Dora Kramer
Com São Paulo sob jurisdição do governador e candidato a presidente, José Serra, Minas Gerais sob administração do governador e por ora candidato a senador, Aécio Neves, é fundamental para o PSDB resolver sua equação eleitoral no Rio de Janeiro, hoje terra de ninguém para o campo oposicionista.
O PSDB já governou os três estados ao mesmo tempo, no governo Fernando Henrique Cardoso. Nunca perdeu o controle nos dois maiores colégios eleitorais, mas no Rio, depois de Marcelo Alencar, só fez definhar. A ponto de não contar com uma só liderança de expressão nacional nem de influência eleitoral no estado.
Recuperar esse terreno é crucial para os tucanos, que precisam arrumar uma maneira de compensar a vantagem do presidente Luiz Inácio da Silva nas regiões Norte e, principalmente, Nordeste.
A fórmula seria “fechar” boas estruturas nos três maiores colégios eleitorais do país que, juntos, somam 54.990.759 dos 131.883.788 eleitores brasileiros.
Em São Paulo vivem 29.498.433 eleitores; em Minas estão registrados 14.150.093 votantes; no Rio eles são 11.342.233, um número importante demais para ser tratado com displicência e deixado ao sabor dos pré-candidatos hoje em primeiro lugar nas pesquisas: o governador Sérgio Cabral e o ex-governador Anthony Garotinho.
Isso posto, expõe-se também a razão pela qual não só o PSDB, mas todas as forças de oposição a Sérgio Cabral – em tese dono do capital eleitoral do presidente Lula – investem na composição de uma aliança em torno do deputado Fernando Gabeira como candidato a governador.
Na semana passada, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, estava praticamente convencido de que essa solução não seria possível, porque Gabeira havia decidido disputar a reeleição para deputado.
O PSDB, então, estava inclinado a considerar o Rio um caso perdido e concorrer apenas para assegurar o tempo de televisão com algum candidato frágil no tocante à densidade de votos, mas que defendesse a candidatura de Serra no horário eleitoral.
Começou até a haver uma paquera com Anthony Garotinho, conduzida por intermédio do ex-prefeito Cesar Maia, não para uma aliança formal, mas talvez para um acerto mediante o qual haveria várias candidaturas no campo oposicionista com o objetivo de quebrar o favoritismo de Cabral.
A partir do seguinte raciocínio: quanto menos votos o governador tiver, menos terá também a candidata de Lula.
Mas a partir do último fim de semana as coisas evoluíram para outro lado, embora sem prejuízo das conversações entre os adversários de Cabral e Lula.
Na nova versão, ainda em fase de modelagem, Gabeira seria o candidato, digamos, “principal” de uma coligação em princípio integrada por PSDB, PV e PPS. Ele faria a campanha nacional de Marina Silva e os candidatos nas proporcionais (deputados) apoiariam Serra.
Uma construção ainda nebulosa do ponto de vista do funcionamento. Gabeira diz que topa, vai conversar em breve a respeito com José Serra, mas condiciona o fechamento do acordo a um acerto prévio das regras do jogo. Em que termos?
“Nos termos de um entendimento nacional onde todos se sintam confortáveis”, diz Gabeira, sem esclarecer grande coisa.
Pelo jeito, de propósito, pois por ora ainda há uma infinidade de problemas a resolver antes de a solução final se apresentar.
À francesa
A solução dada à crise provocada pelo ato que quase revoga a Constituição por decreto é solução nenhuma. O ministro da Defesa e o secretário de Direitos Humanos se declaram satisfeitos com a mudança do texto na parte relativa à Comissão da Verdade.
Considerando que sabem muito bem o que significa a frase “examinar as violações dos direitos humanos” – ou seja, nada –, satisfeitos mesmo só podem estar os militares, pois a nova versão avança menos que o acordo anterior (não cumprido) que previa o reexame das ações repressivas do Estado e as ofensivas da luta armada.
Não se discutiram os outros pontos que provocaram tanta reação contrária, simplesmente porque não serão levados adiante. O presidente Luiz Inácio da Silva debelou a crise como sempre faz: deixando o dito pelo não dito.
Mas pode ter criado um problema para sua candidata Dilma Rousseff ao dar margem à interpretação de que as metas contidas no decreto equivalem a uma plataforma de governo a respeito das quais Dilma será questionada durante a campanha pela oposição e pelos setores a cuja insatisfação não se deu a menor satisfação.
Vácuo
A estratégia do Planalto de distanciar Dilma Rousseff de qualquer situação ou discussão adversa é arriscada. Pode acabar dando a impressão de que ela não opina como candidata nem palpita na Casa Civil como ministra e, portanto, flana.
Fonte: Gazeta do Povo