Helio Fernandes
Mestre Afonso Arinos, tão importante, se consagrou só com o nome, (nem precisou do Mello Franco histórico da família) costumava dizer: “O mais importante para um país é o seu orçamento. Se o Congresso, durante o ano todo, votar apenas o orçamento, não precisará fazer mais nada”.
Isso é indiscutível, mas o Congreso, Câmara e Senado (Afonso Arinos foi deputado e senador) passou a vida ignorando as declarações e afirmações dele. Só que agora ultrapassaram todos os limites ou falta de representatividade.
Gim Argello já entrou no Senado violentando essa mesma representatividade, assumiu quase o mandato inteiro (mais de 7 anos) do corrupto Joaquim Roriz. Mas não era nada melhor do que o várias vezes ex-governador de Brasília.
Não deviam ter dado posse ao suplente de Roriz, precisavam antes investigar a sua procedência. Como todos sabiam que Roriz seria candidato (eleito mais uma vez) a governador de Brasília, Argello teria garantido e assegurado, 4 anos no Senado.
Como Roriz não agüentou o peso de tanta denúncia de corrupção, renunciou imediatamente para não ser cassado. Assim, esse desconhecido Argello teve a suplência (que terminaria 4 anos depois) transformada em “efetivação”, logo, logo, com o aplauso do Senado.
Gostam de fazer e fizeram para Argello: aplaudem mas investigam, não para condenar, e sim para “engavetar”. Só que como todo aventureiro, Argello, mesmo completo analfabeto, era simpático com todos, “esqueceram” e não usaram o que descobriram, desde os tempos em que foi vendedor de carros usados.
Esse Gim (da selva que é a capital?) foi dominando tudo, incluído nas melhores Comissões, “louvado” (desculpem, Tom e Vinicius) até por jornalistas que se dizem e se julgam importantíssimos e independentes, mas que não ultrapassam a linha demarcada por “ordens superiores”.
Até que sem qualquer notícia, protesto ou revolta, Argello foi feito relator da mais importante Comissão do Senado e, logicamente, do Congresso.
Quando descobriram (?) que ele estava “destinando” (é a palavra usada por parlamentares) verbas para empresas fantasmas, nem precisaram pedir ou exigir, renunciou. Foi com uma renúncia que entrou no Senado, com outra saiu do cargo de relator do orçamento.
Mas continuará no Senado, e até proclama audaciosamente, sabe que nada lhe acontecerá: “Estou em posição confortável para ser fiscal diário das investigações e acusações que I-N-J-U-S-T-A-M-E-N-T-E envolveram meu nome”. Se eram injustas, por que renunciou apressadamente?
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PS – Afonso Arinos, entre tantas lições e conselhos, (como o que citei no início) também pregava: “O orçamento deve ser IMPOSITIVO e não apenas AUTORIZATIVO”. Perfeito. No poderoso presidencialismo brasileiro, da FEDERAÇÂO e não da CONFEDERAÇÃO (dos EUA), o Presidente da República faz o que quer.
PS2 – Em 1919, derrotado por Epitácio Pessoa, candidato do “sistema”. Rui Barbosa abandonou a vida pública, ia completar 70 anos. Confidenciou ao seu grande amigo, senador Antonio Azeredo: “Meu erro, e me arrependo disso, foi escolher a Federação e não a Confederação. Hesitei durante meses”.
PS3 – Os EUA discutiram longamente, na Convenção da Filadélfia, se a Constituição deveria ser FEDERALISTA ou ESTADUALISTA. Por decisão de um debate empolgante, ela ficou sendo 70 por cento ESTADUALISTA e apenas 30 por cento FEDERALISTA. Ótimo para os estados e municípios.
PS4 – Além de todos os inconvenientes, no sistema FEDERATIVO, os municípios representam pouco. Quando o presidente REPASSA verbas orçamentárias para os municípios, é como se estivesse fazendo um favor.
PS5 – Apesar dos 190 milhões de brasileiros morarem em municípios. Desde o presidente da República, qualquer que seja, (ou tenha sido nos 121 anos) até o mais humilde cidadão.
PS6 – Infelizmente, jamais mudaremos o “sistema”, não porque a Federação seja “cláusula pétrea” e sim por falta de interesse geral. Já tivemos tantas Constituições e destruímos tantas “cláusulas pétreas” que ficaremos ESTAGNADOS. Ou com o RETROCESSO de 80 anos em 8, de FHC. Ou com o ACERTO PARCIAL de Lula, por simples intuição.