Bolsonaro não titubeou e destruiu a arrogância global
Carlos Newton
“Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!’ – Ah, Camões, desculpe a vergonha que os dois apresentadores-inquisidores-interrogadores da Rede Globo passaram nesta noite fria de terça-feira, que está destinada a servir de marco no jornalismo e na política deste país. Ao se defrontar com o Casal 20 titular do Jornal Nacional, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) se comportou exatamente ao contrário de seu antecessor, Ciro Gomes (PDT), na segunda-feira. Partiu para cima, que é a forma correta de enfrentar inquisidores, enquanto Ciro Gomes erradamente tentara a linha Ternura, suportando perguntas altamente capciosas, que jamais aguentaria em outras circunstâncias.
Se Ciro Gomes tivesse agido como Bolsonaro, a entrevista de segunda-feira seria muito diferente. A prática ensina que não se pode ser educado e compreensível diante de interrogadores que se mostram prepotentes e persecutórios. Ciro caiu nessa armadilha, Bolsonaro assistiu à entrevista de segunda-feira, preparou-se e escapou da trampa, virando o jogo de uma forma espetacular.
INCOMPARÁVEIS – Com toda certeza, não há comparação entre Ciro e Bolsonaro. O ex-governador cearense é um dos políticos brasileiros de maior preparo intelectual e tem comprovada experiência administrativa e política. Perto de Ciro, não há dúvida de que Bolsonaro é um perfeito idiota, mas acontece que o velho capitão sabe usar suas deficiências como se fossem armas de guerra.
Detalhe importante: nesta eleição, Bolsonaro e Lula têm uma diferença marcante em relação a quase todos os demais candidatos – eles são pessoas simples, que falam com simplicidade, conhecem suas limitações e não tentam tirar onda de demonstrar conhecimentos que não possuem.
Como Lula está fora de combate, sobrou Bolsonaro na lide, com seu jeito simplório e direto, sem a menor afetação, mas que sabe falar verdades que atingem a todos. Eis a diferença, que ficou evidente nesta noite de terça-feira politicamente gorda.
PREPARADO – Bolsonaro veio preparado para a guerra. Quando a inquisição começou, ele respondeu à altura, ao classificar de “pejotas” os dois altos funcionários da Globo, que realmente se transformaram em pessoas jurídicas para sonegar impostos (INSS, FGTS e Imposto de Renda), ajudando a empresa a também sonegar os mesmos impostos, além de descontar os salários deles na rubrica “Gastos Operacionais”.
Logo na abertura, William Bonner e Renata Vasconcelos sentiram o golpe e perderam o rumo, Ficaram tão atordoados que esqueceram de fazer a única pergunta que poderia nocautear Bolsonaro – sobre o apoio dele e de seu vice à tortura e assassinato de presos políticos, que representam crimes contra a Humanidade, segundo a Convenção de Genebra.
Os inquisidores ficaram visivelmente atônitos e Bolsonaro foi crescendo em cima deles, usando sua simplicidade para demolir a arrogância dos interrogadores globais. Sobre diferenças salariais entre homens e mulheres, usou o exemplo de Bonner, que ganha vinte vezes o salário de Renata. Sobre a fidelidade do economista Paulo Guedes, Bolsonaro lembrou o final do casamento de Bonner com Fátima Bernardes, vestindo uma saia justa no apresentador, que traiu a mulher com uma médica da Globo.
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P.S. 1 – Como se fosse sucessor de Buster Keaton, o surpreendente Bolsonaro fazia piadas e não ria, continuava sério. Mas os telespectadores davam boas gargalhadas, como aconteceu na minha família.
P.S. 2 – Em tradução simultânea, todos perceberam que Bolsonaro já está no segundo turno. Resta saber quem enfrentará esse tanque verde oliva na reta final. (C.N.)