa grotesca de manipulação para tentar condenar o jornalista.”
A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), a Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) e a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) estão entre as organizações que se manifestaram. Procurada, a ANJ (Associação Nacional de Jornais) afirmou que não iria se pronunciar.
DENÚNCIA – Nesta terça-feira, o Ministério Público Federal em Brasília denunciou sete pessoas sob acusação de envolvimento no hackeamento de mensagens de autoridades como o ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba.
Entre os denunciados está o jornalista Glenn, fundador do site The Intercept Brasil, que recebeu os diálogos da Lava Jato e os publicou por meio de uma série de reportagens, algumas delas em parceria com outros veículos de imprensa, como a Folha.
ORIENTAÇÃO – Glenn não foi investigado nem indiciado pela Polícia Federal, mas o procurador Wellington Oliveira entendeu, por áudio encontrado em um computador apreendido, que o jornalista orientou o grupo de hackers a apagar mensagens
Segundo a Abraji, os diálogos apresentados como provas não confirmam as acusações do procurador. “A denúncia contra Glenn Greenwald é baseada em uma interpretação distorcida das conversas do jornalista com sua então fonte. Tem como único propósito constranger o profissional, como o texto da denúncia deixa ver: por duas vezes, o procurador refere-se a Greenwald com o termo jornalista entre aspas, como se ele não se qualificasse como tal —e como se coubesse a um membro do MPF definir quem é ou não jornalista”, afirma a nota.
ABUSO – Para a associação, o Ministério Público abusa de suas funções para perseguir um jornalista e viola o direito dos brasileiros de viver em um país com imprensa livre. A Fenaj, em críticas semelhantes, afirma que o MP “ignora a Constituição Brasileira” ao denunciar o jornalista.
“Ao jornalista não cabe o papel de recusar ou não divulgar informações de interesse público, porque obtidas de fontes anônimas e/ou sigilosas. Igualmente, não é dever do jornalista atestar a legalidade da obtenção das informações e, sim, verificar a veracidade das informações, antes de divulgá-las à sociedade”, afirma a federação, em nota.
No seu pronunciamento, a ABI pediu à Justiça Federal que rejeite a medida e lembrou que o procurador responsável pela denúncia, Wellington Oliveira, foi o mesmo que denunciou Felipe Santa Cruz, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), sob acusação de calúnia a Moro.
“AMEAÇA” – Também nesta terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a denúncia feita pelo MPF contra Glenn Greenwald é “uma ameaça à liberdade de imprensa”.
“A denúncia contra o jornalista @ggreenwald é uma ameaça à liberdade de imprensa. Jornalismo não é crime. Sem jornalismo livre não há democracia”, escreveu o presidente da Câmara.
RELATOR DA ONU – O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para a liberdade de expressão, David Kaye, também utilizou o Twitter para se manifestar sobre a denúncia contra Glenn Greenwald. Ele afirmou que irá questionar a diplomacia brasileira sobre o caso e compartilhou reportagem do jornal “The New York Times” com detalhes da ação do MPF.
“Isso é extremamente preocupante e parece um esforço para intimidar Glenn Greenwald e o The Intercept a pararem de fazer reportagens”, escreveu Kaye.

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