Carlos Chagas
Dos sete casos e sete incisos do artigo 34 da Constituição que justificam a intervenção federal, nenhum se aplica à lambança verificada no Distrito Federal, revelada pela operação Caixa de Pandora. O que mais se aproxima prevê a medida para “pôr termo a grave comprometimento da ordem pública”. Mesmo assim, seria contestado por qualquer aluno do primeiro ano da Faculdade de Direito, pois a reação do povo de Brasília à lambança de seus governantes limitou-se ao gesto de um cidadão envergando um nariz de palhaço, diante da residência do governador Arruda. A população daqui parece anestesiada, como de resto em todo o país, já que a corrupção tornou-se rotina na prática de todos os governos.
Mas nem será por isso que a intervenção federal deixará de ser aplicada. O Brasil inteiro está podre, em se tratando dos governantes. Raríssimos são os governadores e prefeitos imunes a cobrar comissões de não menos podres empresários interessados em conseguir contratos ilegítimos e irregulares com o poder público.
Acresce não estar o governo federal nem aí para mais esse escândalo. O máximo que se ouviu foi o comentário do correto vice-presidente em exercício, José Alencar, esperando que todas as denúncias sejam apuradas e os responsáveis, punidos severamente. Punidos como, meu santo? Serão os lambões a julgar a lambança. O governador dispõe de ampla na Câmara Legislativa encarregada de afastá-lo, além de se registrarem pelo menos nove deputados distritais flagrados recebendo dinheiro irregular enviado por empresários. No Tribunal de Justiça, três desembargadores tiveram seus nomes relacionados com a maracutaia, conforme degravações da Polícia Federal. E quanto a esperar que José Roberto Arruda, no Executivo, limpe o esgoto, nem pensar. Ou ele não é acusado como articulador e chefe da quadrilha?
Levantou-se uma réstea, apenas, do tapete de podridão, pois todas as denúncias referem-se às relações criminosas dos donos do poder com empresas prestadoras de serviços de informática. E quanto às que cuidam dos transportes públicos? Da construção civil? Das telecomunicações? Das obras de infra-estrutura? Da saúde, da educação, da alimentação e de tudo o mais?
A conclusão surge trágica: não interessa a ninguém o afastamento dos bandidos, quaisquer que sejam e onde estejam. Ficará tudo como está. Não acontecerá nada.
Sucessão de pernas para o ar
Um efeito, pelo menos, parece previsível nessa crise que assola Brasília: o governador José Roberto Arruda perdeu as condições de reeleger-se, ano que vem. Nem legenda conseguirá, mesmo na hipótese de não ser expulso do DEM, aberta com a ameaça de revelar movimentos escusos do partido.
Espera-se para os próximos dias a revelação de irregularidades iguais verificadas no governo anterior, de Joaquim Roriz, que vinha crescendo nas pesquisas como candidato a retornar pela quinta vez ao lugar já ocupado.
Sendo assim, aguarda-se o aparecimento de outros candidatos. O PT, o PC do B, o PMDB, o PDT e o PSDB reavivaram suas esperanças. Serão os salvados do incêndio. Geraldo Magela, Agnelo Queirós, Cristóvan Buarque e outros já se posicionam.
Como custa saltar de banda
Rumores circulam a respeito de o Brasil sair de mansinho da trapalhada em que nos envolvemos em Honduras. Está difícil, mas é a única solução. Afinal, por que contestar as eleições lá realizadas, mesmo se tiverem sido desonestas? Adiantará alguma coisa o Itamaraty deixar de reconhecê-las? Continuar negando validade ao pleito seria o mesmo que a República de Bonga-Bonga, ou de Songa-Monga, insurgir-se contra a reeleição do Lula, em 2006.
Melhor faríamos se mandássemos embora de nossa embaixada o ex-presidente Zelaya, ainda por cima levando a conta de sua hospedagem e alimentação às nossas custas, por todo esse tempo.
A moda vai pegar
A Câmara de Vereadores de São Paulo confirmou em parte o assalto que o prefeito Kassab se propõe realizar contra o bolso dos paulistanos, elevando o IPTU muito acima da inflação. O reajuste não chegará aos 60% pretendidos, mas, mesmo assim, ultrapassará de muito o aumento do custo de vida e, em especial, dos salários. Ninguém se espante caso a moda venha a pegar em outras capitais e grandes cidades onde os respectivos prefeitos afiam as garras. Até mesmo em Brasília…
Fonte - Tribuna da Imprensa