Dora Kramer
Ocorre que nos outros casos, por mais escabrosos que fossem, com indícios claríssimos, não houve ao mesmo tempo a debandada de aliados, ocupação das dependências do Congresso, proximidade de eleições nem a quantidade de provas que se vê agora
O governador José Roberto Arruda parece que ainda não se deu conta da realidade. Pela maneira como age, acredita que esteja em situação semelhante à de outros companheiros de escândalos que conseguiram vencer a fase da adversidade aparentemente intransponível quando seus casos estavam no auge.
Arruda dá sinais de se espelhar no governo Luiz Inácio da Silva, no PT, no senador Renan Calheiros e no presidente do Senado, José Sarney. Todos se envolveram em episódios vergonhosos e, à primeira vista, sem saída. Bem ou mal – mais mal do que bem – todos se safaram lançando mão do mesmo tipo de munição: paciência, persistência, insistência, cinismo, impertinência, manobras de maioria parlamentar, remanejamento de tropas, pressão sobre aliados e principalmente disposição para ignorar a opinião do público.
Seguir em frente foi o lema de todos os salvados dos incêndios, a despeito da gravidade das denúncias e – à exceção de Lula – da perda de prestígio e força política. O governador segue à risca o manual do sobrevivente: ameaça correligionários de espalhar lama sobre eles, insinua que se cair leva muita gente junto, tenta controlar uma possível CPI na Câmara Distrital, manda secretários de volta ao Legislativo para engrossar sua tropa da defesa contra pedidos de impeachment, recorre a chicanas jurídicas e se diz vítima de uma armadilha.
Só deixa de fora o fato de que caiu na própria arapuca ao aderir a uma quadrilha para se eleger governador de Brasília “por dentro”, como gostava de dizer. “Por dentro”, entenda-se, do esquema montado pelo antecessor Joaquim Roriz.
Ocorre que nos outros casos, por mais escabrosos que fossem, com indícios claríssimos, não houve ao mesmo tempo a debandada de aliados, ocupação das dependências do Congresso, proximidade de eleições nem a quantidade de provas que se vê agora.
Como “controlar” CPI, “retomar” o comando do Legislativo ou “reorganizar” a base aliada se até o PMDB já pulou fora do barco, a sede da Câmara passou dias ocupada por estudantes e as imagens exibidas não deixam dúvidas a respeito do que falam?
Objetivamente não haveria hipótese de os métodos tradicionais alcançarem o sucesso de sempre. Mas, apesar de tudo isso, o governador e o vice Paulo Octávio, que a despeito das versões em contrário continuam mantendo ótimas relações, por ora estão convictos de que conseguem sair dessa com a ajuda do tempo, a benevolência dos companheiros e a invocação dos outros exemplos.
Missão impossível? O mais espantoso é que não.
Notícias da pesquisa
Pesquisa do Ibope traz boas, razoáveis e más notícias para todos os personagens citados. Lula pode comemorar a popularidade em alta, mas já deve se preocupar com sua capacidade de transferir votos.
A ministra Dilma Rousseff conquistou o segundo lugar, cujo porcentual de 17% ainda se mostra insignificante em face do índice de 83% de aprovação ao governo que representa. Significativo é o grau de rejeição à candidatura da ministra, que alcança 41% e fica em primeiro lugar no quesito. O governador José Serra pode celebrar a rejeição mais baixa (28%) e a dianteira confortável de 38%, mas não pode esquecer que o jogo não começou e o adversário ainda não o atacou.
O deputado Ciro Gomes fica em terceiro lugar (13%) no cenário da disputa com José Serra, assume o primeiro quando o candidato do PSDB é o governador Aécio Neves – que fica em terceiro, atrás de Dilma – mas, na avaliação do Ibope, Ciro seria herdeiro de uma pequena parcela (5%) dos eleitores de Serra.
Marina Silva que não cresceu (ficou em 6%) depois do impacto da sua saída do PT, filiação ao PV e anúncio da candidatura presidencial, é vice-campeã em rejeição (40%), mas também não disse ainda ao que veio nem confirmou se entra mesmo na disputa.
Noves fora, só Lula está com a vida ganha. Vai se aproximando no fim do segundo mandato com índices recordes de aprovação e comprovada capacidade de se distanciar de episódios negativos, mesmo quando diretamente ligado a eles.
As notícias mais lembradas do mês de novembro foram o apagão e a visita do presidente do Irã. Ambas desfavoráveis, nenhuma delas resvalou no presidente. Se perder a eleição, problema do PT e aliados. Lula já ganhou.
Notório saber
Pergunte-se a qualquer político do Democrata – dos mais próximos aos mais distantes de José Roberto Arruda – e todos confirmarão que a direção do partido sabia há muito tempo que Arruda estava sendo alvo de chantagem por parte do secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa.
Pois, então, se os dirigentes sabiam do ato, conheciam também o motivo da chantagem. Ou seja, a corrupção era do conhecimento do partido que, diante disso, calou. Tornando-se, portanto, conivente.
Fonte: Gazeta do Povo