Sebastião Nery
No dia 5 de junho de 1966, Ademar de Barros, governador de São Paulo, recebeu a notícia de sua derrubada e cassação pelo “presidente” Castelo Branco, através do general Kruel, comandante do II Exército. No Palácio do Morumbi, a confusão foi total. Ninguém sabia o que ele ia fazer.
Ademar convocou uma reunião do secretariado, chamou os amigos mais próximos e todos se encaminharam para o salão de despachos. Corria um frio suor coletivo. Na cabeceira da mesa, calado, olhar duro, Ademar esperou que todos se sentassem.Olhou para cada um de um lado e do outro:
- Agradeço comovido a solidariedade de vocês. Sabem que o Castelo me cassou. Vocês são meus amigos e eu conto com vocês. Quero que me respondam com toda a franqueza. Da resposta de vocês talvez dependa o destino que será dado à minha vida.
O salão ficou calado e tenso. Imaginaram um grito de resistência, como São Paulo deu contra Getulio em 1932. Ademar terminou:
- De que é que eu devo ir embora? De avião ou de navio?
Foi de avião. E de peruca acaju.
O ministro Palocci precisa cair fora urgente do palácio do Planalto. Pode não ter tempo de escolher entre ir embora de carona ou de camburão.
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PALOCCI
A imprensa, cada dia em maior volume, despeja detritos políticos e administrativos sobre a cabeça de Palocci. Como a coluna “Vamos Combinar”, do Paulo Moreira Leite, na “Época” desta semana:
1. – “Oposição e governo já se convenceram de que Antonio Palocci nem sequer esboçou uma resposta à pergunta mais grave sobre sua consultoria. A questão não é saber quem lhe pagou R$ 20 milhões, mas explicar o destino do dinheiro que sobrou depois que ele investiu R$ 7,4 milhões em dois imóveis. Não há resposta saudável. Uma possibilidade é que Palocci tenha guardado R$ 12,6 milhões para si. Seria sua ruína política. Outra possibilidade é que os recursos tenham sido usados para pagar fornecedores de campanha, o que colocaria um caixa-dois na campanha de Dilma. Seria escândalo geral”.
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GERDAU
2. – “Depois das eleições presidenciais, o empresário Claudio Johannpeter, diretor de operações do grupo Gerdau, comprou por R$ 11,9 milhões da Construtora Elias Victor Nigri a cobertura do Edifício Dante Alighieri, na Alameda Itu, 593. É o mesmo prédio onde fica o apartamento de R$ 6,6 milhões da Projeto, empresa do ministro Antonio Palocci. Os dois negócios de Johannpeter e da Projeto foram celebrados em novembro, nos dias 11 e 16. Um dos grandes grupos econômicos do país, com filiais importantes no exterior, a Gerdau fez contribuições generosas para a campanha presidencial. Entregou R$ 6 milhões para Dilma Rousseff e o PT e R$ 3,5 milhões para Serra e o PSDB”.
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MOSQUERA
3. – Na entrevista ao Julio Mosquera, da TV Globo, Palocci disse :
- Os números da empresa eu gostaria de deixar reservados porque não dizem respeito ao interesse público. Agora, os contratos, sim, aquilo que fiz, serviços que prestei, as empresas que atendi, as empresas que tinham contrato com a Projeto, posso falar perfeitamente sobre eles.
Imediatamente o Mosquera perguntou:
- Então, ministro, vamos revelar os clientes?
- Não posso expor contratos que tive com empresas privadas renomadas nas suas áreas num ambiente de conflito político. Acho que não tenho o direito de fazer a divulgação de terceiros.
O que Palocci fala não vale um minuto. É um falseta.
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POCILGA
4. – O “Globo” conta: -“A imobiliária que alugou o apartamento de Moema ao ministro da Casa Civil, Palocci, deu endereço falso à Receita Federal e não funciona no prédio que informou no contrato de locação do ministro. Pelo contrato, a Morumbi Administração de Bens Ltda fica no número 43 da Rua Lídia Simões Cabral, que é uma travessa acanhada da Avenida Moaci, em Moema. Mas neste endereço há apenas uma placa oferecendo aulas de inglês. No local, mora a família de um argentino”.
“Quem assina o contrato como sócio proprietário é Henrique Garcia Santos. Henrique teria aberto a Lion em sociedade com a empregada doméstica Rosailde Laranjeira da Silva, mais uma pessoa usada como laranja na intricada história da propriedade do imóvel ocupado por Palocci. O endereço de Henrique Santos, informado à Junta Comercial, é o mesmo de Gesmo Siqueira dos Santos, proprietário original do apartamento onde Palocci e sua família moram desde 2007. No edifício a família Santos também já não mora há pelo menos um ano”. E Palocci nesse pântano.
Sabiam os romanos : – “Asinus asinum fricat” – um burro coça o outro. E ensina a Biblia: “Quem com porcos se mistura farelos come”.
Fonte: Tribuna da Imprensa