Praticamente terminando 2009, entraremos no ano eleitoral de 2010. Por que eleitoral? O Brasil é o único país DO MUNDO que realiza todas as eleições no mesmo dia, a tensão, a angústia ou a ansiedade marcam todo o processo. Além de burrice, é inconveniência tola, absoluta e absurda.
Devíamos perguntar para examinar e talvez comparar: por que ninguém realiza eleição no mesmo dia? E só nós acumulamos as consultas populares? Estaremos certos e todos os outros errados ou equivocados?
Há mais ou menos dois meses os americanos votaram para 8 governadores. Como são 50 estados, quando se elegem os outros 42? Na data marcada, fixada e determinada pelas Constituições estaduais. Os senadores têm mandato de 6 anos, as eleições se realizam de 3 em 3 anos, uma em cada estado.
E os congressistas, senadores estaduais, (“senadinhos”, que Rui colocou na Constituição brasileira, duraram até 1930), promotores, procuradores, juízes, xerifes das cidades até um determinado número de habitantes, quando se elegem?
Excluídos governadores e senadores, todos disputam através do AVANÇO QUE É O VOTO DISTRITAL. Além de todas as vantagens, o VOTO DISTRITAL proporciona ou reduz de forma fantástica, o custo da campanha eleitoral. Como estamos examinando Serra e Aécio, eleição em São Paulo e Minas, vejamos como os custos da campanha diminuem.
Em São Paulo, um deputado federal para se eleger, precisa ter voto praticamente em 600 cidades. Imaginem quanto precisará naturalmente do “caixa 2” de empreiteiras, bancos e seguradoras? Que depois cobrarão pelo que investiram, é de investimento que se trata. Quando explode o escândalo das contribuições, só é punido o CORRUPTO, o CORRUPTOR escapa tranquilamente.
Está aí o governador Arruda (e seus acólitos) sofrendo, até justamente, como CORRUPTO. Mas o dinheiro, o SUPERFATURAMENTO, a “caixa 2”, vem desses três tipos (mas não únicos) CORRUPTORES. Algum banco, seguradora, empreiteira já foi punido? Todos deveriam ir para a mesma penitenciária de SOLIDARIEDADE MÁXIMA.
Esse é o tipo de sistema que temos, com o ultrapassado sistema eleitoral. Em São Paulo, com 28 milhões de eleitores, o candidato a deputado tem que correr o estado inteiro, concorrer com adversários e até correligionários. Em Minas (e outros estados), idem, idem, uma disputa inglória, ninguém pode recusar as contribuições que sabe que tem que devolver, em dinheiro ou em lobismo. (Leia-se sob o comando do maior de todos, Eduardo Cunha).
Agora, vejamos a eleição com o VOTO DISTRITAL. Os candidatos tentam o voto da sua região (concorrem pelo município onde moram) conhecem praticamente todos os eleitores, estes também conhecem quase todos os candidatos.
Nem é preciso estabelecer a restrição do “ficha limpa”, isso é feito pessoalmente pelos que votam.
Modificado o sistema, saneado, barateado, vem o melhor de tudo. Esses candidatos, com ligeiríssimas exceções, têm alta representatividade, não são “representantes” sem votos, suplentes cabeludos ou segundos suplentes que nem esperavam assumir. Outros, que ganharam mandatos por causa da morte do pai, porque o efetivo foi nomeado ministro, e pior ainda: porque o efetivo (?) Roriz, para não ser cassado, deixou o mandato inteiro, para alguém que em nada é melhor do que ele.
Não posso escrever sobre nenhum assunto, abandonando a reforma política, eleitoral e partidária. É obsessão e convicção. Vejamos os problemas estaduais que os candidatos nacionais, Aécio e Serra, terão que vencer e ultrapassar na mesma oportunidade em que também enfrentarão eleições importantíssimas.
Em matéria de candidato, Aécio não tem problema. Já reeleito, tem que deixar o cargo. Passa o cargo ao vice-supersecretário Anastasia, que assume já como candidato em outubro de 2010. Pode até não ganhar, mas é o candidato, não sofre pressão nem restrição. O nome para o Senado é Itamar Franco. Tem acordo com Aécio, seja como candidato a presidente, a vice ou a senador. (Aécio deixou todas as portas abertas, ele e Itamar inteiramente confiantes).
A situação de Serra em São Paulo, totalmente diferente. Para ele, adversários ou correligionários. Se nem Serra sabe o que vai ser, como os outros saberão e decidirão? Alternativa certa mas complicada: se FICAR, é candidato à reeeleição. Se SAIR, disputará a presidência.
(O objetivo de Aécio com sua entrevista sem mistério, é precisamente a de impor ao adversário, a condição de estranho no ninho. A de Serra: tentar até o fim, manter escancarada a porta do Palácio dos Bandeirantes. Mas sem que alguém imagine que ele despreza o Planalto-Alvorada. Tem 40 dias para isso).
Decidindo pela candidatura a presidente, Serra tem que se desincompatibilizar, Nossa Senhora, passando o cargo ao ex-stalinista Alberto Goldman. Este será apenas por 9 meses, mas como bom stalinista, vai querer mais 4 anos.
Goldman não tem cacife para isso, Serra não tem autonomia para impor ninguém. Desde que traiu o PSDB, o correligionário Alckmin e a própria consciência (?) perdeu a confiança. Já não tinha muita, agora não tem nenhuma: com o povo, os empresários, os banqueiros, (banqueiro não é empresário e sim jogador), os políticos.
(Excetue-se Orestes Quércia, candidato a senador, que não deve ter adversário. Há 20 anos, depois de ter sido governador, Quércia aplaina o caminho para voltar ao Senado. Pensavam que a obsessão dele fosse a riqueza e é mesmo. Só que ele sabe que, com mais cargos, mais riqueza e fortuna).
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PS – A paisagem vista da ponte da ambição e da esperança, é totalmente tumultuada. Por isso, coloquei o problema, analisei-o, sem uma conclusão definitiva. Lula pode dizer todo dia, no jornal, rádio, televisão, blog, ou a técnica que seja, “NÃO SOU CANDIDATO”, ninguém acreditará.
PS2 – Pelo menos Serra e Aécio, (que fingiam representar um PSDB unido, autônomo e autêntico), mudaram de imagem e maquiagem. Isso se deve a Aécio Neves, quem lançou a própria candidatura com o slogan mais velho da velhíssima República: “Não sou candidato”. É o governador de Minas imitando o presidente, e tentado afogar e não afagar o governador de São Paulo.
Fonte: Tribuna da Imprensa