Pedro do Coutto
É isso aí, tempo de crise, uma atrás da outra. Além do caso Henrique Mandetta, que participou ontem da entrevista coletiva coordenada pelo ministro Braga Neto, o que pode significar que o presidente da República não vai demiti-lo neste momento, surgiu no horizonte de Brasília um novo problema para Jair Bolsonaro.
A Câmara dos Deputados aprovou projeto destinando 89,6 bilhões de reais para compensar as perdas de receita dos estados e municípios. O projeto original era de Mansueto Almeida, Secretário do Tesouro nacional, que previa 40 bilhões para esse auxílio de emergência. A Câmara, por 431 votos a 70 e apenas duas abstenções, aprovou substitutivo praticamente duplicando o montante financeiro.
GUEDES PEDE VETO – Em consequência o ministro Paulo Guedes mostrou-se disposto a pedir que Jair Bolsonaro vete a proposição, que ainda precisa ser aprovada pelo Senado, que pode modificar o texto. A modificação contudo não pode ser de valor muito alto, pois é preciso não esquecer que 2020 é um ano eleitoral nos municípios. As eleições estão marcadas para outubro, mas podem ser adiadas para novembro ou dezembro conforme estiver se configurando o quadro do coronavírus.
As relações entre Guedes e Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que já se encontram estremecidas, poderão se agravar em face da pressão do titular da Economia em querer que o presidente vete a matéria.
UM NOVO CONFLITO – Reportagem de Marcelo Correa e Bruno Goes, O Globo de terça-feira destaca bem o assunto. O possível veto pode desencadear um novo conflito entre a Câmara Federal e o Palácio do Planalto. Afinal de contas uma matéria aprovada por 431 votos revela em si uma forte disposição no Legislativo em transformá-la em lei. O Senado pode modificá-la já surgindo articulações para que o total seja reduzido. Porém, o Senado por si também não pode desejar uma diminuição de porte, uma vez que seria provocar um atrito com a outra Casa do Congresso.
Além do mais os senadores, da mesma forma que os deputados, são sensíveis à questão eleitoral. E inclusive o Senado pode alterar o texto mas o projeto nesse caso voltaria à Câmara e poderá alterá-lo mais uma vez. O confronto entre Rodrigo Maia e Paulo Guedes ingressa assim em uma nova etapa deixando a solução nas mãos do presidente da República.
O CASO MANDETTA – A Folha de São Paulo, reportagem de Daniel Carvalho, Gustavo Uribi e Talita Fernandes, revela que Henrique Mandetta perdeu o apoio que possuía junto à ala militar do Planalto com sua entrevista de domingo à Rede Globo.
O presidente da República estuda intensificar uma estratégia contra a permanência do ministro. Mas não será fácil, o ministro da Saúde não pedirá demissão, repassando para Bolsonaro toda a responsabilidade desse possível ato.
Responsabilidade muito grande, principalmente no caso do isolamento, pois se abrandar o isolamento e isso desencadear contaminação em massa, o presidente será lembrado como o causador da catástrofe. Ontem, o governador Wilson Witzel confirmou ter sido contaminado pelo coronavírus.