Partido pressiona senadores da base aliada na tentativa de obter votos do PT favoráveis ao peemedebista
BRASÍLIA - O presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), admitiu ontem que a eventual condenação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pelo Plenário vai produzir uma “situação de risco” para o governo, com reflexos na votação da emenda constitucional que prorroga a cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). “Mas não podemos tirar de Renan o direito de lutar para viabilizar seu mandato”, afirmou o senador.
Antes da votação no Plenário, em sessão aberta marcada para a próxima quinta-feira, o pedido de cassação do mandato de Renan será submetido no dia anterior ao Plenário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). A data foi acertada ontem entre Tião Viana e o senador Marco Maciel (DEM-PE), que preside a comissão. Com a derrota no Conselho de Ética, onde contou apenas com os votos de três colegas do PMDB, Renan chega politicamente fragilizado ao Plenário. Para reverter essa situação, vai cobrar apoio da base aliada do governo, sobretudo da bancada do PT – uma barganha que promete dar os votos do PMDB ao governo para aprovar a prorrogação da CPMF até 2011.
O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), concorda que o resultado do Conselho de Ética complicou a situação do presidente licenciado da Casa. Por isso mesmo, avalia que os votos dos petistas serão fundamentais para a absolvição de Renan. “Essa vai ser a grande questão”, enfatizou. Em 12 de setembro, quando se livrou do primeiro pedido de cassação, Renan teve ajuda do PT graças ao movimento de abstenção deflagrado no plenário pelo senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
“Vamos ver agora se o PT vai repetir no Plenário os votos contra Renan dados no Conselho de Ética”, provocou Tasso, ao lembrar que, no Plenário, o voto é secreto. Se não obtiver o apoio da base aliada e perder o mandato, Renan poderá usar a influência que tem na bancada do PMDB para dificultar a vida do governo na votação da prorrogação da CPMF. Além disso, estimular a disputa política pela presidência do Senado, o que também não interessa ao Planalto. Ainda mais agora que o governo tenta reunificar sua base para aprovar a renovação do imposto do cheque.
É diante desse cenário imprevisível que Viana adverte: “Espero que a base aliada tenha maturidade para tratar essas questões com bom senso”. Se não bastassem as negociações em torno do destino de Renan, os governistas terão de enfrentar a obstrução do PSDB e do DEM. Jereissati disse que não há hipótese de a oposição ajudar o governo a destrancar a pauta do Senado se o presidente Lula não vetar a medida provisória que permitiu o repasse de recursos de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) a estados e municípios inadimplentes e durante o período eleitoral.
“Foi uma traição. Se o presidente não vetar isso vamos passar o tempo todo acusando o governo e seus líderes de falsos e mentirosos”, reagiu o senador cearense. Viana disse que “infelizmente” a Câmara derrubou o acordo feito pelo líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), com a oposição. Ele aposta no veto presidencial, já que o governo não pode partir para o confronto no momento em que está apertado para aprovar a prorrogação da CPMF.
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Tucanos endurecem discurso
BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), reagiu ontem às críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que há uma “contradição” do partido sobre a votação da emenda constitucional que prorroga a CPMF. “O presidente que criou o mensalão, o suborno de parlamentares, e acha que Hugo Chávez é um exemplo de democracia para o mundo, tem que achar que o PSDB está confuso, pois não é capaz de entender a história de um partido como o PSDB”, disse o senador.
A exemplo de outros líderes do PSDB, Jereissati repeliu a tentativa de o presidente Lula jogar a bancada tucana contra os governadores do partido, já que eles “querem a CPMF”. “O PSDB é composto por governadores, parlamentares e prefeitos e nenhum se sobrepõe ao outro. É a maioria democrática”, afirmou o senador, que participou da negociação frustrada do PSDB com ministros da área econômica na tentativa de definir propostas de redução de carga tributária e de gastos públicos em troca da prorrogação da CPMF.
Mas o presidente interino do Senado, Tião Viana (PT-AC), saiu em defesa de Lula. “O presidente não pode ser condenado por uma opinião transparente e sincera”, disse. Para ele, a oposição precisa “compreender” a posição de Lula que considera imprescindível a CPMF. “Como o estado de São Paulo pode abrir mão de uma receita de R$4 bilhões oriunda da CPMF?”, questionou o senador, se referindo a um estado administrado pelo PSDB.
Na avaliação de senadores do PSDB, Lula deve se concentrar em sua base política sob o risco de perder, no Plenário do Senado, a votação para manter o chamado imposto do cheque. “O presidente me perdoe. Contradição existe em um partido como o PT, que tem 345 tendências”, retrucou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Ele reiterou que os tucanos não fizeram acordo com o Planalto para a prorrogação da CPMF porque o governo não atendeu aos governadores e não se comprometeu com “desonerações verdadeiras”.
“Não somos nem varejistas e nem atacadistas. Varejistas são os integrantes da base que ficam atrás de emendas do Orçamento. E atacadistas são aqueles que ficam com Furnas”, afirmou Virgílio. Na mesma linha, o futuro presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou que “contradição maior vive o governo Lula nos seus últimos cinco anos”. “Foi o governo que só produziu escândalos em sua base”, atacou.
Tanto Virgílio quanto Guerra mostram mais ainda preocupação em relação às declarações elogiosas de Lula a Chávez. “O presidente confunde plebiscito, referendo e presidencialismo”, disse Virgílio. “Ele precisa entender que se o regime é presidencialista e o presidente quer renovar sistematicamente seu mandato, o presidente se torna imperador”, observou.
“Chávez é um ridículo, que agora ganhou fama mundial”, advertiu, lembrando que o rei da Espanha, Juan Carlos, mandou o presidente venezuelano se calar. “O Lula tinha de tratar o Chávez como um adolescente e chamá-lo para conversar e dizer: “Meu filho, ouça a voz da experiência. Você está fazendo tudo errado”. Para Guerra, os elogios de Lula à democracia chavista acendem um “sinal amarelo”. “Até entendemos as conveniências dele. Mas não dá para ser democrático e chamar aquilo de democracia”, afirmou.
Não é só a oposição que ataca abertamente Hugo Chávez. Além do senador José Sarney (PMDB-AP), que não se cansa de criticar duramente o presidente venezuelano, Viana não economizou: “O personalismo de Chávez enfraquece as instituições da Venezuela e é uma ameaça à democracia daquele país. Além disso, o petista avalia que Chávez patrocina um “movimento de risco” que é a corrida armamentista. Apesar disso, ele avalia que o debate em torno do presidente venezuelano “é um debate saudável no campo da esquerda”.
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Oposição teme comportamento da maioria
BRASÍLIA - Apesar de acreditarem, mais uma vez, que o presidente licenciado do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deva ser cassado, senadores da oposição temem que a votação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) possa ajudar o peemedebista a ser absolvido. Para a oposição, a base pode ajudar Calheiros em troca de votos para a aprovação do chamado imposto do cheque.
Os parlamentares lutam para que a base não se deixe levar pelo anseio de aprovar a CPMF. A expectativa da oposição é de que não se repita na semana que vem o que aconteceu no primeiro processo contra Calheiros, quando a maioria disse que votaria pela cassação, mas o resultado foi diferente.
“O Senado está em xeque. Da última vez, o Senado mostrou que tem duas caras. Uma no Conselho e outra no Plenário. Se a Casa reeditar a vergonha, ficará claro que houve troca de votos (de o governo ajudar a absolver Renan para aprovar a CPMF). Eu receio, mas espero que isso não aconteça”, disse o líder do Democratas, José Agripino Maia (RN).
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) fez a mesma avaliação. Apesar de se dizer confiante, ele admite que o governo precisa do PMDB, o que pode prejudicar a cassação de Calheiros. “O que sentimos nas conversas, nos bastidores, é que o Renan vai ser cassado. Isso é o que está na praça. Mas temos que lembrar também que o governo precisa do PMDB a todo custo”, disse.
Os senadores da oposição acreditam que esta é a última chance de cassar o presidente licenciado. Mesmo respondendo a outros dois processos no Conselho de Ética, os parlamentares afirmam que, se não perder o mandato agora, ele não perderá mais.As denúncias de que Calheiros usou laranjas para comprar emissoras de rádios em Alagoas seriam as mais fortes de todas as representações. “Acredito piamente que essa é a última chance de ele ser cassado. Temos provas fortíssimas sobre esse caso”, avaliou Demóstenes Torres.
O relatório de Jefferson Peres (PDT-AM), que pede a cassação do peemedebista, foi aprovado nesta quarta-feira no Conselho de Ética. O processo deve ir a voto já na semana que vem. Na mesma sessão do colegiado, os senadores arquivaram a representação que acusava Calheiros de beneficiar a empresa Schincariol.
Mais dois processos estão no Conselho: o que investiga se Calheiros participou de um esquema de desvio de dinheiro em ministérios comandados pelo PMDB e outro para apurar se ele mandou investigar seus colegas Demóstenes Torres e Marconi Perillo (PSDB-GO).
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Planalto propõe reforma tributária
BRASÍLIA - Como uma última tentativa de conseguir votos no PSDB para aprovar a prorrogação da CPMF, o governo planeja enviar ao Congresso, até o final de novembro, o tão esperado projeto de reforma tri-butária. A medida seria necessária, de acordo com o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), porque a margem de segurança para a aprovação da emenda é mínima e as concessões já feitas sobre o projeto aprovado na Câmara já chegaram ao limite.
“Ainda acredito que as portas com o PSDB não estão fechadas. Se a reforma tributária chegar ao Congresso daqui a 10 ou 15 dias, a possibilidade de discussão com o partido é reaberta”, disse. O PSDB, porém, afirma que a esperança governista será frustrada. “Eles estavam tão confiantes de que aprovariam a CPMF mesmo sem a gente. O próprio Guido Mantega disse isso. Agora, não existe mais a menor possibilidade, já estamos fechados”, disse o líder do partido na Casa, o senador Arthur Virgílio (AM).
Ao conseguir uma primeira vitória na Comissão de Constituição e Justiça, anteontem, o governo se deparou com o seguinte cenário: se a votação em plenário fosse hoje teria seguramente no máximo 48 votos, um a menos do que os 49 necessários para aprovar a emenda. O levantamento feito pela base mostra que PSDB e DEM representam 27 votos contrários à CPMF, que, somados aos nomes de José Nery (PSOL-PA), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Mão Santa (PMDB-PI), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Pedro Simon (PMDB-RS) e Jefferson Péres (PDT-AM), o total aumenta para 33 – número suficiente para derrubar a contribuição.
Outro problema é que aliados até então considerados certos, como PR e PTB, aproveitam o momento de incerteza para reclamar cargos federais nos estados que foram “tomados” pelo PT. No caso do PTB, ainda existe o agravante da substituição de Mozaridlo na CCJ. O partido, que tem seis senadores, convocou a executiva nacional para ameaçar, no dia 28, deixar o bloco governista. Com tal perspectiva, o governo já mapeou a lista de problemas na base do Senado e espera ganhar votos a seu favor iniciando uma ofensiva para tentar negociar casos particulares, com a liberação de cargos federais e de verbas para estados. (Folhapress)
Fonte; Correio da Bahia