Carlos Chagas
Na sessão solene do Congresso do PT, amanhã, as atenções estarão voltadas para o pronunciamento de Dilma Roussef. Ainda que deixando ao partido alinhar os postulados doutrinários para o futuro, através do documento intitulado “A Grande Transformação”, a candidata não estará impedida de abordar aspectos gerais de seu governo, ressalvando o cauteloso “se eu vier a ser eleita”. As linhas-base de seu discurso seguirão no rumo de inflamados elogios ao presidente Lula, mas, ao receber formalmente a indicação do seu nome, poderá avançar propostas para o próximo período presidencial, claro que genéricas e calcadas nas realizações da atual administração.
Espera-se uma festa, não um debate a respeito dos passos adiante na estratégia pretendida pelos companheiros para o país. Dificilmente Dilma se referirá a promessas concretas, como a participação dos empregados no lucro das empresas, a co-gestão, a redução da carga semanal de trabalho para quarenta horas ou o imposto sobre grandes fortunas. Pelo que se sabe, abordará a importância da continuidade do desenvolvimento, das obras do PAC, do combate à inflação, da ampliação das conquistas sociais, da aliança com partidos e grupos que integram o governo Lula e dos horizontes abertos através da nova política externa.
Deverão estar presentes à reunião representantes dos partidos da base oficial, a começar pelo PMDB, com seus seis ministros e o presidente Michel Temer. Não seria hora de cotejar programas e plataformas, aliás, ainda não definidos.
Ainda a intervenção
Contra a natureza das coisas ninguém investe impunemente, já escrevia Napoleão para Josefina. Apesar do medo de vetustas e temerosas figuras do mundo político e jurídico diante da intervenção federal em Brasília, é por aí que o vento sopra. Porque mesmo se o governador José Roberto Arruda ficasse preso até o fim do ano, jamais os seus substitutos ou sucessores legais conseguiriam refazer as instituições locais, postas em frangalhos. Apesar de seus esforços, o vice-governador em exercício, Paulo Octávio, carece da autoridade necessária para restabelecer a credibilidade do poder público. Os seguintes na ordem sucessória, também, sejam o presidente e o vice-presidente da Câmara Legislativa, seja o correto novo presidente do Tribunal de Justiça. A todos faltará o respaldo sequer para compor um secretariado à altura do Distrito Federal. Quanto mais para receber da sociedade local o apoio imprescindível à garantia do funcionamento da máquina administrativa.
Está, o Distrito Federal, na situação daquele personagem que, se ficar, o bicho come. Se correr, o bicho pega. Nenhum dos referidos acima, a começar pelo governador Arruda, conseguirá evitar o desmonte da autoridade pública. A não ser que, pelo governo federal, seja designado alguém descompromissado com o passado de Brasília. Um interventor capaz de passar o rodo, sem relações de qualquer espécie tanto com a quadrilha aqui instalada quanto com aqueles que se mantiveram em silêncio diante de tanta lambança explícita. Fora daí será assistir a eleição dos mesmos de sempre.
Aqui se faz, aqui se paga
Estava tudo arrumado para a Beija-Flor ganhar na Sapucaí, com o enredo sobre os 50 anos de Brasília. Dinheiro não faltou, no propinoduto que ligava a capital federal ao Rio, passando por alguns pontos de bicho e sucedâneos. Não que a escola carecesse de méritos, muito pelo contrário, mesmo apresentando graves defeitos, como um Juscelino de papel que mais parecia o Bill Clinton. O problema é que a roubalheira brasiliense explodiu antes e a derrota já estava escrita há mil anos, na cabeça dos jurados. Menos pelo brilho dos passistas do que pelo vexame que seria uma vitória consagrando a lambança.
Fidelidade dá problema
Marcio Lacerda não se elegeria prefeito de Belo Horizonte sem o apoio fundamental de Aécio Neves. Mas havia sido, em 2002, o comandante de campanha de Ciro Gomes à presidência da República. Ouve-se agora que, convidado, não escapará de repetir o passado. Ciro precisa de sua competência. Mas Aécio, como receberá a defecção, sendo ou não candidato à vice-presidência na chapa de José Serra?
Fonte: Tribuna da Imprensa