Publicado em 29 de outubro de 2023 por Tribuna da Internet
Paulo Gala
O Globo
A dívida pública dos EUA já supera os US$ 30 trilhões, e os pagamentos de juros anuais romperam a barreira do US$ 1 trilhão. Além disso, foram divulgados dados surpreendentemente positivos sobre a produção industrial e sobre as vendas no varejo nos EUA. Esses fatores influenciaram o aumento das taxas de juros de longo prazo, com as taxas de dez anos atingindo 5%, e as de 30 anos, 5,10%.
As hipotecas de longo prazo custam hoje mais de 8% ao ano. Os dirigentes do Federal Reserve (Fed) têm sinalizado a possibilidade de interromper o aumento dos juros curtos, e isso traria algum alívio para os mercados. Argumenta-se que a alta das taxas longas pode, por si só, compensar a necessidade de se elevar as taxas curtas.
ESTRATÉGIA DO FED – Se a tensão externa persistir, o Fed poderia até reverter o movimento de redução de seu balanço, adquirindo títulos do Tesouro americano para tentar conter o aumento das taxas.
É importante destacar que existe um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de títulos de longo prazo nos Estados Unidos devido à redução da demanda por parte dos asiáticos e à interrupção das compras pelo Fed, bem como ao grande déficit fiscal do governo dos EUA, que coloca mais títulos no mercado.
Além disso, há preocupações com o possível shutdown (‘fechamento’) das contas do governo americano devido à falta de acordo no Congresso sobre o limite da dívida. A contagem regressiva de 30 dias para resolver essa questão também está preocupando os mercados.
ECONOMIA FORTE – O último relatório “Livro Bege” também mostrou que a economia americana está mais forte do que se imaginava no terceiro trimestre. Portanto, além das tensões no Oriente Médio que pressionam os preços de petróleo e inflação, também é preciso acompanhar de perto a situação nos Estados Unidos.
Uma boa notícia recente para os mercados foi o crescimento do PIB da China de 4,9% no terceiro trimestre, superando as estimativas de 4,5%. A produção industrial chinesa também subiu, assim como as vendas no varejo, sugerindo um sólido desempenho econômico, apesar dos desafios enfrentados pelo setor imobiliário.
No Brasil, o presidente do Banco Central reforçou a visão de que o ritmo adequado de corte da Taxa Selic é de 0,50%. O cenário mais provável é de terminarmos o ano com uma Taxa Selic de 11,75%, com cortes de 0,50% na próxima reunião de novembro e mais 0,50% na última reunião do ano, em dezembro.