Carlos Chagas
Henrique Meirelles está sendo defenestrado da presidência do Banco Central por razão bem superior a um eventual desencontro de palavras, isto é, pouca importância teve na decisão de Dilma Rousseff de não conservá-lo a declaração de que só aceitaria caso mantivesse autonomia e independência. Primeiro porque num sistema presidencialista quem tem a caneta e o poder de nomear e demitir presidentes do Banco Central é o presidente da República. Depois, porque Meirelles tem cabeça para não declarar tamanha bobagem. Na verdade, a divergência envolve a questão dos juros: Dilma pretende reduzí-los a 2% no prazo de um ano ou pouco mais. Meirelles sustenta a permanência indefinida das taxas mais altas do planeta.
Outra versão a ser desmentida é de que o presidente Lula aconselhou a presidente eleita a manter Meirelles no cargo. A sugestão presidencial envolveu apenas o ministro da Fazenda. Sabendo-se da divergência entre Guido Mantega e Henrique Meirelles, fica claro que o primeiro-companheiro jamais proporia a continuação da dicotomia. Acresce que o ainda presidente do Banco Central é banqueiro, categoria não propriamente bem situada nas graças de Dilma.
Mesmo sendo cogitado o nome de Alexandre Tombini, atual diretor de Normas do BC, a decisão ainda não teria sido tomada pela presidente eleita. Certo, mesmo, é que Guido Mantega responderá diretamente a Dilma pelo comando da política econômica, tendo o Banco Central sob sua supervisão, coisa que não acontece no governo Lula.
DEFESA: OUTRO NÓ A DESATAR
É antigo o distanciamento entre Dilma Rousseff e Nelson Jobim. O ministro da Defesa foi o primeiro, quem sabe o único, a reagir ao estilo áspero e deselegante da então chefe da Casa Civil, nas raras vezes em que despacharam. Conta-se até que teria se referido à necessidade de conter os arroubos da ministra, no café da manhã num hotel de Buenos Aires, na presença de mais dois ministros brasileiros, por ocasião de uma visita do presidente Lula à Argentina. Os três fizeram um pacto de resistência, naqueles idos em que nem se cogitava da candidatura de Dilma. Se os outros dois cumpriram ou ficaram apenas na intenção, é outra história.
Por conta disso ignora-se a hipótese da continuação de Jobim, na bolsa das especulações. Apesar de fartamente elogiado pelos comandantes das três forças armadas, o ministro ainda não foi convocado pela presidente eleita para conversar.
A Defesa é um ministério delicado, exigindo de seu titular densa biografia, bem mais do que representatividade partidária. Nomes como Waldir Pires e em especial o vice-presidente José Alencar, e depois Nelson Jobim, preencheram esses requisitos. Caso Dilma Rousseff pretenda designar outro ministro, precisará sair de lanterna em punho, pois as opções à altura são poucas.
CATUCANDO COM VARA CURTA
Deve cuidar-se o presidente do PTB, Roberto Jefferson, posto no ostracismo desde antes de sua cassação como deputado federal. Mesmo com o partido integrando a base parlamentar do presidente Lula, Jefferson jamais foi convidado para reuniões do Conselho Político ou audiências isoladas. Por conta disso, tem funcionado como livre atirador, causando certos constrangimentos no governo, como a repetição de que o mensalão continuou existindo até muito depois de havê-lo denunciado ao chefe do governo. Na recente sucessão presidencial, liberou o PTB para apoiar qualquer dos candidatos, tendo pessoalmente ficado com José Serra, cuja campanha criticou de forma ostensiva. Mas não perde oportunidade de jogar farpas na presidente eleita e em seu criador. Ainda agora acaba de dizer que não adiantou o eleitorado escolher uma mulher para presidente, porque na verdade quem manda é um homem. No caso, o presidente Lula. Dilma não deve ter gostado nem um pouco…
ÁGUIA, LOBO MAU OU ONÇA?
Durante a campanha, a empresa aérea contratada para transportar a candidata recomendava às suas tripulações manter contacto permanente com seus diretores. Criaram um código para trocar informações, que sempre começava com “a águia decolou”, “a águia está no ar, rumando para tal lugar” ou “a águia pousou”.
Agora, com o humor da referência de Dilma Rousseff a seus três principais auxiliares como sendo “os três porquinhos”, ainda na reunião do diretório nacional do PT chegaram as perguntas a José Eduardo Dutra, José Eduardo Cardoso e Antônio Palocci: “quem é o lobo mau?” Conta a lenda que pelo menos dois dos três porquinhos não seguraram o riso, olhando fixamente para a presidente eleita.
Há quem se prepare para uma terceira incursão no reino zoológico, porque depois de algumas semanas de empossada, será fácil verificar que a mulher é uma onça…
Fonte: Tribuna da Imprensa