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quinta-feira, dezembro 17, 2009

A hora e a vez

Dora Kramer


Patrus acha o anseio legítimo, admite que até seja necessário “incorporar o PMDB à chapa”, mas por ora não vê possibilidade de seu partido abrir mão de disputar. Com ele ou sem ele


Candidato a disputar o governo de Minas Gerais, o ministro do Desen­­­volvimento Social e Com­­bate à Fome, Patrus Ananias, não arrisca incursões para fora de sua jurisdição.

Recusa-se a comentar a estratégia dos adversários e, quando é provocado a analisar a situação nacional do PT, fala do assunto feito quem come gilete, no maior cuidado.

Elogia muito o PMDB, mas não exibe a menor disposição de desistir da empreitada regional em nome da preservação da aliança nacional.

“O projeto nacional está acima de tudo, mas é preciso ver que ele não se dá no vazio, é construído pela força política nos estados, que é o que dará sustentação ao governo federal mediante o apoio dos governadores e de uma base forte e ampla no Congresso. Não precisamos ter candidato próprio sempre, mas também não podemos abrir mão das candidaturas próprias sem uma justificativa de peso”, analisa o ministro.

É o caso de Minas Gerais – sua preocupação primordial – onde, está convencido, “é a vez do PT”.

Diz isso apesar de o estado ser considerado um dos focos centrais da disputa da aliança entre PT e PMDB, que ameaça romper o acerto para apoiar a candidatura de Dilma Rousseff se não for atendido em seu desejo de concorrer ao governo com apoio do PT.

Patrus acha o anseio legítimo, admite que até seja necessário “incorporar o PMDB à chapa”, mas por ora não vê possibilidade de seu partido abrir mão de disputar. Com ele ou sem ele.

O ministro, em tese, ficou em desvantagem com a vitória recente do candidato apoiado pelo ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel para a presidência do PT regional.

Na visão dele trata-se de um obstáculo, não de uma impossibilidade. “Além de o resultado (48% a 52% dos votos) ter sido politicamente equilibrado, muita gente que apoiava a outra chapa internamente está comigo para a candidatura ao governo, são duas questões diferentes: o partido e o estado.”

Ainda este mês Patrus Ananias pretende oficializar um pedido para a realização de prévias para a escolha do candidato e já tem sua plataforma para conquistar a preferência dos filiados. Vai se apresentar como um petista “de raiz”, militante histórico, candidato em seis eleições, eleito uma vez prefeito de Belo Horizonte e arauto da recuperação dos “ideais” do partido: ética da política, respeito à democracia interna e valorização dos filiados e abertura de espaço aos movimentos sociais.

“Sou de esquerda”, preconiza, certo de que por aí marcará a diferença no discurso de afirmação partidária.

O mesmo que o PT fará em todos os estados para enfrentar uma eleição nacional complicada em que precisa, no mínimo, recuperar a velha identidade, pois, seja de novo governo ou volte para a oposição, não terá mais a popularidade de Lula para o proteger.

Para o PT esse é o ponto crucial. Mais importante que atender às exigências do PMDB.

Máquina mortífera

O PT de Minas não subestima a capacidade de o governador Aécio Neves conseguir eleger como sucessor o atual vice, Antonio Anastasia, a despeito da ausência de histórico eleitoral e da provável presença de adversários fortes – Patrus Ananias ou Fernando Pimentel pelo PT e Hélio Costa pelo PMDB.

Se concorrer, Anastasia o fará no cargo. Em Minas há um partido cuja força não raro se sobrepõe a todas as outras, o PL. Palácio da Liberdade, sede do governo.

Algo há

Está tudo muito exagerado na relação entre o PMDB e o presidente Lula. Não há correspondência entre os atos e a lógica dos fatos.

Desde a interminável reação magoada ao pedido de lista tríplice para um PMDB que não se ofende com nada e muito menos costuma enfrentar fontes substantivas de poder, até a crescente ofensiva de Ciro Gomes contra o partido.

Não que o deputado não tenha razão em suas contundentes críticas às práticas fisiológicas do PMDB e à “hegemonia” que paralisa os trabalhos da Câmara e “prejudica o país”.

O discurso seria completo não fosse pelo fato de omitir que tudo ocorre em função das conveniências do Palácio do Planalto, a quem Ciro serviu como ministro, e para atender às exigências do presidente da República, a quem o deputado concedeu a prerrogativa de influir até na mudança de seu domicílio eleitoral e de seu destino político.

Trata-se, portanto, de um aliado que confere ao presidente Lula um grau alto de fidelidade. Sendo o PMDB o principal parceiro do presidente – dito como provável vice da candidata oficial – lícito supor que Ciro não atue com o objetivo de contrariá-lo.

E quando o deputado chama o PMDB de imoral está dizendo que o presidente está avalizando uma aliança cuja metade é composta por gente sem moral.

Em tese, tal atitude deveria desagradar ao presidente, que, no entanto, não dá menor sinal de desagrado. Esquisito.

Fonte: Gazeta do Povo

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