Publicado em 22 de julho de 2025 por Tribuna da Internet

Charge do Amarildo (amarildocharge.wordpress.com)
Pedro do Coutto
A política externa do presidente Donald Trump tem consolidado uma prática que vai muito além das fronteiras da diplomacia convencional: a sistemática violação dos princípios da soberania e do direito internacional. Com ações unilaterais, retóricas beligerantes e imposições políticas disfarçadas de sanções, Trump retoma uma lógica imperial que coloca os Estados Unidos na contramão do multilateralismo e da convivência pacífica entre nações.
As recentes investidas contra o Brasil são prova inequívoca disso. Ao interferir em questões internas do país, como decisões do Supremo Tribunal Federal — chegando ao ponto de suspender vistos de ministros da Corte —, o presidente norte-americano ultrapassa os limites da razoabilidade e resvala na intimidação institucional. É uma prática que se afasta da diplomacia e se aproxima da coerção, colocando em risco não apenas as relações bilaterais com o Brasil, mas também a credibilidade dos EUA no cenário internacional.
DEFESA DA LIBERDADE – Historicamente, os Estados Unidos exerceram uma liderança mundial baseada, ao menos no discurso, na defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com a criação da ONU, da OTAN e de outras instituições multilaterais, os americanos se posicionaram como pilares da ordem liberal internacional. A Carta das Nações Unidas, assinada em 1945, é clara ao estabelecer que nenhum Estado pode intervir nos assuntos internos de outro. Esse princípio, essencial para a paz entre nações, vem sendo sistematicamente ignorado por Trump.
No plano diplomático, a insistência de Trump em adotar posturas unilaterais, como as tarifas econômicas impostas ao Brasil e outras economias emergentes, não contribui para resolver conflitos — ao contrário, aprofunda tensões e fomenta o ressentimento. Em nome de uma suposta defesa dos interesses nacionais, Trump agride parceiros comerciais, pune decisões soberanas e tenta remodelar a política externa à imagem e semelhança de sua visão de mundo simplista e belicosa.
A retórica agressiva do presidente norte-americano encontrou ecos preocupantes em setores da política brasileira. Ao pressionar por decisões que atendam seus interesses pessoais ou eleitorais, Trump desrespeita a independência dos Poderes no Brasil e transforma o país em peça de um tabuleiro que não lhe pertence. Decisões judiciais proferidas por um Supremo Tribunal são expressão da autonomia e da legalidade de um Estado democrático. Contestá-las, de fora para dentro, é mais que uma imprudência: é uma afronta direta à soberania nacional.
DECLÍNIO – Segundo análises recentes, a imagem internacional dos Estados Unidos sofreu um declínio acentuado desde a reeleição de Trump. Relatórios revelam que, em diversas partes do mundo, a confiança na liderança americana despencou, sobretudo entre aliados históricos como Alemanha, França, Canadá e Japão. O que antes era visto como liderança inspiradora passou a ser encarado como hegemonia opressiva.
Além disso, a diplomacia coercitiva adotada por Trump intensifica a polarização política global. Ao tratar adversários como inimigos e aliados como vassalos, o presidente norte-americano contribui para o enfraquecimento da cooperação internacional em temas urgentes, como a crise climática, a regulação das novas tecnologias e a recuperação econômica global. Em um mundo cada vez mais interdependente, a lógica de “America First” representa, paradoxalmente, um profundo isolamento.
AMEAÇA – Para o Brasil, ceder a pressões desse tipo é mais do que um erro estratégico — é uma ameaça à autonomia de nossas instituições e ao próprio pacto constitucional que sustenta a República. Nenhum país digno pode tolerar que agentes externos determinem os rumos de suas decisões judiciais ou de sua política interna. A defesa da soberania não é um ato de confronto, mas de dignidade nacional.
As atitudes de Donald Trump não apenas corroem a imagem dos Estados Unidos, mas também acendem um sinal de alerta para todos os países que valorizam a soberania e o equilíbrio entre as nações. O momento exige firmeza, responsabilidade e resistência a qualquer tentativa de subjugação.
O Brasil não pode — e não deve — se curvar diante de quem trata a diplomacia como instrumento de intimidação. A autodeterminação dos povos, consagrada no direito internacional, continua sendo um princípio irrenunciável. E é nele que devemos nos apoiar.