Carlos Chagas
Do que José Serra mais tem medo? Da transformação das eleições presidenciais em plebiscito entre os governos Fernando Henrique e Lula. Com a saída de Aécio Neves da disputa , ressurge a tentativa, por parte do governo, do PT e aliados. Não querem, os detentores do poder, um confronto entre Serra e Dilma Rousseff, muito menos voltado para programas de governo. Preferem resumir tudo num cabo de guerra onde, numa ponta, ficaria o presidente Lula, com suas realizações e números de sucesso. Na outra, os oito anos do sociólogo, que já vão longe.
Posta a sucessão nesses termos, mesmo sem a certeza da transferência de votos, a tendência óbvia do eleitorado seria ficar com Dilma, quer dizer, com Lula.
O objetivo do governador de São Paulo é desligar-se da imagem de Fernando Henrique, mesmo sem ofender o seu ego, até por razões ligadas à memória nacional. Não parece fácil, dada a prevalência dos paulistas no ninho dos tucanos. Aécio Neves, se fosse candidato, disporia de muito melhores condições para travar a tertúlia com a chefe da Casa Civil com os olhos voltados para o futuro.
Serra não pretende antecipar o debate, mas, quando começar a campanha, fará tudo para levar a chefe da Casa Civil a apresentar um elenco não de realizações efetuadas pelo Lula, mas de seus planos para o mandato, se vencedora. Nada de obras do PAC, em andamento ou paralisadas. A eleição exigiria um embate entre promessas e concepções a ser implantadas a partir de 2011.
Resta saber se Lula e Dilma estarão dispostos a abrir mão de seu carro chefe, as realizações do governo, desde 2003. Pelo jeito, não.
Aplaudido de pé
Ponto para o presidente Lula, na última sessão da Conferência do Meio Ambiente, em Copenhague. Foi interrompido três vezes pelos aplausos do plenário, inclusive quando anunciou estar o seu governo decidido a injetar dinheiro no fundo para o combate a poluição. Ao final, os delegados dos demais países aplaudiram-no de pé.
Com Barak Obama foi diferente, porque recebeu as palmas protocolares apenas ao encerrar seu pronunciamento, ainda que prometesse boa parte dos 100 bilhões de dólares a ser reunidos e distribuídos.
De qualquer forma, o mundo continuou frustrado, pois foram pífios os resultados da reunião. Quase que só intenções.
Batendo de frente
Apesar de haverem entrado de férias na quinta-feira, 17, um dia depois os ministros do Supremo Tribunal Federal reagiram às palavras do ministro da Justiça, Tarso Genro, para quem a mais alta corte nacional de justiça transformou-se numa “loja de conveniências”. A referência foi para o fato de Tarso acusá-los de terem mudado de decisão “na calada da noite”. Para os meretíssimos, o presidente Lula está agora obrigado a cumprir os termos do acordo de extradição com a Itália. Estaria compelido a mandar Cesare Batistti para seu país natal, coisa com a qual o ministro não concorda.
Por conta do Natal, do Ano Novo e das férias, estão adiadas as escaramuças, mas quando fevereiro chegar a temperatura vai subir, em Brasília.
Mais um
O cavalo branco da imaginação parece solto no campo das indicações para a vice-presidência da República dos pré-candidatos já indicados para a presidência. Apesar da maioria do PSDB esperar que Aécio Neves acabe se tornando o companheiro de chapa de José Serra, e da alternativa de que o DEM só dispõe do nome do senador Marco Maciel para preencher a lacuna aberta por José Roberto Arruda, há quem suponha novos rumos no vôo dos tucanos. Caso o PMDB não se acerte com a candidatura Dilma Rousseff e sua convenção decida deixar cada grupo seguir seu destino, que tal o senador Jarbas Vasconcelos para vice de José Serra? Pernambuco exultaria, assim como os adversários mais ferrenhos do presidente Lula. Do jeito que as coisas estão, pode ser…