Publicado em 1 de setembro de 2025 por Tribuna da Internet

Quando estava no TSE, Moraes deu o aviso a Bolsonaro
Josias de Souza
do UOL
Todas as pessoas são inocentes até prova em contrário. Bolsonaro é diferente. Deixou tantos rastros que virou prova em contrário de si mesmo. Não há em Brasília uma mísera alma capaz de apostar na sua absolvição. No julgamento sobre o complô do golpe, a guilhotina da Primeira Turma do Supremo é feita de evidências de aço fornecidas pelo réu.
Bolsonaro consolidou-se como um outro nome para o desequilíbrio. Sua condição normal é o estado crônico de crise. No momento, vive a apoteose da crise dos ‘Três Cs’. Sempre lhe faltaram Compostura e Compromisso democrático. Faltou-lhe também Comedimento para interpretar os sinais de fumaça emitidos por Alexandre de Moraes.
LÁ NO TSE – Moraes soltou dois alertas sobre o risco de Bolsonaro ser preso caso o melado antidemocrático não parasse de escorrer. Os avisos soaram em julgamentos da Justiça Eleitoral. Num, o TSE livrou a chapa Bolsonaro-Mourão da cassação por difundir mentiras no Zap na sucessão de 2018. Noutro, baniu Bolsonaro das urnas por mentir para embaixadores na campanha de 2022.
Na sessão em que o TSE decretou a inelegibilidade de Bolsonaro até 2030, Moraes repetiu o alerta que fizera no julgamento anterior. Releu a frase que usara para avisar o que ocorreria com quem repetisse em 2022 o modelo de difusão de mentiras que marcou a campanha bolsonarista em 2018: “Irão para a cadeia”.
Além de falar pela segunda fez sobre prisão num tribunal eleitoral, Moraes inseriu no voto pela inelegibilidade de Bolsonaro o raciocínio segundo o qual “a Justiça é cega, mas não é tola”. Recitou a mesma frase dias atrás em despachos sobre a tornozeleira e a prisão domiciliar do capitão.
CHEIO DE DISPOSIÇÃO – Moraes chega ao dia do julgamento com disposição redobrada para converter seu vaticínio em realidade. Apertou a vigilância sobre o domicílio prisional do réu.
Colocou a polícia no quintal de sua casa. Ordenou a revista minuciosa dos carros que saírem do imóvel. Não se perdoaria se Bolsonaro, cuja prisão farejou com tanta antecedência, fugisse escondido num porta-malas.
O que é singular no caso brasileiro é que o ataque à Corte não parta do titular do Poder Executivo para quem o STF passou de usurpador a defensor de direitos. O adversário agora é um governo estrangeiro.