Pedro do Coutto
Numa entrevista de página inteira a Mônica Bérgamo, magnificamente editada pela Folha de São Paulo de segunda-feira, com belas fotos a cores de Rafael Andrade, o governador Sérgio Cabral disse não existir crise entre PT e PMDB e lançou, com antecedência de quase quatro anos, a reeleição da chapa Dilma Roussef Temer para 2014. Falou no meio da tempestade e se estendeu na defesa do ministro Antônio Palocci. É um quadro extraordinário – acrescentou.
Como o governador é um político vitorioso, a quem não deve faltar sensibilidade, sem dúvida considerou oportuno o momento para fazer um lance de dados pensando no futuro.
Arriscado. Porque esqueceu que o ex-presidente Lula também é candidato. Se dependesse da vontade de Lula, ele, Sérgio, poderia talvez ser o vice no lugar de Temer, tal solução estaria ou estará condicionada à vontade do PMDB, seu partido atual.
Mas se ele falou, como dizia Mario Vianna, está falado. Examinou o panorama e foi em frente. Esqueceu porém que a intervenção de Lula para abafar a crise, tornou provavelmente mais próximo o seu retorno ao Planalto. As eleições são em outubro e assim ele pode voltar em janeiro de 2015. Em política, entretanto, mutável, não se deve fazer previsões.
Quem poderia prever o suicídio de Vargas? A renúncia de Jânio? A queda de João Goulart? A ascensão de Sarney à presidência da República?. Quem poderia prever que, com poucos nãos de atuação política no plano federal Barack Obama chegasse a presidir os Estados Unidos?
Quando penso que esgotei os exemplos, vejo que esqueci o mais recente: quem poderia supor que o ministro Palocci se enredasse na teia que ele próprio produziu? Ele só não. Na Casa Civil, José Dirceu, Erenice Guerra, mais recentemente. No governo JK, também o escritor e jornalista, um dos maiores editorialistas de todos os tempos, Álvaro Lins, do Correio da Manhã deslumbrou. Por favor não confundir com o Alvaro Lins, ex-chefe de Polícia do governo Rosinha Garotinho. A chefia do gabinete civil é um problema delicadíssimo.
Vamos acrescentar ao redemoinho de contradições o fato de Golbery do Couto e Silva gravar as conversas telefônicas de seu amigo, o presidente Ernesto Geisel, a quem devia lealdade total. Episódio que o jornalista Élio Gáspari transformou em ponto histórico extremamente importante nas obras em sequência que publicou sobre a ascensão e queda da ditadura militar que dominou o país de 64 a 79.
Encurto em seis anos a classificação tradicional porque não se pode, na verdade, considerar ditatorial o período de João Figueiredo. Houve omissão quanto aos ataques terroristas, mas não ocorreu censura à imprensa e os atos institucionais foram abolidos. É preciso ser fiel aos fatos. As datas dividem o tempo exatamente para que a análise da história se desenvolva.
Retornando às declarações de Sérgio Cabral à colunista Mônica Bérgamo, ele, na realidade, ao destacar a reeleição da presidente e do vice de hoje, lançou sua própria plataforma espacial para o futuro. Pois falou sobre vários temas da atualidade. Exaltou sua posição de democrata de centro, sua opinião favorável à liberação da maconha, seu prgulho de ter levado ao Supremo Tribunal Federal o tema da união estável dos gays. Finalizou afirmando sua independência quanto à questão: “Sou heterossexual”.
Fonte: Tribuna da Imprensa