Carlos Chagas
Haverá desgaste para a presidente Dilma Rousseff caso a decisão de Antônio Palocci afastar-se ou ser afastado da chefia da Casa Civil coincida com a presença do ex-presidente em Brasília, esperada a partir de hoje. Primeiro, porque se tornará evidente, mais do que a influência, a interferência do antecessor nos negócios da sucessora. Depois, se vier a público que um dos clientes responsáveis pelo enriquecimento meteórico de Palocci tiver sido a empreiteira cujo jatinho ainda há dias o primeiro-companheiro utilizou para visitar as Bahamas, Cuba e Venezuela.
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Numa palavra, a lambança continua, podendo refluir caso o Procurador Geral da República, amanhã, anuncie a decisão de investigar o ministro, já que na quinta-feira ele viaja para o Paraguai. Haveria, pelo menos, fora do palácio do Planalto, um argumento capaz de justificar o afastamento.
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Em paralelo, parece questão de dias que algum veículo de comunicação anuncie a lista dos clientes da empresa de consultoria de Palocci, assim como a relação de quanto pagaram pelas consultas. Esse tipo de segredo não dura muito, em especial, como disse o próprio consultor, foram informados todos os órgãos que a lei determina. No mínimo a Secretaria de Fazenda da prefeitura de São Paulo e a Receita Federal. A concorrência é grande entre jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão, se algum blog não se antecipar.
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Fica claro que não basta lancetar o tumor. Haverá que esperar a derrama do pus, apesar do mau gosto da imagem.
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A VEZ DAS AMARGAS
Começam a surgir rumores de haver caído o índice de aprovação popular da presidente Dilma, nas pesquisas rotineiramente realizadas mas nem sempre divulgadas pelos institutos contratados pelo governo. Se verdadeira a informação, será uma pena, porque o perfil e o estilo dela, muito diferente do antecessor, até que vinha agradando. Mais ação e menos exposição parece uma preferência nacional, apesar de certos conselhos matreiros que a presidente vem recebendo nas últimas semanas. Caso seus percentuais de preferência tenham mesmo caído, tomara que Dilma não se deixe levar pela necessidade de mudar de comportamento.
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EXPLODE MAS NÃO CORRE
Já se vão mais de quarenta anos de um episódio simbólico que bem poderia servir de parâmetro, claro que figurado, para a presidente Dilma Rousseff. Presidia o país o marechal Artur da Costa e Silva, sempre pronto a viajar pelos estados e a passar os fins de semana no Rio. O avião presidencial, naqueles dias, ainda era um Electra, depois substituído por um BAC-One Eleven. A lata velha, ao aterrissar no aeroporto Santos Dumont, enfrentou súbita rajada de vento e, apesar da perícia do piloto, o trem de pouso raspou nas pedras do quebra-mar, na cabeceira da pista. Ninguém se acidentou. Uma vez desligados os motores, o chefe da Segurança Presidencial, aos gritos, mandava a comitiva sair rápido pelas escadinhas e correr, porque a aeronave poderia explodir. Muita gente seguiu o conselho, só que o presidente desceu e caminhou naturalmente, para horror do coronel a seu lado. Ao ouvir a exortação de “corra, marechal!”, ficou bravo e, dedo em riste, afirmou: “Um presidente explode mas não corre!”
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Vale o mesmo, agora que Dilma sofre o risco de ver seu governo explodir, depois do episódio Antônio Palocci: mesmo assim, nada de correr…
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A SUBSTITUIÇÃO
Por conta da mais do provável hipótese de a Casa Civil ganhar um novo chefe, há dias que começaram as especulações. Mirian Belchior, Paulo Bernardo, Gilberto Carvalho e outros. É bom tomar cuidado e refrear o cavalo branco da imaginação, porque a presidente Dilma será bem capaz de surpreender, buscando um nome fora da zona de cogitações. Não parece haver muita chance para quem aposta que ela procura uma “Dilma da Dilma”, ou seja, uma mulher competente, gerentona, mas brava como o diabo. Desse perfil, basta uma…
Fonte: Tribuna da Imprensa