Rodrigo Lago
Nos últimos meses a mídia tem ventilado com maior intensidade uma série de notícias relacionadas à pedofilia, misoginia, assassinatos brutais, padres e pais violentando crianças, maridos matando mulheres e, principalmente, como a divulgada recentemente em Salvador – repercutida nacionalmente e de grande comoção pública –, a de meninas que fogem de casa para encontrar ‘pessoas’ conhecidas através da Internet e são estupradas e mortas de maneira cruel por bandidos.
Neste último caso, há quem responsabilize os pais pela falta de educação, contato e acompanhamento da vida dos filhos, mas existe também quem culpe apenas os marginais.
“De qualquer forma, é preciso que nós, pais, fiquemos mais atentos”, alerta a assistente social Carol Santana, mãe de dois filhos adolescentes. Na opinião do consultor imobiliário Bruno Borba, cabe aos pais e a família olhararem o que os filhos andam fazendo na web.
“Tenho uma irmã de 10 anos em casa que não sai da net. Ficamos o tempo todo de olho nos sites que ela navega. A culpa pela morte das meninas é dos bandidos, mas isso poderia ter sido evitado caso a família estivesse ligada”, disse, se referindo ao caso das adolescentes Janaina Conceição e Gabriela Nunes, 16 e 13 anos respectivamente, torturadas e decapitadas na última sexta-feira, em Salvador, por marginais da Rocinha da Divinéia.
As investigações policiais ainda não foram concluídas, mas o delegado Omar Andrade Leal, da 4ª DP acredita que as jovens conheceram os criminosos em sites de relacionamento. Os computadores das vitimas foram apreendidos pela Polícia para análises de possíveis provas.
Os benefícios da rede mundial de computadores são grandes, mas ela também tem um ilimitado potencial nocivo. E diante dos perigos apresentados pela Internet, a educadora Marizete Nunes fala para os pais serem cautelosos.
“Uma saída é instalar o computador numa área da casa em que há bastante movimento, como a sala de estar”, sugeriu, pontuando ainda que diretrizes claras são uma evidência da preocupação amorosa dos pais para com os filhos. No entanto, ela reconhece que nem sempre os pais conseguem ter domínio total sobre a rotina dos filhos. “Às vezes a mãe acredita que a filha está na escola, mas foi à praia com outras amigas, eles também simulam situações e é preciso ficar em alerta”.
A reportagem circulou por algumas localidades de Salvador para observar a movimentação de algumas lan houses. O número de crianças e adolescentes, muitas vezes fardados, é grande. Ficou constatado que as principais páginas abertas são justamente as das redes de relacionamentos. Na Cidade Baixa, por volta das 10 horas, meninas do Colégio Militar conversavam animadamente com homens mais velhos e, de vez em quando, um deles puxava e beijava uma das garotas, numa espécie de brincadeira. Numa lan do Bomfim, três garotas aparentando 13 anos dividiam o mesmo computador, riam. Na tela, fotos do Orkut de um rapaz de mais de 20.
Predadores da internet
Segundo a última pesquisa “Opinando em Grande”, realizada pela organização Ação pelas Crianças, em convênio com o instituto de pesquisa Imasen, junto a 413 crianças entre 11 e 17 anos, mais de 41% das crianças e adolescentes acessa a Internet de maneira diária.
A isso, se deve acrescentar que muitas crianças (89%) preferem ingressar na rede através de uma cabine pública, mas com privacidade (44%). O mais grave é que 76,2% acessam a Internet sem a supervisão de um adulto e apenas 21,2% têm algum tipo de controle familiar. Do total, 64,4% navegam de uma a duas horas por dia.
A maioria, 55%, navega pela rede com o objetivo de bater papo, 41,6% para jogar, 27,2% para buscar informações, 24,1% para revisar seu correio eletrônico e só 20,2% para estudar.
O perigoso é que 8% dos entrevistados responderam que revela seu endereço eletrônico para qualquer pessoa. E mais: 12,3% já foram a um encontro com uma pessoa conhecida através do bate-papo. Se alguma vez foram assediados por alguma pessoa que tenha conhecido pela Internet, 5,5% afirmam que sim. Foram vítimas de assédio através de mensagens enviadas para seus correios eletrônicos (66,7%), conversa pelo bate-papo (57,1%) e chamadas por telefone (9,5%).
Finalmente, 30,5% das crianças e adolescentes entrevistados assinala que têm acesso a material pornográfico, e, deste grupo, 92,9% fizeram através de uma cabine pública.
Ação – De acordo com investigadores de polícia, esses ‘predadores’ da Rede Mundial de Computadores fingem serem adolescentes nas salas de bate-papo destinadas a este público e abertas facilmente por meninos e meninas em milhares de lan hauses, como as espalhadas pelos diversos bairros da capital baiana.
De acordo com agentes da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente, eles envolvem crianças e adolescentes usando como recursos a atenção, a afeição, o carinho e até presentes, além de demonstrarem simpatia com os problemas das crianças e gastam se necessário, meses conquistando a confiança da vítima e, aos poucos, vão introduzindo conteúdos sexuais em suas conversações.
“Os pais, de maneira geral, estão muito afastados da educação dos filhos, delegando a outros um papel que é insubstituível, o que acaba abrindo brechas para tragédias como esta”, diz a educadora Marizete Nunes.
Sinais de aliciamento
Adolescente passa muito tempo navegando na Internet
Algum tipo de material pornográfico no seu computador
Recebe chamadas telefônicas de pessoas que você não conhece ou faz ligações para números desconhecidos (talvez até para cidades distantes)
Recebe correspondências ou pacotes de pessoas desconhecidas
Desliga o monitor do computador ou muda a tela rapidamente quando percebe que você entrou no ambiente
Começa a distanciar-se da família e dos amigos e faz uso da máquina fotográfica digital da família sem revelar com que objetivo.
Fonte: Tribuna da Bahia