Publicado em 19 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet
Marcelo Godoy
Estadão
A general Laura Richardson é conhecida pela franqueza com que expõe o pensamento e as preocupações do Comando Sul das Forças Armadas dos Estados Unidos. Em mais uma entrevista, desta vez, para a Fundação para a Defesa da Democracia, um instituto criado após o 11 de setembro de 2001, ela aproximou as ameaças dos competidores estratégicos dos EUA – China, Rússia e Irã – à representada pelo Hezbollah à segurança do Ocidente
. O evento aconteceu no dia 11, em meio à semana em que Israel foi atacado pelos terroristas do Hamas. A general Richardson mencionou duas vezes o Brasil ao tratar das “intenções malignas” dos adversários.
HEZBOLLAH SE MEXE – “As atividades do Hezbollah (na América Latina) obviamente são uma preocupação”, afirmou a general. Hezbollah na América do Sul é quase sempre sinônimo da Tríplice Fronteira, entre Argentina, Paraguai e Brasil.
A citação ao grupo libanês aconteceu logo após ela listar movimentos da China e da Rússia na região, como a viagem de Serguei Lavrov, ministro das relações exteriores da Rússia, por Nicarágua, Venezuela e Cuba, em abril. “Mas, depois (Lavrov), também (foi) pelo Brasil para reuniões; e o presidente iraniano veio ao hemisfério, em junho”, lembrou Richardson.
Em seguida, mencionou as passagens de navios de guerra do Irã e da Rússia na América do Sul para assinalar as “intenções malignas” dos competidores dos EUA na região.
RECEBIDOS NO RIO – “Navios de guerra iranianos, que estão fazendo um giro global, vieram para o hemisfério a partir do Pacífico e tentaram fazer escalas em inúmeras cidades, que foram negadas. E a fragata acabou recebida no Rio.”
A general, por fim, advertiu: “Estamos vendo uma tendência de aumento de ações na região também por parte de nossos concorrentes estratégicos e, novamente, é muito preocupante, porque acho que a região está insegura e instável e nós podemos fazer melhor neste momento vulnerável para mantermos fora concorrentes estratégicos, que têm intenções malignas”.
As falas da general seriam apenas mais uma forma de atrair atenção – e recursos – para seu comando? É possível. Ou seria uma reedição do eixo do mal?
ALGO DE NOVO? – Analistas do Centro de Estudos Estratégicos do Exército, como o coronel da reserva Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, lembram que essas ameaças já estavam presentes na Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, publicada em outubro de 2022. Mas o que existiria de novo?
“O espírito que parece é que os americanos dormiram por 20 anos nos desertos do Afeganistão e do Iraque e não viram que estava surgindo uma série de competidores a eles, como a China e a Rússia”, afirmou Sandro Teixeira Moita, professor do programa de pós-graduação em Ciências Militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme).
Até haver o ataque do Hamas, China e Rússia – nessa ordem – eram apresentadas como as mais perigosas ameaças à segurança dos EUA. Para o coronel Paulo Filho, a nova estratégia nacional de defesa dos Estados Unidos aprofundou a alteração de foco ocorrida no governo de Donald Trump, a qual listou China, Rússia, Irã e Coreia do Norte como as maiores “ameaças”.
HOUVE MUDANÇAS – “A novidade se detém no fato de que, até então, o terrorismo figurava, nos documentos oficiais dos EUA, como principal ameaça à segurança do país.”
Ainda para Paulo Filho, a inclusão do Irã nos Brics conferiu ao grupo uma dimensão geopolítica que estava ausente: “Os Estados Unidos consideram esta ação desfavorável aos seus interesses”.
Mas o Irã preocupa os americanos em razão do programa nuclear, das exportações de armas e do papel desestabilizador no Oriente Médio. “Os EUA começaram a expressar abertamente a sua apreensão, inclusive no domínio militar, como exemplificado pelas análises da general Richardson.”
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Com o ataque do Hamas, certamente a maior preocupação dos Estados Unidos já voltou a ser o terrorismo, neste mundo eternamente em guerra. (C.N.)