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quinta-feira, dezembro 17, 2009

Pior o dia seguinte do que a véspera

Carlos Chagas

Pior não poderia ficar. A Câmara Legislativa de Brasília, reunida de madrugada, aprovou o Orçamento para o ano que vem e, imediatamente, entrou de férias. Seria até normal esse procedimento, não fosse o fato de que tramitam na casa diversos pedidos de impeachment do governador José Roberto Arruda, que nem citado foi até agora, para apresentar defesa. Talvez nem seja, depois das férias parlamentares, porque dos 24 deputados distritais, 16 estão com ele e não abrem. Deverão desconsiderar a hipótese de cassar-lhe o mandato, quando retornarem.

O grave na história é o desrespeito da maioria dos deputados para com a opinião pública. A capital pega fogo, com manifestações diárias de protesto contra a corrupção de Arruda e sua quadrilha, flagrados recebendo dinheiro vivo de empresas contratadas pelo governo local. Até a cavalaria da Polícia Militar carregou sobre a multidão, sem falar nas sucessivas passeatas, carreatas e invasões do prédio da Câmara Legislativa. O mínimo a esperar seria a prorrogação dos trabalhos parlamentares para exame e deliberação sobre a crise. Sem falar que nove deputados, pelo menos, estão envolvidos na lambança, também filmados ao botar dinheiro no bolso, na bolsa e na meia.

Uma vez mais sente-se o clamor geral: o caso é de intervenção federal em Brasília, mas encontrar o presidente Lula em seu domicílio obrigatório não parece fácil.

Esperem sentados

Deputados da direção nacional do PMDB insistem em obter do presidente Lula um pedido de desculpas por haver, dias atrás, sugerido que o partido apresente uma lista tríplice de candidatos a companheiro de chapa de Dilma Rousseff. Sentiram-se ofendidos porque o indicado, para eles, é um só, o presidente da Câmara, Michel Temer. Ameaçam até descumprir o acordo de apoio à chefe da Casa Civil, podendo bandear-se para José Serra ou para a candidatura do governador Roberto Requião.

Podem esperar sentados, porque o presidente Lula não tem a menor intenção de desmentir-se e, mais ainda, continuará esperando a lista tríplice. Tudo indica a sinalização de que nem Dilma nem o presidente sentem-se satisfeitos com a indicação de Michel Temer. Gostariam de outro candidato do PMDB. Afinal, o parlamentar paulista não será, propriamente, um campeão de votos. Muito menos uma liderança popular.

No passado, um candidato a presidente chegou a renunciar à candidatura, por conta de sua irritação com o vice que lhe tinham imposto. Foi Jânio Quadros, que ficou uma semana escondido até que a UDN retirou a candidatura a vice do senador Leandro Maciel, de Sergipe, substituindo-o por Milton Campos. Não é o caso de Dilma fazer o mesmo, pois seus aliados poderiam aceitar a renúncia…

Defasagem

Pelo menos dez anos se passaram desde que o então presidente Fernando Henrique acenou para a Aeronáutica com a compra de uma esquadrilha de modernos aviões de caça. Entra ano, sai ano, e a compra não acontece, fornecendo apenas notícia requentada para os jornais. É grande o desgaste para a corporação, desde aquela época atropelada pela presença de variados ministros da Defesa pretendendo chefiar as Forças Armadas.

Enquanto isso sabe-se agora que o Exército, trabalhando em silêncio, acaba de comprar duzentos tanques na Alemanha. Alguns já chegaram, ainda que não a última palavra em tecnologia. São carros de combate ultrapassados, que os alemães recondicionaram e puseram à venda, mas vão substituir carroções do tempo da Segunda Guerra Mundial. Menos mal.

Vão ficar no banco

Estaria o presidente Lula decidido a convocar o que seus principais auxiliares chamam de uma “seleção de verdade” para substituir os dezenove ministros candidatos às eleições do próximo ano. Cai a cotação da fórmula de aproveitar os secretários gerais que hoje funcionam nos ministérios. Afinal, o último ano do mandato presidencial não poderia ser disputado com o time reserva. Mesmo sem poder aproveitar deputados e senadores que pleitearão a reeleição, nada impede o presidente Lula de recrutar luminares na sociedade civil e nos partidos. Um ano de gestão eficaz pode até contribuir para mais popularidade.

Fonte: Tribuna da Imprensa

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