Carlos Chagas
Só por milagre o presidente Lula escapa do desgaste gerado pelo tal decreto dos Direitos Humanos. Apesar de haver decidido mudar o texto nos parágrafos que chocaram as forças armadas e a Igreja, fica claro sair o governo arranhado, em seu último ano de mandato.
Primeiro, porque parece inócua a tentativa de auxiliares presidenciais desmentirem a versão de que o Lula assinou sem ler o decreto. Não leu mesmo. Aliás, lê muito pouco.
Depois, pela falha de sua chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que também deveria ter lido e alertado o chefe para as lambanças constantes do decreto. Passou ventando, a candidata.
Mas tem mais. Depois da demissão não concretizada do ministro da Defesa e dos comandantes militares, parecem a um passo de pedir exoneração os ministros dos Direitos Humanos e da Agricultura.
E para concluir, como fica um presidente que também é o chefe das forças armadas, depois de haver cedido à pressão de seus subordinados?
Acresce que se o decreto for levado a sério no Congresso e transformado nos 27 projetos de lei, não só os torturadores responderão a processos. Os terroristas também. E que juiz ou tribunal terá coragem para condenar dona Dilma e outros ministros que, no passado, integraram os contingentes da luta armada? Em especial se ela tiver sido eleita em outubro próximo.
Mais um absurdo
O decreto dos Direitos Humanos parece um roteiro de filme de vampiro. Um festival de absurdos que aos poucos vai sendo revelado pelos que conseguem ler suas mais de 70 páginas. No que se refere à Igreja, não só a descriminalização do aborto conseguiu irritar bispos e párocos de aldeia. Segue-se outra agressão à cultura nacional com a recomendação de que, nas repartições públicas, não poderão ser utilizados símbolos religiosos. Ora bolas, é católico quem quer, mas banir os crucifixos das paredes oficiais significa abominável besteira. Quem sabe a ante-sala da determinação de que, do lado de fora das igrejas, a cruz também seja proibida. E por que não as imagens, os sinos e as batinas?
A serviço de quem?
Diz a sabedoria popular que as coisas, geralmente, não são como parecem. Nesse conflito entre a presidente da República da Argentina e o seu presidente do Banco Central, como aceitar que as reservas em dólar de nossos vizinhos não possam ser utilizadas para pagamento de suas dívidas? Trata-se de dinheiro em caixa, fruto das exportações argentinas, ou seja, riqueza que apenas ao governo de Cristina Kirchner cabe gerir livremente. Ou será que os banqueiros internacionais encontram-se por trás da intransigência de Martin Redrado? Afinal, as reservas estão depositadas em Nova York e são usadas pelos grandes bancos americanos em suas operações rotineiras. Dão lucro, muito acima e além dos juros pagos a Buenos Aires. Se os argentinos pretendem pagar parte de suas dívidas com esse dinheiro, quem sai perdendo senão os banqueiros?
Bico errado
Segunda-feira, ao comentar a trapalhada do decreto dos Direitos Humanos, o ex-presidente Fernando Henrique não perdeu a oportunidade de alfinetar o sucessor. Disse que o Lula calçou o sapato errado.
Pois no mesmo dia o sociólogo também apareceu com o pé esquerdo no sapato direito, e vice-versa. Se quiserem, parecia um tucano com o bico atrás da cabeça.
FHC, Aécio Neves e Sérgio Guerra encontraram-se em São Paulo, para lançar a candidatura de José Serra à presidência da República. Só que com um detalhe: o governador não foi, apesar de encontrar-se a quinze minutos do local do encontro. Quer dizer, os três caciques do PSDB anteciparam-se. Melhor dizendo, precipitaram-se. Lançaram-se no espaço sem plano de vôo.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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