Carlos Newton
Conforme toda a imprensa está destacando, o chefe da Casa Civil, que tenta se sustentar no cargo depois da informação de que seu patrimônio cresceu extraordinariamente em apenas quatro anos, recebeu ontem o apoio do todo-poderoso presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que foi recebido no Palácio do Planalto pela presidente Dilma Rousseff.
– Fuerza, fuerza – disse a Palocci o caudilho neobolivariano, que se apoiava numa muleta e demonstrava não ter condições de amparar ninguém. Na verdade, Chávez está muito mal das pernas, inclusive politicamente. Sua popularidade já começou a descer “ladeira abaixo”, como dizem no interior.
Pela primeira vez desde que assumiu o poder, em 1998, quando foi eleito com a providencial ajuda de marqueteiros importados do Brasil, Chávez está em queda nas pesquisas. A mais recente, divulgada na última semana pelo jornal “El Universal”, demonstra que 51% dos eleitores da Venezuela já querem um novo líder para o país.
Realizada pela empresa Hinterlaces, a pesquisa demonstra que o prolongado governo do presidente Hugo Chávez pode estar perto do fim. A escassez de alimentos, a inflação, a violência, o cerco à imprensa livre e os problemas com a energia elétrica e abastecimento d’água são apenas alguns dos motivos que começam a despertar a opinião pública.
É nesse clima de desprestígio que o presidente venezuelano visita o Brasil para fechar acordos com a presidente Dilma Rousseff e apoiar tropegamente o ministro Palocci, que está prestes a se despedir do poder, ao qual ainda tenta se agarrar de forma verdadeiramente constrangedora, levando de roldão o prestígio do governo Lula Rousseff, digamos assim.
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GURGEL ARQUIVA A INVESTIGAÇÃO
Mas Palocci ontem ganhou outro apoio inusitado, com a decisão do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que arquivou a representação dos partidos da oposição pedindo a abertura de inquérito contra o ministro-chefe da Casa Civil.
Pegou muito mal a opção feita por Gurgel, porque seu mandato termina no dia 22 de julho, ele quer continuar no cargo e sua recondução depende exclusivamente da caneta do presidente Lula, perdão, da presidenta Dilma Rousseff, a gente acaba se confundindo.
Gurgel saiu vitorioso nas eleições internas do Ministério Público Federal, com a maioria dos votos. Em segundo lugar, ficou Rodrigo Janot e em terceiro, Ella Wiecko. Essa lista tríplice já está com a Secretaria-Geral da Presidência, comandada pelo ministro Gilberto de Carvalho, para decisão final. Nas últimas nomeações, o então presidente Lula sempre escolheu o procurador mais votado. Gurgel espera que continue sendo assim, e ontem fez questão de demonstrar seu “espírito público”, manchando a própria biografia.
O pior é que sua decisão nem terá efeito prático, porque a seção da Procuradoria da República no Distrito Federal se adiantou e já abriu uma investigação contra Palocci, requisitando à empresa dele (Consultoria Projeto) e à Receita Federal a entrega de documentos que possam comprovar quais são os clientes da empresa e os pagamentos recebidos.
Independentemente da deplorável decisão de Roberto Gurgel, portanto, a Projeto e a Receita têm até o próximo dia 16 para entregar a resposta aos ofícios encaminhados pelo procurador da República no Distrito Federal, Paulo José Rocha Júnior.
Foram exigidos à Projeto os seguintes documentos: escrituração contábil, contratos de prestação de serviços e possíveis aditivos, e comprovantes da prestação de serviços feitos, incluindo cópias de pareceres, atas das reuniões e atestados de recebimento.
Da Receita, a seção da Procuradoria no Distrito Federal cobrou cópias da declaração de Imposto de Renda da consultoria Projeto desde sua criação, em 2006. Segundo a Receita, o pedido será “respondido na forma da lei”, sem esclarecer se entregará ou não os documentos requisitados. E como se sabe, no serviço público brasileiro, tudo é possível, quando se trata de “blindar” alguma autoridade, conforme é da conveniência do governo Lula Rousseff.
Vamos aguardar, porque tudo é possível. Até mesmo a convocação da CPI para investigar Palocci, que vai ser um verdadeiro festival. Ontem, uma senadora da base aliada, Ana Amélia (PP-RS) decidiu assinar o pedido. Agora só faltam sete assinaturas. O suspense, como dizia o compositor Miguel Gustavo, é de matar o Hitchcock.
Fonte: Tribuna da Imprensa