Durante boa parte de suas vidas políticas, o falecido ex-senador Victorino Freire e o atual presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foram inimigos figadais na política maranhense. Victorino comandou a política maranhense por mais de 30 anos, e foi por seus braços que Sarney iniciou também sua vida política. Depois que Sarney tornou-se governador do Maranhão em 1965, os dois começaram a se afastar até se tornarem inimigos.
Como não poderia deixar de ser, por ser uma biografia autorizada, o livro Sarney, a Biografia (Editora Leya), da jornalista Regina Echeverria, traz a versão do atual presidente do Senado para os desentendimentos que teve ao longo da vida com Victorino Freire. A versão de Echeverria, porém, desagradou ao filho de Victorino, o ex-deputado federal Luiz Fernando Freire. O maior problema é que, além do ponto de vista negativo, o livro de Regina Echeverria traz, segundo Luiz Fernando, vários erros históricos. Diz, por exemplo, que Victorino foi chefe de gabinete de Martins de Almeida, nomeado interventor no Maranhão por Getúlio Vargas. Na verdade, ele foi secretário de governo. Diz que o pai de Luiz Fernando foi o candidato a vice-presidente na chapa de Christiano Machado, um candidato à Presidência que foi abandonado por seu partido, o PSD, em 1950, possibilitando a eleição de Getúlio Vargas. Na verdade, o candidato a vice de Christiano, diz Luiz Fernando na carta, foi Altino Arantes.
Para rebater o que é dito no livro sobre Victorino Freire, Luiz Fernando enviou duas cartas, no dia 17 de maio, para Sarney e para Regina Echeverria. Com a ajuda do jornalista Luiz Cláudio Cunha, o Congresso em Foco obteve o fac-símile dos originais das duas cartas.
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“A leitura do livro causou-me decepção, surpresa, indignação e asco”, escreve Luiz Fernando na carta a Sarney. “E lamentável a facilidade com que a versão dos fatos foi tão alterada e ferida sem a menor consideração pela verdade, como se ela não existisse”, completa. “Você é um homem que alcançou os mais altos postos da vida pública brasileira, ou pela competência ou pela sorte. A sua vida estará, favoravelmente ou não, nos livros de nossa história. Assim mesmo, permita-me dizer-lhe que, com todos os seus títulos e honrarias, não troco a sua biografia pela de meu pai”, conclui Luiz Fernando Freire.
Na carta a Regina Echeverria, Luiz Fernando atribui ao “folclore político” a informação de que seu pai teria mandado aplicar, nos anos 30, uma surra de chibata “em toda a diretoria da Associação Comercial”. A informação está na página 55 da biografia de Sarney. Também diz ser “fantasioso” o relato de que Sarney (na página 237 do livro) teria passado a andar armado depois que Victorino afirmou que tiraria “à pinça” seu bigode. Na década de 60, Sarney já usava seu famoso bigode.
“Só mesmo nas páginas do seu livro ele enfrentaria Victorino Freire. Oportunidades para atirar em meu pai, ele teve inúmeras, mas nunca nem sequer ensaiou fazê-lo. Se ele abrisse o paletó e ostensivamente mostrasse um revólver para Victorino Freire, meu pai atiraria logo nele, até porque isso era uma coisa que ele estava ansioso por fazer (…). Se por acaso, num rasgo de coragem, Sarney tivesse puxado um revólver para o meu pai, posso lhe garantir que ele não sobreviveria. Tanto ele sabia disse que nunca ameaçou meu pai com arma nenhuma”. Escreve Luiz Fernando Freire para Regina Echeverria.
Luiz Fernando Freire concui: “A tentativa de apresentar o senador Victorino Freire como tudo aquilo que ele não foi, além de desprezível, desmerece e desonra o seu trabalho. E em se tratando de biografias, existe nas bancas de revistas e livrarias um livro que está fazendo muito sucesso, intitulado Honoráveis Bandidos [de Palmério Dória, Editora Geração]. O retrato da capa do livro não é o do meu pai”. Honoráveis Bandidos é um livro não autorizado sobre a família Sarney.
Fonte: Congressoemfoco