Carlos Chagas
Da cascata de entrevistas nas telinhas,Dilma Rousseff avançou significativa definição a respeito de eventuais desvios e atos de corrupção porventura praticados pela sua equipe de governo: não haverá tolerância de espécie alguma. Ao primeiro sinal de irregularidades evidentes, o cidadão será afastado do cargo, não apenas para defender-se. Para ser punido, se comprovada sua culpa. Ela espera que a justiça cumpra o seu papel.
O aspecto central do raciocínio da presidente eleita deve estar elevando Pedro Simon ao reino dos céus: com todas as letras, ela disse que “impunidade, não!” Precisamente o que o senador gaúcho vem pregando há décadas.
Tomara que à teoria siga-se a prática inflexível. Porque mal-feitos são inerentes à natureza humana. Tentações, também. Fatalmente, no próximo mandato, acontecerão atos de corrupção maiores ou menores. A cena inicial marcará o ritmo da peça. A reação da nova presidente diante da primeira denúncia será o espelho de toda a sua gestão. E se quiser buscar um exemplo no passado recente, Dilma deveria chamar Itamar Franco para um cafezinho. Mesmo senador da oposição, o ex-presidente tem experiências a relatar.
TRANSIÇÃO DESNECESSÁRIA
Na República Velha os presidentes eram eleitos no primeiro dia de março e só tomavam posse a 15 de novembro. Um interregno desnecessário onde o país convivia com dois chefes de governo, o que saía e o que entrava.
O tempo passou, os períodos dessa constrangedora convivência foram encurtados, mas, mesmo assim, nossas instituições seriam aprimoradas se apenas uma semana separasse a eleição da posse.
No caso atual, acresce estar sendo encenada uma fantasia. Para que equipe de transição entre os governos Lula e Dilma, se com as correções necessárias, a equipe é a mesma? Antônio Palocci de um lado, Paulo Bernardo de outro, quando ambos tem todas as chances de integrar o novo ministério?
Cinquenta funcionários do Lula prontos para informar a turma da Dilma, que é a mesma, ou quase isso?
Mas tem mais: quem estará melhor preparado para saber das realizações, carências e objetivos do governo atual senão a própria Dilma, que por tantos anos comandou a coordenação administrativa? A impressão é de que essa tal equipe de transição funcionará apenas para preencher o vácuo de dois meses entre os dois governos.
PISOU NO TOMATE
Quem pisou no tomate foi o deputado Henrique Eduardo Alves, ao declarar que o PMDB não abre mão de um milímetro de suas prerrogativas de integrar o novo governo. Tratou-se de uma provocação desnecessária e a pergunta que se faz é se o vice-presidente da República e presidente do partido sabia da declaração de seu principal auxiliar. Foi combinada a intervenção? De qualquer forma, coincidiu com a nota oficial da presidente eleita corrigindo a composição da equipe de transição política e designando Michel Temer para integrá-la, ele que havia sido esquecido na véspera, como de resto foi durante quase toda a campanha.
Ou Temer contém a sua tropa de choque ou logo novos desencontros estarão marcando o início de uma convivência arriscada e amarga.
O MESMO DE SEMPRE
Quem não se emenda é o sociólogo. Levou dois dias, apenas, para destilar sua mágoa por haver sido esquecido na maior parte da campanha de José Serra. Em nova entrevista, criticou a política de comunicação do então candidato, ou seja, o próprio, deixando claro que em 2012 um novo tucano precisará estar indicado para disputar as eleições de 2014. Não poupou o PSDB dito “serrista”, até ameaçando ficar de fora do partido se não forem seguidos seus conselhos e encontrada nova estratégia de ação.
Fernando Henrique Cardoso terá 82 anos quando, conforme sua sugestão, o PSDB terá escolhido o candidato à sucessão de Dilma Rousseff. E 84 no ano da nova eleição. Consta que em seu gabinete de trabalho ocupa lugar de honra uma fotografia de Konrad Adenauer…
Fonte: Tribuna da Imprensa